Baby Boy - Amostra Final (por enquanto)
Por Diogo
Sou obrigado a entrar num assunto que passou a me deixar desconfortável, pois o passado às vezes vem à tona e um nome que por anos me assombrou foi repetido letra por letra quando parei em frente à uma livraria católica para comprar um hinário para minha mãe recomendado por alguma de suas amigas tão religiosas quanto ela.
Reconheci o nome da livraria e em minha mente desenrolou parte da história do casal que eu sempre comparei com águas profundas e densas.
Jacó era casado com Isis e ambos abriram um pequeno negócio que deu muito certo, muito mais certo do que eles sonhavam ou almejavam. Ele colocou todo saldo do FGTS de dezessete anos trabalhando como vendedor e ela tinha dois empregos ou melhor, era professora nos três períodos e ainda era catequista nos sábados. Porém tinham o propósito de abrir seu Católica Café e Leitura, que juntaria as paixões deles.
Ninguém aqui vai dar aula de como se abre empresa e sabemos que não é fácil e nem barato abrir as portas de um estabelecimento, tendo que atender todo o tipo de exigência que faz o orçamento guardado pra comprar o ativo da empresa, diluir rapidinho.
Jacó e Isis logo perceberam que precisariam de um capital maior para iniciar, então, digamos que seu filho João Mateus com quem tive um rápido relacionamento, resolveu confidenciar-me basicamente toda a sua vida e amarguras, antes de fazer uma escolha para si e abandonar o caminho que haviam traçado por ele.
Minha memória sobre o J. Mateus decidiu vir em flashes ou sonhos, me pegava relembrando de como ele entrou em minha vida e o quanto sua lembrança empurrava o Jorge para um lugar insignificante de meus pensamentos. Isso era totalmente involuntário.
Há vários anos atrás, na mesma empresa que me empregou e permitiu excelentes oportunidades, encaixaram um jovem aprendiz interessante e interessado em aprender qualquer coisa que o tirasse de casa, pois era lá que seus pais o mantinham como um bibelô. Aliás, sua mãe e seu padrasto Jacó.
Um ex colega da empresa, aproveitou-se de seu jeitinho e pegou pesado com ele e eu o bocó, achava melhor abster-me de qualquer comentário que o defendesse. Não queria me meter e também vez por outra sofria o mesmo na pele. Havia um limite e ali eu fiquei esperando o colega chegar, para intervir ou não.
Quem me conhecia mais profundamente (sem duplo sentido), sabia que eu gamava num baixinho, especialmente nesse jeito afeminado. Não demorou pra eu ter um sonho molhado com o rapaz e na seca que eu andava, acordei gozado e ainda assim cheio de tesão. Sorte de eu não dormir pelado, foi poupar o cobertor e bater mais uma por cima da cueca mesmo e depois levantar naquele sábado onde eu me aproximaria do João Mateus e talvez virássemos amigos de foda sem compromisso.
João Mateus gostava de ser útil, amava atender as vendas menores e parecia convencer especialmente os homens a gastarem, o que despertou minha curiosidade a respeito de um suposto truque. O rapaz tinha curvas demais, curvas tão sinuosas quanto uma garota, um rosto bonito, mas que não era seu principal chamariz e sim o jeito de olhar. Tinha sim algo de muito misterioso quando ele levantava o olhar para qualquer pobre coitado, João Mateus continha a hipnose sem perceber do que era capaz.
Sua mãe vez ou outra lhe trazia almoço e junto com este, um dia, um recado que estranhei vir de uma mulher que afirmava-se tão "reta" com Deus. Ouvi de forma clara, ela dizendo que o Vilmar já estava no apartamento e já havia pago adiantado.
— Ele quer se acertar com você, filho.
— Esse homem é muito grosso! Mãe...
— Não adianta me olhar assim. Seu Vilmar não veio do Rio Grande por nada. Ele gosta de ti. Não seja rebelde, ainda sou tua mãe!
— Gauchão o cara, então? — meu ex colega lhe perguntou, supondo o mesmo que eu. Que um homem do sul viera para se reconciliar com ele e de certo locara um quarto ou imóvel da sua família.
Puta merda, como que posso falar algo sem ofender ou perturbar esse cara? Ele é comprometido, pelo que entendi na conversa, mas será que ele olharia pra minha cara de cachorro abandonado e me daria uma chance? Eu tinha que ser mais direto, mas isso exigiria alguma atitude mais safada da minha parte. Tá certo que eu queria sexo e acredito que o J. Mateus tendo um relacionamento, buscava e prezava por algo mais que isso. E eu não poderia me queimar com ele, tendo atitudes vulgares como, meu pau ereto que ele notou quando se virou. No entanto, do nada, me olhando e dando um sorriso dos mais safados que pode, João Mateus deu uma risadinha e bateu com sua régua na bochecha e olhou indiscretamente antes de sair de minha presença.
Perdi as contas de quantas vezes eu achei que ia dar uma carona pro "bandido" e no fim ele zarpava cedo da empresa e eu, feito besta ficava enrolando no estacionamento dos funcionários achando que ele ainda não tinha saído. Até o dia em que aceitou ser levado para a sua casa por mim. Senti o perfume que desprendeu dele, observei antes de dar a partida, os lábios bem carnudos e um tremor na mão direita do rapaz. Calado, mas capaz de me tirar a concentração.
