Capítulo 28 - Fuga de Lyon
A ESCAPADA DA MANSÃO Archambault fora espetacular, mas eu sabia que estávamos longe de nos considerar a salvo. Enquanto a tarde na França se tornava cinzenta para dar lugar à noite, o nosso condutor dirigia o caminhão já bastante avariado pelas ruas de Villeurbanne, em sentido Lyon, a mais de cem quilômetros de Montbéliard.
Os solavancos da estrada encobriram por algum tempo a sua falta de reflexos ao volante, porém, mostrando que até mesmo um lobisomem possuía seus limites, Reece Grealish acabou atravessando a faixa central da pista, quase nos fazendo bater de frente com um ônibus que vinha em sentido contrário. Quando viu que ele não tinha mais condições de dirigir, Alex resolveu assumir o comando.
Àquele horário, a luz do sol já não era mais tão intensa quanto antes, mas eu precisava permanecer com a cabeça envolta na blusa de minha filha e as mãos escondidas por dentro de meus bolsos para não me derreter inteira. Eu tinha queimado mais de 50% da minha pele apenas com a mínima exposição da luz do dia, e me sentia como a carne de um churrasco na grelha.
Moribundo, Reece permaneceu sentado entre mim e Alex na cabine, mas estava prestes a colapsar. Como havia acontecido com Sergio em Grealish, o rapaz havia sido envenenado por prata, e o seu corpo não aguentaria por muito mais tempo as ações da infecção. Já tínhamos alcançado a rodovia Laurent Bonnevay quando Alex observou que nenhum de nós estava em condições de prosseguir viagem, e começou a diminuir a velocidade.
— Nã-Não podemos parar, Alex — disse Reece, quase balbuciando. —, eles vão nos alcançar...
— Eu os peguei de jeito lá na mansão. Os feri pra valer com a faca de prata. Não vão nos seguir.
Um gemido de dor e a revelação:
— Outros... Archambault mandará outros lobisomens atrás de nós.
A íris celeste oscilou do rosto pálido do rapaz nu entre nós e a estrada à frente, mas, em seguida, ela já tinha tomado uma decisão.
— Não posso continuar. Vocês precisam de um lugar seguro, ou vão acabar morrendo no caminho, antes que cheguemos a Lyon.
Alex conduziu o veículo até o centro comercial de uma cidadezinha a cinquenta quilômetros do nosso destino. Estacionou de maneira desajeitada em um beco próximo a um depósito de bebidas e mandou que esperássemos na cabine enquanto ela arrombava a entrada de trás do local.
Retornou com uma lona em mãos e me envolveu o corpo com ela conforme me ajudava a chegar em segurança até a porta traseira do armazém. Procurei o canto mais escuro no interior do local para me aboletar por lá, e aguardei que ela também trouxesse Reece. O rapaz estava ainda pior que antes e, febril, tinha começado a alucinar.
— O pacto... eles não vão me deixar voltar... A minha mãe morreu em vão... eu a decepcionei...
Alex correu para lacrar a saída do galpão a fim de evitar que curiosos aparecessem, atraídos pelo barulho que havíamos feito com a nossa chegada abrupta. A garota ajudou a deitar o herdeiro dos Grealish no chão, sobre uma segunda lona que cobria uma pilha de engradados de uísque, e lhe verificou a temperatura. Empapou os dedos com o suor em sua testa e começou a agir no intuito de salvá-lo.
— Preciso conter a infecção antes que seja tarde demais. Vou esterilizar o ferimento usando álcool. É isso. Preciso de álcool.
Enquanto eu tremia em meu canto, ardendo por conta das queimaduras sofridas mais cedo, vi Alex andando de um lado a outro do galpão a abrir uma dúzia de caixas de bebidas recém-engarrafadas, à procura da que continha a maior quantidade de teor alcóolico. Farejava cada uma delas pela tampa, até que encontrou um volume contendo um absinto francês com quase 73% de álcool em sua composição.
— Vai ter que servir.
