Capitulo 30 - LUNA

A Corte Runenma está em destroços, do alto da montanha a nuvem de poeira aos poucos se dissipa revelando o tamanho da destruição.

O pássaro de ferro que destruiu a corte se aproxima rápido como um raio até nós. Me levanto lentamente buscando forças para lutar se for preciso.

O veículo voador pousou. Uma garota de uniforme verde desce por um tipo de rampa e caminha lentamente com a arma apontada em minha direção, seu cabelo curto está preso em um pequeno coque acima da sua nuca. Através dos seus óculos escuros consigo me ver, estou repleta de arranhões e hematomas. Sangue seco suja o canto da minha boca.

A garota abaixa sua arma e leva uma das mãos à cintura retirando um recipiente preso em seu cinto e joga em minha direção. Seguro a pequena garrafa e a encaro por um momento.

- Beba, você deve estar com sede - ela diz

Abro a garrafa o mais rápido possível e bebo a água tão depressa que me engasgo. Me viro em direção aos garotos deitado sobre a grama e em seguida volto minha atenção à garota de uniforme verde.

- Vá em frente, dê água a eles, eu tenho mais - diz a garota.

Me sento sobre a grama e molho o rosto dos meninos. Carlo é quem me preocupa, apoio sua cabeça em meu colo, sua pele está fria e já quase sem cor, seu coração que batia a um compasso lento agora já não bate mais. Sinto as lágrimas deslizarem pelo meu rosto e a mão da garota tocar meu ombro oferecendo sua jaqueta verde para que eu cubra Carlo.

- Ele se foi, sinto muito, a garota ainda está viva e vai ficar bem, vamos colocá-la dentro na aeronave - ela diz

- Obrigado  - digo

- O que aconteceu aqui? - ela diz.

- Não sei nem por onde começar... Talvez pela parte em que fomos caçados, depois capturados, prisioneiros, ou pela parte que fugimos, lutamos, mas o final é esse, eles venceram - digo

- Quem venceu? Que criaturas são aquelas? - ela diz

- Criaturas do submundo - digo

A garota não responde, ela pega Claryce em seus braços e a leva para dentro da aeronave, assim que a garota voltar retira seu óculos escuro e fixa seus olhos claros sobre a destruição. Sua arma de cor negra e longa é diferente dos rifles usados em Aland, momentos atrás disparou tiros tão rápidos que mal pude contar.

- Como você chegou aqui, aliás, qual seu nome? - digo

- Me chamo Zarah, meus brinquedinhos mostraram que havia problemas na região.

- Meu nome é Luna - digo

Zarah me olha forçando um breve sorriso e em seguida coloca os olhos escuros novamente.

- Vou descer e ver mais de perto o que são essas criaturas - diz Zarah

- Eu vou com você - diz Ikal

Ikal se levanta apressado, ainda não consegue se manter firme de pé e se apoia em uma árvore próxima. Seus olhos percorrem ao redor da montanha e recaem sobre Carlo, seus olhos se fecham brevemente enquanto ele se prostra com um dos joelhos no chão.

- Tenho que voltar à corte, procurar pela Kloe, Ryan e a menina dos cabelos dourados - diz Ikal.

Quero dizer a ele que é tarde demais, que é impossível alguém ter sobrevivido à queda da corte, mas sei que nada que eu diga irá mudar, Ikal e Zarah descem em direção aos escombros da batalha.

O sol começa a se pôr no horizonte por trás das outras montanhas. Me sento na grama ao lado de Austin que ainda está desacordado, sinto discreto movimento em sua mão e seguro junto a minha, não demora muito até que seus olhos se abram.

Ajudo Austin a se sentar ao meu lado, não conversamos uma palavra desde que ele acordou, seus olhos permanecem fixos em Carlo e sinto uma energia oscilante pulsando ao seu redor, como se dois extremos estivessem lutando para tomar o controle.

- Eu trouxe ele para tudo isso - diz Austin.

- Não, ele veio porque é seu amigo, e amigos fazem isso - digo.

- Elak e a garota da arma desceram a montanha até a corte, vão em busca de... um sinal de vida talvez - digo

- Charlott não morreu, não digo apenas pelo poder de cura, mas conheço minha irmã, ela sempre acha uma saída, não sei como, mas ela está viva - diz Austin.

- Acredito em você, eles vão encontrar - digo.

Austin se levanta e caminha lentamente em direção ao pássaro de ferro, o "gavião de guerra" como diz Zarah. Sua expressão é confusa, assim como a minha quando vi o pássaro pela primeira vez. Ainda não tive chance de conversar com essa Zarah, mas estou curiosa pra saber de onde vem tudo isso.

O sons de passos pisando em folhas secas traz minha atenção ao Ikal chegando novamente a montanha, Zarah vem logo atrás com sua arma pendurada em suas costas.

