Nosso Passado
O dia passou rápido com a companhia de Guilherme, estávamos de folga do hospital, oque acontecia uma vez em anos. Aproveitei para falar com Magie e Cristian para ir ao Píer da cidade. Quando eu cheguei depois de uma longa caminhada com Guilherme, lá estava os dois segurando um copo com sorvete e rindo das pessoas que passavam.
-Olha só os pombinhos chegaram – brinca Cristian comendo seu sorvete.
-Pode parar por favor? – peço, ele e Guilherme me interrompem com risadas. – Vamos logo andar nessa maldito píer antes que anoiteça.
E assim foi, atravessamos o chão de madeira até ficar em cima do mar. Era possível ver crianças brincando na areia lá em baixo, outros adolescentes pichavam os muros de pedras e alguns adultos apenas namoravam observando o sol.
-Você tem vontade de se jogar? – pergunta Guilherme, seus olhos refletindo o sol. – Não se jogar para morrer,A lexia – ele explica ao ver minha reação de estranheza e sorri. – É tipo, pular como se não houvesse os outros segundos que traria problemas, entende?
-Você é louco.
-Ah, pode ser. Mas quem não é?
-Eu.
-Uma médica que larga tudo por um galã?
Olho no fundo dos olhos dele e ele me abraça ao meio de risadas. No abraço de Guilherme, vejo Magie ao telefone e Cristian bebia um refrigerante a olhando preocupado, logo em seguida vejo uma lágrima descer pelo rosto dela, acompanhada de um sorriso.
-Meu Deus! Obrigada! – ela diz e desliga o celular.
Solto Guilherme e ando até eles que estavam sentados no bando do outro lado do píer.
-Oque houve? – pergunto.
Ela se levanta e me abraça, seu coração batia muito forte contra meu peito.
-Alexia, eu estou grávida...
-Oque?!
Cristian levanta e abraça também, meu coração se enche de alegria e logo em seguida de dúvida.
-De quem? – pergunto.
-Do Marcos, aquele interno.
-Já?
-Como assim "já?"
-Vocês não se conhecem tanto...
-E você e Guilherme se conhece muito, não é?
-Não... Não é isso. É que filho...
-Você deveria estar feliz – ela diz jogando sua trança ruiva. – Pelo amor de Deus, não estraga esse momento.
-Não estou! Vamos comemorar então mamãe.
Ela dá um sorriso sem graça como se tivesse levado em conta oque eu disse só agora. Guilherme a parabeniza e então saímos do píer entrando no carro de Cristian.
-Aonde vamos? – pergunta Cristian após rodarmos trinta quarteirões apenas conversando. – Não vou ficar gastando gasolina...
-Vamos em um barzinho...
-Não vou beber, Alexia. Estou grávida.
-Ah verdade.
O carro fica em silêncio e Guilherme me cutuca.
-Acho que sei um lugar – sussurra para mim.
-Então fala.
-Bom, não é tipo entrar e tudo certo.
Nós três viramos para ele tentando entender, Cristian olhava do retrovisor e tentando focar na estrada um pouco vazia.
-É ilegal, mas eu sempre vou.
-Você quer levar uma grávida para um lugar ilegal? – pergunto incrédula.
Ele se vira para frente e dá uma risadinha.
-Me fala aonde...
-Maggie!
-Aí qual é, a gente vive enfurnado dentro de um hospital sem nada pra fazer. Vamos viver um pouco.
-Cristian, diz que não.
-Eu vou sim, Alexia – ele ri e estende a mão para trás, Guilherme e Magie a seguram. – Só falta você "estraga prazeres".
Olho para a mão cheia de anéis de Cristian.
-Você não vai contar para o pai primeiro...
-PÕE A MALDITA MÃO ALEXIA!
Então coloco.
-UHUL! – grita Cristian. – Agora fala onde fica e oque é.
***
Ao chegar no local, tinha um portão gigantesco de ferro até o alto. Eu só pensava "não sei escalar", "não sei correr se der algo errado" e principalmente "não sei bater se alguém quiser brigar". Já Guilherme, Maggie e Cristian estavam eufóricos e procuravam uma outra entrada, pois a antiga tinha sido bloqueada com cimento.
Eu esperei encostada na parede, o beco que estávamos fedia a mijo. Não entendia tamanha euforia para entrar em uma caixa d'água e se banhar a luz da lua em cima de um prédio.
-Acho que teremos que escalar para subir nessa escada – anuncia Guilherme chegando a lata de lixo para perto.
-Nem pensar, Guilherme – digo.
-É o jeito, amor.
-"Amor", onw que fofinhos.
-Cala boca Cristian.
-Anda logo gente – diz Maggie chegando perto da lata de lixo. – É só subir e segurar a escada.
Ela sobe na caçamba e se estica para pegar a escada, o cabelo ruivo amarrado em um coque.
-Você não vai conseguir – digo.
Ela segura a escada de ferro e faz força para subir, logo seus pés começam a flutuar e suas mãos ficam vermelhas puxando seu corpo para cima. Quando Magie sobe, ela soava e ao mesmo tempo sorria.
-Pessimista! – ela sussurra lá em cima, ao lado de uma janela.
-Agora vamos – diz Cristian subindo na caçamba em seguida.
Ele ergue a mão para a escada e a segura. Meu medo daquilo quebrar só aumentava, a escada estava totalmente enferrujada, se ele caísse dali poderia chegar a ser grave.
-Não acredito que estamos de folga e curtindo invadindo um prédio – digo amarrando meus cabelos.
-CONSEGUI!
-Fala baixo amigo – pede Guilherme.
