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A data do festival estava cada vez mais próxima e eu tinha certeza de que seríamos a melhor apresentação; nossa música estava incrível. Todos na banda eram talentosos, mas o Bakugou roubava a cena com tantas viradas na bateria. Como ele tem tanta coordenação?!  Franzi as sobrancelhas em indignação e tossi ao sentir o olhar de Katsuki sobre mim.

- A Jirou tá salvando a banda, né?- Denki comentou, continuei focada na parede para evitar contato com o Bakugou.

- Hã?- soltei desnorteada e Kaminari gargalhou- Jirou! Ela é muito talentosa.

- Quem te deixou distraída desse jeito?- Sero provocou.

- Ninguém.- repliquei, mais irritada do que deveria estar- Só acho que o Bakugou acelerou demais no segundo refrão.

Puta merda, não era o que eu queria dizer.

Eu gostei da intensidade que ele colocou.

- Como é, garota?!- Katsuki levantou com tudo- Duvido que você faça melhor.

- Bakugou, ela tá falando pelo bem da turma.- Iida interviu, sério- O que você achou, Jirou?

Acho que ele está prestes a cometer um homicídio.

- Foi mal, Bakugou...a Miranda tem razão.- Jirou concluiu receosa e eu me esforcei para não curvar os lábios em um sorriso- Você tem um ouvido bom pra música, toca alguma coisa?

- Meu pai tocava piano para mim.- disse nostálgica, cerrando o punho em frustração ao perceber que falei no passado- Hoje não mais.

Katsuki, por sua vez, recomeçou a música e impediu que as perguntas tomassem conta da atmosfera. Lancei a ele um pequeno sorriso de agradecimento. Pelo final do ensaio, Aizawa nos encarregou de pegar alguns materiais para a montagem do cenário. Fui amarrar o cabelo e Bakugou carregou minha parte antes que eu pudesse terminar meu rabo de cavalo. Larguei as mechas, confusa com sua atitude, e apressei o passo para acompanhá-lo.

- Lenta demais, garota.- Katsuki resmungou, aborrecido e eu franzi a testa- Se depender de você, vamos ficar aqui a noite toda.

- Devolve, Katsuki.- pedi séria e ele fingiu não me ouvir- Não gosto que façam o meu trabalho.

- Então não se mete no trabalho dos outros, porra!- Bakugou esbravejou, ressentido.

- Ficou tão chateado assim?- voltei na crítica que fiz no ensaio- Bom...eu até que gostei de como você tocou, mas não podia encher o seu ego na frente de todo mundo. 

- Como se eu precisasse da sua aprovação.- Katsuki estabeleceu contato visual, as bochechas coradas e eu dei ombros- Você é mesmo estranha.

Ele fez de novo! Ficou vermelho depois do meu elogio.

Se bem que...em todas as situações, estava bem quente.

- Obrigada, Katsuki.- agradeci com um sorriso divertido.

- Quantas vezes vou ter que repetir que isso não é um elogio?- dei risada e Bakugou me entregou minha parte dos materiais.



Bakugou

Essa garota testa muito a minha paciência. Passo metade do meu dia inventando maneiras de evitá-la e o resto imaginando o que ela tem feito. Não gosto de como minha cabeça funciona perto dela. Baixar a guarda perto de um futuro rival era burrice, arriscar uma expulsão para defendê-la era outro nível de idiotice. Nunca fui intrometido assim...isso é algo que o Deku faria.

Esse maldito acampamento nos aproximou ainda mais e brincar de duplinha não vai me levar até o topo. O problema era que eu não conseguia afastar ela como faço com os outros, a desgraçada era inabalável; completamente imune às minhas grosserias.

Miranda reage a mim como se soubesse exatamente o que se passa na minha mente e isso me deixa louco. Tirando o Kirishima, ela é a única que nunca mediu palavras comigo. As poucas vezes que a vi hesitar perto de alguém foi com aquele filho da puta e não ter arrebentado a cara dele me perturba mais do que eu gostaria de admitir. Espero mesmo que prendam o lunático.

- Tá indo aonde?- questionei conforme Kirishima atravessava a sala apressado.

- Ah, Bakubro! Vocês voltaram do treino.- Eijiro recuou para me responder- A Miranda já terminou de tomar banho? 

- Sei lá, por que eu saberia?- retruquei defensivo e ele deu ombros.

- Quero levar chocolate pra ela.- Kirishima anunciou animado e eu estalei a língua em irritação- O que?! A Miranda sempre fica feliz.

- Ela tem alergia, cabelo de merda.- expliquei, pegando a barrinha da mão dele- Vou ficar com o chocolate.

