Round 13: É só uma dança
--- E você não chamou ela pro baile?
Raul diz colocando as mãos na têmpora e soltando ar pela boca indignado, é como se Davi tivesse o contado algo absurdo e totalmente fora da realidade. Davi o olha sem entender o que de tão sem noção que disse para desencadear tamanha reação.
--- Não, ué. E se ela dissesse não?
--- Ela ia dizer sim, cabaço!
Davi cruza os braços e franze a testa, mas não acha nenhum meio de rebater a afirmação de Raul. O rapaz faz silêncio por uns instantes e depois fica com o rosto corado.
--- Você acha que ela aceitaria?
--- Ah, enfia uma dentadura na bunda e ri pro caralho. --- Raul diz revoltado --- Você sabe que ela diria sim, para de ficar pescando eu dizer o que você quer ouvir.
Os dois se entreolham e depois caem na gargalhada, é o bastante para Davi se convencer de que o pedido seria aceito, na realidade ele no fundo sempre soube. A questão era outra, o motivo dele negar era algo diferente e que pela primeira vez ele vai finalmente contar para outra pessoa.
--- É que eu não sei dançar e nunca dancei na frente de outras pessoas. É vergonhoso.
--- Não pode ser tão ruim assim, deixa de ser tão crítico, chefe. Dança aí.
--- Ok... ---- Davi topa contrariado.
Os dois rapazes estão na sala de aula durante o intervalo, pois Davi preferiu evitar Helena até saber como a convidar para o baile, e também porquê ele queria conversar com Raul a sós, sem que os outros curiosos fofoquem sobre o seu problema. Por conta disso, com a sala vazia, Raul anda até o som usado pela professora de inglês nas lições de listenning e aperta um botão, começando a tocar um beat genérico, só para dar um ritmo.
--- Mostra os passos, chefe.
Davi começa a dançar acanhado e tímido, parece até um lombriga se mexendo, totalmente fora de ritmo e desengonçado, um terror para os olhos, é algo verdadeiramente medonho e ridículo. De todas as habilidades do rapaz, dançar definitivamente não é uma delas, ele não sabe os passos, não acompanha as batidas, não segue o ritmo e é extremamente travado, principalmente na cintura que parece que está presa com cimento e concreto. