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AVISO: cenas fortes de violência psicológica, física e abuso sexual no segundo pov da miranda. se você for sensível a algum desses tópicos, por favor não leia...vou fazer um breve resumo dos eventos no próximo capítulo para quem pular.
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- Gosto tanto do Yuri quanto você da Midnight.- confessei, assistindo a confusão se espalhar pelo rosto de Bakugou.
Uma pontada de alívio preencheu meu peito...o que era irônico, considerando quem estava comigo. O pensamento quase me fez rir, quando entrei na U.A, Katsuki Bakugou seria a última pessoa que eu confiaria um segredo desse tamanho.
- Isso não faz nenhum sentido.- ele piscou, indignado- Por que namorar o filho da mãe, então?
A porta foi escancarada antes que eu pudesse responder, a agulha escapou da minha mão e Bakugou se colocou na minha frente. O impacto da madeira sendo quebrada levantou toda a poeira do quarto, dificultando a visão e irritando meus pulmões.
Os vilões nos encontraram? Observei a figura de Katsuki e como regata preta destacava os músculos em suas costas, quase esquecendo da possível ameaça. Recuperei a compostura e me posicionei ao seu lado, pronta para atacar.
- Vem pra cima, perdedor!- Katsuki bradou, faíscas já irradiando em suas palmas.
- Bom ver que vocês estão atentos.- Hawks entrou com duas sacolas, sorridente- Trouxe a janta.
- Hawks, você não pode fazer isso.- suspirei, balançando a cabeça em negação.
- Esse é o seu herói favorito?- Bakugou questionou com escárnio e eu fechei o semblante, incrédula.
To começando a achar que ele não é bom com segredos.
- Sou o seu favorito?!- Hawks alargou o sorriso e eu confirmei ruborizando- Fico feliz em saber.
- E eu to faminto.- Katsuki cruzou os braços, impaciente.
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Bakugou
Se aquele pássaro não tivesse interrompido, ela teria me respondido. Trinquei a mandíbula em frustração e tentei arrumar uma posição confortável no futon. Respirei fundo e me forcei a fechar os olhos, incapaz de suprimir as dúvidas.
Essa desgraçada sempre tira o meu sono.
Preciso dormir pra arrebentar no treino de amanhã.
Não consegui e com o tempo, comecei a sufocar. Fragmentos do sequestro e a queda do All Might bagunçavam minha cabeça. Abri o zíper da barraca e encontrei Miranda deitada no gramado, seguindo as estrelas com os olhos esverdeados vidrados no céu aberto.
Os fios escuros estavam espalhados pelo lençol branco conforme desenhava imperturbada em seu caderno, tão focada que não percebeu a minha presença. A cena apagou qualquer vestígio de raiva da minha mente e realmente não entendi como acabou me acalmando.
- Você é muito estranha.- soltei, franzindo a testa.
- Katsuki, o que aconteceu?- indagou surpresa, deixando o caderno de lado.
- Nada.- cortei ríspido e ela ergueu as sobrancelhas- Estou sem sono.
- Tá bom.- sentou no lençol estendido- Quer companhia?
- Você já estava aí.- coloquei a mão no bolso, andando em sua direção.
- Posso ir embora.- sugeriu com um sorriso ladino.
- Tanto faz, garota.- menti, dando ombros e ela balançou a cabeça em negação.
- Não vai mesmo me contar?- fechou o caderno, dando espaço para que eu sentasse.
- Você não respondeu a minha pergunta também.- estalei a língua em irritação.
- Ah, sobre o Yuri.- a diversão em seu tom sumiu- Estou arrumando um jeito de me livrar dele.
- É só dar um pé na bunda dele.- a ausência de resposta fez com que eu cogitasse as piores coisas- Esquece, isso é problema seu.
O babaca deve ter algo para usar contra ela.
Ah não vou forçar, eu mesmo não quero falar sobre os meus problemas.
Miranda assentiu devagar, parecia grata por encerrar o tópico e eu me acomodei no oposto do lençol. Conversamos sobre a luta dessa tarde e montamos uma nova estratégia para batalhas aéreas, torcendo para que o Hawks repetisse a dose amanhã. Pelo final da noite, mesmo que eu nunca admitisse voz alta, eu tinha me divertido bastante.
