Capitulo 20 - CHARLOTT pt.2

O sol está se pondo, como em todas as noites os ventos sopram fortes trazendo com ele o uivo dos lobos, esse é o sinal indicando que está na hora da reunião. Nenhum dos resgatados se atrevem a sair depois do pôr-do-sol, talvez seja pelos barulhos dos animais da floresta ou as grandes pegadas que encontramos sobre a grama ao amanhecer.

A fogueira está acesa, Rakrom e Elak trazem mais lenha, sento-me em um tronco seco ao lado da Luna, ela me olha e arqueia um curto sorriso. Esperamos até que todos estejam sentados em volta da fogueira. Gregor o nosso mais novo prisioneiro está sentado de frente para nós, com os olhos fixos na grama debaixo de seus pés.

- Quem é o garoto? - Pergunta Rakrom.

- Isso não importa para você... Caçador - responde Gregor.

- Chega! o nome dele é Gregor Runenma. - Responde Luna.

- Ele já deve saber... Afinal é o responsável por exterminar metade da corte Runenma. - diz Gregor

- Os caçadores foram enviados para Runenma justamente para acabar com massacre planejado pela sua corte, contra seus próprios aliados, bruxos matando bruxos, ou não lhe contaram essa parte da história. - Responde Rakrom.

O silêncio toma conta do lugar, Gregor esfrega os punhos e levanta a cabeça, seus olhos recaem sobre Luna, eles se olham por um breve momento,

- Eu vou levá-las comigo, as bruxas ficarão mais seguras junto a corte Runenma, e você sabe disso. Venha conosco - diz Gregor.

- Não posso... Quer dizer, eu tenho que ficar, tenho que lutar, meus amigos precisam de mim - Luna responde.

- Espere, as últimas informações que tivemos sobre a corte se referiam a ataques, assim como sofremos em nosso instituto. - diz Claryce.

- Sim, está certa, sofremos ataques, mas nos reerguemos, fortes como sempre. Eu as levarei a um lugar seguro, longe de guerra, quase impossível de rastrear, ficaremos lá até chegar a hora de agir. - Responde Gregor.

- Como nos achou aqui? - pergunto.

- Com a quantidade de magia acumulada no meio da floresta, não foi difícil para nossos bruxos rastreadores. - Ele responde.

- Gregor você partirá ao amanhecer, e leve os resgatados para o lugar seguro. Luna e Claryce partirão com você. - Fiz Rakrom.

- Você não está no comando Rakrom, isso não é você quem decide. - Digo.

- Eu concordo com Rakrom, temos que confiar nele - diz Elak.

- Eu vou com vocês - diz Marina.

- Tudo bem, iremos com Gregor, partiremos ao amanhecer - responde Luna.

Gregor arqueia um curto sorriso pelo canto da boca, seus olhos são negros, iguais ao da Luna, mas tem algo diferente, um toque de frieza, talvez por ele por ele ser criado para ser apenas um soldado para sua corte.

Carlo é o primeiro a se levantar, ele não tem falando muito ultimamente, tem passado a maior parte do tempo em seu quarto, seus olhos estão pesados e marcados pelo cansaço. Elak e Marina se levantam em seguida. Espero até que todos já tenham se retirado para voltar ao meu quarto.

Caminho pelo corredor do casarão, o silêncio é quase assustador, por todos os lados têm resgatados dormindo. O quarto da Luna fica apenas a uns três quartos de distância do meu, paro em frente sua porta e bato. Ninguém responde, insisto mais algumas vezes, mas em vão. Vou para o meu quarto, tento fechar a porta, mas sou impedida. Rakrom está parado em frente ao meu quarto com a mão em minha porta.

- Se prepare garota, temos uma missão - ele diz.

Não o questiono, algo me diz que ele sabe exatamente o que está fazendo. Paro em frente meu espelho, observo meu uniforme preto que coloquei minutos atrás, prendo meu cabelo em um coque no alto da cabeça e pego minhas espadas, isso é tudo, estou pronta. Saio do meu quarto em direção ao corredor, Elak e Carlo estão me esperando em frente a escada, os dois também vestem os mesmos uniformes, Elak está com seu arco presos nas costas e Carlo segura apenas uma pequena bolsa.

Descemos as escadas silenciosamente para não chamar a atenção. Rakrom está no quintal ao lado do seu cavalo Ícaro, ele sorri enquanto acaricia o pescoço do animal. Ao perceber nossa aproximação ele sussurra algo no ouvido de seu cavalo, fico impressionada ao vê-lo se transformando em uma pequena ave negra e voar até o perdermos de vista. Rakrom caminha até nós com a espada presa em sua cintura, ele passa as mãos sobre seus cabelos prateados que recobrem parte doe seu rosto.

- Devemos partir agora - diz Rakrom

- E para onde vamos? - pergunto

- Corte Runenma. O rei, ou seja, lá quem estiver no comando pretende trazer os Creatores de volta do banimento, e para realizar um feitiço dessa grandeza é preciso uma enorme quantidade de magia - ele responde.

- Então significa que a corte será alvo do próximo ataque do rei. - diz Carlo.

- Os Runenma tem a traição correndo em suas veias, algo me diz que eles mantêm as bruxas como prisioneiras. Se o garoto nos achou, é só questão de tempo até que os rastreadores nos entreguem ao rei - responde Rakrom.

- Mas os prisioneiros? Luna e os outros, aqui não é mais seguro. - Indago.

- Garota, olha em sua volta, esse lugar é protegido por forças tão poderosas que estão fora do nosso conhecimento. - Responde Rakrom.

