capitulo 2

3 meses antes...

Acordo de repente, o coração disparado, como se estivesse fugindo de um pesadelo que mal consigo lembrar. Sento na cama, tentando acalmar a respiração. Sinto o suor frio escorrendo pela testa e, sem pensar muito, vou até o banheiro. A água fria no rosto ajuda a me despertar, mas não afasta a sensação estranha que me persegue desde o momento em que abri os olhos.

Volto ao quarto, mas algo me faz parar no meio do caminho. Meus olhos se fixam na cama, e meu corpo congela ao ver a mancha escura no lençol. Sangue. Uma rodela de sangue. O choque me paralisa. Minhas pernas ficam pesadas, como se fossem de pedra, e por um momento, tudo ao meu redor parece girar.

"Mãe!" – meu grito ecoa pela casa, carregado de pânico e desespero.

Neuza é a primeira a chegar, seu rosto pálido reflete a mesma surpresa que sinto, mas suas mãos tremem levemente enquanto ela tenta processar o que está vendo.

"O que foi, Erick?" – sua voz, normalmente tão firme e reconfortante, agora soa trêmula, quase assustada.

Tudo o que consigo fazer é apontar para a cama, ainda sem conseguir mover um músculo. Ela segue meu olhar e, ao ver o sangue, leva a mão à boca, os olhos arregalados de choque.

Antes que qualquer um de nós consiga reagir, sinto uma presença familiar ao meu lado. Gael se aproxima em silêncio, seu olhar penetrante examinando a cena com a mesma calma fria que ele sempre demonstra. Ele é uma figura imponente, especialmente nesse momento, sem camisa, vestindo apenas uma calça de moletom azul-escura. Seus músculos definidos, o peito largo e a barriga trincada com poucos pelos parecem quase indiferentes ao que está acontecendo.

"Você está bem?" – sua voz soa grave, cortando o silêncio. Ele não parece assustado, mas há algo em seu tom que me faz sentir ainda mais perdido.

Antes que eu possa responder, Gael coloca a mão em minha cintura. O toque é firme, e a sensação do seu corpo musculoso e quente contra mim deveria ser reconfortante, mas só aumenta o nó no meu estômago. Seus braços fortes me envolvem quando, sem pensar, eu me inclino para abraçá-lo. É um abraço que busco por necessidade, quase instintivamente, mas ao mesmo tempo, há algo desconcertante em como ele me segura, como se estivesse mais interessado em me conter do que em me confortar.

Ele me afasta suavemente, seus olhos nunca deixando os meus. "Se arrume, vou te levar a um médico conhecido. Vamos ver o que aconteceu." – suas palavras são firmes, mas não consigo dizer se ele está mais preocupado comigo ou apenas cumprindo seu papel.

Enquanto ele se afasta para me dar espaço, fico ali parado, ainda tentando processar o que acabou de acontecer. A mancha de sangue parece maior agora, quase como se estivesse crescendo diante dos meus olhos. O medo se mistura com a confusão, mas o toque de Gael ainda ecoa na minha pele, como uma lembrança perturbadora que não consigo afastar.

Me forço a mover, a seguir suas instruções. Mas enquanto visto a roupa, não consigo evitar o pensamento de que algo está muito, muito errado. E não é só o sangue.

•••

"Não tem com o que se preocupar, foi só um simples sangramento. Pode ter rompido alguma veia menor. Mais nada para se preocupar!" – a voz do Dr. Samuel é tranquilizadora, mas seus olhos não se desviam de mim. Sinto um desconforto crescente com o olhar dele, que parece percorrer meu corpo de maneira invasiva.

Agradeço de forma automática, tentando ignorar o constrangimento que sinto com a situação. "Obrigado..."

"De nada, eu que agradeço pela visita. Fale com o delegado que lhe desejo boa sorte na viagem!" – o tom do médico é casual, como se fosse um assunto cotidiano, mas a palavra "viagem" me atinge como um choque.