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Aizawa não conseguia se concentrar em nada desde que soube que Miranda cedeu às chantagens do Kayama. Tinha consciência de que sua afilhada não via Yuri como antigamente, mas conhecia o tipo de homem que o sobrinho de Midnight era.
Alguém que engana as pessoas ao seu redor com tanta facilidade não deve ser subestimado.
Temia que Miranda fosse orgulhosa demais para pedir ajuda, ela tinha o péssimo hábito de querer resolver as coisas sozinha. Bakugou e Miranda eram parecidos nisso; Aizawa também os juntou na esperança que pudessem confiar um no outro.
Sua mãe o escolheu para ser padrinho dela, porém, nunca conseguiu manter contato pela correria na escola. Eraser odiava que ela teve que passar por tudo aquilo...confiou que o pai a protegeria. Pensou que seria invasivo aparecer quando ela ainda tinha um guardião legal, não tinha ideia de que o homem estaria debilitado demais pelo câncer para exercer seu papel.
Aizawa leu incontáveis livros de psicologia para ajudar Miranda a perceber o quão ruim o Yuri era. Contudo, acabou criando uma adolescente super independente e ele se preocupava de que fosse tão fechada. Se orgulhava de quem ela estava se tornando...a questão era a visão de mundo que adotou. Antes da U.A, sua afilhada vivia dentro da reforçada muralha que ergueu depois do término e só se levantava da cama para treinar.
Era injusto que Yuri aparecesse no instante em que ela começou a se adaptar.
Não deixaria que ele roubasse todo o progresso dela.
Por isso, Aizawa chamou os amigos mais próximos de sua afilhada no escritório e se surpreendeu ao ver que eram todos meninos. Ele suspirou, inferindo que crescer sem uma mãe pode ter afetado a maneira que Miranda se relacionava.
- O motivo pelo qual reuni todos vocês aqui é Miranda Fujiwara.- Aizawa coçou a garganta, sério- Em algumas horas, vocês podem acabar ouvindo umas notícias ruins sobre a sua amiga.
- Como assim? Ela tá em perigo?!- Mirio levantou da cadeira, aflito.
- Não exatamente.- Eraser negou com pesar- O que vou dizer agora pode soar loucura, mas o Yuri está ameaçando a Miranda com algo de seu passado para manter esse namoro. Ele nunca aceitou o término...que só não acabou em polícia porque ela implorou pelo meu silêncio. Debaixo do rosto bonito, Kayama é uma pessoa violenta e brinca com as inseguranças dos outros para conseguir o que quer.
A vaga lembrança dos dois brigando antes do resgate da Eri invadiu tanto Midoriya quanto Mirio, que logo se culparam por nunca terem desconfiado de nada. Todoroki e Kirishima não estavam longe disso, o remorso embrulhava o estômago de ambos. Principalmente o de Todoroki, que conviveu com violência psicológica e física por anos.
- Eu sei que isso é muito para associar.- Aizawa disse, fitando Mirio que congelou pelo choque- Mas o Yuri engana bem e Miranda é péssima em pedir ajuda, então não se martirizem.
- Desculpe, mas como você sabe tanto sobre a Miranda?- Kirishima interrompeu assustado- Ah, esse Yuri é uma vergonha para os homens.
- Sou primo da mãe dela. Miranda teve alguns problemas familiares no ano passado e eu fiquei responsável por ela.- Aizawa explicou, porém, sentiu a vontade de complementar- Ela é como uma filha para mim. Por isso, não posso mais assistir calado.
- Vocês têm individualidades parecidas.- Todoroki pontuou- O que precisa que a gente faça?
- Sim, como podemos ajudar?- Midoriya também se voluntariou e Aizawa deu continuidade.
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Miranda
As notificações acumulavam na tela do meu celular à medida que nós aproximávamos da U.A, a maioria vindas de Yuri Kayama. Desliguei o aparelho e escorei na janela, tentando aproveitar as últimas horas sem grandes preocupações.
Esses três dias me fizeram refletir sobre muita coisa, principalmente sobre a rapidez que tudo muda. Treinar com Hawks me deu um vislumbre do futuro que eu posso ter se assumir alguns riscos. Bom, sobreviver a esse acampamento já me animou bastante.
