capitulo 15
Recebo uma mensagem de Nina antes de me deitar para dormir:
— Como assim, você chamou Otávio Wruck para sua casa e deixou sua melhor amiga de fora?
Sinto um frio na barriga ao ler a mensagem, imaginando o que ela deve estar pensando. Respondo rapidamente:
— Eu precisava de uma conversa com outro homem.
Ela responde quase de imediato:
— Posso ser homem às vezes (carinhas rindo). Mas tudo bem, te entendo. Só não se esqueça de mim, também sou sua amiga! Fiquei sabendo que você vai ter que fazer um boletim de ocorrência. Estarei orando para que dê tudo certo para você. Boa noite, amigo!
Sorrio ao ler a mensagem. Nina sempre foi uma amiga leal, apesar das nossas vidas diferentes agora. Eu sei que ela realmente se importa.
— Obrigado. Boa noite! ❤️
Me deito na cama, olho para o teto. Tento mudar meus pensamentos, mas todos voltam para o depoimento de amanhã. Estou incrivelmente preocupado.
Na noite passada, Otávio tinha feito algo inesperado. Lembro-me da imagem dele pulando pela janela do meu quarto. Havia se certificado de que Gael não estava em casa e, quando entrou, seus olhos azuis se encontraram com os meus.
Ele se deitou ao meu lado, o silêncio entre nós era palpável. Nossos olhos se encontraram por um momento que parecia eterno. Ele então quebrou o silêncio.
"Ainda somos amigos?" – perguntou.
"O fato de você ter ido contra minhas opiniões não muda nada. Não vou deixar de ser seu amigo só porque não concordou comigo!" – respondi, tentando ser sincero.
"Me desculpe, sei que não deveria ter socado a cara daquele seu ex-professor de música..."
"Ex-professor. Aliás, se você não tivesse feito isso, Gael teria feito. MAs o que adianta, eu já estava desacordado a alguns dias." – disse com um sorriso.
"Vai ao campeonato?" – perguntou ele, mudando de assunto.
"Não sei, não sou fã de jogos intercolegiais."
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça.
"Se você for, te juro que farei um gol." – falou com convicção.
"Não jure o que não pode cumprir." – sussurrei.
Ele sorriu, deu-me um beijo suave na testa e saiu pela janela, indo para a varanda e subindo na moto estacionada em frente à minha casa.
Agora, de volta ao presente, Nina estava ao meu lado no estádio. O jogo começava e o diretor anunciava os jogadores e os times.
"Não sabia que gostava de esportes." – comentou Nina, sugando o refrigerante pelo canudo.
"Quero ter uma experiência escolar completa este ano." – respondi.
Otávio estava no campo, e de repente me acenou, enviando um tchau e um coração. Ele havia prometido que faria um gol para mim, e um sorriso apareceu no meu rosto ao lembrar da promessa.
"Otávio é sua experiência escolar completa?" – Nina perguntou, interrompendo meus pensamentos.
Olhei para ela e dei um sorriso sem graça.
"Cala a boca! Somos só amigos." – disse.
"Uhm, lembro da mensagem que você me mandou: Otávio/Minha casa/agora aqui, ponto, ponto, ponto... Que amigo visita outro amigo enquanto ele está dormindo?"
O diretor estava narrando as jogadas do time da casa. Otávio marcou o primeiro ponto e, ao correr pelo campo, olhou para mim e apontou. Ele cumpriu sua promessa, e apenas nós sabíamos disso.
Vince me olhou e balançou a cabeça. O que ele tinha contra mim? Nunca fiz nada para merecer sua antipatia.
No dia seguinte, o dia começa com uma sensação de opressão. Eu deveria acompanhar meu pai e Gael no julgamento de Filipe. Entramos no fórum e o julgamento já havia começado. Sentamos nos fundos, nas últimas cadeiras.
"Erick, quero que você saiba que... Gael conversou com ele. Ele disse que vocês tinham um lance, que o que aconteceu entre vocês dois foi mais do que apenas sexo."
As palavras do meu pai me atingem como um soco no estômago.
"Espera aí, você está acreditando no que ele está falando?" – Pergunto, tentando manter a calma.
"Não é exatamente isso..."
"Então o que é?"
"Eu só não consigo acreditar que Filipe seria capaz de algo assim."
Sinto uma mistura de frustração e desamparo. A dúvida na voz do meu pai só intensifica o peso que sinto no peito. É como se cada peça dessa situação estivesse tentando se encaixar de uma maneira que eu não consigo entender.
"Espera aí, você é a mesma pessoa de três dias atrás? Ele tentou abusar de mim. Não foi em você que ele queria aquele pau!"– digo alterando a voz.
O juiz se levantou e bateu o martelo com firmeza.
"Silêncio no tribunal!"
Meu pai parecia atônito com a minha reação, seus olhos fixos em mim, buscando alguma forma de entender o que estava passando pela minha mente.
"Filipe Rodrigues, você está preso. Sua fiança é estabelecida em mais de 12 mil reais. Até que o pagamento seja efetuado, você permanecerá na delegacia de Palmas."
O juiz bateu o martelo novamente e se levantou, encerrando a sessão. Os policiais se aproximaram de Filipe, que, com um olhar frio, se levantou e caminhou em direção à porta. Antes de sair, ele parou e virou-se, encontrando meu olhar. Seu sorriso, uma mistura de desafio e desdém, me fez sentir um calafrio.
Meu pai imediatamente se dirigiu ao juiz, claramente frustrado com o que considerava uma decisão inadequada.
"Erick, está tudo bem?" – Perguntou Gael, a preocupação visível em seu rosto.
Eu assenti com a cabeça, mas a verdade era que nada estava bem. A sensação de que alguém que quase arruinou minha vida pudesse estar solto a qualquer momento me afligia profundamente.
Gael me acompanhou até em casa. Durante o caminho, meu silêncio foi quase absoluto. Respondi apenas o essencial, mantendo uma distância emocional que eu nem sabia que era possível.
Ao chegarmos, Gael perguntou:
"Está com fome, menino Erick?"
"Não, obrigado."
Subi para meu quarto sem dizer mais nada. A necessidade de estar sozinho era avassaladora. Fechei a porta atrás de mim e me encostei na parede, tentando processar tudo o que aconteceu. A sensação de impotência e medo ainda pairava no ar, como uma sombra que não se afastava.
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