Acerto de Contas
Olhei naqueles olhos negros por minutos quando desliguei o celular e resolvi ajudá-lo. Mas como?
Anthony sugeriu que entrássemos separados, eu concordei, se algo desse errado ele que seria preso. Então assim foi feito, Anthony tentou ignorar o ferimento e colocou a jaqueta ainda mais por cima da blusa ensanguentada. Se movimentou até a porta e entrou, sem me olhar.
Esperei dois minutos para fazer o mesmo, quando entrei, olhei em volta e ele não estava lá, um pouco a minha frente a luz de uma sala ascende.
Anthony me esperava sentado no chão, agonizava de dor e seu rosto estava pálido, já tinha perdido muito sangue. Me aproximo dele querendo dar dez passos para trás, por que estou o ajudando depois de tudo oque aconteceu?
Ele aparece, pede minha ajuda, e eu faço, mesmo depois de quase ter me matado.
-Como conseguiu levar esse tiro? - pergunto me ajoelhando perto dele. Anthony parecia pestanejar para contar qualquer coisa sobre sua vida. - Você não está em posição para escolher não me contar.
-Eu mato pessoas, Alexia. Eu faço coisas ruins, ok? Troca de tiro em uma boate de gangue, a minha gangue temporária morreu. Todos eles. E eu, como um covarde, fugi - ele finaliza tirando a blusa para me mostrar o ferimento.
Pego a pinça na gaveta e uma seringa de anestesia, agulha e linha. Anthony deita no chão frio da sala e pega o travesseiro.
-Não precisa de anestesia, tenho medo de agulha - ele diz colocando o travesseiro na boca.
E então faço assim mesmo, seguro a pinça firme nas mãos e puxo a bala a jogando de lado. Anthony gritava com o travesseiro na boca e ficava vermelho a cada segundo, eu tentava ser a mais rápido possível.
-Pronto, agora vou fazer o curativo - explico.
-Só. Faz. Logo.
Pego algodão, e começo a dar ponto, secando o sangramento em volta. Jogo um pouco do remédio e Anthony volta a gritar. Costuro sua barriga e pego o curativo, o envolvendo e fechando.
-Porra...
-Acabou - informo.
-Meu Deus! Merda, dói mais que levar o tiro - ele diz levantando lentamente.
Anthony fica de pé e veste sua blusa e jaqueta. Ninguém tinha notado nossa presença ali, ele me olha friamente e fico com medo de ser agora a minha morte.
-Obrigado - ele diz segurando minha mão. - Desculpa por tudo.
Fico imóvel.
-Eu entrei pra igreja, Alexia. Hoje foi a última missão. Vou acabar com esses problemas com vocês dois, amanhã mesmo, depois do tribunal, não ouvirão falar de mim - ele diz e abre a porta.
-Calma - digo o puxando.
Abraço Anthony, e ele retribui me abraçando mais forte e chorando no meu ombro.
-Desculpa - ele diz enquanto gagueja. - Eu perdi tudo, Alexia. Desculpa mesmo. Vou ser diferente agora.
Eu choro também, foi tudo tão de repente, eu não conheço nada da vida dele. Pode ter mil e um motivos para fazer oque faz. Não o defendendo, mas também ninguém escolhe ser criminoso por escolher simplesmente, algo tem nessa pessoa.
Anthony sai sem dizer adeus, e fecha a porta, me deixando no escuro. Olho pelas persianas ele indo embora, fechando a porta da recepção da ambulância. O hospital estava quase vazio, algumas pessoas estavam sendo liberadas. Eu tinha que ir.
***
Cheguei tarde em casa, Guilherme me esperava de cueca branca no sofá, assistia seus musicais preferidos, ma mesa de centro estava toda a trilogia do High School Musical, seus olhos brilharam quando cheguei. Tirei o jaleco e me joguei do seu lado.
Ele sabia que eu estava cansada, então preparou um suco gelado e misto quente, me deixou comendo enquanto fazia massagem em meus pés.
-Como foi o trabalho hoje? - ele pergunta estalando meu dedo.
A Sharpay cantava na tela "Fabulous". Eu estava cantando distraída, me dou conta do que aconteceu hoje no trabalho, finjo não escutar e continuo cantando.
-Alexia? - ele ri e diminui a televisão.
-Oi?
-Como foi lá no hospital? Maggie disse que chegou mais cedo que você... Fez muita coisa...
-Fiz sim, algumas...
Guilherme nota minha diferença e desliga a televisão antes da música terminar. Tento ao máximo não olhar nos olhos dele, é onde falamos sem dizer uma palavra que tem algo errado.
-Alexia...
-Oque foi? - pergunto enfim olhando.
Dito e feito.
-Tem algo errado. Me conta.
-Algo errado? Eu to esgotada, só isso.
-Esgotada? - desdenha. - Não, você sempre está esgotada. Hoje, você não quer me falar do paciente 'x' que matou o paciente 'y'.
Levanto do sofá, não estava afim de um interrogatório e nem de uma possível discussão.
-Alexia? Nós íamos sair hoje, você demorou mais que o esperado. Aconteceu alguma coisa - ele diz vindo atrás de mim.
Pego mais suco na geladeira e bebo aos poucos, minha cabeça doía.
