Capítulo 39

1369 PALAVRAS

A atmosfera na mina era sufocante. O ar carregado parecia se tornar mais pesado a cada passo que Elizabeth dava. As paredes de pedra ao seu redor exalavam um frio úmido que penetrava até os ossos. Ela sentia o chão irregular sob seus pés, tentando não tropeçar enquanto Charles a empurrava com brutalidade. Ele parecia determinado a levá-la cada vez mais fundo na mina.

Elizabeth sentia o coração disparado, não apenas pelo medo do que Charles poderia fazer, mas pela angústia de estar naquele lugar instável, cercada pelo risco iminente de desabamento. Sua mente estava a mil, tentando imaginar uma forma de escapar.

Mas como? Ele era forte, violento, e tinha uma arma.

Charles parou por um momento, olhando ao redor com uma expressão de satisfação sombria.

— Estamos quase lá; ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela.

Elizabeth não sabia o que significava "lá", mas cada passo para dentro daquela mina parecia um passo mais próximo do fim.

— Por que está fazendo isso, Charles? Ela perguntou, tentando ganhar tempo, tentando encontrar uma brecha.

Charles parou de repente e se virou para ela. Seu rosto estava marcado por uma expressão de raiva que beirava a loucura.

— Você ainda pergunta? Ele riu, uma risada amarga e cruel. Você arruinou a minha vida, Elizabeth. Por sua culpa, meu avô me deserdou. Por sua culpa, eu perdi tudo!

Elizabeth o encarou, tentando esconder o tremor de suas mãos amarradas.

— Eu não fiz nada para você, Charles. Foi você quem escolheu seus próprios caminhos. Não culpe os outros por suas falhas.

A resposta dela só aumentou a raiva de Charles. Ele deu um passo à frente, inclinando-se para ficar próximo ao rosto dela.

— Você nunca entendeu, não é? Tudo o que eu fiz foi para impressionar você. E você me rejeitou. Escolheu outro homem... Ele cuspiu as palavras com desprezo. E agora, vou consertar isso. Você será minha, Elizabeth, quer queira ou não.

A ameaça implícita nas palavras dele fez o sangue de Elizabeth gelar. Ela sabia que Charles estava fora de controle, e a única chance que tinha era encontrar uma forma de escapar antes que fosse tarde demais.

Enquanto Charles a empurrava mais fundo na mina, Elizabeth começou a ouvir algo. No início, achou que fosse sua imaginação. Mas então, ouviu novamente. Uma voz distante, quase como um eco.

— Elizabeth!

Seu coração disparou.

Era Nathan! Ele estava ali, procurando por ela. Ela não sabia se deveria chorar ou gritar.

Charles também ouviu o som e parou abruptamente. Sua expressão mudou de raiva para frustração e, então, para algo mais sombrio.

— Ele não vai tirá-la de mim. Ele agarrou Elizabeth pelo braço com mais força e a puxou para um túnel lateral, abandonado e ainda mais escuro.

— Não! Elizabeth tentou resistir, mas a força de Charles era avassaladora.

— Fique quieta! Ele rosnou, empurrando-a para dentro do túnel.

O chão ali era ainda mais irregular, e Elizabeth tropeçou, caindo de joelhos. A escuridão era completa, e ela mal conseguia enxergar as paredes ao seu redor. O ar parecia ainda mais denso e difícil de respirar.

— Espere aqui. Charles a empurrou para o chão e se virou, os olhos fixos na entrada do túnel.

Elizabeth ouviu os passos se aproximando. As vozes ficaram mais claras.

— Elizabeth! A voz de Nathan ecoou novamente, mais próxima.

Ela tentou gritar, mas sua garganta estava seca, e o medo parecia paralisá-la.

De repente, Nathan surgiu na entrada do túnel, a lanterna em uma mão e a arma na outra. Seus olhos varreram o espaço até pousarem em Charles.

— Solte ela, Charles. Agora.

Charles riu, uma risada que soava como o som de algo quebrando.

— E o que você vai fazer, Mountie? Atirar em mim? Ele levantou as mãos, zombando. Acha que pode me parar?

Nathan deu um passo à frente, a arma firme.

— Não vou deixar você machucar Elizabeth. Este é o fim da linha para você.

Antes que pudesse reagir, Charles avançou. Ele se jogou sobre Nathan, tentando desarmá-lo. O impacto fez os dois caírem no chão, lutando com intensidade. A arma de Nathan caiu, deslizando pelo chão de pedra.

Elizabeth assistia a tudo, paralisada pelo medo e pela preocupação. Ela queria ajudar, mas suas mãos amarradas tornavam impossível qualquer tentativa de intervir.