Cristian abraça Magie e logo os três me olham, era minha vez.
-Acho que espero vocês aqui...
-Nem pensar.
Guilherme me abraça e me levanta, me pondo em cima da caçamba imunda. Todos os três começam a rir enquanto eu me limpava.
-Que merda! – digo para ele que sobe ao meu lado em seguida.
Guilherme coloca as mãos para o alto e sua blusa sobe, tenho uma vista daquele físico de dar inveja. Num pulo, ele agarra a escada e sobe, fazendo parecer fácil. E depois ergue a mão para mim lá de cima.
-Anda, Alexia – pede Cristian.
Pausa.
Vocês já contaram quantas inflações eu fiz em apenas três meses? Ajudei um criminoso, protegi o mesmo, transei com o mesmo. Ajudei minha amiga a furar o horário dela de trabalho e pelo visto não tinha acabado as coisas ilegais que eu faria. Agora estou aqui prestes a escalar uma escada e depois entrar em uma caixa d'água. Céus, parecíamos crianças.
Seguro a mão de Guilherme.
-Não solta.
-Nunca.
Ele me puxa rápido como se meu corpo fosse de papel, seguro com a outra mão na escada e depois começo a subir atrás dele. Quando chego perto da janela, levanto.
-Vamos subir o resto – diz Magie.
E então seguimos, pisando devagar contra o chão de ferro e subindo com as mãos no corrimão.
A visão lá de cima era linda, a cidade estava iluminada e um pouco silenciosa. A lua cheia brilhava no céu. E poucos passos de nós eu pude ver a caixa d'água gigantesca.
-Isso é nojento – digo. – Vocês estão tendo noção que vamos entrar em uma água que vai para a casa dessas pessoas que moram aqui? Beber, tomar banho...
-É hidratada depois Alexia – diz Guilherme, seguia corajoso pelo telhado, pulando as encanações e espantando pombos.
Magie e Cristian seguiam quase colados a Guilherme, o medo de serem pegos se misturando com a empolgação da coragem de terem ido ali.
-Não tem câmeras?
-Oh sim, claro. Vim aqui para ser fotografado – diz Guilherme me puxando para perto e me envolvendo com um abraço. – Relaxa amor.
-Ai que lindo ele chamando de amor, onw...
-Cristian, porra!
-Chegamos – sussurra Guilherme.
Ele sobe as escadas e levanta a gigantesca tampa de ferro, logo depois tira a blusa e se joga lá dentro, desaparecendo.
Esperamos alguns segundos em silêncio até seu rosto aparecer todo molhado na borda de onde se jogara.
-Vocês vão vir ou não? – ele pergunta.
Logo, Magie e Cristian tiram a roupa e sobem a escada de ferro desesperados, pulando lá dentro também. Eu não vou entrar, eu não vou entrar...
Subo as escadas e olho para eles lá dentro, não era possível ver nada a não ser eles, de relance eu via a lua refletir na água agora agitada.
-Entra logo Alexia! – grita Magie. – Está maravilhosa.
-Não, gente. Isso é loucura.
Guilherme mergulha e some de vista. Logo seu corpo aparece perto da borda e segura meu braço.
-Ou entra por bem, ou por mal – ele ameaça com um sorriso maldoso.
-Meu celular, Guilherme.
Ele põe a mão em meu bolso e joga em cima da roupa de Magie e Cristian, o celular cai do lado.
-SE ELE RACHOU VOCÊ ME DEVE OUTRO – grito.
-Vem logo!
Ele me puxa e dou um mortal, caindo de costas na água. Mergulho no escuro a água gelada, quando volto a superfície vejo os três rindo de mim e começam a me jogar água.
-PAREM IDIOTAS! – grito tentando atacar também, mas logo sendo afogada por mais água deles.
-Chega, chega... – pede Guilherme se aproximando de mim e me beijando, na frente deles, sem se preocupar.
Quando se afasta, Magie e Crsitian nos olhavam boquiabertos.
-Parece que agora é real – comenta Cristian.
Rimos e continuamos nos beijando, e depois mergulhamos dando voltas e voltas na caixa d'água.
Quando saímos de nossa piscina particular, estávamos ainda no telhado do prédio esperando nosso corpo secar. Guilherme observava a cidade sozinho em um canto, estava pensativo e olhava para frente. Cristian e Magie estavam sentados perto de suas roupas no chão, brincavam com o fato de eu ser mesquinha com certas coisas, mas tirar um criminoso dos olhos da polícia eu não era. Querendo ou não, eu tinha que concordar.
Cheguei perto de Guilherme depois de um tempo, nem ao menos virou para me olhar. Seu cabelo estava bagunçado sua roupa já tinha seco.
-Por que está aqui? – pergunto colocando a mão sobre a dele no parapeito.
Ele sorri.
-Nossa, parece como a primeira vez que estivemos em um telhado vendo vaga-lumes – ele brinca.
-Sim.
Guilherme me olha, sua cicatriz estava quase toda branca a não ser pela parte de cima que ainda tinha uma casquinha e um tom avermelhado. Seus olhos mel e azul me fitavam com dúvida, sua boca tremia.
-Oque foi? – pergunto segurando suas duas mãos e o virando para mim completamente.
-Eu só minto, Alexia – ele diz.
-Oque? Como...
-Eu só minto para você. Não me merece – diz Guilherme soltando minha mão e se virando. – Estive pensando, que iríamos continuar transando e tudo mais. Não podemos ter filhos.
-Guilherme...
-Eu sou casado, Alexia.
Meu coração para, eu queria que ele falasse outra coisa. Entendi errado com certeza.
-Sou casado com um homem.
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