Alex abaixou-se próximo ao rapaz desfalecido e o virou de costas. Afastou seu braço ferido do restante do corpo e começou a embebê-lo com o absinto, lavando externamente todo o sangue e a prata em sua superfície. Corajosamente, pôs-se a sugar a ferida na tentativa de extrair o metal que começava a percorrer a sua corrente sanguínea gradativamente, e cuspia fora goles quase ácidos de um líquido escuro que também lhe era mortal.
— Alex... a prata... vai te matar!
Encolhida na penumbra do armazém, procurando evitar a luminescência que ainda invadia o local pelas janelas mal cobertas, eu fiquei a assistir, impotente, à Alex chupando o corte braquial de Reece e cuspindo fora o veneno prateado. Fez isso uma dezena de vezes e, no final, estava vomitando e tossindo, com os lábios em carne-viva pelo efeito do metal que quase engolira.
— Isso não vai adiantar nada se ele não receber uma infusão que combata o envenenamento por dentro, filha... Pre-Precisamos voltar para West Ham... Scott pode salvar o irmão...
— Não há tempo, mãe — disse ela, limpando os lábios com o dorso de uma das mãos, apoiada com a outra em uma das paredes do galpão. — Até chegarmos ao condado, o Reece já terá morrido. Eu não consegui sugar nem metade da prata de seu corpo. Se continuar, eu também ficarei debilitada e não vou poder ajudá-lo.
Num ato de pura impulsividade, eu descortinei a lona empoeirada que me protegia da luz e me pus a rastejar em direção ao rapaz nu deitado no chão. Estava em péssimas condições físicas e ainda sentia como se a minha pele estivesse escorrendo pelas fibras musculares, mas dei a ordem, pouco antes de morder meu pulso com meus caninos e fazê-lo verter sangue:
— Cubra as janelas, Alex. A noite já está caindo sobre a cidade lá fora, mas essa luz ainda está me matando.
Não havia qualquer estudo ou pesquisa científica moderna que corroborasse a eficácia do sangue vampiro como um elixir medicinal, mas não eram raros os mitos a respeito de seu uso para a cura de ferimentos superficiais e, às vezes, até mortais. Eu jamais havia usado aquela prática nada ortodoxa para salvar alguém antes, mas a situação exigia medidas extremas.
Quando Alex terminou de cobrir os vidros do galpão com lonas, eu já havia virado o corpo de Reece para cima e dava-lhe de beber do meu sangue, pela chaga aberta em meu pulso.
— Mãe... Isso... vai funcionar?
Alex estava com os olhos estalados em nossa direção. Eu estava alimentando o rapaz que havia nos salvado na mansão Archambault com minhas últimas reservas de energia, e não fazia a menor ideia se aquele meu plano daria certo.
De alguma forma, os vampiros conseguem se regenerar de seus ferimentos com o auxílio de seu sangue... Dumitri me considerava alguém especial, a herdeira de uma linhagem mística que eu nunca soube bem qual era... Quem sabe aquele velho asqueroso não tinha mesmo razão? Quem sabe eu consiga curar Reece?
Quando recobrei a minha consciência, eu estava deitada no chão, ao canto do galpão, com a cabeça apoiada em uma trouxa formada por minha blusa e a de Alex. Havia gosto de sangue em minha boca e o meu queixo estava todo sujo, como se eu tivesse babado enquanto dormia. Ao erguer os olhos, vi bolsas de sangue hospitalares vazias jogadas por cima de um caixote quadrado e largo do lado oeste do salão, e respingos num tom rúbeo no chão.
Alex estava ajoelhada perto de Reece. Lhe acariciava os cabelos lisos com ternura quando percebeu que eu tinha acordado.
— O que houve? Eu estava com o Reece e... Não lembro de mais nada.
— Você apagou, mãe — respondeu-me ela, botando-se de pé e andando em minha direção. — Deu quase todo o seu sangue para que Reece bebesse e, depois, caiu desmaiada.
A minha cabeça zunia, mas sentia que as queimaduras da minha pele já estavam cicatrizando vagarosamente.
— O-Onde conseguiu essas bolsas de sangue? — apontei para as embalagens plásticas espalhadas sobre o caixote.