Os dois homens rolavam pelo chão, trocando socos e tentando dominar um ao outro. O túnel ecoava com os sons da luta, os grunhidos de esforço e a respiração pesada. Nathan conseguiu se posicionar por cima de Charles e desferiu um soco que o deixou atordoado.

— Acabou, Charles! Nathan gritou, ofegante.

Mas Charles, em um último esforço, pegou uma pedra solta e a arremessou na direção de Nathan, que desviou por pouco.

De repente, um som diferente preencheu o túnel. Um rangido profundo e ameaçador. Elizabeth olhou ao redor, percebendo com horror que a estrutura do túnel estava cedendo. Pequenos pedaços de terra começaram a cair do teto, e o chão tremia levemente.

— Nathan, a mina! Elizabeth gritou, tentando alertá-lo.

Nathan percebeu o perigo e se levantou rapidamente. Ele conseguiu pegar a arma que estava caída no chão e apontou para Charles, que estava encostado na parede, ofegante e derrotado.

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, o som de madeira se partindo ecoou pelo túnel.

— Saiam daqui agora! Nathan gritou.

Ele correu até Elizabeth, puxando-a para ajudá-la a se levantar. Mas antes que pudessem sair, uma parte da parede do túnel desabou, bloqueando a saída.

O som era ensurdecedor, e a poeira encheu o ar, dificultando a respiração. Elizabeth tossia, tentando enxergar algo no meio da escuridão e da poeira.

Nathan olhou ao redor, percebendo que estavam presos. O desabamento havia dividido o túnel. Ele e Elizabeth estavam de um lado, enquanto Bill e Gab estavam do outro, relativamente a salvo.

Charles, por outro lado, estava parcialmente soterrado sob os escombros, gemendo de dor.

Elizabeth se segurou nele enquanto tentavam encontrar uma saída alternativa. Cada passo era um desafio, com o chão instável e o ar cada vez mais rarefeito.

— Nathan, e Charles? Ela perguntou, a voz tremendo.

— Ele fez suas escolhas. Agora precisamos nos concentrar em tirá-la daqui.

Nathan verificou Elizabeth, que estava pálida e visivelmente machucada. Havia um corte profundo em sua testa, e ela segurava o braço esquerdo com uma expressão de dor.

— Elizabeth, você está bem? Perguntou Nathan, a preocupação evidente em sua voz.

— Acho que... acho que meu braço está quebrado; ela respondeu, com a voz trêmula.

Nathan rapidamente desamarrou as cordas que ainda prendiam as mãos dela, libertando-a.

— Eu vou tirar você daqui. Confie em mim.

Ela assentiu, mesmo com a dor evidente em seu rosto.

Nathan olhou para Charles, que gemia entre os escombros. Ele hesitou por um momento, considerando a possibilidade de ajudá-lo. Mas Charles estava preso e sem condições de lutar. Além disso, o tempo era curto, e o perigo de outro desabamento era real.

— Bill, Gab! Estamos presos deste lado! Elizabeth está ferida, mas eu vou tirá-la daqui! Charles está soterrado, mas ainda vivo!

— Vamos tentar abrir caminho para vocês! Respondeu Bill.

Gab acrescentou:

— Cuidado com os túneis! Sigam o fluxo de ar, pode levá-los para a saída.

Nathan se lembrou do aparelho que Gabi havia instalado para ventilar a mina. Ele podia sentir uma leve brisa, quase imperceptível, mas suficiente para indicar uma direção.

— Vamos por aqui, Elizabeth. Segure firme.

Sem esperar mais, Nathan a pegou nos braços, tomando cuidado com o braço machucado dela.

O túnel parecia interminável, e a cada passo Nathan sentia o peso de Elizabeth e a tensão do lugar desabando ao redor deles. O ar estava mais respirável graças ao aparelho de ventilação, mas o risco de outro desmoronamento ainda era iminente.

— Nathan... você não pode me carregar o tempo todo... Murmurou Elizabeth, a voz fraca.

— Não vou deixar você aqui. Nem pense nisso.

Os sons do túnel eram assustadores. Rangidos e estalos ecoavam pelas paredes, como se a mina estivesse avisando que seu colapso total era apenas uma questão de tempo.

— Estamos perto, eu prometo; disse Nathan, tentando acalmá-la enquanto avançava.

Elizabeth tentou manter a calma, mas a dor em seu braço e o medo de não conseguir sair dali tornavam tudo mais difícil.

Finalmente, Nathan viu um feixe de luz mais à frente. Era fraco, mas suficiente para renovar sua determinação. Ele sabia que estavam se aproximando do duto de ar.  

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