-Alexia! - ele chama minha atenção, viro os olhos para ele com o copo ainda na boca. - Você está me traindo?
Tiro o copo da boca lentamente olhando para os olhos verde e mel de Guilherme. Depois analiso cada parte do seu corpo, ele estava com medo da resposta pois seu pé tremia inquietamente.
Coloco o copo na bancada.
-É sério isso?
-Não sei! Alexia, você chegou tarde, está estranha, não me beijou, sei lá oque pensar...
-E pensa que estou te traindo? - pergunto ainda mais indignada. - Logo eu Guilherme? É mais esperado de você isso.
-Não fala isso...
-Mas é!
-Tudo bem, desculpa - ele diz se virando. - Faz oque quiser.
-Não! Não aceito suas desculpas. Eu estava resolvendo seus problemas, quer tanto saber? Então é isso.
-Meus problemas - ele volta para a cozinha incrédulo.
-Seu ex apareceu no meu hospital com um tiro na barriga - digo virando o copo de suco de uma vez.
-Oque? E oque ele fez com você?
-Nada, mas podia ter me matado - respondo passando por ele.
Sento no sofá e Guilherme me segue, estava de pé do lado da mesa perto da janela, suas mãos passavam na minha parede de tijolos vermelhos propositalmente sem pintar.
-E ele ficou sangrando lá?
Reviro os olhos.
-É claro, o vi morrer na minha frente - ironizo.
-Eu to falando sério...
-Não parece - corto. - Eu o ajudei, esperava que o deixasse morrer?
-Sim.
-Desculpa, não sou assassina igual a vocês - digo deitando no sofá e olhando pro teto.
-Alexia, isso é sério!
-É ÓBVIO QUE É - levanto num salto do sofá ficando de frente pra ele. - Você queria que eu olhasse o Anthony morrer? Ou você queria que eu mesma tivesse enfiado ainda mais a bala? Ou você quer que eu vire um trem em cima dele?
-Para com isso...
-Não! Guilherme você não é vítima aqui. Para de me fazer de vilã. Não temos vilões nessa história, ok? Você virou um trem e fugiu dos problemas, eu gostei de você e nem ao menos fomos visitar as famílias do acidente. E ainda tem Anthony, que teve quase que morrer para entrar em uma igreja. Ou seja, dê o prazer do recomeço a você mesmo - digo. - Pois deixando aquele homem viver, eu me redimi com minha consciência.
-E oque quer que eu faça?! - ele pergunta gritando de volta.
-DÁ SEU JEITO! - reajo batendo o pé.
Ele me olha, cansado, seus olhos estavam vermelhos doidos para chorar, e eu também estava assim.
-Você me ama? - ele pergunta.
-Muito, Guilherme, muito!
-Eu vou me redimir - diz e começa a caminhar para fora da sala.
-Vem aqui - puxo seu braço. - Não some.
-Nunca.
O beijo e ele retribui puxando minha blusa com raiva, ele já estava quase semi nu, então tirou sua cueca e jogou longe; Guilherme sem roupa era majestoso. Eu o amo, cada detalhe, as cicatrizes do trem na sua barriga e rosto, os pelos no peitoral. Ele é lindo.
-Você é a coisa mais linda que já vi - ele diz para mim como se pensasse o mesmo. - É uma das pessoas mais incríveis, de verdade.
Volto a beijá-lo e ele tira minha calcinha. O empurro na parede e escutamos algo cair.
-De novo? - ele ri.
A ampulheta estava quebrada novamente no chão. Rimos ainda mais.
-Eu te amo - ele diz. - Te amo muito.
Eu podia chorar, mas me seguro.
Guilherme ajoelha e me coloca no sofá, me contorço de prazer e amor, eu sentia o céu enquanto me deixava completa. Quando levanta, ele sobe em cima de mim e começamos a fazer oque sempre fazemos de melhor.
Ele era bom nisso, fazia meu corpo todo estremecer enquanto o sentia dentro de mim, seus lábios me beijam enquanto isso me fazendo ficar sem fôlego. Guilherme estava disposto e com raiva, ele me batia e eu retribuo o mordendo. Logo me levanta e me coloca contra a parede, me segurando no colo.
Me marca com um chupão no pescoço e eu arranho suas costas, enquanto isso ele me pressionava com mais força na parede e eu tinha medo dos vizinhos ouvirem nossos gemidos.
Passado mais um tempo, ele termina, e me deita no chão, junto dele. Continua fazendo o trabalho até eu terminar também. Depois, ficamos nos olhando, seus olhos brilham e o sorriso em seu rosto preenche o meu.
Nos abraçamos e dormimos no chão.
Amanhã seria o dia do tribunal, eu tinha medo de Guilherme ser preso, tinha medo de perder todos esses momentos, e ele também.
Daqui há algumas horas seria decidido nosso futuro. Ou Guilherme iria preso, ou estaria livre para fazer oque quiser.
Tudo seria resolvido no outro dia, eu tinha medo e alegria. O medo da resposta, e alegria de tudo se resolver logo. Nós corrigimos nosso acerto de contas com o passado, e agora viria o futuro.
Fecho os olhos com o desejo de passar rápido.
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