— Assim que você desmaiou, eu notei uma pequena melhora no estado de saúde do Reece e o deixei escondido atrás de alguns engradados, para o caso de que se alguém entrasse no galpão, não chamasse a polícia ao vê-lo... assim... nu.
Ela deu um risinho levemente malicioso antes de concluir sua história.
— Te arrastei para o canto, acomodei a sua cabeça numa trouxa de roupas e saí em busca de alimento. Peguei o caminhão e dirigi até a cidade mais próxima. Por sorte, encontrei um posto médico que guardava na geladeira algumas dessas bolsas de sangue para o caso de emergência, e eu as roubei. Assim que cheguei aqui, a fiz beber devagar... foi aí que começou a se recuperar.
Caso eu não queira que algo do tipo aconteça novamente, é melhor eu ampliar a franquia do hemocentro Santa Cruz para mais lugares do mundo, pensei, levemente irônica.
— Eu apaguei por quanto tempo?
Alex olhou para o lado de fora, por uma fresta da lona na janela.
— Quatro horas. Já é noite lá fora.
♦
Chegamos a Lyon por volta das nove da noite e, enquanto Alex ajudava Reece a se esconder em uma parada de caminhões de beira de estrada, eu utilizei um telefone público para fazer uma ligação a cobrar a um dos escritórios europeus da Rux-Oil. Contatei um de meus assistentes na filial suíça da petrolífera, e mandei que ele me arranjasse um voo da França para o Reino Unido com urgência.
— Mas, senhorita Di Grassi, algo tão em cima da hora pode demorar e...
— Eu preciso deixar a França imediatamente. Consiga um jato particular agora ou amanhã de manhã você estará demitido!
Eu detestava tratar meus empregados daquela maneira, mas, novamente, situações extremas exigiam medidas extremas.
As horas de espera pela chegada de um carro que iria nos tirar de Lyon foram as mais tensas. Estávamos a milhas de distância de Montbéliard e fazia muito tempo que tínhamos escapado da mansão de Archambault, mas era bem óbvio que ainda corríamos risco de sermos detectados. Lobisomens eram conhecidos como farejadores eficientes, e tanto eu quanto meus jovens acompanhantes havíamos deixado rastros de sangue por praticamente todo o caminho até ali. Naquelas condições, até um poodle sem treino algum conseguiria nos achar com facilidade só pelo cheiro.
Enquanto aguardávamos no interior do caminhão, Alex aferia novamente a temperatura de Reece e já constatava uma significativa melhora em seu estado febril. Ele ainda estava abatido e o ferimento em seu braço apresentava sinais de infecção, mas o rapaz parecia bem mais saudável do que há algumas horas.
Havia coberto suas partes íntimas com um pedaço de lona que segurava em torno da cintura, mas, volta e meia, ainda causava frisson em Alex, cujos olhos atentos continuavam atraídos para seu porte físico avantajado.
— Mas, afinal, quem eram aqueles lobisomens? Achei que você era o único licantropo ao lado dos vampiros de Archambault.
Reece ficou cabisbaixo antes de responder Alex.
— No início do pacto entre Archambault e o meu pai, eu era o único lobisomem que frequentava a mansão em Montbéliard, porém, com o tempo, Lucien começou a cooptar outros de nós junto à alcateia de meus irmãos, em Dublin, e agora ele os usa como verdadeiros cães de guarda para defender a propriedade durante o dia.
— Eu não sabia que vocês tinham tanta facilidade em se transformar sob a luz do sol. Achei que a metamorfose só ocorresse à noite — comentei, curiosa.
— Aqueles quatro que vocês viram são os soldados mais experientes do bando irlandês. Dominam totalmente suas habilidades metamórficas e são capazes de qualquer coisa para obedecer a Archambault. Além deles, existem pelo menos mais cinco outros morando nas redondezas de Montbéliard, só esperando as ordens de nosso mestre.
Reece estava visivelmente contrariado em nos revelar aquilo. Não parecia concordar com as ações dos companheiros lobos que agiam feito mercenários a serviço do Concílio de Sangue, mas se via em conflito por estar traindo Archambault ao nos ajudar em nossa fuga.
— Como fica o pacto entre seu pai e o Concílio, agora que você se rebelou? — lhe indaguei.
— Eu não me rebelei — respondeu ele prontamente, me deixando cabreira. — O acordo feito entre os Grealish e o clã de Archambault deve ser imutável. Assim que eu as deixar em segurança em Edimburgo, terei que retornar imediatamente a Montbéliard.
Alex o segurou pelo ombro, assustada.
— Mas, você não pode voltar. Você os traiu... nos ajudou a fugir de lá. Se retornar para aquela casa, Lucien vai castigá-lo... pode até matá-lo!
Havia resignação em seus olhos castanhos.
— Se eu não voltar, o pacto entre lobisomens e vampiros corre o risco de ser cancelado, e eu vou ser o responsável pelo reinício de uma guerra que trará muito sofrimento a todas as pessoas que eu amo. A minha mãe foi morta no começo de tudo isso por causa desse conflito idiota. Eu não posso permitir que a história se repita, Alex.
— Nós podemos voltar para West Ham. O seu pai pode conversar com Lucien para entrar em algum tipo de acordo... Eu não posso deixar que volte para Montbéliard.
Ele acariciou de leve o rosto de Alex antes de fazê-la entender que o seu destino estava selado:
— Não posso voltar para o condado. Se eu o fizer, Lucien saberá na hora que os lobisomens estão se organizando para lutar contra os vampiros e mandará que seus homens exterminem o meu povo. Eu jamais me perdoaria se algo assim acontecesse.
— Mas, Mason me contou que há quase duas centenas de lobisomens entre os dois bandos, de Grealish e de Dublin. Vocês não poderiam resistir aos vampiros? — indaguei a ele.
— Talvez, por algum tempo sim, mas Archambault controla todos os vampiros da Europa. Seria uma questão de tempo até que ele nos vencesse. Não há como enfrentar alguém tão poderoso.
O horário combinado para a chegada do veículo que nos tiraria de Lyon estava próximo quando ouvimos uivos distantes, beirando cada vez mais a nossa posição. Não estávamos fora do alcance dos lobisomens e eles haviam nos rastreado.
— O que fazemos? Ainda não estamos em condições de encarar uma alcateia inteira de lobisomens.
Alex olhava o retrovisor do caminhão que ela estacionara na parte mais deserta de um bairro pouco populoso da cidade. Para dificultar ainda mais que nos vissem escondidos, eu tinha dado a ideia de estourar as lâmpadas de todo os postes da rua num raio de dez metros, no entanto, o nosso sangue ainda impregnava nossas roupas, assanhando o olfato canino de nossos inimigos.
— Ainda não consegue se transformar em vircolac? Ouvi dizer que você venceu a Bethany Green com facilidade no Desafio de Fogo e, para um feito desses, só sendo alguém muito extraordinário!
Reece estava quase sorrindo entre nós duas, mas a resposta negativa de minha filha nos deixou preocupados.
— Eu tenho tentado desde que escapamos de Montbéliard, mas não consigo virar loba. A droga que me deram ainda está em meu organismo.
Ele ficou cabisbaixo.
— Culpa minha. Se eu tivesse me recusado a colaborar com eles, Adela não teria injetado aquele extrato em suas veias.
— Adela? Quem? Aquela ruiva do conselho de Archambault? — perguntou Alex.
— Foi ela quem autorizou que os vampiros a drogassem com um tipo de inibidor neural. É uma droga que age no cérebro impedindo a conexão das sinapses que controlam a transformação de híbridos meio-lobo, meio-homens. Archambault já havia testado o narcótico em lobisomens com resultados positivos.
Naquele momento, percebi vultos grandes e sinistros se aproximando do caminhão pelo espelho ao meu lado direito, e os alertei:
— Eles chegaram. Agora não tem mais jeito.
Eu não estava em minha melhor forma física, mas precisava agir no intuito de deter as feras que rapidamente nos cercaram no terreno em que jazíamos estacionados. Três dos cinco lobos empregaram um ataque veloz em minha direção, e eu precisei de todos os meus reflexos apurados para me esquivar.
