O Choque
Os degraus da escada se embaralhavam na minha frente, eu sentia a mão de Maggie me segurando para não cair, ao mesmo tempo em que ela se apoiava em mim para não desmaiar. Christian ia abrindo as portas, tomando conta da frente como se fosse nosso guarda-costas.
Gritos continuavam lá embaixo e o barulho de sirene da polícia também. O celular de Guilherme não atendia, nem de Pedro. Só nos restava ou achá-los ou dar de cara com um dos bandidos. Pensando melhor agora, essa ideia foi horrível.
Batidas de nossos pés ecoavam por toda a escadaria de metal, faltava dois lance de escada para chegar no hall, foi quando uma porta abriu entre mim e Maggie.
-NÃO ME MATA - grito de desespero e fecho os olhos, derrubando as lágrimas que estavam presas por minutos.
-Te matar?
Reconheço a voz.
Pedro.
O abraço.
-Céus, você está vivo! - digo. - Guilherme, cadê ele?
Ele olha para todos nós e fecha a porta, na sua blusa tinha muito sangue, mas não era dele.
-Achei que estivesse com vocês - ele responde.
Fico mais tonta ainda, meu coração dói do tanto que bate .
-Vocês se separaram? - pergunta Christian
-Nem estávamos juntos e... Cadê Suzane? - ele pergunta olhando para a escadaria a cima.
-Todos os residentes estão lá em cima - Maggie responde segurando minha mão enquanto eu sento no degrau.
-Não... Nem todos... A prova foi feita em andares - diz Christian.
-Que merda está acontecendo?! - pergunto levando a mão a cabeça.
-Estão atrás do dono desse lugar todo, ele é mafioso e parece que fez alguma coisa para eles - diz Pedro. - Um deles gritou no saguão que queria ele, e atirou em um segurança que se aproximou... Começou a correria e a troca de tiros, foi quando...
Ele faz um silêncio e olha pra mim.
-Foi quando eu vi Michelle sendo baleada - Pedro engolindo em seco. - A chefe de cirurgia de vocês, estendida no saguão.
Arregalo os olhos e as lágrimas voltam a cair.
-Meu Deus... Não pode ser - diz Maggie desesperada. - Isso não pode estar acontecendo.
-Tem certeza que era ela? - pergunto, tremendo.
-Sim, o marido dela também foi baleado - ele diz.
O meu mundo parecia estar desmoronando.
-E como atiraram nela...
-Outros seguranças se meteram, e na troca de tiro um dos homens pegou refém... Era o marido dela, quando ela veio gritando, deram um tiro achando que era um outro policial ou algo assim. Eu chorei muito atrás do balcão, só queria ajudá-la...
-Cala a boca. Por favor, cala a boca. Não conta mais! - exclamo, eu estava tremendo de raiva e medo, oque poderia ter acontecido com o resto? Guilherme deveria estar me procurando agora, oque era o certo a se fazer? - Acho que devemos voltar para a sala dos residentes e esperar, aqui não é seguro.
-Tem razão, vamos voltar - diz Maggie me levantando do degrau.
Eu tinha um frio na barriga de pavor, mesmo assustada não posso parar de andar. Minhas pernas pareciam chumbo, meus pés relutavam para não sair do lugar, mas aos poucos Maggie me arrastava aos degraus acima, o cheiro de sangue exalava da blusa de Pedro e eu tentava ao máximo ignorar.
Quando finalmente entramos no andar em que estávamos, abrimos a porta desesperados e em seguida entramos na sala aos tropeços. O aplicador da prova ergueu uma barra de ferro contra a gente e relaxou quando viu que não eramos os assassinos.
-Oque houve com você?! - grita Suzane saindo de trás das pessoas com as mãos na cabeça.
Ela se joga em Pedro e ele a tranquiliza. Ando pela sala e avisto Marcos sentado em um canto com o nariz sangrando, ele olhava para Maggie de cima a baixo, as mãos cerradas pressionando o chão, tinha medo do que ele podia fazer, mas não o mesmo medo que ficar lá fora podendo receber uma bala na cabeça.
Sento no chão e Maggie, Christian, Pedro e Suzane fazem o mesmo, todos estavam encolhidos e choramingando. Na minha cabeça tinha inúmeras perguntas, mas para quem eu devia fazê-las? Não tinha ninguém ali que soubesse as respostas.
Onde estava Guilherme?
Morto?
Michelle morreu?
Quem mais tinha sido vítima de tudo isso?
-Silêncio todos - diz o aplicador parado na porta. - Eles estão nesse corredor.
Todos ficam em um silêncio mutuo, puxo Maggie para ir atrás do balcão e todos nós ficamos lá, perto de uma porta. Quando vemos a sombra de um crescer na porta eu abro uma outra ao meu lado e puxo todos comigo.
-Eles vão entr...
Tiros começam na sala e rapidamente minha porta de escapatória se torna o refúgio de todos, várias pessoas começam a entrar e nos empurrar, me perco da mão de Maggie e sou arrastada pela multidão, a porta dava para outra sala, que continuava em uma outra e mais outra, era uma espécie de corredor entre todas as salas.
-MAGGIE! - grito quando sou jogada de lado, os residentes ainda se empurravam entre as portas abertas. - CHRISTIAN!
Levo mais um empurrão e uma pessoa cai em cima de mim dentro de mais uma porta, quando olho para o lado vejo que estava na escada de emergência, a pessoa era Suzane.