- Caramba, eu não fazia ideia.- Eijiro massageou a testa, preocupado- Ela nunca falou nada.

Revirei os olhos e andei até a cozinha com passos pesados, remoendo o fato de que me colocaram com o Todoroki hoje. Era mais fácil ter me deixado sozinho, nunca vi alguém tão inútil na cozinha quanto ele. 




Miranda

Midoriya e eu estávamos revisando a última atividade da semana quando ouvimos o barulho das panelas caindo. Nós viramos o pescoço na direção da porta ao mesmo tempo.

- O que será que eles estão fazendo lá embaixo?- Izuku coçou a nuca, intrigado.

- Boa pergunta.- balancei a cabeça em negação, rindo- Com o Katsuki é sempre um mistério.

- Você e o Kacchan parecem estar se dando bem, fico feliz com isso.

- Sim, mas tem dias que conviver com ele é um desafio.- desabafei, fechando o livro- Às vezes parece que nunca vamos estar no mesmo nível. 

- Isso não é verdade, Miranda.- Izuku me interrompeu- Sinto que o Kacchan te respeita bastante e ele não reconhece qualquer um.

- Não sei, Izuku.- discordei com sobrancelhas franzidas- Katsuki já me viu em muitas situações ridículas, acho que ele acabou perdendo esse respeito depois do que aconteceu com o Yuri.

A questão devia ser: por que eu me importo tanto?

- Olha, eu sei que ele esconde fraquezas dele, mas o Kacchan tem problemas também. Tenho a impressão que o sequestro só piorou essa necessidade de se manter forte o tempo todo. Você não tem nada a se envergonhar.

A vaga memória de Aoyama mencionando o treinamento com os Wild, Wild Pussycats invadiu minha mente e fui incapaz de frear a minha curiosidade. 

- Você pode me contar mais sobre o sequestro? Sei que ninguém fala sobre isso e vou entender se não quiser também, mas queria ter uma noção de como eles operam caso realmente estejam interessados em mim.

- O Shigaraki está atrás de você?!- Midoriya se desesperou e eu levei o indicador à boca, temendo que alguém nos escutasse.

- Pois é.- assenti com arrepios subindo pela minha espinha- Achei que o Aizawa tivesse mencionado isso naquela conversa que teve com vocês.

- Não.- Izuku engoliu em seco- Miranda, todos da liga são extremamente perigosos...tenho anotações sobre as individualidades deles- puxou seu outro caderno- E mesmo que eu não goste de falar da vida dos outros, sinto que explicar sobre o sequestro do Kacchan pode ajudar.

Midoriya detalhou como a liga os encurralou durante o acampamento e a angustia que o consumiu ao ter que assistir impotente. Bakugou literalmente pediu para que não Izuku viesse atrás dele. Contou como ter Kirishima o chamando garantiu o sucesso do resgate e acabou com o All Might se aposentando. 

Conhecendo o Bakugou, ele se culpou por isso também.

- Agora, mais importante do que estudar os métodos deles- Izuku enfatizou, atordoado por ter revivido o episódio- Você precisa contar com os seus amigos, Miranda. 

-  Sim.- concordei, tentando digerir as informações- Obrigada por confiar em mim.




Na manhã do festival, eu acordei sem precisar do despertador. Fiz uma trança lateral e revirei o armário em busca de algo decente para o evento. Quando desci para tomar café com um vestido verde-musgo rodado, o alojamento não poderia estar mais caótico. 

Bakugou repassava a música na mesa de jantar, os meninos carregavam caixas de sons para fora com Iida no comando e as meninas terminavam de se arrumar na sala. Mina logo me arrastou para o centro e Momou me convenceu a fazer uma maquiagem básica. Todas estavam lindas. Meu estômago roncou no meio do processo e Uraraka trouxe comida para mim. 

Katsuki me fitava enquanto a Jirou dividia suas inseguranças com a apresentação, tornando a tarefa de escutá-la impossível. Balancei a cabeça em negação e me forcei a prestar atenção na conversa. O ruído da cadeira arrastando denunciou que Bakugou levantou, espiei de canto involuntariamente, e o segui com a desculpa de beber água. 

Na cozinha, o cômodo parecia pequeno demais para tanto silêncio. Já estive sozinha com ele antes, o que mudou?! Cocei a garganta e me apressei a pegar um copo, Bakugou permaneceu na frente da geladeira. Parte de mim refletia como a camisa vermelha valorizava os olhos dele e a outra queria me internar por ter reparado nele assim. 

- O que você fez com a sua cara?- Bakugou soltou, menos ríspido do que o usual, e pude jurar que o flagrei encarando minha boca- Tem brilho em todo lugar.

