capitulo 11
Acordo com o calor do corpo de Gael me abraçando, ainda não havia amanhecido. Era comum ele vir para minha cama no meio da noite quando minha mãe estava em casa. Sinto os pelos ralos de sua barriga arranhando minhas costas enquanto ele me puxa para mais perto.
"O que foi?" – pergunto, tentando entender por que ele estava ali tão cedo.
"Senti sua falta. Estamos tão distantes nessas últimas semanas," ele murmura, a voz rouca de sono.
Dou um sorriso suave, mas sei que ele sente o que eu também percebo. "Não nos desgrudamos para nada, Gael. Passamos mais tempo juntos do que qualquer outra coisa."
Ele beija minhas costas de leve, e posso sentir o carinho em seu gesto. "Já disse que te amo?" – ele pergunta, meio sonolento.
Viro-me para encará-lo, surpreso pelo toque de sua boca na minha. Ele me beija com suavidade, e por um momento, me perco na sensação.
"Você sabe que nossa relação, uma hora ou outra, não vai durar, né? O que estamos fazendo é errado... Estamos traindo a confiança dela..." – sussurro, a culpa latejando em minha mente.
Gael fecha os olhos, respirando fundo, e posso ver o conflito em sua expressão. "Mesmo que não dure, vamos aproveitar esses momentos sozinhos. Enquanto ainda temos," ele diz, com firmeza na voz, antes de me puxar para mais perto. Passa a perna por cima da minha e, lentamente, adormece.
Com o retorno às aulas, Gael e eu nos afastamos um pouco. As responsabilidades diárias, as tarefas, e a necessidade de focar nos estudos me levaram a sentir que, às vezes, a terapia realmente estava me fazendo bem, ajudando-me a processar tudo o que estava acontecendo. Mesmo assim, há um vazio em nossos momentos juntos, uma distância que antes não existia. Mas, por agora, me contento com esses pequenos momentos de intimidade, mesmo sabendo que são temporários.Afinal, eu sabia que tudo isso era um erro, mesmo que eu estivesse me apegado demais a ele nos últimos dias...
Abro os olho e vejo Diego chupando meu pau, solto um grito quando o vejo ali de quatro na minha frente. Sacudo as pernas chutando sua cara.
Ele me olhou furioso, avançando para cima de mim apertando meus braços.
"Aí meu Deus... Me desculpe!"– falou arrependido, ele alisa meu rosto com delicadeza.
Passando os dedos em meus lábios, quando vejo oportunidade o mordo. Diego se levanta, ajeita o óculos e reclama pelo dedo, ele sai dali.
Tudo ficou escuro, ouço o barulho da porta se abrir lentamente.
"O que foi, putinha? Sentiu falta do papai?"– falou Ricardo.
"Vocês não cansam de machucar esse garoto?"– perguntou uma voz feminina.
"Limpa logo ele, Maikon vai adorá-lo essa noite."– falou.
Ele trancou a porta nos deixando sozinhos.
A mulher que não dava para ver o rosto, se ajoelhou onde eu estava, com a bucha ela esfrega meu corpo.
"Me tire daqui, por favor!"– digo suplicando a ela.
"Não posso, me desculpe. Me desculpe!"– ela se levantou e saiu do quarto.
Acordo, ainda envolto nas lembranças, com Neuza gritando do outro lado da porta. Quando olho para o lado na cama, percebo que Gael já não está mais lá, como de costume nas manhãs recentes.
"Menino Erick, está atrasado para a escola. Gael mandou avisar que não vai poder te levar... Levante, garoto Erick!"– a voz de Neuza se esvai junto com o barulho que ela fazia.
Arrumo-me rápido, sem muito tempo para pensar no que o dia reserva. Desço, pego um pão e saio correndo para o ponto de táxi. Meu coração ainda está um pouco pesado pela ausência de Gael, algo que eu nunca admitiria para ele.
"Erick... Erick!"– a voz de Otávio Wruck me chama do outro lado da rua, arrancando-me dos meus pensamentos.