Mesmo com a ansiedade de ter a liga atrás de mim, estar perto de pessoas que reconheceam meu esforço e nenhuma menção do Yuri foi realmente um presente. Sustentar essa farsa me deixou a beira de um colapso, preciso agradecer o Aizawa por ter escolhido Hawks e arrastado o Bakugou para o treino.
Melhor deixar a parte do Bakugou de fora, vai que ele entende errado.
Chegando no dormitório, driblei o interrogatório preparado pela turma e me tranquei no meu quarto. Aliviada pelo feito. Larguei as malas no chão com um coração acelerado, entretanto, ao ser fitada pelo azul-ciano que tanto quis fugir.
- Onde você estava?!- Yuri se exaltou, me encurralando na parede- Te liguei milhares de vezes.
- Yuri, eu estou bem cansada agora.- tentei escapar do seu enlace- E não posso falar sobre isso.
- Você vai falar...some por 3 dias inteiros e ainda volta com o Bakugou- apertou meu ombro com mais força- Acha mesmo que eu não percebi que dormiu no quarto dele?
Engoli em seco, surpresa que tivesse notado no meio daquela confusão.
- Dividiu a cama com ele, sua vagabunda?- Yuri agarrou meu rosto com posse- Eu nunca sequer pensei em outra pessoa, Miranda e você não tem ideia de quantas vezes já me procuraram.
- Chega, Kayama!- roubei sua visão e empurrei ele pra longe- Não tenho nada com o Bakugou.
- Vai usar esse truque barato de novo?!- Yuri cerrou os punhos, colérico- Você é imatura pra caralho, nunca enfrenta a porra dos seus problemas!
A frase despertou o pior dos sentimentos, como se voltássemos para aquela noite chuvosa e eu revivesse a morte do meu pai com ainda mais intensidade. Naquela época, Kayama era a pessoa que mais me conhecia nesse mundo e a única que eu confiaria minhas dores. Então, foi natural que eu corresse para ele quando tudo desmoronou. O problema é que Yuri nunca foi muito paciente, meu namorado estava em casa há mais de 30 minutos, algo que só percebi na rua.
Desbloqueei o celular para ver sua mensagem e baixei a minha guarda, entrando numa rua deserta por pura distração. Em questão de segundos, senti o gelado do metal contra o meu pescoço. O homem de voz grave não tardou para exigir que eu passasse minha bolsa.
Sendo honesta, parte de mim relutou contra o assaltante na esperança de que ele acabasse comigo ali mesmo. Eu não tinha mais nada a perder. Me preparei para reencontrar meu pai e prendi a respiração, jurando que as asas de Hawks eram uma miragem.
Nunca vou me esquecer de como ele chamou alguém para levar o homem até a delegacia e ficou comigo até que eu me acalmasse. Trovões reverberavam pelos meus ossos enquanto eu o agradecia em prantos. Hawks apenas me abraçou, fazendo movimentos circulares nas minhas costas para me tranquilizar, e me levou para casa quando retomei meu fôlego.
Yuri estava furioso com a minha demora, mas desmontou o semblante irado ao escutar minha explicação. Ele me colocou num banho quente e até cozinhou para mim, um lado cuidadoso que não aparecia há semanas. Kayama estava penteando meu cabelo quando começou a beijar minha nuca. Relaxei com o carinho até que ele me virou para aprofundar o beijo.
"Vai fazer com que se sinta melhor, Mira. Não confia em mim?"
"Esse negócio de momento certo não existe."
"Qual é...nós não somos mais crianças."
Kayama tinha discursos bem apelativos e mesmo quando eu tentava colocar algum limite, ele sempre acabava vencendo o argumento. Minhas emoções estavam tão bagunçadas com o luto que cedi à pressão, esperando que esse voto de confiança resolvesse nossos conflitos. Yuri era tudo o que eu tinha...e eu queria que ele ficasse feliz comigo.
Achei que conseguiria, isso até ele tirar minha blusa e a sensação de pânico tornasse qualquer toque repulsivo. Yuri parecia alheio ao meu desconforto, continuava arrancando minhas roupas mesmo que lágrimas escorressem pelo meu rosto. Tentei parar ele sutilmente e sua resposta fez com que uma onda de adrenalina impulsionasse minha decisão seguinte.