- Isso era pra ser um elogio?- mascarei a vergonha com sarcasmo. 

- Claro que não, garota.- ele fechou o semblante e deu as costas- Tenho mais o que fazer.

Instável como sempre.

Revirei os olhos, desistindo de decifrar suas intenções e voltei para as meninas. Pouco depois, Midoriya me convidou para passear com a Eri e o Mirio. As atrações eram bem diversas e os olhos da Eri brilhavam com curiosidade diante das novidades. Tinha bastante gente. Eri pediu para segurar minha mão, um pedido que atendi com muita felicidade.

Andar com eles era reconfortante demais, como retornar para a agência, e meu sorriso não saia do rosto. Espero que o Sir Nighteye esteja assistindo lá em cima...sabendo que o sacrifício dele não foi em vão. Paramos na barraca de maçã do amor e senti o celular vibrar, ignorei nas duas primeiras vezes. Na terceira, considerei que devia ser importante pela insistência.

- Alô?- aumentei o volume da chamada- Quem é?

- Você parece estar se divertindo bastante, Fujiwara.- a densa voz cumprimentou do outro lado da linha- Estou com a mãe do seu amigo Bakugou.

Tava bom demais para ser verdade.

Lutei para manter uma expressão calma e pedi licença aos três, instituindo uma distância razoável para não escutarem a ligação.

- O que você quer?- respondi com o coração acelerado.

- Garota esperta, sabe com quem está lidando.- o homem riu, sádico- Quero que invente uma desculpa convincente para sair da U.A e venha me encontrar.

- Que garantia tenho de que você não está mentindo?- meu celular notificou uma nova mensagem e eu gelei, era um vídeo a torturando- Chega...eu acredito em você.

Nunca tinha visto a mãe dele antes, mas o parentesco era inegável; eles são iguais.

- Suficiente? Ótimo.- ele coçou a garganta meio impaciente- Você vai sair sozinha e se avisar qualquer um, eu vou saber. 

Pode ser um impostor.

Midoriya me alertou sobre a Toga, porém, eu só conseguia pensar na possibilidade de ser verdade. Não podia suportar a ideia do Bakugou passando por isso novamente. O vilão então,  descreveu as roupas que Eri usava e a barraca que estávamos parados. Foi o meu limite.

Eles não vão encostar um dedo nela.

- Estarei aí em 5 minutos.- decidi, encerrando a chamada.




Bakugou

A apresentação estava prestes a começar e nenhum sinal dela. Kirishima falou que o celular dela estava desligado, Deku a viu sair sozinha e "esquecer" de mencionar a sua localização. Tudo era conveniente demais, principalmente para alguém que estava sendo caçada pela liga dos vilões. 

O babaca do Kayama também é uma opção.

Girei as baquetas enquanto escutava o Deku reportar a ausência dela para o professor mais próximo, Aizawa estava em alguma reunião estúpida. 

- Mas o que a Miranda disse?- Cementoss perguntou sério.

- Ela avisou que tinha uma emergência familiar e voltaria mais tarde.- Deku coçou a nuca, agitado com os questionamentos.

- Emergência familiar o caralho!- protestei de imediato- Tem alguma coisa errada.

Deku piscou atônito, como se finalmente racionasse, e tensionou a postura.

- Professor, eu acho que o Kacchan está certo.- Deku interviu e eu revirei os olhos- A Miranda pode estar correndo perigo. 

- Entendo a preocupação de vocês, mas temos que esperar algumas horas até acionar a diretoria.- Cementoss explicou baixinho- Precisamos ter certeza. 

- Horas?! Ela pode ter morrido até lá.- estourei, o sangue fervendo- Vocês não entendem de porra nenhuma! 

- Olha a língua, Bakubro.- Kirishima repousou a mão no meu ombro numa tentativa de me acalmar e eu a tirei- Fique tranquilo, a Miranda sabe se cuidar...e teria pedido ajuda.

- Duvido muito.- resmunguei, a desgraçada era tão orgulhosa quanto eu.



Nota da Autora:

não esqueça de votar e comentar, por favor <3


- Será que sequestraram mesmo ela ou a Miranda caminhou para uma armadilha?

- Me segurei muito para não fazer uma referência a Ao Haru Ride...nunca vou superar o Kou limpando o gloss dela porque "distraía" ele demais. Pena que o Bakugou nunca faria isso. 

- Espero que tenham aproveitado as cenas clichês porque vem caos por aí. A notícia boa é que eles estão finalmente questionando os sentimentos um pelo outro!


Tiktok: japadreams | Insta: japa_dreams

link da playlist da fic na bio

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