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Alice estava animada com as novas companhias, na quarta fora ao cinema com Fernando, Diego e Elton. Na sexta, acompanhou Diego no lançamento de um livro e no fim de semana participou de um piquenique no parque com a turma que conhecera no show e mais algumas pessoas a quem Elton fazia questão de apresenta-la como sua mais nova melhor amiga, sempre fazendo graça e animando a todos ao redor. Os encontros com os novos amigos eram cada vez mais frequentes, já sentia-se parte daquela turma e a proximidade com Diego, Fernando e Elton era cada vez maior e isso talvez estivesse começando a ser um problema.
Alice gostava das conversas interessantes, inteligentes, os comentários perspicazes e a quietude de Diego, das visitas à museus e os bate-papos descontraídos em cafeterias. Gostava das palhaçadas de Elton, de como ele sempre a fazia rir, de como abraçava as pessoas com sinceridade, de como sempre tinha algo interessante para fazer ou contar, sempre com novidades e com ideias sobre viagens e passeios. Gostava do jeito amigável, das longas conversas ora filosóficas ora tolas com Fernando, de como tudo parecia sempre simples quando estava com ele.
Algo dentro dela não conseguia mais distinguir entre amizade e amor, e vez ou outra se perguntava, se gostava deles como amigos ou se era algo mais. Já surpreendera-se pensando em Diego como algo mais que um amigo, e assim também com Elton, e embora nunca se pegara pensando dessa forma em Fernando, as mensagens dele faziam avivar algo dentro de si.
***
O sábado seria um dia de encontros, Fabi organizara uma festa para poucos amigos e Alice estaria presente, embora Fabi demonstrasse um certo ciúme das novas amizades de Alice, a curiosidade para saber sobre os novos amigos e que passeios faziam eram sempre maiores que o ciúme. Fabi não era uma má amiga, só era um tantinho egoísta, e não apenas com Alice, mas com todos os outros amigos. Naquele sábado, Fabi estava animada com sua festa, eram umas poucas pessoas, pouco mais de 20 amigos reunidos em sua casa, falando sobre a vida, contando novidades e no meio da conversa Fabi disse a todos que Alice estava como novos amigos e que era um milagre ela estar ali tendo um tempinho para os velhos amigos. Alice decidiu não se estressar com aquilo, mas era um tanto quanto injusto, ela sempre fora uma amiga leal, os novos amigos eram apenas mais parecidos com ela e, mais que isso, ela sentia-se a vontade com eles, coisa que há tempos ela não sentia ao lado dos velhos amigos, então apenas sorriu e balançou a cabeça em negação. O que veio a seguir foi o que realmente a surpreendeu.
_ Alice, agora de verdade... – Fabi perguntou na frente de todo mundo e sem cerimônias – Cê tá a fim de algum deles?
_ Como? – surpreendeu-se Alice diante da pergunta e dos risinhos curiosos a sua volta.
_ Ai Alice, três caras e eu já vi a foto deles, já ouvi cê falando deles também. Tipo o Fernando, acho que é o Fernando, te manda mensagem todo dia e é gatinho. O outro, acho que é o Elton, sempre que cê fala dele, cê fala com um sorriso que vai de orelha a orelha, embora ele seja feinho na minha opinião...
_ Nada a ver – Alice cortou a amiga tentando encerrar o assunto.
_ Continuando... o outro é bem bonitinho e todo intelectual, o Diego. Então qual é? Qual dos três?
_ Nenhum dos três, Fabi. Eles são meus amigos – Alice respondeu com o rosto ruborizado.
_ Então por que cê tá vermelha? – Fabi provocou deixando a amiga ainda mais envergonhada.
Alice apenas balançou a cabeça e se levantou indo direto para o único lugar seguro da casa naquele momento, o banheiro.
Lá, Alice sentiu o coração bater acelerado e o rosto ardendo. Que ódio estava sentindo de Fabi naquele momento, ela poderia até ter feito aquelas insinuações, mas numa conversa entre as duas apenas. Há tempos Alice sentia que não se encaixava mais naquele grupo, aquelas pessoas que conhecia desde o tempo da escola, mas eles cresceram, mudaram, já não eram mais as mesmas pessoas, não tinham mais os mesmos interesses, quando se encontravam deveria ser divertido, mas era divertido para os outros, nunca para ela, faziam sempre questão de relembrar o quanto ela era atrapalhada, dos micos que sempre pagava, sempre davam um jeito de fazer ou dizer algo que a deixava envergonhada e, pior, sentindo-se humilhada.
Ali pensou sobre o que Fabi falou e sobre o que ela mesma desconfiava, não sabia se gostava daqueles meninos como amigos ou como algo mais, mas naquele momento uma certeza acendeu dentro de si. Sua confusão acontecia porque os amigos que tinha não a faziam se sentir bem, ao contrário deles, com eles se sentia bem, se sentia feliz, acolhida, então era isso, não estava apaixonada por eles, gostava deles, era amor sim, amor de amigo.
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