"Só fecha os olhos, vai ser rápido."
Foi aí que roubei sua visão e audição, dando uma joelhada em seu estômago para disparar cômodo afora. Os xingamentos de Yuri já ressoavam pela construção. Meu primeiro instinto foi procurar pelo meu pai...e quando encontrei o quarto vazio, desmontei no chão. No desespero, esqueci de trancar a porta e sem experiência em controlar minha individualidade, Kayama facilmente me alcançou.
Os gritos dele e os meus pedidos de desculpas se misturavam conforme eu me encolhia pateticamente na parede. Por meses, a cena me torturava até que eu a desenhasse. Um hábito que me ajudava a entender que a garotinha indefesa estava no passado e a memória dele não podia mais me machucar.
Uma segurança que Aizawa garantiu e eu arruinei quando cedi às chantagens dele.
Hawks salvou minha vida duas vezes: primeiro com o assaltante e depois com a ligação que fez para Aizawa. Se Aizawa não tivesse parado o Yuri alguns minutos depois...eu não sei se estaria aqui hoje. Lembrar do cuidado que meu padrinho teve ao posicionar o seu casaco sobre os meus ombros fez com que a decisão fosse definitiva.
- Eu quero terminar.- disse, tremendo dos pés à cabeça- Faça o que quiser com o meu segredo...não vou mais fugir.
- Podemos conversar como pessoas normais?- ele mudou o tom, a raiva desapareceu.
Respirei fundo e devolvi a visão dele, precisava fazer isso direito.
- Vamos começar de novo...eu te amo desde que tenho 10 anos.- Kayama se ajoelhou, o retrato da imponência- Sei que não fui o melhor dos namorados, mas eu posso mudar, Mira. Posso ser a pessoa que você se apaixonou. Lembra do que eu prometi quando te pedi em namoro?
"Somos eu e você, Mira. Prometo fazer o nosso relacionamento funcionar."
As palavras ecoaram sem que ele precisasse repeti-las, era a frase que eu mais escutava durante o tempo que ficamos juntos. Uma desculpa que vinha acompanhada de um gesto romântico para compensar as intermináveis discussões.
- Ainda é verdade.- Yuri franziu a testa- Não vou cometer o mesmo erro que os meus pais.
Eu sabia o quanto o divórcio o afetou, Kayama sempre acabava na minha casa quando as brigas do casal saiam do controle. Diria até que o conflito dos pais moldou o homem que ele se tornou...Yuri passaria por cima de tudo para ter um destino diferente e casar com a primeira garota que se envolveu provaria muito bem o seu ponto.
- Yuri, acabou.- repliquei simples- Você pode até voltar a ser o Yuri que eu conhecia, mas eu não posso ser a Miranda de antes.
- Não...eu não entendo. Você me dizia que nós nascemos um pro outro.- ele insistiu, atordoado- O que mudou, Mira?
- Tudo.- ri fraco- Eu só sinto medo e ressentimento quando olho pra você.
Os olhos azuis-ciano se apagaram com a minha resposta, como se finalmente entendesse que não teria mais volta e aquela criança que me defendeu de uma roda de bullying desaparecesse. Como se eu nunca tivesse batido na sua porta para brincar no dia seguinte e jamais me apaixonasse pelo meu melhor amigo.
- Foi o puto do Bakugou, não foi?
対
Nota da Autora:
não esqueça de votar e comentar, por favor <3
- Esse capítulo foi um dos mais pesados que já escrevi e consequentemente, muito difícil de terminar. Quase não consegui mostrar o passado da Miranda para vocês.
- Porém, foi importante para que vocês entendessem o motivo dela ter tanto medo do Yuri. Nada é simples num relacionamento abusivo...sair muito menos.
- Fiquei realmente chateada em ver comentários grosseiros com a protagonista. Espero que agora vocês tenham mais empatia quando lerem algo parecido.
- E para quem não merecia estar lendo isso, obrigada pelo carinho! No próximo, mostro o que o Aizawa planejou com os meninos.
Tiktok: japadreams | Insta: japa_dreams
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