Nós duas levantamos e nos encostamos na parede de mãos dadas, vendo todos os residentes tropeçarem uns nos outros para descerem as escadas.
-Vamos subir - digo para ela, era o certo a se fazer, o assassino vendo todos descendo, não iria subir.
Ela concorda assustada e começamos a subir ainda mais andares.
Quando eu estava prestes a entrar na porta, dois andares do nosso, escutamos lá debaixo ecoando: "Polícia".
E soube naquele instante que poucos ali iriam sobreviver.
Os tiros cruzados começam e puxo Suzane comigo, fecho a porta. Estávamos em um corredor silencioso, exatamente igual os outros, as paredes marrom, um enorme tapete por todo ele da cor bege e luzes amarelas, mas nesse corredor tinha ainda mais quadros que o do resto e mais objetos de decoração, possivelmente estávamos no andar mais chique.
Abro uma segunda porta e entramos em um quarto numa espécie de quarto presidencial, era enorme com uma cama centralizada no meio e espelhos por todo ele. Suzane se sentou na poltrona enquanto eu buscava água na geladeira e frigobar.
-Alexia...
Acho duas garrafas e procuro um abridor.
-Alexia... Eu preciso falar uma coisa...
Pego o abridor na gaveta e retiro a tampa, bebo dois goles...
-Eu estou grávida.
Cuspo.
A água cuspida caindo em cima do tapete rico do quarto, olho para Suzane esperando que ela me dissesse que era brincadeira.
-De Pedro - ela diz.
Eu pensei em duas coisas quando ela me disse isso:
"Já está gravida dele?"
E
"Pedro possivelmente morreu".
Assim como Maggie. Como Christian.
Todos estavam mortos, não os vi passando pela porta, e até os que passaram morreram quando a polícia chegou.
-Estão todos mortos não estão? - ela pergunta com lágrima nos olhos.
Não conseguia responder, eu simplesmente não posso aceitar isso. Bebo mais água e passo uma garrafa pra ela.
-Não vou ficar aqui, mas você vai - digo para ela. - Eu vou achar todos eles.
Suzane se enrola na coberta luxuosa da cama e começa a chorar ainda mais, meu coração se parte vendo aquilo. Saio pela porta com a coragem de que iria encontrá-los, e a esperança de que tivessem vivos.
Desço as escadas novamente, não estavam no nosso andar da prova, mas tinham dois corpos estirados, oque me fez voltar rapidamente. Era uma cena horrível mas me confortou por não ser eles.
Corro ainda mais os lances da escada, é quando escuto a voz de Christian, em uma das portas. Abro e ele ergue uma arma para minha cabeça;
-Onde arrumou isso? - pergunto.
Mas ele não responde, volta seus olhos para o corpo estirado perto deles.
-Não...
Era Pedro, ensanguentado e chorando, com um tiro na barriga ele pressionava tentando não morrer.
-Diz para a Suzane que a amei todo esse tempo - ele diz aos soluços.
-Vamos arrumar gazes e...
Maggie me olha, não tinha mais esperanças....
-NÃO! - grito. - Pedro, fica! Você tem que ser forte...
-Desculpa mais...
-Você vai ser pai!
Todos se viram para mim.
-Não vamos deixá-lo morrer - digo o levantando do chão com apoio de Christian. - Sei onde fica a enfermaria, temos que chegar lá antes que seja tarde.
***
Chegando perto da enfermaria, nos deparamos com outro corpo jogado no chão, mais um morto, ignoramos e abrimos a porta do centro médico do grande prédio.
Quando ascendemos a luz, alguém já estava lá.
-Ora ora ora...
Marcos.
-Parece que vieram roubar os suprimentos também - ele diz e ergue a arma. - Oi amor.
-Vai pro inferno - responde Maggie.
Colocamos Pedro em cima da bancada de metal e me aproximo do armário de remédios, Marcos me impede colocando a arma na minha cabeça.
-Não não, Alexia...
-Não cheguei viva até aqui para você me matar...
-Quer apostar - ele ameaça destravando a arma.
Maggie segurava o sangue na barriga de Pedro e os olhos de Marcos se viraram para os dois.
-Então é ele?!
-Ele oque? - ela pergunta, as mãos ensanguentadas.
-Seu amante... É ele! - ele grita agora virando a arma para ela.
-Marcos para de ser idiota - revida Christian.
-Ou é esse aí? - ele diz e o cano agora vira para Christian que se recolhe em um canto.
Marcos ri de nosso desespero.
-Sua vadia! - ele grita batendo nos remédios e os derrubando. - Me traiu todo esse tempo...
-Oque está...
-EU SEI MARIA! O seu médico me contou antes de levar uma bala na cabeça...
-ELE MORREU? - ela grita e começa a chorar.
-Eu o matei.
Sabe quando você sabe que algo vai acontecer mas não consegue impedir?
Cheguei a ver tudo em câmera lenta quando virei para Maggie, ela vinha correndo na direção dele e meu braço tentou a segurar, mas já era tarde.
Um tiro foi disparado me fazendo recuar.
Maggie cai no chão imóvel.
Olho para Marcos e ele estava com a arma em suas mãos tremendo.
-Eu... Eu sinto muito...
Ela estava jogada aos seus pés com uma poça de sangue saindo.
-EU SINTO MUITO! - ele grita.
E eu caio no chão sem forças e em estado de choque.
Maggie estava morta.
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