Ele acena para mim enquanto buzina, parado no meio-fio. "Vem, eu te dou uma carona." A oferta dele me pega de surpresa.
"Não precisa..."– digo, quase entrando no táxi. Mas algo no jeito insistente de Otávio, talvez a maneira como ele parece sempre estar por perto, me faz hesitar.
"Eu insisto, venha!"– ele repete, como se soubesse que eu acabaria cedendo.
Corro até o carro dele, um modelo antigo e vermelho, cuja marca não reconheço. Entro do lado do passageiro, sentindo o cheiro do estofado gasto e notando os pequenos detalhes de desgaste no painel. O carro é uma extensão de Otávio, um pouco antiquado, mas cheio de personalidade.
"Sua carona te deixou para trás hoje?"– ele pergunta, mantendo os olhos na estrada, mas com um leve tom de curiosidade.
Confirmo com a cabeça, sem me aprofundar. A música que toca no carro é suave, "Flutuar" de Johnny Hooker, uma escolha inesperada para alguém como ele. O estilo não combina com a imagem que eu estava começando a formar na minha cabeça.
"Não gosta da música?"– ele pergunta, percebendo meu olhar.
"Nunca havia ouvido..."– admito, mas minha resposta não é só sobre a música. Tudo em Otávio parece me pegar desprevenido, e isso mexe comigo.
Ele dá de ombros, como se o comentário não tivesse importância, e muda para um sertanejo universitário. A nova música preenche o carro, mas o ambiente fica subitamente mais comum, menos intrigante.
"Aquele cara que te levou ontem e te buscou na escola é seu namorado?"– a pergunta surge do nada, direta, e me pega despreparado.
"Não, é meu padrasto!"– respondo, sem revelar o que realmente acontece. O que Gael e eu temos é mais complicado do que um rótulo poderia definir, algo que nem eu mesmo consigo descrever.
"Uhm, ele é bem protetor!"– comenta Otávio, sem desviar os olhos da avenida, mas com um tom que parece sugerir que ele está tentando decifrar algo em mim.
"Um pouco."– murmuro, perdido entre a simplicidade da resposta e a complexidade dos sentimentos que ela esconde.
O silêncio que se segue é pesado. A presença de Otávio é perturbadora, mas de uma forma que não sei se é boa ou ruim. Ele dá de ombros novamente, um gesto que começo a perceber como uma assinatura dele, e continuo a observar o movimento da rua. Meu coração bate um pouco mais rápido, mas não tenho certeza se é por causa da música, de Otávio, ou dos pensamentos que continuam a se acumular dentro de mim.
"Não sabia que dirigia."– finalmente falo, tentando mudar de assunto, mas a verdade é que estou mais interessado em desvendar quem é esse garoto que parece aparecer nos momentos em que menos espero.
"Tem muitas coisas que você ainda não sabe sobre mim," Otávio diz, um sorriso travesso brincando nos lábios. "Ia te convidar para uma carona ontem, mas depois do fora que me deu..." Ele faz uma careta exagerada, como se estivesse levemente ofendido.
Fico surpreso com a insinuação. Ele ia me convidar para sair?
"Você ainda vai descobrir que eu não sou bom nem para ser amigo, nem para ter amigos." Tento colocar uma barreira entre nós, mas a resposta dele vem rápida.
"Mas você é amigo daquela garota incrível." Ele menciona Nina, com um tom que deixa claro que ele notou mais do que só sua personalidade.
"É, ela é bem legal." Respondo, tentando manter a conversa neutra.
Ele ri de um jeito que me faz sentir como se eu tivesse perdido alguma coisa.
"O que foi? Falei algo engraçado?" Pergunto, confuso.
"Engraçado é que ela disse exatamente a mesma coisa que você!" Ele revela. "Nos encontramos ontem no condomínio."
Fico em silêncio pelo resto da viagem, processando a informação. Por que Nina não mencionou isso?
Chegamos rápido à escola, e ele estaciona o carro. Saímos juntos, mas a conversa ainda está presa em minha mente.
