O Início do Massacre
Quando Maggie nos contou tudo oque houve eu mal conseguia assimilar o resto da conversa. Marcos tinha batido em Maggie por duas vezes, e ela não quis contar para gente por vergonha, e tem mais, ele ameaçou acabar com a vida dela se a mesma fosse na delegacia. Ou seja, mesmo quando parece ter resolvido todos os problemas, novos aparecem, cada vez pior.
Fomos fazer oque estava planejado, tentando ao máximo ignorar minha vontade de pular com uma faca no pescoço de Marcos sempre que o encontrava em um corredor. Ela nos disse para agirmos normalmente, mas eu nunca consigo esconder meu ódio por alguém.
Acabamos nossas tarefas lá pela meia noite, ainda saímos cedo pois amanhã seria o dia da grande e última prova. Todos nós estamos nervosos e impacientes para fazer, decidi ir com eles em uma lanchonete e pedi que Guilherme me aparecesse.
Christian estava no balcão pedindo nossos lanches quando comecei a interrogar Maggie.
-Isso tem acontecido a quanto tempo? - pergunto quase cochichando.
-Desde que voltamos, ele tem sido bastante ciumento e desconfiado de todos...
-Estou falando do seu caso com outro homem - interrompo.
Maggie olha para suas mãos debaixo da mesa.
-Você precisa me dizer - insisto.
-Não muito tempo.
-E já foi pra cama com ele?
-Alexia!
-Tudo bem que eu e Guilherme fomos rápido, mas filho? Eu tomo os remédios.
-E eu não, ok? É minha vida - ela diz.
-Então porque quer nossa ajuda? - pergunto irritada.
Maggie engole em seco, ela sabia que eu estava certa. Christian chega com os lanches nas sacolas e senta ao meu lado, percebendo o clima tenso o mesmo continua em silêncio.
-Olha só, vocês duas não vão ficar assim. Maggie, ou conta, ou não terá nossa ajuda - ele diz.
-Ótimo amigo vocês - ela diz. - Tudo bem... Eu transei com um outro médico, de raiva, sei lá. Queria me vingar de Marcos...
-E como sabe que está grávida? - pergunta Christian começando a comer as batatas.
Nós duas olhamos para ele.
-Desculpa gente, não sou mulher né...
Ficamos em silêncio quando Guilherme entra na lanchonete, sorria e andava alegre. Ele senta ao meu lado e me dá um selinho.
-Atrapalhei alguma coisa? - ele pergunta percebendo em como ficamos quietos.
-Não...
-Sim - me interrompe Maggie. - Alexia, vamos lá fora por favor?
Ela diz com os olhos marejados. Levantamos da mesa deixando os meninos sozinhos, atravessamos a lanchonete e saímos.
Antes mesmo dela se virar eu sabia que estava chorando. A abracei e virei para meu rosto, ela chorou por uns dois minutos e não falei nada, não tinha oque falar naquela hora, e frases clichês não funcionam conosco.
Quando Maggie parou, ela limpou a maquiagem e ajeitou o cabelo, respirou enquanto tentava parar de tremer.
-Eu preciso me livrar de Marcos - ela diz.
Continuo encarando Maggie.
-Se ele descobrir que estou grávida de outro homem, ele vai me matar - ela diz passando a mão na barriga.
-Você tem certeza que não é dele?
-Não, mas... Pode ser de outro, entende?
-Maggie. Temos que fazer exame para ver quem é o pai...
-Ele não vai querer fazer...
-Maggie! Me escuta, ele vai fazer! - continuo dizendo. - Ou, eu acabo com a vida dele primeiro.
Ela me abraça e choramos juntas.
***
Todos dormiram na minha casa, era a sexta-feira finalmente. Nós três estudávamos apressados, Christian sabia todas as respostas, Maggie sabia a metade, e eu já rezei três vezes pra passar.
Era tarde e começamos a nos arrumar com os livros na mão. Guilherme recitava os termos na cardiologia enquanto eu escovava os dentes, depois ele escovou meu cabelo enquanto eu terminava de ler sobre os curativos.
-Olha esse aí - ele diz apontando a página. - Te lembra alguém?
O desenho de um homem enfaixado na cabeça, exatamente como fiz com ele. Guilherme ri e continua escovando.
-DEZ MINUTOS PARA A GENTE DESCER! - grita Maggie da sala.
Dou um pulo fazendo Guilherme quase cair da cadeira. Corro para o quarto e pego minha bolsa, os documentos e materiais pra fazer a prova. Christian e Guilherme estavam prontos nos esperando na porta, Maggie correu para pegar o batom e passou por mim pela porta, a fecho e descemos.
O Uber que pedimos estava lá fora nos esperando um pouco impaciente pela demora, me jogo no banco e começo a recitar tudo que li mentalmente.
O carro acelera e seguro a mão de Guilherme.
-Vai dar tudo certo, vocês são excelentes - ele diz rindo.
Quando chegamos, correndo, suados, os olhos dos residentes nos fitaram de cima a baixo. E só então pude entender, Guilherme. Sou o caso famoso do hospital por causa dele, e agora ele está aqui ao meu lado. Todo mundo nos observava como se estivéssemos na vitrine.
-A última vez que tive tantos olhos virados para mim foi em uma audiência de um trem que atravessou uma pista- ele brinca.
Seguro sua mão com mais segurança, eu já não ligava mais se falassem de mim.
Deixei Guilherme no hall do edifício.
