Véspera de Natal

Toda a casa foi tomado por uma energia fúnebre de planos macabros e sombrios para matar uma pessoa. Os demais não entendiam oque falávamos, mesmo eu ainda tendo desconfianças que Maggie sabia, lançava olhares diretos para mim como se dissesse "eu posso ajudar". Não queria meter mais ninguém naquilo, todos fingiam que estavam vendo os filmes que Christian se animava colocando.

Anthony andou em círculos dez vezes pela cozinha, pegou uma garrafa de água e bebeu tremendo. A noite caía e não tínhamos noção de como matar Alberto. Tudo girava na minha cabeça só pensar nos três sendo preso.

-Anthony...

-Calma, Guilherme - ele diz. - Oque acha de falar com Beto?

-Beto não faz mais isso, tem três filhas e um emprego bom.

-Oque acha de Ruan?

-Aquele que se mudou para França? - desdenha Guilherme. - É nós por nós...

Respiramos pesado por uns cinco minutos.

Por fim, decidimos que iriamos só, eles foram embora nos deixando em um silêncio agonizante. Anthony passou em casa e trouxe um pequeno revólver, era véspera de natal e tínhamos um revólver na mesa e munição. Teríamos seis tiros para acertar Alberto. Era isso.

Pegamos o carro de Anthony e fomos, desviando de carros e encarando rodovias noturnas, iluminadas por pisca-pisca e decorações natalinas. O frio entrava pelas janelas revirando papéis e meu cabelo solto, Guilherme me colocou a mão pra fora, tentava sentir o vento, eu não entendo de sinais ou qualquer coisa, mas uma sensação em mim me diria que aquela seria suas últimas adrenalinas.

Talvez trauma meu.

***

-Alexia, fica no carro.

Guilherme estava tentando manter a calma, aquele prédio era o de Alberto? No fundo da cidade, em um bairro perigoso. Era uma rua iluminada de luzes amarelas, fracas e com manchas na tela. Pessoas fumavam em becos e mendigos se esquentavam em latas com fogo, estava um frio horrível e para eles ainda mais. 

Anthony entra primeiro no prédio e depois Guilherme o acompanha, e assim me deixaram ali, minutos em silêncio, esperando um tiro disparar do terceiro andar. 

E quando a luz ascendeu, me espremi na janela para ver, rezando por Guilherme e Anthony conseguir, eu podia sentir meu coração batendo contra minha costela, eu podia sentir minha respiração bater e voltar no vidro, de encontro com meu rosto. O medo dos dois morrerem e Alberto vir ao meu encontro terminar o serviço.

Parei o nervosismo quando a luz apagou novamente, olhei em volta, as pessoas começavam a se perguntar porque um carro de luxo estava parado ali. 

Eles saem da pela porta do prédio e Anthony ainda tinha a arma em punho. Entram no carro já acelerando.

-Ele não está, sabe de nossa vinda até aqui - explica Anthony.

-Oque isso quer dizer? - pergunto.

-Ele pode estar com sua tia, ou sua família, já que amanhã é véspera de natal.

-Já é hoje a véspera, deu meia noite - informo.

-Que seja, temos que correr para sua antiga casa, me diz o caminho.

Guilherme não dizia uma palavra, com certeza ainda estava se culpando por aquilo tudo ser culpa dele, não tentei confortá-lo pois ele sentiria ainda mais, apenas fiquei em silêncio enquanto escrevia no papel para passar pro Anthony onde era. 

E assim seguimos.

Enquanto atravessamos a ponte, meu celular tocou, era um número desconhecido e resolvi atender, naquela altura tudo podia acontecer.

E aconteceu.

-Alexia?

-Quem é?

-Suspeito que saiba, avisa para os dois garotos no banco da frente que é melhor parar o carro ou irão morrer em três...

-PAREM O CARRO!

Anthony olha assustado pro meu rosto sem entender.

-Dois...

-PARA A PORRA DO CARRO! - avanço contra o volante e ele freia.

-Isso mesmo, manda o Anthony sair, sei que está armado. Quero os dois fora do carro - ele diz dando uma risadinha.

-É ele, disse que quer vocês fora do carro.

Guilherme me olha de canto de olho, e já abre a porta, antes de Anthony o puxar.

-E se ele atirar em nós dois?

-Estou ficando impaciente - diz Alberto no meu ouvido, sua voz grave me fazendo tremer.

Abafo o celular.

-Ele com certeza vai atirar, não saem - decido. - Eu saio.

Abro a porta e Guilherme desce junto, estávamos no meio da ponte, sem nenhum carro passando, esperando Alberto atirar em nossas cabeças. Que história repetida que seria, Romeu e Julieta dos tempos modernos.

-Olá, Alexia - ele diz.

Um carro acelera no fim da ponte para cima de nós, rápido como um tiro.

Voltamos para dentro do carro rápido e ele freia.

-Pelo visto é só Anthony armado, querida? - pergunta Alberto.

Desligo o celular, ele sai do carro branco dele. Estava sozinho e carregava um revólver, logo, todos nós saímos. Era um confronto final. Estava nós três de frente para um assassino experiente com sede de vingança, ele não tinha nada a perder, e isso era ainda mais perigoso. 

-Que saudade Anthony - ele diz sorrindo, mas ao mesmo tempo tinha lágrimas nos olhos. - Pelo visto perdeu o namorado para essa aí...

Guilherme segurava minha mão, eu tremia e ele estava decidido, olhando fixo nos olhos de Alberto, esperando qualquer movimento, como um cachorro.

-Vamos acabar com isso? - Guilherme diz. - Oque quer, já que matar não vai conseguir.

-Poxa, eu jurava que ia - ri Alberto. - Engraçado que, mulher muda tudo. Se isso fosse anos atrás, teria uma troca de tiro e alguém sairia morto. Agora temos que fazer toda uma jogada... Ah Guilherme, se seu passado contasse como você era realmente.

-Me livrei dele...

-Olha que engraçado, ele continua aparecendo - ele brinca se aproximando, Anthony aponta a arma e ele faz o mesmo. - No velho oeste, câmeras iriam fixar nos nossos olhos, até um atirar e nenhum acertar.

-Não estamos no velho oeste, e não erro tiro - comenta Anthony segurando a arma com as duas mãos.

-Que engraçado dizer isso, realmente o tiro na cabeça de minha mãe foi bem certeiro - ele diz agora ficando sério.

-Podemos esquecer o passado Alberto, eu já me desculpei e faço oque quiser...

-Não, não, nesse natal, o papai noel me deu esse presente, a sua morte e de Guilherme, e quem sabe agora de Alexia? Já que sua família agora dorme em paz.

OQUE?

NÃO.

-OQUE FEZ COM ELES?! - grito.

-Tudo tem um preço.

-NÃO! - grito e vou pra cima dele, Guilherme tenta me segurar, mas empurro Alberto e ele deixa a arma cair, o empurro outra vez e pego a arma no chão, mirando pra ele.

-ALEXIA, EU ATIRO!

Respiro fundo e olho para o cano da arma.

-ALEXIA, SAI DA FRENTE, ELE TEM OUTRA ARMA, RÁPIDO! - grita Anthony.

Eu consigo. 

Eu consigo.

-Vai me matar, Alexia? - pergunta Alberto sorrindo, a mão indo para trás da cintura.

-SAI LOGO!

Um clarão aparece na minha vista, e fico surda por um momento.

O tiro ecoou por todo o bairro, e depois mais um, eu não conseguia enxergar mais nada e nem quem foi atingido.

Caio no chão com a vista embaçada.






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