Capítulo 30 - Irmãos de sangue

DIFERENTE DO QUE ACONTECIA com qualquer mortal, eu não conseguia captar os sinais vitais de Costel e aquilo tinha garantido que a sua presença só fosse descoberta por mim num último instante antes de ele degolar Dumitri. Meu meio-irmão tinha me privado da minha vingança contra o único homem que eu já havia temido na vida e agora só me restava caçá-lo e puni-lo por seu erro.

Não havia qualquer sinal de outras pessoas no interior daquele castelo sombrio e eu o percorri inteiro tentando encontrar Costel. Ele não tinha mais do que poucos minutos para sugar o que restara do sangue do corpo de nosso mentor antes que o líquido frio se tornasse indigesto e foi exatamente esse tempo que ele levou para reaparecer. Meu meio-irmão estava na sala espaçosa do lugar, a encarar a lareira apagada. A catana estava presa a uma bainha de couro às suas costas e ele parecia me esperar ali. Eu tinha recuperado a minha rapieira.

— Ele não podia mais conceder vida eterna à minha sobrinha, Alina. Ninguém mais podia. — Costel virou-se devagar e me encarou com os seus olhos azuis penetrantes. — A menina está morta há várias horas. Nem mesmo Dumitri poderia transformá-la numa vampira com tanto tempo de intervalo. Ele só estava protelando para tê-la de volta.

— Eu nunca voltaria a ser daquele monstro! — falei, engrossando meu tom de voz, apontando-lhe o florete.

— Dumitri serviu a seu propósito. Eu vazei pistas de onde qualquer um poderia encontrar você e a sua família idiota. Ele a encontrou, raptou a menina e voltou para o único lugar onde essa história poderia se encerrar. Aqui — e ele abriu os braços olhando ao redor da sala decadente de paredes rígidas e sujas —, o castelo onde a nossa história realmente começou. Nosso velho mentor sempre foi previsível.

— Por que você disse a ele onde eu estava vivendo, Costel? Qual a razão dessa loucura?

Eu já sentia a Beretta roçando meu seio esquerdo por dentro do casaco.

— Eu passei um bom tempo procurando pistas do paradeiro de Dumitri pelo mundo todo, mas esse velho maldito parecia ter desaparecido. Eu cheguei a contratar pessoas para ficarem de olho nesse castelo decadente à espera de que um dia ele retornasse para cá, mas isso não aconteceu por mais de vinte anos pelo menos. Ele estava desaparecido do radar e só havia uma coisa que seria capaz de tirar esse morcego decrépito da sua caverna — e ele abriu um meio-sorriso apontando para mim.

— Qual o seu interesse em Dumitri? Por que se deu a esse trabalho todo para me atrair, para atrair a ele?

— O que mais poderia ser, minha bela e doce irmãzinha? O sangue, claro! É ele quem nos move, é ele quem comanda as nossas ações. Eu precisava do sangue daquele que havia me transformado correndo em minhas veias para me tornar ainda mais poderoso.

Havia um tom arrogante na voz de Costel. Ele estava ainda mais distante de sua humanidade, ainda mais perverso.

— Adon e a sua seita de bruxos pervertidos me ensinaram tudo que eu precisava saber para que eu deixasse de ser um lacaio e me tornasse o alfa. O sangue de um humano comum pode nos manter vivos por mais uma noite, regenerar os nossos ferimentos... mas o sangue de outro vampiro? Esse sim contém todo o poder que necessitamos. O verdadeiro poder.

Eu nem tive chance de usar a rapieira, e na velocidade de um piscar de olhos, Costel deslizou para trás de mim e quebrou o braço com a qual eu segurava a lâmina. Senti o seu hálito indo em direção ao meu pescoço, com ele segurando o meu membro fraturado. Eu estava imóvel e lascivamente ele lambeu a minha pele.

— O sangue de Dumitri agora corre em minhas veias, minha irmã. Enquanto ele se une ao meu, eu estou me tornando o vampiro mais forte e resistente que você já conheceu. Logo, nenhum outro sanguessuga vai ser capaz de me deter, nem mesmo você e esse seu florete obsoleto.

A rapieira estava caída no chão aos meus pés. Costel havia quebrado o meu braço direito. Eu não podia alcançar o coldre da Beretta no lado oposto do sobretudo com a outra mão.

— C-Costel... eu sou a sua irmã. Nós passamos por muitas coisas juntos... por quê...

— Por que eu me tornei esse ser vil e impiedoso? — Pela primeira vez, ele tinha conseguido ler a minha mente. Costel nunca antes havia sido capaz de usar a telepatia vampira. — Por uma questão de sobrevivência, minha cara. Depois que Adon me raptou em frente ao bordel em Oradea e começou a me usar como uma fonte viva para o seu desejo ridículo de se tornar imortal como nós dois, depois que os meus poderes de manipulação passaram a ser usados inversamente, eu me libertei daquele ucraniano idiota e passei a buscar o meu próprio caminho. Comecei a caçar vampiros pelo mundo e cada um que eu capturava, experimentando o seu sangue em seguida, me deixava ainda mais forte. Logo percebi que eu precisava derrotar aquele que tinha me criado. Se vampiros comuns já me deixavam extremamente vigoroso, o que o sangue do rei deles teria a me oferecer? E o da sua rainha?

As presas de Costel saltaram da sua boca e se cravaram em meu pescoço com uma força descomunal. As suas mãos agarraram os meus dois seios e me forçaram para baixo, dobrando os meus joelhos. O meu sangue começou a jorrar do ferimento que ele havia aberto em minha jugular e eu sabia que só tinha uma chance de fazer aquilo direito.

Eu não tinha mais o controle do meu braço direito, mas com o esquerdo, eu alcancei o cabo da rapieira no chão e trespassei a lâmina em minha própria barriga, atingindo também Costel. Todo o extrato de alho na superfície do metal havia sido injetado diretamente em minha corrente sanguínea, tornando o meu sangue indigesto para o meu meio-irmão. Enquanto ele me empurrava para a frente ferido no abdômen, começando a cuspir o sangue com o gosto de alho ainda em sua boca, eu abri o casaco com a mão esquerda e arranquei o coldre do bolso interno com meus dentes. Saquei a arma que Enzo havia usado para balear aquele vampiro no celeiro de Eindhoven e apertei o gatilho inúmeras vezes, mirando a cabeça de Costel. Com as pupilas esbranquiçadas e guinchando com todo aquele alho queimando dentro do seu organismo — e também do meu —, ele protegeu o rosto com o braço e eu o atingi seis vezes, até que o pente se esgotou.

— Eu o amo, Costel. Sempre o amei, mas agora você precisa morrer.

Doía como se o próprio Diabo estivesse tirando oseu braço de dentro de mim, mas eu arranquei a lâmina da rapieira do meuabdômen e a puxei pelo cabo, partindo para cima de Costel. Ele estava inteirocrivado de balas com o nitrato de prata fazendo o seu sangue se esvair docorpo, mas mesmo assim, eu me precipitei contra ele como uma esgrimista,decidida a apunhalar o seu coração. Um movimento rápido por puro reflexo osalvou da morte certa e eu o atingi por entre as costelas. Ele gritou de dor ecomo um último ato de autopreservação, se afastou, projetando o corpo contra ajanela em seguida. Eu ainda corri até o lado de fora, mas Costel haviadesaparecido. Tudo que havia restado era um rastro de sangue. Eu estavadevastada.        

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