Capitulo 17 - CHARLOTT

Todos já estão dormindo, estou sozinha de frente para a fogueira deitada sobre a grama. Não preciso de muito para recuperar minhas energias, pensando bem, não me lembro da última vez em que eu dormi, e não seria hoje que dormiria, sabendo que estamos sendo caçados e que meu irmão está com problemas.

O sol começou a nascer por entre as copas das árvores, não percebi quando a fogueira se apagou.

- O que está por vir é ainda pior, o que aconteceu com o garoto é só o começo. - diz o caçador.

Tinha até me esquecido que tínhamos amarrado um caçador a árvore na noite anterior, ele permaneceu lá. Sua aparência está um pouco melhor, mas suas expressões ainda revelam dor.

- Você vai mesmo me fazer levantar e calar essa sua boca? - respondo.

- Escolheram o garoto porque ele é o único que pode trazer os Creatores de volta. - diz o caçador.

Me levanto, saco um punhal da minha bota e caminho em direção a ele.

- Tudo bem, agora você deve estar delirando. Vou poupar seu sofrimento. - digo.

- Ele está certo. - diz Luna.

Luna caminha em nossa direção segurando o colar em uma das mãos. Ela se abaixa ao se aproximar do cavaleiro e o encara fixamente.

-Me conte sobre os quatro criadores, quem são eles? - Luna pergunta.

- Os primeiros habitantes da terra, eram responsáveis por manter o equilíbrio do universo. Com o passar dos anos a humanidade começou a se revoltar com a tirania, até que um deles o Dois, rei e guardião do submundo viu nesse caos uma oportunidade e decidiu que queria expandir seu reino para terra e enviou alguns de seus subordinados para fazer alianças com os humanos, espalhar um pouco do seu poder e sua magia. Fruto dessa aliança nasceram as primeiras bruxas. Em contra-ataque, UM e os outros abriram mão de parte de seus poderes e os distribuíram a alguns guerreiros na terra, e os denominaram de "caçadores", os imortais caçadores de bruxas e submundanos, lhes deram parte de seus poderem e em troca pediram servidão absoluta, sem paixões humanas, ou qualquer outro objetivo que não fossem caçar bruxas. - Conta o caçador.

- Mas o que é esse tal de banimento? - Luna pergunta.

- Dois e suas alianças se juntaram e criaram um feitiço, o mais poderoso de todos, capaz de banir UM, TRÊS e QUATRO para um abismo sem fim, bem no meio do submundo. E agora eles querem os trazer de volta para tomarem o controle do mundo, isso é tudo o que eu sei - o caçador conclui.

"Tá"! Isso explica de onde vem nossos dons e o motivo do extermínio as bruxas. Como não soubemos dessas histórias antes? Por que passamos a vida aprendendo que bruxas são ruins e merecem serem mortas? Essas perguntas não saem da minha cabeça. Será que devemos mesmo acreditar nesse babaca?

Começo a caminhar pela grama, o barulho distante da porta se abrindo e crianças correndo me trazem de volta a minha realidade. Não me recordo do rosto de quase ninguém, talvez pela adrenalina da última batalha não tive oportunidade de olhar com calma o rosto de cada um.

Sinto vontade de sorrir ao ver três crianças treinando embaixo de uma árvore, me lembro dos dias em que eu e meu irmão treinávamos juntos. Elas treinam seguindo algum tipo de livro, umas das crianças, a menina de cabelo longo tira um pequeno lagarto de seu bolso, em seguida lê uma frase do livro em um idioma estranho. O pequeno lagarto se transforma em um enorme crocodilo, gritos de medo misturado com risadas tomam todo o local. O crocodilo se assusta e avança para dentro da densa floresta e some de nossas vistas.

Já se passaram três dias, a rotina vem sempre sendo a mesma, pequenos grupos espalhados ao redor da casa. Alguns treinam magia, outros treinam combate corpo a corpo e tem os que apenas parecem meditar.

Não tenho conseguido afastar do pensamento que algo grande está por vir. Subo até o telhado da nossa nova casa esperando encontrar Elak treinando ou apenas pensando em qualquer coisa, feito, ele está lá. O observo enquanto ele respira lentamente, a velocidade que seu peito se movimenta é tão lenta que é capaz de confundir a real velocidade que o tempo está passando, espero até que ele atire a flecha.

- Como está a Marina? - digo

- Bem, deve estar aprendendo aulas sobre magia, ela quer se sentir útil de alguma forma, e eu acho isso legal - Ele responde.

- E você? digo, acha que devamos ficar aqui e esperar que nos achem?

- Não, mas também não tenho pensando em nada que faça sentido ultimamente.

- Entendo, precisamos nos reunir, convoque os outros, ao anoitecer nos encontraremos na árvore do traidor.

- Certo. - Ele responde.

Permaneço sentada sobre o telhado, aqui de cima consigo ver Luna e Claryce ensinando algo para Marina que parece estar bem animada. Também vejo o Carlo sentado sobre a sombra de uma árvore, ele segura em suas mãos o dispositivo que estava em nosso pescoço e um rádio, conforme ele desmonta os aparelhos vai escrevendo algo em um pequeno caderno.

Espero no telhado até que o sol se ponha, o anoitecer é frio e o vento que sopra por sobre as árvores é intimidador, aos poucos a escuridão vai tomando conta de todo o lugar. Me apresso e vou até o local onde o caçador permaneceu amarrado.

Saco uma das minhas facas e caminho na direção do prisioneiro, ele ainda está ferido, não melhorou muito desde a última vez que nos vimos. Me aproximo e encosto minhas mãos por sobre seus ombros, aos poucos ele se recupera. Uso minha faca para soltar suas amarras e libertá-lo.

-Por quê? Ele pergunta.

- Preciso de lenha para acender a fogueira. - Digo.

O caçador acena com a cabeça e arqueia um breve sorriso, então ele se retira e caminha vagarosamente para dentro da floresta. Acendo a fogueira com o pouco de madeira espalhada pelo chão. Em pouco tempo estão todos aqui, Elak, Marina, Luna, Carlo e Claryce.

A grama está um pouco úmida, talvez pela neblina que chegou junto ao anoitecer, o que nos faz ficarmos ainda mais próximos da fogueira. A princípio ninguém fala nada, evito o contato visual no primeiro momento. Tenho certeza que não fui a única que passou os dias pensando em planos inúteis, porém assim como eu, eles os guardam para si mesmos.

Um barulho de galho se partindo chama a atenção de todos nós, olhamos quase ao mesmo tempo para um ponto na floresta, o caçador sai por de trás das árvores com alguns troncos de madeira em seus bravos. Em movimentos rápidos todos estão de pé esperando a primeira oportunidade de atacar. Me lanço em meio a eles na intenção de evitar o combate direto.

- O que ele está fazendo livre? - diz Luna

- Foi eu quem o libertou, ele tem muito o que nos contar - digo.

O caçador não diz uma palavra, ele caminha lentamente até a fogueira e se ajoelha, ajeitando as madeiras uma a uma sobre o fogo. Logo após ele passa a mão pelos seus cabelos e se senta sobre a grama, ainda vestindo o seu uniforme preto de caçador, que está em ótimo estado apesar do tempo a das batalhas.

O jeito de se sentar, como passou a mão pelos cabelos prateados os arrumando para trás fez com que inevitavelmente os olhares se desviassem do caçador para Elak, apesar das inúmeras semelhanças físicas e o jeito de se portar o silêncio ainda permanecia entres nós.

A reunião começa, o caçador conta para todos a mesma história que havia contato para mim e para Luna a dias atrás. Pela com que nós olhamos fica claro que estão todos confusos assim como eu.

- E o porquê devemos confiar em você? - diz Elak.

- Eu quero viver garoto, eu descobri que ainda tenho muito a perder - diz o caçador.

- Mas é todo aquele papo de imortalidade?

- Eu a perdi quando senti medo de perder vo..., medo de perder quem eu acabei de encontrar. - Responde o caçador.

