Capitulo 29 - MARINA
Passamos pelo portal, estamos em meio a um deserto, por todos os lados não se vê nada além de areia e pequenos arbustos secos. Descemos das costas de Ícaro, ele se deita sobre as patas, está exausto assim como nós. Suas asas se camufla perfeitamente em seu corpo, como se elas somem nunca tivessem existido
Apoio o cabelo do Elak em meu colo e tento me concentrar em alguma magia que possa ajudá-lo, meus olhos parecem pesados e já não tenho controle sobre mim. Ao fundo escuro o som de motor, distante, mas se aproximando rápido
Tento abrir meus olhos brevemente, consigo ver com dificuldade um carro em tons de verde parando em nossa frente. Dois homens com uniformes semelhantes às cores dos carros e chapéus vermelhos se aproximam de nós gritando em um idioma que não entendo.
- Nos deixem em paz - sussurro.
Os homens nos encaram por um instante e tentando gesticular em uma tentativa de se comunicar conosco, dizem coisas em um idioma que não entendo. Eles se abaixam ao nosso lado e retiram itens médicos de dentro de uma maleta e enquanto conversam limpam nossos ferimentos.
Somos levados para dentro do carro, Elak ainda desacordado é carregado em um suporte de madeira carregado pelos dois homens, consigo caminhar lentamente e tomada pelo cansaço. Olho pela janela enquanto somos levados para algum lugar além das vastidão de areia.
O carro para os homens são os primeiros a descer, em seguida outras pessoas se aproximam, talvez já estivessem esperando por nós. Olho através da porta do veículo e vejo uma pequena vila com casas estruturadas de aço e outras de madeira e lona. Elak e rapidamente retirado por outras pessoas de uniformes verdes.
- Ei, nos deixe em paz, não toquem nele - digo.
Sinto a confusão no rosto das pessoas, demoro um pouco para entender que eles não entendem o meu idioma. Tento gesticular para que se afastem, mas uma mulher se aproxima de mim e toca meu ombro, seu toque é suave e percebo que ela não tem qualquer intenção de nos ferir. Pela pequena cruz vermelha bordada na lateral do seu uniforme julgo ser uma tipo de curandeira.
- Para onde estão levando ele? - digo.
A mulher de cabelo castanho é um pouco maior que eu, seus olhos claros percorrem brevemente meu corpo como se estivesse procurando por algo. Ela pede para que eu abra minha boca e toca suavemente meus olhos. Fico intrigada quando ela coloca um objeto ligado ao seu ouvido em meu peito . Assim que ela termina um breve sorriso se forma sem seu rosto enquanto ajeita seus óculos.
Os soldados pedem em sinais que eu os acompanhem em direção a uma das tendas, logo na estrada vejo o símbolo de cruz vermelha, o mesmo que vi no uniforme das pessoas que cuidaram de nós, penso que aqui deva ser o lugar onde tratam os doentes. Assim que entramos vejo Elak deitado em uma das várias camas espalhadas aqui dentro. O calor que faz aqui dentro é sufocante, sinto uma gota de suor escorrer pelo meu rosto.
- Toma, beba um pouco de água
Não percebo a aproximação da mulher dos olhos claros que gentilmente me oferece um copo de água. Ela se senta ao lado de Elak enquanto limpa alguns dos seus ferimentos.
- Obrigado - digo
- Meu nome é Judy - ela diz
- Marina, e esse é o Elak - respondo
- Vocês não são daqui, não é mesmo?
- Não sei onde estamos para falar a verdade
- Deserto do Saara, estamos em uma base do exército egípcio. - diz Judy.
- Não sabia que Aland tinha um deserto com esse nome - digo.
- Aland? - ela diz
Não respondo de imediato, sinto a confusão no rosto de Judy e percebo que tem algo de estranho acontecendo. Sinto um milhão de perguntas se formando em minha cabeça. Então é por isso que eu não entendia o idioma dos soldados, em Aland todos falamos a mesma língua.
- Estou confusa... Porque só você entende o que eu falo? - digo.
- Venha comigo - ela diz
Saímos da cabana, enquanto caminhamos pela areia quente do deserto observo o que Judy chama de "base", os pequenos abrigos de aço seguem um padrão e em alguns deles há símbolos na entrada, talvez indicando para que são usados. Nosso destino não é nenhum deles, paramos em frente a maior construção que vi até aqui. Assim que entramos passamos por um estreito corredor com portas espalhadas para todos os lados
Entramos pela última porta do corretor. A sala é pequena e com papéis e pequenos mapas espalhados por todos os lados.
- Está aqui em algum lugar - diz Judy
Judy revira a pequena sala, esvazia um pequeno baú encostado em uma das paredes, revira gavetas presas a mesa mas aparentemente não achou o que procurava.
- Estava aqui, eu tinha certeza - ela diz.
- O que procurava? - pergunto.
A garota me observa por um momento até que se volta novamente para o baú. Ela retira um mapa e o estende sobre a mesa retirando delicadamente uma foto de duas crianças que enfeitavam a mesa.
- De onde vocês vieram mesmo? - diz Judy
- Aland - respondo
- Olha, está vendo? Não tem Aland no mapa - diz ela.
- De onde é esse mapa? - digo.