- Que bom que acordou, ainda não nos falamos direito mas meu nome é Ikal - diz Ikal

- Austin - responde

- Essa é Zarah, ela meio que deixou a corte em ruínas - digo.

Zarah olha brevemente para Austin e faz um aceno com a cabeça enquanto caminha em direção ao gavião de guerra. Ela tira sua arma e seus óculos e os coloca em um dos bancos na parte de trás.

Já é noite e o alto da montanha está iluminado apenas pelo brilho das estrelas, Austin e Ikal trazem alguns pedaços de lenha e uso um pouco de magia para trazer fogo à nossa fogueira. Nos sentamos sobre a grama fria e ficamos em silêncio apenas observando às chamas que dançam enquanto consomem a madeira.

- O portal estava fechado, não sou bom com magia como Kloe, mas sei identificar uma quando farejo, e não senti nada - diz Ikal

- Isso quer dizer que elas conseguiram - digo

- O portal foi fechado de dentro para fora, não a símbolos, não há magia, não a nada além de um portal fechado - diz Ikal.

- Você quer dizer que o portal foi fechado do outro lado da sua abertura? - diz Austin

- Sim, deixando preso do outro lado quem o fechou - ele diz.

- Isso quer dizer que elas estão... No submundo? - digo

- Sim, mas foram para lá vivas - diz Austin.

- E como você pode ter certeza disso? - digo.

- Alguns símbolos feitos em meu corpo pela  Kloe ainda estão aqui, se ela tivesse morrido eles simplesmente desapareceriam - diz Ikal.

- E tem outra coisa Lua, você disse mais cedo "acredito em você", e caso tenha se esquecido... Bruxas não mentem - diz Austin

Ele está certo, eu não conseguiria dizer isso caso não fosse verdade, espero que Charlott esteja bem, Claryce não vai aguentar muito tempo sem a sua ajuda.

- O que vai acontecer agora com aquelas criaturas soltas por aí? - digo

- Booh me disse que eles estão fracos, que precisam se alimentar de energia e magia, quando isso acontecer serão imortais e tomarão o mundo inteiro - digo

- Até eles se fortalecerem talvez conseguimos achá-los - digo

- Somos nós três, precisaríamos no mínimo de um exército - diz Austin

- Talvez eu possa ajudar. - diz Zarah

- Essa luta não é sua, não sabemos quem é você e de onde vem - diz Austin

Ficamos em silêncio por um momento, Zarah respira fundo algumas vezes enquanto arranca um pedaço de grama do chão

- Escuta garoto, eu vim aqui em busca de respostas, mal cheguei e já tive que destruir seja lá o que for aquilo cheio de criaturas que só via em meus pesadelos e também vi um dragão negro voando bem em minha frente, talvez isso signifique que encontrei respostas, porque eu via tudo isso em meus sonhos - diz Zarah

- Você sonhou com esse lugar? - digo

- Não exatamente, mas sonhei algumas vezes. Nos meus sonhos eu era criança e morava em uma casa velha de madeira iluminada apenas pelas tochas espalhadas pelas estreitas ruas de tijolos. Eu via homens a cavalo vestidos de preto invadindo minha casa, me lembro vagamente quando dois homens, um de cabelos prateados e outro de olhos castanhos claros invadirem minha casa. Minha mãe estava abaixada em um dos cantos da sala comigo e minha irmã em seus braços, os homens nos encaram sem falar uma palavra e em seguida um deles grita que a casa estava limpa, poupando nossas vidas.

- E como você achou Aland? - pergunto

- Ainda crianças eu e minha irmã fomos entregues para meu pai, ele disse que um amigo a quem ele devia um grande favor nos entregou e pediu sua proteção. Um dia enquanto eu procurava mapas para traçar estratégias de batalha achei uma coordenada escrita no canto de um deles, mas essas coordenadas em nosso mapa eram apenas um ponto no meio do oceano. Decide investigar e aqui estou eu - diz Zarah.

A Garota se levanta em direção a aeronave e entra pela porta lateral, poucos minutos depois ela sai segurando um pedaço grande de papel.

Zarah se senta novamente e abre o pedaço de papel sobre a grama revelando um mapa repleto de nomes e locais.

- Aqui, está vendo? Aland é um pequeno ponto aqui em meio ao oceano

Ela diz apontando com o dedo um pequeno local em uma área isolada de cor azul

- E tudo isso que vocês podem ver são países, dez, vinte e até cem vezes maior que Aland. Então se vocês querem procurar alguém vão precisar da minha ajuda - diz Zarah

- De que ajuda estamos falando? - Diz Ikal

- Eu tenho o águia de guerra e um exército.

- Qual vai ser Austin?- diz ikal

Austin parece pensativo e mantém seus olhos em Carlo ainda deitado na grama fria. Seu olhar se volta para nós e sinto que a energia que oscilava ao seu redor se dissipa e sinto um leve sorriso se formando em meu rosto.

- Vamos caçá-los - diz Austin.

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