Capitulo 16 - LUNA
O portal nos trouxe direto para o meio de uma floresta. Estamos cercados por árvores, e arbustos. O ar aqui é frio, a umidade deixa chão de terra macio. Esfrego minhas mãos e levo sobre a boca, na intenção de me esquentar um pouco. A mata densa dificulta bastante saber onde estamos ou para onde vamos.
- Amarre ele - diz Charlott
O Garoto das flechas apanha um pedaço de cipó do chão e amarra as mãos do caçador. Charlott pega a espada do chão e pressiona sobre a garganta dele.
- Onde eles estão? O que fez com eles? - ela diz.
- Bem a sua frente, atrás das árvores, por entre a neblina. - O Caçador responde.
Cerro os olhos tentando ver além da neblina, dou alguns passos para frente passando pelas primeiras árvores, acabo fazendo exatamente o que foi dito. E ele estava certo, estão todos lá, parados em frente a uma casa de madeira. Charlott lidera a entrada a casa, e não demora muito até todos adentrarem o local.
Charlott passa por mim arrastando o caçador preso pelo cipó.
- Onde vamos deixar o prisioneiro? - diz o garoto de cabelo prateado.
- Amarre ele em alguma dessas árvores, a faremos turnos para o vigiar - Charlott responde.
Estamos no fim do dia. Ainda não entrei para ver a casa por dentro, mas pelo que parece é o suficiente para manter todos acomodados. Me sento sobre a fina camada de grama que cerca a casa, ela está humida e o frio ao tocá-la ajuda a me acalmar e alivia um pouco a tensão que emanda do meu corpo.
Charlott e Carlo se aproximam de onde estou e se sentam ao meu lado.
- Ei Carlo, estava preocupada com você, mas vejo que se saiu muito bem em sua missão, você foi um ótimo líder - digo.
- Na verdade eu acho que desmaiei, me lembro apesar de acordar já fora dos portões e estar sendo carregado por duas bruxas. Mas sim, escapamos.
- Vocês acham que eles vão demorar para vir atrás de nós? - pergunta Charlott.
- É apenas questão de tempo para nós acharem, mas ouvi que as bruxas estão preparando feitiços de camuflagem e também uma barreira de proteção sobre esse local. - respondo.
Mal notamos quando o garoto das flechas se aproxima de nós, ele caminha de mãos dadas com a garota morena de cabelos cacheados. Ele veste um uniforme identido ao do Austin e da Charlott e isso me assusta um pouco. Seu arco está preso em suas costas com algumas de suas flechas.
Eles se sentam de frente para nós, o garoto passa a mão na cabeça jogando seus cabelos prata para trás, ele estende a mão em minha direção e me entrega uma pedra vermelha presa a um colar.
- O amigo de vocês deixou isso cair entes de.... De tudo acontecer - diz o garoto.
- Obrigado, aliás, qual seu nome? - pergunto.
- Eu sou Elak e essa é a Marina, minha namorada. Somos de Mares de Bleyton, uma das cidades do litoral.
- Obrigado pela ajuda. Eu sou Marina, essa é Charlott e o Carlo. Aquela ali correndo com as outras crianças é a Claryce. Somos de San Marye, no extremo sul.
- Woh, já ouvi várias histórias sobre lá, dizem ser uma cidade amaldiçoada.
- Você não está de todo errado. Mas como vocês vinheram parar aqui? - pergunto.
- Mas afinal, quem era o garoto no pátio? - diz Elak
- Quem é o garoto! Austin, ele ainda está lá, eu vi nos olhos dele, só está perdido em algum lugar, mas está lá.
Acendemos uma fogueira, mal consigo prestar atenção enquanto Elak e Marina contam de como chegaram até nós. Meu olhos estão fixos sobre o fogo a minha frente, a chama dança de vagar exatamente como os olhos do Austin.
Reviro o colar de pedra vermelha em minhas mãos, ela não emanda qualquer brilho, mas o seu tom de vermelho parece vivo. Sinto que sua cor aumenta, o suficiente para deixar minhas mãos humidas de suor. Minha cabeça começa a rodar. "Lua", tenho a sensação de ouvir alguém me chamando, parece o Austin, mas sua voz não é essa.. Não é a dele, mas já ouvi antes.
- Vou entrar, não estou me sentindo bem, preciso descansar - digo
- Se quiser posso te curar - diz Charlott.
- Obrigado, mas preciso mesmo me deitar.
Me levanto, caminho até a casa. Tenho um pouco de dificuldades para subir os três degraus até a porta já aberta. Já é tarde e tivemos um dia agitado, a maioria dos resgatados já estão dormindo em colchões espalhados por todas as partes.
Procuro um canto menos povoado possível. Me ajeito em um pequeno espaço junto com as vassouras em baixo da escada. Sento sobre o chão frio e apoio minha cabeça na parede atrás de mim. Coloco a mão em meu bolso e olho para a pedra pela última vez antes de colocá-la em meu pescoço, fecho os olhos.