- Esse é o mapa de todos os países do mundo - ela diz.
- Éramos proibidos de falar sobre esse assunto, não conhecemos nada além dos limites de Aland. - respondo.
- Minha irmã achou as coordenadas de uma grande ilha que também não estava no mapa, essas coordenadas estavam em uma das cartas que... Deixa pra lá.
Judy se cala por um momento enquanto olha fixamente para o mapa sobre a mesa. Me aproximo lentamente e pego a fotografia que caiu sobre o chão sem que ela percebesse. As duas garotas na foto são idênticas. Elas se parecem com Judy, talvez seja ela e a irmã quando ainda crianças.
- Venha Marina, quero que conheça minha irmã.
Ajudo Judy a arrumar a sala e deixar tudo como estava quando chegamos, antes de sairmos ela abre a porta lentamente olhando para todos os lados, saímos fazendo o mínimo barulho possível até que estejamos novamente debaixo do sol escaldante do deserto.
Passamos por todas as cabanas e chegamos a um grande pátio cheio de carros e outros veículos que nunca imaginei que existiam. Um deles me chama mais a atenção, sua forma me lembra um enorme pássaro com as asas abertas totalmente feito de metal. Outros pouco menores, sem rodas e com lâminas de metal presas sobre o teto.
- O que são essas coisas? - digo.
- Esse com as asas é um jato, o outro com hélices chamamos de helicóptero. - diz Judy.
- Incrível, mas você ainda não me respondeu onde aprendeu o meu idioma?- digo
- Espere até ver o da minha irmã, o "gavião de guerra", como ela gosta de chamar. Ele é capaz de destruir uma cidade em minutos - ela diz.
Judy faz uma pausa brusca em meio à nossa caminhada. Olha brevemente para os lados e chama um dos soldados que limpava a lataria de um dos jatos.
- Onde está o gavião de guerra? - diz judy
- Sua irmã saiu logo cedo com ele - diz o soldado.
- Não me lembro de nenhuma missão para hoje - ela responde.
- Ela pediu para encher o tanque que iria para longe, e foi sozinha - diz o soldado
- Obrigado soldado - ela responde
Continuamos caminhando por entres os veículos. Não trocamos uma palavra até voltarmos para tenda médica onde está Elak. Me sento ao seu lado e seguro sua mão, a cor pálida e a temperatura do seu corpo já estão normais. Lentamente ele vai abrindo os olhos e arqueia um sorriso discreto.
- Onde estamos - diz Elak.
- Você não vai acreditar - digo.
Já é noite no deserto, após a janta alguns dos soldados vem até o refeitório para nos avisar que o general está à nossa espera. Somos levados para a mesma sala onde eu estive a pouco tempo junto a Judy, e dessa vez ela também está lá, sentada sobre o velho baú.
Atrás da mesa está sentado um homem, pelos cabelos brancos e a longa barba mal ele deve ser um homem de idade já avançada, usando o mesmo uniforme verde escuro usado pela maioria dos soldados, ele nos encara por alguns segundos antes de se levantar.
- Me digam, a quanto tempo estão vagando pelo deserto? - diz o homem.
- Não vagamos, simplesmente aparecemos aqui - digo
- Quer dizer como um portal? - ele diz.
Rapidamente me viro para Elak e nos encaramos por um momento. O homem vira de costas para nós enquanto observa os mapas em sua parede.
- Eles dizem ser de Aland, meu pai - diz Judy.
- Interessante, e como vai Aland? - diz o homem.
- Nada bem, na verdade não sabemos o que aconteceu, não conseguimos voltar - digo
- Isso deve explicar... Nosso radar detectou atividades e picos de energias anormais nas regiões das coordenadas oculta nos mapas. - diz o homem
- Então é por isso que Zarah partiu, ela foi investigar não é mesmo? - diz Judy.
- Não sob minhas ordens, mas imaginei que ela partiria - digo.
- Aland está sob ataque de criaturas que nunca tinha visto antes, surgem do chão e algumas são feitas do próprio fogo - Diz Elak
O soldado se aproxima de Elak e toca sutilmente seus cabelos, novamente ele se vira, mas agora em direção a Judy.
- Rakrom só pode criar portais para lugares onde ele já esteve. - diz o soldado
- Rakrom? De onde conhece meu pai - digo
- Assim que soube das crianças que apareceram misteriosamente no deserto eu soube que era Rakrom, mas sinto que algo aconteceu com meu amigo - diz o soldado
- Não tenho certeza, ele nos enviou para cá em meio a uma batalha, estávamos feridos e... Ele lutou contra dois caçadores - digo.
Um breve silêncio ecoa pela sala, o soldado se senta novamente. Ele alisa sua barba e quando olha fixamente a foto das duas garotas.
- Rakrom salvou minha vida no deserto, alguns anos depois ele voltou e me pediu para que cuidasse de duas garotinhas, disse que alguns caçadores estavam as procurando para matá-las. Não pude negar o pedido daquele que me manteve vivo, e jurei que iria protegê-las com minha vida - diz o soldado.
- O que faremos agora? - diz Judy.
- Vocês fiquem no acampamento, irei mandar um pequeno exercício atrás da Zarah - diz o soldado.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top