Um silêncio perturbador se instala em torno a fogueira, os sons do vento soprando pelas árvores e a madeira estralando ao ser consumida pelo fogo se intensifica. Levo minhas mais ao rosto e solto um respiro fundo, sinto um pequeno sorriso se formar no canto da boca e tenho a sensação de que ganhamos um ótimo reforço.

- Então, qual o plano caçador? O que nos sugere? - digo

- Rakrom, esse é meu nome, Rakrom Kahid. No momento nossas chances são mínimas, e ficará ainda pior que o garoto, digo, o Austin conseguir concluir seu plano. Por enquanto aqui será o lar de vocês. Eu vou voltar a fortaleza preciso coletar informações, saber com o que estamos lidando - diz Rakrom.

- Você não irá sair daqui. Como saberemos que não nos traíra? Que não irá contar nossa localização ao nosso inimigo? - digo.

- Eu vou com ele - diz Elak

- Certo, iremos nós três. Já vocês Luna, Carlo, Claryce e Marina preciso que fiquem aqui e cuidem de tudo. Partiremos amanhã, ao amanhecer.

Elak é o primeiro a se levantar, e caminha calado em direção a casa, Marina se levanta e esfrega os braços tentando espantar o frio, ela sorri gentilmente se despedindo e se retira. Em pouco tempo só estamos eu a Luna em volta da fogueira.

Ela se aproxima sentando-se ao meu lado e começa a contar sobre uma visão ou um sonho talvez que teve na noite passada. Me confunde a ideia de que Austin de alguma forma colocou o Booh dentro de uma pequena pedra de cristal, com certeza ele já tinha um plano.

- Então você já viu o submundo? - digo.

- Pouca coisa, por quê? - ela responde.

Fico em silêncio por alguns minutos tentando organizar o que acabei de planejar em minha cabeça.

- Por nada, curiosidade - digo.

- Há, você não está pensando em ir até lá? Está? - diz Luna.

- Não, que ideia, claro que não. - Respondo.

Isso foi exatamente o que eu pensei, e Luna pode ler isso em minhas expressões.

- Nesse momento ir até um outro lugar, me acompanha? - digo

Seguro a mão da Luna, e vou até o Rakrom, ele está sentado à poucos metros de nós debaixo de uma árvore.

- Ei, me empresta seu portal! Preciso ir até um lugar.

Rakrom faz o que peço, ele abre um pequeno círculo, dessa vez no chão, e é o primeiro a descer, vou em seguida e Luna vem logo atrás. Estamos em San Marye, onde tudo começou para mim, vou até o porão onde eu e meu irmão morávamos.

As escadas de madeira estão velhas e a cada passo que dou as madeiras rangem, em poucos dias desde que estivemos aqui a poeira tomou conta do local. Levanto o sofá onde Austin dormia e procuro o sinal na madeira. Feito, aí está, meu esconderijo secreto. Retiro o piso falso e pego meus equipamentos de emergência. Pego minha espada, sua lâmina é fina e longa, afiada o suficiente para partir um homem ao meio apenas com um golpe, a seguro em minhas mãos por alguns segundo e em seguida a prendo em minhas costas, pego algumas facas e as prendo em minha bota e na cintura. Coloco em minha bolsa restante das armas que fui roubando dos soldados e dos criminosos que capturei ao longo dos anos.

Luna está bem atrás de mim. Ela se senta sobre o chão e abre um baú que está em seu colo. A primeira coisa que ela retira é uma roupa diferente, um casaco com capa e capuz, ele é feito de um tecido todo preto com símbolos em dourado, ela o veste. Em seguida ela tira do baú duas pulseiras, cada uma com duas esferas, na primeira pulseira as esferas representam o fogo e o vento, e na outra pulseira a água e a terra. Antes de partimos ela guarda um papel em seu bolso e se levanta colocando o baú em cima da mesa.

- E então garotas, podemos voltar? - diz Rakrom.

- Sim, mas antes precisamos parar em um último lugar. - Digo.

Voltamos para o posto de baterias onde fomos capturados, preciso pegar o taco de basebol do Austin caso algum lobsomen apareça.

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