"Escuto barulhos de espada, meus olhos se abrem lentamente, estou em frente a uma porta de madeira escura marcada por símbolos reprentando o fogo. Estendo minhas mãos, mas antes que a toque, a porta se abre lentamente, revelando um longo corredor iluminado por tochas de fogo presas em paredes de grandes pedras. Caminho pelo corredor, seguindo o som das espadas.
Dois garotos duelam no centro do salão, eles aparentam ter quase a mesma idade. Mas suas diferenças físicas são bem visíveis, um dos meninos é magro e tem o cabelo um pouco grande e bagunçado, já o seu parceiro de duelo é careca e provavelmente tem mais músculos do que idade. Apesar dos diferentes tipos físicos entre os dois a luta é equilibrada, até certo momento. O meninos musculoso desfere um golpe violento na direção do magricela, ele usa a espada pra se proteger bem a tempo, porém sua espada se parte ao meio, com o impacto, o magricela vai direto para o chão.
O salão é bem iluminado, um objeto brilhante e majestoso preso no teto bem no meio do salão emite uma luz quase igual ao sol, deve ser isso que Austin chama de eletricidade.
Toda essa iluminação aos poucos começa a vacilar, as luzes oscilam, o ar fica gelado. Manchas negras começam a se agitar pelo chão, o olhar do garoto caído muda, sua expressão é sombria, mas já vi isso antes.
O garoto que está em pé, abre um breve sorriso, ele fecha os punhos e em instantes suas mãos estão em chamas.
- Tudo bem irmãozinho, se é assim que você quer, que seja!
- CHEGA, PAREM AGORA, acabou o treinamento por hoje. Principe Morok, o rei deseja te ver. Príncipe Boochk, está dispensado - diz um senhor de barba longa e negra.
O garoto dos músculos, chamado de Príncipe Morok resmunga e caminha em minha direção. Me escondo rápido atrás de uma das pilastra. O senhor barba grande vem logo atrás e também passa por mim, mas eles parecem nem me notar.
Por fim o último garoto caminha devagar em direção a porta principal, ele para ao lado da pilastra em que estou escondido, ele abaixa a cabeça passa a mão nos cabelos e respira fundo. Meu coração acelera e acho que ele pode saltar pela minha boca, mas o garoto continua sua caminhada para fora do salão, deixando a porta aberta. Fecho os olhos e respiro em alívio.
- Fica tranquila ninguém pode te ver.
Abro os olhos assustada. O garoto, o príncipe boochk. Esta de ao meu lado, com os braços cruzados, mas não está com a mesma roupa, está diferente.
- Como? Quem é você? Onde estou e o que estou fazendo aqui? - pergunto.
- Você já me conhece, me conhece como Booh, e você está no submundo, eu te trouxe para cá. Para o dia em que tudo aconteceu. - Ele responde.
- Mas o que? O que aconteceu? Que dia?.
- Vamos, não faça tanta pergunta, apenas veja.
Em um piscar de olhos estamos em outra sala, essa mas luxuosa, com pedras negras com um brilhos hipnotizante estão cravejadas por toda mobília. O rei está sentado em um trono feito do próprio cristal negro, ele está de frente para uma lareira de chamas escuras.
Ele mexe seus dedos de forma aleatória e as chamas dançam acompanhando seus movimentos. Estamos parados a dois ou três passos de onde ele está.
O príncipe Morok entra apressado pela porta, atrás dele está o velho. Ele não veste mais o uniforme de treinamento, agora está com sua armadura pesada em tom preto sem qualquer brilho, a espada presa em sua cintura é longa e sua ponta quase toca o chão. Ele se ajoelha e retira seu capacete.
- Me chamou meu pai? - Ele diz.
O velho serve algum tipo de bebida em uma taça grande feita de bronze.
- Me diga o que você foi fazer no abismo do banimento? Por acaso se esqueceu que está proibido de se aproximar desse lugar?
- Meu pai, sim eu fui até lá, mas fui pelo bem do nosso reino. Os mundanos estão ficando cada vez mais forte. As bruxas, os herdeiros dos dons e até mesmo os caçadores, eles estão se fortalecendo, logo perdão o medo de nós, e não demorará até tomarem nosso reino. - Diz o príncipe.
- Que idéia imbecil! Por qual motivo eles tomariam o nosso reino?! - responde o rei.
- Ganância, poder talvez? Quando se fortalecerem e vinherem atraz de nós, ainda que os derrotarmos eles causariam grandes problemas! E quem melhor para controlar as criaturas mundanas do que os próprios criadores?
- Jamais pense em fazer qualquer tipo de acordo com os seres banidos. EU TE PROIBO, esse assunto está encerrado. - responde o rei.
- Aí que você se engana meu pai. Eu já tenho um acordo, não apenas com ele, mas com meu próprio exército.
