capitulo 21

Me sentei para escutar o que cada um tinha a dizer. Gael, ao meu lado, segurou minha mão com força, como se temesse que eu fosse escapar.

"Não posso permitir que ele vá. Filipe tentou abusar dele," disse Gael, firme, encarando o delegado Swesley.

"Isso depende do Erick, delegado," respondeu o sargento Sullivan, com seus olhos castanhos claros que pareciam as cores das folhas no outono.

Olhei para Gael, que parecia estar se corroendo por dentro.

"Então, espere. Filipe quer falar comigo? Por quê?" perguntei, ainda tentando entender a situação.

"Nós permitimos algumas visitas e o direito a um advogado. Filipe contratou um advogado e pediu sua visita," explicou Laving, após tomar um gole da água que Neuza havia trazido.

"Meu filho vai pensar," interveio minha mãe, descendo as escadas com uma expressão severa.

"Mãe..." comecei a falar, mas ela me interrompeu.

"É um prazer tê-los em nossa casa. Agora, por favor, podem se retirar," disse ela, com firmeza, claramente querendo encerrar a conversa.

Por que ela estava agindo assim, tão dura e distante?

"Bom, nos ligue quando decidir, delegado. Sr. Schimutz," disseram os sargentos antes de se levantarem.

"Eu os acompanho até a porta," ofereceu Neuza, conduzindo-os para fora.

Assim que eles saíram, me virei para minha mãe, irritado.

"Qual é o seu problema?" perguntei, sem esconder a frustração na minha voz.

"Sou sua mãe!" ela respondeu, como se isso justificasse tudo.

"E o que isso tem a ver com alguma coisa?" retruquei.

"Quero te proteger!" ela disse, firme.

"Agora você quer ser protetora? Nunca agiu como mãe antes, e agora quer assumir esse papel? Onde você estava nos últimos 17 anos?" gritei, sentindo uma raiva acumulada.

Subi para o meu quarto, batendo a porta ao entrar. Me joguei na cama, tentando processar tudo.

Alguém bateu na porta, e Gael entrou em seguida, fechando a porta atrás de si antes de se sentar na ponta da cama.

"Não acha que foi cruel?" ele perguntou, com um olhar preocupado.

"O mundo é cruel, Gael," respondi, sem esconder o amargor.

Ele deu um sorriso triste, como se entendesse.

"Eu sei... Mas eu te amo, e ela também. Emily é sua mãe, você deve respeitá-la," disse ele, tentando acalmar as coisas.

Ele me olhou, e um sorriso travesso surgiu em seu rosto.

"Como foi dormir fora?" perguntou, mudando o assunto.

"Foi legal," respondi, tentando parecer casual.

"Vocês... fizeram... você sabe," ele disse, visivelmente envergonhado pela pergunta.

"Sim," admiti, sem rodeios.

"Foi melhor do que comigo?" ele perguntou, com um meio sorriso, claramente curioso.

Me sentei e o encarei. Ele estava com aquele olhar brincalhão, mas também havia uma ponta de seriedade.

"Quer mesmo saber?" perguntei.

Ele me olhou intensamente, mordendo o lábio inferior. Gael me puxou para o seu colo, segurando minha cintura e me olhou nos olhos com um misto de curiosidade e desejo.

"Você é cruel, sabia?" – ele sussurrou, com um sorriso brincando nos lábios.

A tensão entre nós era palpável, mas havia algo mais ali, uma familiaridade e conforto que só quem já passou por tantas coisas juntos poderia entender. Era como se, apesar das provocações e brincadeiras, sempre soubéssemos onde estava o limite — e o respeitássemos, mesmo que às vezes o ultrapassássemos de propósito.

"Então...?" – ele insistiu, enquanto suas mãos subiam lentamente pelas minhas costas.

"Gael..." – comecei, mas ele me interrompeu.

"Não precisa responder, só queria te provocar um pouco." – disse, rindo de leve. Mas havia um traço de seriedade em seus olhos, algo que dizia que, apesar das brincadeiras, ele realmente se importava.

"Você é insuportável." – brinquei, tentando aliviar a tensão que sentia no peito.

Ele riu, me puxando para mais perto, até que nossos rostos estavam quase se tocando.

"Talvez, mas você sabe que eu sempre estarei aqui para você, não importa o que aconteça."

Fiquei em silêncio por um momento, deixando suas palavras ecoarem na minha mente. Havia uma verdade profunda ali, algo que eu sabia ser sincero, mesmo quando tudo ao nosso redor parecia confuso e incerto.

"Eu sei, Gael." – respondi finalmente, descansando minha cabeça em seu ombro. "Eu sei."

***

Não abri meus olhos lentamente, mas sim com um sobressalto. A última coisa que lembro era o toque firme de Gael, que agora se movia suavemente ao meu lado.

"Machuquei você?" Sua voz era um misto de preocupação e arrependimento. Neguei com a cabeça, embora um sinal de aviso soasse na minha mente. Será que ele realmente achava que havia me machucado?

"Tem certeza?" Ele insistiu, a voz falhando ligeiramente. O medo de ter ido longe demais estava claro em seus olhos, que agora me fitavam com uma intensidade que me fazia estremecer.

Sem hesitar, arrastei-me para o seu colo, buscando o conforto dos seus braços. Ele me envolveu como se temesse que eu pudesse desaparecer a qualquer momento.

"Você não me machucou", reforcei, tentando dissipar suas dúvidas.

"Mas você desmaiou..." Ele sussurrou, e a preocupação em seu tom era palpável.

"Eu estou ótimo," insisti, sabendo que precisava convencê-lo. "Nós pegamos fogo!"

Gael inclinou a cabeça, inspirando profundamente, como se tentasse se acalmar. Sua expressão suavizou um pouco, mas ainda havia uma sombra de dúvida ali.

"Desde que você esteja bem..." Ele murmurou, quase como se falasse consigo mesmo.

Passei os dedos pelo seu rosto, tentando transmitir toda a segurança que ele parecia precisar. Sentado em seu colo, mordi levemente sua orelha, provocando um sorriso em seus lábios.

"Ah, baby, eu estou mais que bem." Afirmei, com um sorriso travesso.

Ele riu, mas era um riso aliviado, como se estivesse finalmente convencido. Com um gesto carinhoso, ele me colocou de volta na cama e se deitou ao meu lado, envolvendo-me em seu calor familiar. O cansaço tomou conta de nós e, exaustos, apagamos juntos, como se o mundo lá fora não existisse.

No entanto, nosso descanso foi interrompido pelo som distante da festa de boas-vindas de Renato. A música alta e as risadas ecoavam pela condominio, nos trazendo de volta à realidade.

"Bem-vindo de volta ao caos," pensei, enquanto ouvia o som da festa se intensificar lá embaixo.

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