Viagem? Gael não mencionou nada sobre uma viagem. Sinto um frio na barriga, uma sensação de estar fora do loop. O Dr. Samuel abre a porta, e eu saio, ainda tentando entender o que está acontecendo.

Ao sair do consultório, vejo Gael encostado no carro, distraído com o celular. Quando me avista, seu rosto se ilumina com um sorriso, um gesto que parece mais calculado do que genuíno.

"Como foi? Aconteceu alguma coisa?" – ele pergunta com uma preocupação que soa ensaiada. Seus olhos se fixam em mim, e há algo nos seus olhos que me faz duvidar da sinceridade de sua pergunta.

"Foi só um pequeno sangramento," respondo, tentando parecer mais calmo do que realmente estou. "O médico disse que não é nada grave. Só que seu pau é grosso demais e que deve ter rompido alguma veia menor. Nada para se preocupar!"

"Bom, vamos para casa," ele diz, enquanto me faz sinal para entrar no carro. O silêncio que segue é denso, carregado de uma tensão que eu não consigo identificar completamente.

Enquanto ele dirige, meu pensamento gira em torno da palavra "viagem" mencionada pelo Dr. Samuel. Gael nunca mencionou nada sobre isso, e o mistério por trás disso só aumenta o desconforto que sinto. Olho para ele, tentando entender o que está realmente acontecendo e por que tudo parece tão fora de lugar.

"Estava falando com sua mãe, ela estava preocupada com você..."

Entramos no carro, e o silêncio que se segue é pesado. O pensamento da "viagem" mencionada pelo Dr. Samuel paira na minha mente, e o fato de Gael não ter dito nada a respeito só aumenta meu desconforto. Olho para ele, tentando decifrar se há alguma verdade oculta em seu comportamento.

Enquanto ele dirige, o trânsito se arrasta, e eu me sinto como se estivesse em um pesadelo do qual não consigo acordar. Pergunto a mim mesmo o que mais está sendo escondido de mim e por que tudo parece tão fora de lugar. A tensão no carro é quase palpável, e o silêncio é opressor.

Bufando em frustração, decido quebrar o silêncio, mesmo sabendo que isso pode apenas intensificar a tensão entre nós.

"Ela está preocupada? Não acredito!" – minha voz é uma mistura de desdém e confusão, minha mente ainda girando com as palavras do Dr. Samuel e a ausência de informações sobre a viagem.

"Ela é sua mãe, meu amor." – Gael responde com um tom que tenta ser compreensivo, mas a escolha das palavras e a maneira como ele as diz parecem mais uma tentativa de desviar o foco do verdadeiro problema.

"E você é o marido dela, que pega o filho dela de madrugada... Estamos quites!" – eu provocamente toco a boca dele com a ponta do dedo, meu gesto um desafio sutil.

"Não me provoca!" – ele responde, sua voz carregada de uma ameaça que é tanto sedutora quanto inquietante.

"Se não, o que vai acontecer comigo, Sr. Delegado? Vai mandar me prender?" – eu deslizo meu dedo ao longo do cinto dele, uma provocação que reflete minha mistura de raiva e confusão.

"Se não, vou te devorar!" – ele diz, puxando-me para mais perto, o tom dele cheio de promessas que misturam desejo e dominação.

"Espero que não me rompa novamente..." – a provocação é uma mistura de medo e desejo, um jogo perigoso que estamos jogando.

"Pode deixar, no máximo vou só te deixar bem cansado em cima do meu pau. Vou te deixar sem fôlego!" – a resposta dele é crua e direta, uma promessa que é ao mesmo tempo perturbadora e excitante.

Ele passa a barba no meu pescoço, e eu sinto um arrepio percorrer meu corpo, uma mistura de excitação e desconforto. O toque dele é intenso, e eu não consigo evitar a reação, mesmo sabendo que o que está acontecendo entre nós é uma linha tênue entre a intimidade e o abuso.

O carro avança lentamente, e eu me pergunto até onde isso vai chegar, o que mais está por trás das palavras e ações de Gael, e como eu vou conseguir lidar com isso tudo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top