Últimos Momentos
Para meu alívio, o desmaio de Guilherme não foi nada sério. Eu diria que foi teatral, mas ele odeia quando uso essa palavra. Me abraçou, chorou, beijou, chorou novamente, ligou para seu pai ainda na rua dando a notícia, voltamos para o casamento, ele bebeu e riu mais ainda, já disse que ele chorou?
Foi disparado o melhor dia da minha vida, encerramos dormindo no terraço, como de costume, o porteiro Mário não estava dessa vez, porque tinha sido convidado para o casamento e bebido muito, foi direto pra casa.
Aquilo tudo ficou na memória, os sorrisos, os beijos, os choros, o "aceito". Guilherme era além de um par romântico sem dúvidas, era meu melhor amigo, isso é algo sem igual. E aqui estamos ainda, depois de três meses e pouco. Sim, isso tudo.
Faltando pouco tempo para Guilherme se formar na sua faculdade profissionalizante. Foi chamado para tocar em uma orquestra na França ano que vem. Ainda não tínhamos decidido o nome do bebê, e nem visto o sexo.
E é oque estamos fazendo agora mesmo, enquanto assistimos Harry Potter pela milionésima vez.
-Que tal Harry se for menino? - sugere Pedro.
-Previsível - corta Maggie.
-Não quer previsível? Coloca então Dumbledore, que tal?
-Cala a boca, Pedro - ela responde rindo. - Que tal...
-Ai gente, vamos deixar sem nome. Revolucionário, não é? Pra combinar com o tipo de casal - comenta Christian fazendo todos nós rimos.
-Qual nome do seu pai, Alexia? - pergunta Guilherme.
-Nada de nome de antepassados - respondo. - JÁ SEI!
Todos se viram para mim.
-Que foi gente?
-Fala! - eles gritam.
-Não, só vou falar...
-AI ALEXIA TU QUER MORRER? Não fica de cena não, fala logo o nome - grita Maggie.
-TU NÃO COMEÇA - continua Christian.
-Para de palhaçada e fala! - finaliza Pedro.
-Calma gente, vou falar...
Guilherme me olha atencioso enquanto come pipoca.
-Guilexia, se for menina, e Alherme , se for menino.
Os quatro começam a rir da ideia e continuo séria.
-Pera aí gente, acho que ela ta falando sério - acalma Christian. - Se você estiver falando sério eu vou rir mais...
-É sério.
Dito e feito, os quatro voltam a rir, Guilherme chega a derrubar a pipoca toda.
-Deus me livre, garota, você ta com noção ainda? - desdenha Pedro bebendo um gole da cerveja.
-Ai gente, então me dê nomes melhores - digo irritada e levantando pra pegar doce na geladeira.
-Calma, amor. Falta uns cinco meses e meio ainda - me tranquiliza Guilherme.
Maggie e Christian levantam juntos e se despedem de mim, ainda continuavam trabalhando. E Maggie, mesmo super grávida, não queria ficar em casa de jeito nenhum.
-Você deveria descansar, Maggie. Já falaram que isso pode atrapalhar - digo, passando a mão pela barriga dela.
-O bebê faz nove meses mês que vem, então... Mês que vem eu repouso - diz e sai, Christian a acompanha rindo.
Poucos dias para o último concerto de Guilherme, poucos dias para o nascimento de minha sobrinha, filha de Maggie, poucos dias para muitas coisas acontecer.
***
Quando o tempo passou, eu acessava sites que dessem para meu dinheiro e de Guilherme pagar um novo apartamento. Era finalmente o dia do último concerto, oque iria trazer seu diploma, então o teatro estaria lotado de familiares e alguns artistas.
Maggie, Pedro, Suzane e Christian estavam todos formais, bem mais do que no meu casamento. Eu coloquei um vestido preto e um rabo de cavalo, por mais que odiasse vestidos, eu era a esposa de um dos formandos. Não via Guilherme há dois dias, estava nos últimos períodos e dormiu com o pessoal da orquestra.
Nos aprontamos e descemos, entrando no carro de Christian e escutando música pop alta.
O teatro era majestoso e gigante, diferente do último que fomos na outra vez. Todos usavam terno e parecia uma cerimônia de festival ou algo assim, nem no centro da área nobre.Os ricos conversavam com a imprensa, outros tomavam champanhe, e alguns já passavam direto para a entrada.
Não era bem um festival, é só mais aquelas festas de rico que usam uma desculpa pra comemorar qualquer coisa e beber, e agendar futuros trabalhos, óbvio.