"Você não parece muito de falar," ele comenta, observando-me enquanto caminhamos.
Dou de ombros, tentando me concentrar em algo menos confuso. "Prefiro estudar. Sou mais do tipo intelectual. Gosto de Harry Potter, sou da Lufa-Lufa, chorei assistindo 'A Teoria de Tudo', e acho graça das piadas sem graça de 'The Big Bang Theory'."
Ele sorri, como se eu tivesse acabado de contar a coisa mais fascinante do mundo. "É um belo resumo. Estou pensando em fazer uma festa no final de semana. Adoraria que você fosse."
Ele abre a porta da escola para eu passar primeiro. Paro e o encaro, tentando entender se ele está falando sério ou só brincando.
"Você tá zoando comigo?" Pergunto, desconfiado.
"Por que acha isso?"
"Somos completamente diferentes. Meu mundo não encaixa no seu. Mal me conhece e já quer ser meu melhor amigo."
Ele para, considerando minhas palavras. "E por que eu não poderia ser?"
Dou um meio sorriso, meio desafio. "Te dou até o final do dia para descobrir quem eu realmente sou." Digo, me afastando para caminhar sozinho até a sala.
Enquanto me afasto, sinto que deixei algo para trás naquela conversa, uma chance, talvez. Mas a verdade é que não estou pronto para abrir essas portas. Não ainda.
Na hora da educação física, a quadra estava agitada com a escolha dos times para o jogo de vôlei. Vince e Otávio estavam liderando a seleção das equipes, e como sempre, eu era o último a ser escolhido, acabando com a Pamella, uma menina metida e que não era muito popular.
"Eu escolho... Erick!"– anunciou Otávio, com um sorriso para mim.
Os outros alunos imediatamente voltaram os olhares para ele, surpresos.
"Tem certeza, cara?"– perguntou Vince, com uma expressão de dúvida.
"Sim, confio nele."– respondeu Otávio, piscando para mim.
Lembro-me de um tempo em que tinha vários "amigos", antes do ocorrido. Agora, a maioria se afastou, e mesmo que nunca tenha sido popular, sempre estive cercado de pessoas. O que as pessoas não sabem é que, apesar de tudo, continuo sendo o mesmo, só que um pouco diferente.
Quando Otávio marcou o último ponto para nosso time, ele correu até mim e, com uma explosão de energia, me pegou no colo e girou comigo nos braços. A quadra inteira estava olhando, especialmente Vince, que parecia incrédulo do outro lado.
"Não valeu, Wruck!"– gritou Vince, claramente irritado.
"Claro que valeu, Vincent. Não aceita perder?"– Otávio respondeu, me colocando gentilmente no chão.
O sinal tocou, e todos correram de volta para a sala. Vince se aproximou de mim, com um olhar sério.
"Erick..."– ele me chamou.
"Oi, Vincent. Tudo bem?"– perguntei, cruzando os braços.
"Olha, só vê se não atrapalha o Wruck. Ele vai fazer o teste para o time hoje, e eu espero que você não estrague a chance dele."– disse Vince, colocando um dedo no meu peito.
"Terminou?"– perguntei, com um tom irônico.
Vince confirmou com um aceno de cabeça e saiu apressado, como se estivesse fugindo de algo.
Revirei os olhos e fui para o vestiário masculino. Otávio me interceptou na entrada, com um short roxo do time da escola e sem camisa, exibindo seu físico bem definido e algumas tatuagens.
"Estou indo fazer o que você me falou!"– ele disse, com um sorriso decidido.
"Foi um fora que te dei."– respondi, rindo e me encostando na porta.
"Interpretei como uma boa oportunidade. Estamos no meio do ano e só restam cinco jogos. Se eu passar, farei parte do time titular."– explicou ele, vestindo a armadura e a blusa do time.
"Boa sorte."– falei, observando-o com uma admiração inesperada.
Os olhos azuis de Otávio me hipnotizaram, e me peguei completamente encantado. Ele era um enigma, e eu estava curioso para descobrir mais sobre ele.
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