Problemas e Soluções

Maquinista, namorado, morto-vivo, réu, presidiário... Quantas coisas poderíamos atribuir aqueles olhos verde e mel. 

Oque mais poderia acontecer com ele, uma vida de surpresa ruins, uma lista de outros adjetivos... Tudo me preocupava.

Quando vi as mãos de Guilherme serem algemadas, parecia que eu perdia totalmente as esperanças. O juiz disse que poderia sair por bom comportamento, mas todos sabemos como funciona esse tipo de coisa. No máximo eu só voltaria a ver Guilherme ano que vem, na metade do ano.

Anthony estava cochichando com sua advogada e ela o mandava ficar em silêncio, nem ele podia acreditar naquilo. Era um absurdo sem tamanho. 

Antes de virar a porta eu pude ler seus lábios, ele disse um "eu te amo" triste, oque me fazia acreditar que eu nunca mais iria vê-lo. Mais uma vez com essa incerteza, mais uma vez em um desespero por causa dele.

-Precisamos fazer alguma coisa - diz o pai dele ao meu lado.

Olho nos olhos dele, mesmo com suas pequenas esperanças ele sabia, não tinha mais nada a se fazer por Guilherme. Eu o visitaria na cadeia... Mas até quando o trabalho iria me permitir? Noites viradas sem sua massagem, sem seus cachos nas minhas mãos, seu corpo contra o meu.

Passo pelo pai dele, eu precisava correr, eu precisava fugir dali.

Empurro as pessoas do corredor e entro no banheiro, chuto a porta do toilet. Abro a tampa do vaso e vomito. 

Tudo acontecia tão rápido, muitas coisas em pouco tempo. Eu tinha medo do que viria, pois sempre as surpresas eram maiores que as anteriores. 

Vomito novamente. 

E então sento no chão frio, chorando, de soluçar. Podia ouvir os mundos se batendo no universo, podia ouvir o silêncio das borboletas no estômago. Eu estava um frio caótico, e o meu lado mais puro estava indo embora. 

Tudo podia acontecer, somos vulneráveis. 

Levanto do chão e vou me olhar no espelho. A advogada de Anthony lavava a mão e me olha com pena pelo espelho, escova seu cabelo curto e oval, arruma seu pequeno terno cinza e se vira para mim.

-Cadê ele? - pergunto de Anthony para ela. 

A mesma não me responde, seus lábios avermelhados continuam fechados. Possuía um ar de arrogância, seria inútil perguntar pra ela.

Saio do banheiro correndo.

-Senhora! - ela grita atrás de mim.

Empurro a porta e vejo Anthony, que da um salto do banco quando me vê indo na direção dele.

-Você não tinha mudado? Não tinha me dito sobre igreja e tudo mais? Cadê sua misericórdia Anthony? - continuo gritando e todos do corredor nos olham.

Ele tenta se afastar mas já encostava na parede e se via pressionado por mim.

-Eu não pude fazer nada...

-Mentiroso!

Alguém me segura quando tento bater nele, era o pai de Guilherme, começa a me afastar para longe da confusão me puxando pela barriga.

-Você é um mentiroso, que vai morrer sozinho, porque ninguém te ama! - grito e choro ao mesmo tempo.

-Me desculpa - ele diz com a voz embargada antes de eu perde-lo do meu campo de visão.

Manoel me solta e posso respirar, minha cabeça latejava e rodopiava várias imagens.

O tiro.

Minha quase morte.

A sala doze.

O pedido de namoro.

Maggie ensanguentada.

-Alexia - dizia Manoel me segurando na parede. - Por favor, respira.

O acidente.

A mídia.

Minha mãe.

Guilherme.

Marcos.

Manoel.

A prova...

-Alexia?

Desmaio.


***

-Ela está acordando...

Uma luz invade minha vista, alguém toca meu corpo e escuto mais vozes ao redor.

-Você pode me ouvir? - pergunta a enfermeira. - Alexia, você pode me ouvir?

-Posso - murmuro.

Quando minha visão se acostuma com a claridade vejo Manoel, Maggie e Christian. Todos respiram aliviados quando começo a me mover.

-Você desmaiou no tribunal e lhe trouxe pra cá - diz Manoel chegando perto de mim. - É seu hospital não é?