Passamos no tapete e ninguém nem ao menos virou para falar com a gente, entramos no grande salão e depois para o teatro. O segurança nos revistou e pediu os ingressos, logo depois disso seguimos para nossas cadeiras.
Foi cerca de dois minutos para Christian ir comprar barrinha de cereal para Maggie, porque ela estava com vontade e ele ficou na ponta. Controlei minha vontade de comer coisas estranhas pelo nervosismo de ver Guilherme, até porque oque eu queria comer não estava na loja de doces, e também era impossível comer tijolo aqui.
-Toma essa barra e vê se engole seus desejos até o concerto acabar - diz Christian irritado voltando.
-Te amo meu neném - ela brinca com ele.
-Senhoras e senhores, tenho o prazer de apresentar os formados da Boullevard, a nova geração da orquestra. E os atores do teatro que hoje presenteia essa cerimônia - diz um senhor de terno em cima do palco aos aplausos de todos. - Espero que aproveitem o espetáculo.
As cortinas se abrem e mais aplausos saem da platéia. Guilherme estava lindo e procurava a gente na multidão, quando achou, seu sorriso irradiou com o meu. Maggie e Christian eram os que mais gritavam e eu tive que fazer os dois pararem.
Quando começou eu me arrepiei, Guilherme tocou sozinho de início, o violino, o som ecoando por todo o teatro, hora lento e suave, hora mais grave. Ele caminhou até o centro do palco, expressado seriedade, e os bailarinos e atores começaram suas performances, e ele voltou para o meio da orquestra.
Foi uma peça linda, todos os músicos tiveram seus destaques e todos os bailarinos e atores, todo mundo fazendo seu papel. Muitas pessoas se emocionaram,e e u também, estava chorando com a história, música, Guilherme, tudo. Grávidas são emotivas sim, acabei de concretizar isso para mim.
Depois de quatro horas de espetáculo, com um intervalo, encontrei Guilherme na saída do evento na parte de trás. Nos beijamos, comemoramos, e ele mostrou novamente seu diploma que já tinha erguido no palco.
-Próxima parada: PARIS! - ele diz para eles, algo que eu já sabia.
Todos comemoram, menos Maggie, que olhava por dentro do vestido algo.
-Oque foi? - pergunto.
-A bolsa... Alexia... Meu filho está nascendo - ela diz, Guilherme a ajuda antes dela quase cair no chão.
-AMBULÂNCIA! - grita Pedro.
Todo mundo ao redor fica sem entender nada.
-ALGUMA AMBULÂNCIA RÁPIDO SEUS IDIOTAS! - ele grita novamente.
Logo após de uns minutos a ambulância chega.
-Alexia, ele está nascendo antes da hora!
-Calma, Maria, vai ficar tudo bem - eu quase nunca a chamei de Maria, era algo sério. - Me deixem ir na ambulância, sou médica - digo mostrando minha carteira.
-Eu também vou - se aproxima Christian, mostrando a dele.
Entramos e eles fecham a porta, deixando Guilherme, Pedro e Suzane para trás, e os três, aterrorizados.
O filho de Maggie deveria vir só daqui a duas ou três semanas.
-Respira, vai dar tudo certo - digo segurando a mão dela.
Ao mesmo tempo em que Maggie sabia o procedimento, nós não seguimos quando é conosco. A mesma respirava e tinha as contrações, mas fazia inúmeras perguntas do que podia acontecer se ele nascesse. Ela sabia os riscos de um bebê antes do tempo, eu nem precisava falar. E uma mãe nervosa só piora a situação.
-MAGGIE SE ACALMA, É PIOR SE FICAR NERVOSA! - exclamo desesperada após ela me fazer a décima pergunta. - MOTORISTA, MAIS RÁPIDO!
Ele avançou sinais e ligou a sirene. Meu medo era o bebê morrer dentro dela e a mesma sangrar até a morte.
Não.
Isso não iria acontecer.
-Alexia! Ele ta saindo...
-PAREM A AMBULÂNCIA! - grito.
O motorista continua correndo.
-EU FALEI PRA PARAR A PORRA DA AMBULÂNCIA!
E então, ele freia devagar.
Desço a maca de Maggie até o chão e rasgo seu vestido.
-Oque está fazendo? - pergunta Christian.
Os enfermeiros me olhavam assustados com medo de se meter.
-O parto do bebê.
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