Parte 3 - Decepção

– Quando Úrsula me falou que você tinha aceitado fazer isso foi um tremendo alívio, sabe? Você está seguindo tão bem com o plano! – Erick parecia completamente alegre enquanto me falava isso.

Eu pisquei algumas vezes, enquanto tentava processar o que ele disse.

– O plano... – era para ser uma pergunta, mas minha voz estava muito fraca.

– Você deve achar ele bem idiota não é? – ele coçou a nuca, tímido – Mas eu não sabia mais o que fazer para reconquistar a Ellen. Então Úrsula sugeriu fazer isso para criar ciúmes nela... Bem, obrigado por ajudar. Foi bem legal de sua parte. Você fez o nosso romance parecer tão real. Sabia que você seria uma boa atriz...

Era como se o mundo se desmanchasse, eu via ele falando mas não conseguia escutar mais nada.

Era tudo parte de um plano para ele ter a ex-namorada de volta. Mas é claro! Por isso que todos os cantos em que íamos a Ellen estava. E nas horas que ele estava distraído... Ele só podia estar olhando para ela. E o beijo, meu deus! Ele só me beijou para fazer ciúmes nela.

Como eu não percebi antes? Ellen foi namorada dele por um ano e não faz nem dois meses que eles se separam. Foi por causa do término deles que eu ganhei coragem para tentar algo com Erick. Eu queria conquista-lo antes que alguma garota o fizesse de novo. Mas eu nunca tive chance, porque ele nunca deixou de amar a Ellen.

E Úrsula? Ela sabia de tudo e mesmo assim fez o acordo de me "ajudar". Ela fez todo esse plano onde eu seria apenas uma atriz. Ah se Erick soubesse que todo esse sentimento é verdadeiro.

Senti minha vista embarçar e minha garganta se fechar. Engoli em seco, reprimindo a vontade de chorar.

– Você está bem? – ele me olhou preocupada.

– Sim. Eu... – funguei de leve, fazendo uso de toda minha força de vontade para não deixar as lágrimas caírem. – Eu estou bem, não se preocupe.

– Certo... – ele ainda parecia desconfiado.

– Sabe de uma coisa? – não esperei ele responder. – Eu lembrei que tenho um compromisso urgente. Tudo bem se eu for embora agora?

– Tudo sim, não quero lhe atrapalhar em nada. Além do mais você já ajudou tanto. Obrigado por me salvar de novo, salvadora.

Ele tentou brincar com o apelido, mas eu não tinha o menor clima para brincadeiras. Então dei um sorriso amarelo e me despedi, saindo rápido dali.

Estava andando a passos largos, olhando para baixo porque tinha medo de levantar o olhar e todo mundo me vê chorando. Só que por causa disso eu acabei esbarrando em alguém. Quando me afastei para olhar melhor a pessoa, reconheci ela facilmente.

– Ora, se não estou vendo uma vítima do coração partido. – Úrsula estampava um sorriso maldoso no rosto. Agora eu tinha certeza que esse sorriso para sempre significaria o meu fim.

– Como você pôde fazer isso? – tentei soar o mais firme possível, mesmo com a voz embargada pelas lágrimas. – Você sabia! Sabia de tudo e...

– E não fiz nada para impedir? – ela me interrompeu – Isso mesmo.

– Por quê? Por que você não me contou que ele ainda estava apaixonado pela Ellen?! Por que Úrsula? – eu estava desesperada. Ela parecia apenas se divertir com isso.

– Ah pequena Ariel, eu queria o contrato. Acha mesmo que eu ia lhe contar a verdade e perder essa oportunidade? Além do mais – ela riu maldosa – ver esse seu olhar triste e decepcionado é a melhor vingança que eu poderia ter. Está vendo como é ótimo ser posta em segundo lugar?

– Então foi tudo porque eu ganhei a competição? – falei incrédula. – Tudo para você ter uma vingança?

Ela apenas sorriu mais, cruzando o braço e me observando com um olhar irônico. Em toda a minha vida eu nunca odiei ninguém, mas naquele momento eu só queria apagar a existência de Úrsula do universo.

– Você é um monstro. Vive manipulando as pessoas, prometendo o amor, mas é porque nunca você vai ser capaz de amar de verdade. E isso é realmente lamentável Úrsula.

– Eu não me importo com o que você diz Ariel, pelo menos não sou eu que estou sofrendo por um cara que não me ama. – e com um sorriso de canto ela foi embora.

Eu respirei fundo e decidi ir para um canto onde eu pudesse me acalmar.

🐚

A praia é um lugar em que eu me sinto incrivelmente bem. Na verdade o que me acalma é sempre o som do mar. Eu fecho os olhos e fico ouvindo o movimento. E quando estou nos meus piores dias eu caminho na beira do mar, sentindo a onda se quebrar nos meus pés.

Agora no fim da tarde as ondas estavam bem fortes, mas ainda assim precisava senti-las. Então eu deixei meus sapatos na areia e comecei a seguir em direção ao mar.

Respirei fundo o ar com aroma marítimo que tanto amo, e senti as ondas atingirem meus pés.

Eu queria tanto que elas levassem essa dor que sinto. Queria me livrar das mentiras, da decepção, do coração partido. Queria esquecer esse amor que ainda sinto. Por que tinha que ser assim? Seria tão mais fácil se pudéssemos nos desapegar de uma paixão, nos livrar desse peso. Eu me sentia tão vulnerável. Tão...

Uma onda me pegou sem eu perceber. Estava tão distraída nos meus próprios pensamentos que não percebi a maré aumentando. Agora a água batia na minha cintura e até estaria tudo bem, se a água não estivesse tão agitada. Comecei a tentar andar de volta para a parte rasa, enquanto ainda sentia a areia nos meus pés, mas outra onda veio e a água agora foi parar no meu ombro me fazendo perder o chão que eu tinha. Comecei a tentar nadar, só que a água estava me puxando para a parte funda.

E então mais uma onda veio. Dessa vez ela me cubriu inteira, e eu senti meus olhos arderem com o sal enquanto tentava me manter na superfície. Mas meu corpo já estava cansado.

A água estava forte e eu me sentia fraca demais para lutar. Então deixei ela me levar, enquanto sentia tudo se apagar.

1029 palavras

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