Olho ao meu redor, a escuridão da noite engole a floresta quase por completo, o verde da grama e das folhas das árvores tem um brilho diferentes, como eu não percebi que a floresta nos aceitou, nos salvou. A tensão que estava em meu corpo aos poucos se alivia, me sinto segura para partir na missão.

- Ei, uma última pergunta, você vai abrir um portal até essa tal corte? Quer dizer, não vamos ir andando até lá, não é? - Pergunta Carlo.

Rakrom olha fixamente para os olhos de Carlo, um pequeno sorriso se forma em meio a sua expressão intimidadora.

- Os portais só me levam para lugares onde já estive - responde Rakrom.

- Vamos, me diga que já esteve na corte. - diz Carlo.

- Vamos garoto, temos uma longa caminhada pela frente. - Ele responde.

Me aproximo do Carlo e me ofereço para carregar sua mala, dias a trás me perguntei o que ele faz aqui? Essa não é sua luta. Parei de pensar assim ao vê-lo trancado em seu quarto montando e desmontando armas e equipamentos achados pelo caminho, é a forma que ele encontrou de nós ajudar.

Deixo que os garotos andem mais a frente, algo em meio a escuridão me chama a atenção, um par de pedras brilhantes azuis como a cor do oceano se mexem lentamente em meio às folhas de um arbusto. Me aproximo a passos delicados até estar de frente para elas, afasto as folhas dos arbustos e tento tocar em umas das luzes. O uivo de um enorme lobo ecoa por entre a escuridão em minha frente, o brilho azul se movimenta rápido, e vem em minha direção, antes que eu perceba já estou no chão, o lobo está em cima de mim, seu focinho está tão próximo ao meu rosto que sinto seu hálito quente entrando pelas minhas narinas.

Me movimento de um lado para o outro tentando me esquivar, parece ter funcionado, o lobo se vira e corre para dentro da floresta. Permaneço deitada sobre o chão por alguns minutos até que Carlo e Elak me ajudam a levantar.

- Charlott, você está bem? - Pergunta Carlo.

- Vocês viram o tamanho dessa coisa!? - digo

- Não sei bem o que eu pude ver, estava muito escuro e seja lá o que for essa criatura, ela correu antes de chegarmos. - diz Elak.

- Ora garotos, não me digam que são de San Marye, o vilarejo amaldiçoado e nunca ouviram histórias de criaturas que vagam pela terra? - diz Rakrom

- Sim, ouvimos, mas sempre achei que eram contos para crianças não fiquem nas ruas depois do pôr do sol. - Respondo.

- Não subestime a natureza, não existe nada, nada, mais poderoso e mágico que a natureza. Ao longo da sua existência a natureza vem criando espécies, novas plantas, animais das mais variadas formas.... Mas também ela é mãe de criaturas mágicas, milhares delas, espalhadas por todos os cantos do mundo. - Ele responde

- De que tipo de criatura estamos falando?

- O lobo que você acabou de ver é uma criatura forjada pela própria terra. O Ícaro, meu cavalo é feito do próprio vento, já as criaturas do deserto como os djinn e ifrits são filhos do fogo, e por fim, os mais raros e perigosos são os que habitam as profundezas dos mares, kraken e sereias travam verdadeiras guerras de titãs. - diz Rakrom.

O dia já havia nascido, andamos por mais algumas horas, pouco nos falamos ao longo do caminho e isso me deixa bastante pensativa. O mundo fora do vilarejo ainda é desconhecido para mim, as poucas vezes em que sai era com o objetivo de caçar criminosos em troca de recompensas. Sempre imaginei como seria conhecer Aland de norte a sul, leste a oeste. Me vem a memórias histórias que meu pai me contava antes de dormir, em uma delas ele me contou sobre um imenso deserto, dez vez maior que toda Aland, e nesse deserto os caçadores fizeram uma aliança com os guardiões do deserto chamados djinns para lutar contra os ifrits, que nada mais são que criaturas infernais viventes das profundezas do submundo que tem livre árbitro para andar pela terra.

Meus pensamentos são interrompidos quando enfim saímos da floresta. Paramos diante de uma paisagem assustadora. Um vilarejo totalmente em ruínas, corpos ainda sangrando espalhado pelo chão, casas destruídas, algumas tendas sendo consumidas pelo fogo. Corremos em direção ao vilarejo, reviramos todas as casas que ainda permanecem erguidas, mas sem nenhum sinal de vida.

Paramos em meio a uma das praças do vilarejo, o grunhido de um pássaro rasga o céu, olho bem a tempo de ver Ícaro se transformar em um enorme cavalo negro. Ele paira sobre o ar e bate as asas provocando uma ventania na qual mal consigo me manter de pé. Aos poucos a fumaça que cobria o vilarejo se dissipa e o fogo cessa. Ícaro mergulha pelo ar em nossa direção e para ao lado do Rakrom.

- Ele conseguiu, achou as bruxas - diz Rakrom.

- Então vamos rápido, não podemos perder tempo. - Digo.

- Eu vou com Ícaro, chegando lá abro um portal até aqui - ele responde.

Aceno com a cabeça em sinal de concordância. Rakrom e Ícaro partem. O silêncio que se instalou nas ruínas do vilarejo é interrompido pelo som familiar vindo da bolsa do Carlo. " Carlo? Está na escuta? Tem alguém aí, alerta de emergência! Eles estão aqui". Essa voz é da Luna, eles estão em perigo.

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