Do outro lado, Alex já havia saltado por cima da outra dupla de animais para surpreendê-los, e usando as técnicas de luta que aprimorara ao longo da última década, a menina bateu forte em seus rivais, os atirando contra o caminhão.
Agindo sempre em bando, o grupo de lobisomens logo nos encurralou ao final da rua, mesmo com a nossa resistência a seus ataques. Nenhum de nós estava na totalidade de suas capacidades físicas e, era uma questão de tempo até que nossas energias estivessem esgotadas. Para o nosso infortúnio, nossos adversários pareciam incansáveis, e não estavam nem um pouco a fim de dialogar.
Quando Alex teve o peito rasgado ao meio pelas garras de um deles, mesmo com a guarda erguida, eu me distraí, e recebi uma mordida na coxa que quase me aleijou. Evitando se transformar para não exceder os seus limites, e tendo em vista que ele ainda estava com prata no organismo, Reece não viu alternativa. Golpeou o colega lobisomem que havia ferido a menina e se abaixou para ajudá-la a se erguer.
— Não vamos conseguir, Alex. Eles são muitos e mais bem-treinados que nós. Pegue sua mãe e fuja daqui. Eu vou distraí-los e levá-los para outra direção.
Enquanto Alex protestava que não queria vê-lo se sacrificar, o rapaz segurou seu rosto e lhe aplicou um beijo terno nos lábios. Agradeceu por ela o ter salvado parcialmente do envenenamento de prata e correu em direção aos lobos.
— REECE! PARA! NÃO FAZ ISSO!
Ignorando os seus gritos lamentosos, Reece Grealish retesou a musculatura momentos antes de permitir que o lobisomem dentro dele emergisse com um uivo alto e ressonante que estremeceu a vizinhança. Com um salto prodigioso, ele se engalfinhou com dois dos lobos antes de derrubá-los e atraí-los para a direção oposta onde nós duas estávamos. A alcateia começou uma perseguição alucinante ao rapaz de pelos dourados, e eu aproveitei para agarrar a relutante Alex e nos tirar dali.
— Reece é um guerreiro, filha. Ele sabe o que está fazendo. Venha. Nós temos que ir.
Sem olhar para trás, eu corri mantendo Alex o mais próximo de mim possível. A mordida em minha coxa doía mais do que deveria e eu passei a manquitolar. Atravessamos um terreno de mato alto até alcançarmos a estrada asfaltada, e começamos a ver os primeiros faróis dos veículos que cruzavam a cidade tarde da noite. Enquanto ganidos e uivos longínquos indicavam que a contenda de lobos continuava acirrada a alguns quilômetros dali, enfim, o motorista da Rux-Oil surgiu para nos levar, e tratamos de embarcar imediatamente no veículo.
O homem não me reconhecia como a empresária Alexia Di Grassi, dona de mais da metade do conglomerado petrolífero que movimentava bilhões de libras todos os anos, e ficou estarrecido quando me viu pelo retrovisor ao lado de Alex. Estávamos sujas, molhadas, feridas e malcheirosas por toda a ação do dia, e ele levou algum tempo para entender o que estava acontecendo.
— Para a pista de voo, homem. Agora!
Tão logo ordenei, o chofer deu a partida no motor e o nosso carro seguiu com destino ao aeroporto e ao avião que nos tiraria da França. Ao meu lado, Alex estava inconsolável, e lágrimas de sangue escorreram de seus olhos enquanto ela olhava pela janela do carro, na esperança de ver Reece uma vez mais.
"Ele se sacrificou por mim... Eu o salvei do ferimento por prata, mas ele pôs tudo a perder ao se jogar sobre aqueles lobos..."
Seus pensamentos eram claros para mim, mas não tanto quanto as emanações da profunda tristeza que minha filha estava sentindo em deixar seu primeiro amor para trás, à mercê da feroz alcateia de Lucien Archambault.
Depois de tudo que aquele homem havia nos causado ao longo daquele dia terrível, se ficássemos novamente frente a frente num futuro próximo, eu teria prazer de rasgá-lo ao meio e deixar que os ratos se alimentassem de seus restos pútridos.
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