O rei tem uma aparência elegante, ele se levanta furioso, as chamas da lareira o acompanham e o cobrem com o fogo, elas se agiram mas não o queimam, fazem parte dele que continua caminhando em direção ao príncipe, mas derrepente ele para, e cai de joelhos ao chão.
- A bebida, o que você colocou em minha bebida seu mago maldito? - diz o rei olhando para velho.
- Há meu pai, esse velho mago é o único capaz de criar a fórmula que tira a imortalidade de qualquer um. E ele acaba de tirar a sua. - diz o principe.
- Seja lá o que pretende fazer, ninguém irá te obedecer.
- A Mim não, mas depois que eu te matar e me transferir para seu corpo com a ajuda de meu irmãozinho. Todos vão me obedecer, ou melhor, te obedecer.
- Booh nunca irá participar disso.
- Veremos.
O rei está caído no chão, ele ainda respira. Minha cabeça está acelerada, estou confusa.
- Os banidos, os criadores, estão presos em algum lugar aqui pelo submundo em um lugar chamado "abismo". As bruxas, os caçadores e o submundanos se juntaram para acabar com com a tirania dos quatro, porém meu pai o quarto criador se voltou para a causa dos rebeldes e ajudou no banimento dos três. UM o primeiro criador, detentor de todo o poder. Dois o deus do tempo. Três deus dos elementos, capaz de controlar quase tudo. - Booh me explica.
Dois soldados entram na sala, o príncipe Boochk acompanha um dos soldados. Ele arragala os olhos ao ver o seu pai caído no chão da sala e corre ao seu encontro. O rei fecha os olhos, é o fim da sua imortalidade, e de sua vida. O garoto encara seu irmãos enquanto fecha os punhos.
- O que você fez? Está louco? - diz boochk.
- Agora você vai colocar minha alma no corpo do nosso pai. - diz Morok.
- Só depois que eu te matar.
O som da porta abrindo atrai todos os olhares, mais alguns soldados entram pela sala, agora eles arrastam uma garota, pelo jeito que está vestida parece ser uma serviçal. Seu rosto está um pouco sujo, seu cabelo cor de mel longo está desarrumado e seus olhos verde claros realça ainda mais sua beleza.
Tanto o Booh que está ao lado do pai, quanto o Booh que está me mostrando tudo isso tem a mesma expressão de ódio e medo.
- Qual é irmãozinho? Não gostaria que sua namoradinha sofra pelas suas péssimas escolhas não é mesmo?
Morok segura um pequeno frasco nas mãos e o leva até a boca, ele bebe. Não demora até que ele caia sobre o chão, já sem vida.
Boochk se levanta e caminha em direção aos soldados e da garota. Ele congela aos perceber a expressão de dor da serviçal com o aperto da adaga do soldado em seu pescoço. O príncipe fecha os olhos estende sua mão para o corpo do pai.
- Morok, vou te trazer de volta só para ter o prazer de te matar
O dedos das mãos do rei começam a se mover, ele está vivo, alguém está vivo. Ele se senta e aos pouco se levanta.
O rei caminha em direção a garota, segura pelo pescoço e a levanta, o suficiente para que seus pés não toquem o chão. Eles se encaram por alguns segundos até que o som do pescoço a serviçal sendo esmagado fosse ouvido por todos na sala.
- HOPE! - MOROK EU VOU TE MATAR! - diz Boochk.
A sala fica escura, Morok, no corpo do rei usa as chamas para iluminar o ambiente, assim que a escuridão se dissipa todos os soldados estão no caídos no chão, as manchas negras se agitam frenéticas por entre os corpos. Estão só os dois e o velho na sala.
Morok começa a caminhar em direção ao irmãos, mas ao dar o primeiro passo seu pé é tomado por uma mancha escura, ela avança por sua perna até tomar todo seu corpo, a mancha invade o rosto de Morok e entra por sua boca e nariz. Ele cai, e se debate sobre o chão.
Boochk vai até Hope, pega seu corpo e coloca em seu colo, ele fecha os olhos e suas mãos sobre ela.
Uma vida por uma vida, e eu te dou a minha.
- Antes que eu pudesse ir pro esquecimento seu irmão de alguma forma me trouxe de volta, me prendeu a ele. Mal pude acreditar que tinha voltado, que iria poder me vingar de Morok, entao esperei pacientemente até que Austin estivesse pronto e forte para que eu o usasse para matar meu irmão e trazer Hope de volta. Minha alma está ligada à Hope desde o dia em que eu a trouxe de volta, e estamos ligados ao Austin desde o dia em que ele ainda criança, tomado pelo medo e inconscientemente, nos invocou, me lembro desse dia, foi o dia da morte de seus pais.
Acordodo meu sonho. Meu coração está acelerado e minha respiração ofegante, semperceber estou segurando a pedra vermelha presa no colar em meu pescoço. Fechomeus olhos novamente tentando me acalmar.
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