— Fala guri. — Perguntei, imaginando que seu namorado gaúcho deveria chama-lo assim.
— Diogo, não fala assim que me faz lembrar de uma pessoa que eu odeio.
Caralho, eu pensei. Me desculpei e perguntei seu endereço, no que sua resposta foi:
— Preciso beber.
— Desculpe, mas acho que não podes beber.
— Quantos anos acha que eu tenho? — chutei no máximo dezessete e ele rebateu rindo que tinha vinte e quatro e que era bem mais rodado que eu imaginava. Confesso que isso me assustou antes de divertir e até me preocupou. Ele queria beber e eu fiquei indeciso se num bar ou meu apartamento. — Só me dê algo forte. Preciso esquecer a madrugada de ontem.
Somente bebemos. J. Mateus bebeu duas doses de uísque sem gelo, como se fosse água, sentou-se em meu sofá e fechou os olhos onde juro ter visto lágrimas antes que encostassem.
— Quer conversar?
— Quero mais uma dose.
— João... está me deixando preocupado. É algo na empresa? Família ou... talvez... o namoro?
— Não tenho namorado, nem namorada. Minha família coordena minha vida, meus relacionamentos, as direções que vou tomar e o que devo ou não contar dos meus segredos. Em resumo, minha vida não é minha.
— Enquanto moramos com a família, é complicado mesmo.
Ele dá uma risada, levanta-se meio cambaleante e usa meu banheiro. J. Mateus se transforma fora da empresa, isso é notável. Não há máscaras, nem de moço educado, tímido ou meio trouxa que ele usa. Percebo que ele é capaz de se defender sozinho se quiser. Pensei que se tratava de um garoto especial cheio de romance em si, mas não era nada disso. Levei poucos encontros para transar com ele e estranhamente foi um sexo tranquilo sem expectativa da sua parte. Seu rosto tinha expressões claras quando ele permitia ou seja, quando estávamos à sós.
— Sua família não permite que você namore?
— Não sei. Mas você não está preparado para a minha família.
— Nossa! Tá me assustando.
— Minha mãe me trata igual um bebê. E isso é literal.
Não era algo que me preocupara ou despertara a curiosidade. Minha mãe sempre fazia meu prato de comida, colocava o suco em meu copo e um dia quando ousei mexer em uma panela, tomei um tapa na mão como se fosse um garotinho.
J. Mateus contou-me tudo sobre a família religiosa, que na verdade se tornara assim quando dona Isis se casara novamente. Estranha e religiosa. Ninguém conhece o diabo, pois ele usa disfarce de anjo, o rapaz me disse e eu passei a suspeitar que eles fizessem parte de uma seita satânica e que meu sangue pudesse ser necessário para abrir um portal para o submundo. Me surpreendi quando os conheci e percebi que o próprio João Mateus é quem se tornava mais estranho junto dos seus.
A primeira vista não reparei nada além da aparência franzina e delicada, pequeno e branquinho igual a um copo de leite. A expressão beirava a arrogância de garoto mimado. Fui capaz de tecer a ideia de que ele assemelhava-se a um boneco de porcelana, birrento que mandava nos pais, pois ela ia além de fazer seu prato e pôr seu suco, cortava a carne e esfriava, provava se não estava quente e também o alimentava na boca.
— Come tudinho. Senão, seu amiguinho não pode entrar mais nessa casa. — achei que se tratava de uma brincadeira deles e o choque não foi menor quando ouvi — Meu neném vai pro banheiro tomar seu banhinho, que a mamãe já vai fazer a mamadeira. O seu amiguinho pode olhar o seu banho. Já volto...
O que isso que eu ouvi?
Senti alguns arrepios de medo subindo pela espinha. Quis fugir daquele ambiente, mas minhas pernas não obedeciam. João não conseguia olhar nos meus olhos enquanto ela limpava sua boca com um guardanapo. Observei a mulher fazer a mamadeira, usando pá de medida para o leite e lavou uma chupeta com água fervente.
— Vem amigo... — ela me chamou para o banheiro, mas minhas pernas não obedeceram. — Depois se quiser por a fraldinha dele, eu deixo... Pode olhar ele dormindo também.
— Sem fralda por favor, mãe. — J. Mateus agia cabisbaixo, aceitou a chupeta e por ela era incentivado a chupar com força como se fosse o peito da mamãe.
— Desculpa, eu preciso ir...
— Espera!
Saí quase correndo, destrancando a porta no desespero. Meu carro não pegou de primeira, senti como se estivesse num filme de horror, mas percebi que era só desespero, pois no dia seguinte, o rapaz estava na loja e tentou me convencer a encontrá-lo num lugar onde pudesse me explicar.
— Sua mãe e você... — não consegui sugerir o que me passou pela cabeça — Seu pai vê essas coisas?
— Meu pai? Jacó não é meu pai. Ele é meu cafetão.
***
Enfim, isso é o máximo que saiu dessa cabeça que não anda tão bem assim, Mas agradeço o carinho e apoio, deixo mil beijos, pelos de gatinho, aliás perdi dois gatos neste ano e meu coração ainda sente bastante.
Fiquem bem e com saúde, com paz e desejo tudo de melhor =^.^=
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