-É sim - levanto do travesseiro e sento na cama.

Maggie se aproxima com aquele olhar de "você vai me contar tudo oque aconteceu mais tarde". Olho para Christian, o mesmo estava com aquele ar de preocupado em um exagero como se eu tivesse quebrado três ossos.

-Preciso levantar - digo para a enfermeira.

-Se conseguir, você está até liberada - ela explica.

Levanto um pouco tonta, mas consigo me manter.

-Vamos - digo para os três que me acompanham.

-É... Alexia...

-Fala - continuo andando.

-Tem... Tem alguém querendo falar com você aí atrás dessa porta - diz Manoel apressado.

Quando abro a porta da enfermaria, era Anthony. 

Engulo em seco.

Ele levanta da cadeira com as mãos na jaqueta um pouco envergonhado. Eu vestia apenas um avental e começa a me sentir desconfortável, o refluxo estava vindo de novo e eu poderia vomitar a qualquer momento.

-A gente pode conversar sozinho? - ele pergunta olhando no fundo dos meus olhos e em seguida para todos atrás de mim.

-Podemos, me encontra na mesma sala de sempre, eu vou trocar de roupa - olho para Maggie desesperada, porque ela tinha que saber onde estava minhas coisas.

-Vamos - diz Maggie entendendo meu recado.


Quando coloquei meus jeans e blusa branca de botão, encontrei Anthony na sala doze. Ele estava sentado na cama quando cheguei e ficou de pé como se fosse uma cerimônia. Maggie me aguardava na porta caso algo acontecesse, traumas nos previne, seja qual for.

-Pode se sentar - ele diz.

-Só começa a falar logo - digo sentando na poltrona e ele na cama.

-Bom, eu não estou nada contente com Guilherme preso se é oque acha, eu até tentei tirar a acusação, mas não tenho dinheiro pra isso...

-Tudo bem, me desculpa pelas palavras de ontem - conforto.

Na mesma sala em que Anthony, muito diferente de hoje, tentou me matar, agora nos reconciliamos. 

-Eu estou me aprofundando na palavra para ser padre... Eu encontrei a paz, Alexia - ele diz com os olhos marejados. - E oque você acha que acontece agora?

Olho para o chão, ninguém era capaz de responder aquilo.

-Não sei, Tony... - digo o olhando nos olhos. - Mas pelo menos algumas coisas estão se resolvendo - ele sorri orgulhoso dele mesmo e retribuo.

-Saiba que pode contar comigo pra tudo, dinheiro... Qualquer coisa - ele diz e se levanta. - A gente vai conseguir tirar ele de lá.

Levanto e o abraço.

-Obrigada.

Ele me aperta mais forte e depois sai ela porta.

Olho em volta, Guilherme estava a horas na prisão e eu não tinha ido pedir visita. Imagino oque ele deveria estar pensando, que desisti ou algo assim.

Saio pela porta e Maggie me encontra.

-Já estava indo entrar - ela diz me entregando um copo de café.

Bebo o frappuccino e ano pelo hospital quase como uma sonambula. Não tinha força nas pernas direito.

-Vai pra casa - diz Maggie. - Michelle te liberou hoje.

Aquela notícia cai como uma luva. Dou dois beijos em Maggie e digo para quando ela terminar o trabalho ir me visitar.

Desço pelo elevador e ando pelo hall gigantesco do hospital, todo de vidro com vista para uma praça enorme, saio pela porta da frente que eu mal usava. 

-Alexia?! - chama Manoel sentado em um banco. 

Ele me chama e sento ao seu lado.

-Oque houve? - pergunto bebendo mais café.

-Eu estive pensando esperando você sair...

-Que bom que eu saí por essa saída hoje - digo rindo, mas paro quando percebo que ele estava sério. - Oque houve Manoel?

-Tenho o dinheiro.

Ele traga um pouco do cigarro e sopra contra o vento.

-Tenho o dinheiro para tirar o Guilherme de lá - ele diz.

Meu peito se enche de esperança rapidamente e meu café cai no chão. Ele sorri para mim e eu retribuo ainda mais feliz.

-Vamos tirar ele de lá? 




Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top