Era super luxuoso, um banco, um restaurante e um prédio com apartamentos, tudo no mesmo quadrado. Parecia um shopping, só estávamos ali pelo nosso nome. O chefe do hospital já atendeu o filho do dono. E agora estamos no topo dos hospitais cirúrgicos e escola, ou seja, quando nos reunimos com Michelle e ela colocou uma espécie de distintivo com o nome do hospital, todos nos olharam com medo.
Minha vontade era de gritar "É só um distintivo, não sei nada da prova!", mas mantive minha expressão séria como se eu fosse importante.
Quando todos os residentes se uniram, Michelle passou as instruções e nos disse que horas começa e termina, nos disse a sala e também, o mais importante, que quem tirasse a nota mais alta entre os residentes iria comandar a próxima cirurgia. Era meu sonho desde que pensei em fazer medicina, então eu tinha que me sair bem.
Maggie me cutucou e virei onde seus olhos miravam, Marcos tinha chego e estava de mãos dadas com outra mulher.
-Parece que ele seguiu a vida - digo.
-Não, só está tentando me provocar - ela responde se virando para Michelle novamente.
Quando o dono do hotel apareceu, uma salva de palmas foi dada, ele fez um pequeno discurso encorajador e nos disse as salas disponíveis que iríamos fazer as provas. Todos ficavam acima de pelo menos um andar do hall. Do nosso hospital era acima de três andares, subi ao lado de Maggie e Christian, antes de entrar no elevador vi Guilherme me mandando beijo e desejando boa sorte.
"Te amo" ele diz fazendo um coração.
"Te amo mais" retribuo fazendo outro.
O elevador se fecha e começamos a subir.
-Espero que todos aqui estejam preparados e honrem o nome de nosso hospital - diz Michelle. - É uma prova que colocará o nome de vocês no mercado, então, não façam de qualquer jeito.
O elevador abre e saímos apressados, os aplicadores nos esperavam na porta com um sorriso no rosto.
-Boa sorta amiga - diz Maggie enquanto aguardamos na fila.
-Boa sorte - retribuo.
Chamam nossos nomes por ordem alfabética, e sou uma das primeiras a entrar. Lá dentro, outro inspetor nos conduziu para a mesa certa. Enquanto eu passava pelo corredor, vi que Maggie sentaria na frente de Marcos. Rezo ainda mais para ela.
Sento na cadeira e respiro, ainda estava virada e meu coração acelerava a cada batidinha no relógio da parede.
Cinco minutos.
Quatro.
Três.
Dois.
Um.
-Podem começar a fazer a prova - diz o aplicador.
***
Eu respondia a questão 67, confiante pois soube mais que metade da prova, faltavam algumas ainda e meu rosto sorria de ponta a ponta.
Mas não terminei.
A porta abre bruscamente nos fazendo virar.
-Senhor... Preciso falar com você - diz o homem de terno para o aplicador.
O mesmo sai da sala apressado, ficamos sozinho por segundos, com certeza era algo importante.
Olho para Maggie de longe e vejo o rosto de Marcos atrás dela nos observando.
O aplicador volta para a sala.
-Preciso que todos vocês deixem a prova onde estão e que não saiam dessa sala - ele diz tremendo.
Começa uma surra de pergunta do que estava acontecendo e eu continuava olhando o homem na esperança dele dizer o mais rápido, mas era impossível com aquele falatório todo.
-SILÊNCIO - gritei, e todos ficaram. - Oque está acontecendo...
Ele continua em estado de choque.
-Você precisa falar oque...
Sou interrompida por três estalos alto.
Era tiro.
Todos na sala se abaixaram e Maggie correu para perto de mim.
-Está acontecendo um tiroteio lá embaixo - diz o homem chorando. - Vamos ficar em silêncio aqui.
Guilherme. Pedro...
Nossos amigos estavam lá embaixo.
Christian levanta da cadeira e chega perto de nós, o choro tinha começado na sala e junto dele o desespero como gritos e alguns saindo correndo da sala.
-Guilherme está lá embaixo - digo, tremendo olhando para os dois.
-Sabe se alguém morreu? - pergunta um residente enquanto segurava uma garota chorosa.
-Ainda não mas, o homem disse que a policia nacional está vindo pra cá, se trata de um massacre, e...
Mais três estalos interrompem nossa calma.
Levanto desesperada.
-ALEXIA NÃO! - me puxa Maggie de volta para o chão.
-ELE DISSE MASSACRE MAGGIE! - grito, as vozes dos outros da sala quase abafando a minha.
-Você pode acabar morrendo...
-NÃO POSSO FICAR AQUI PARADA!
-Vamos juntos - diz Christian.
-Péssima ideia, gente, respira - ela diz.
-O meu namorado está lá embaixo...
-Isso se não estiver morto - uma quarta voz fala atrás de mim.
Quando nos viramos era ele, Marcos.
-Seu filho da puta...
Levanto do chão e pulo em cima de Marcos dando um soco atrás do outro no rosto dele.
-BATE EM MIM AGORA! VOCÊ NÃO GOSTA DE BATER EM MULHER? - grito.
Christian me tira de cima dele e os garotos em volta seguram Marcos.
Eu estava tonta, mais disparos acontecem lá embaixo, mais forte meu coração batia. Guilherme e Pedro podiam estar mortos uma hora dessa.
-Vamos sair daqui - diz Maggie enfim concordando.
Atravessamos a porta da sala com reclamações atrás de nós.
Era loucura sair dali, mas eu não iria aguentar ficar.
-Se algum de nós morrer, saiba que sou grato por tudo - diz Christian.
Nos abraçamos e ele enfim abre a porta da escada de emergência.
Quando a fecha meu coração para.
O medo toma conta de mim novamente, eu precisava achar Guilherme.
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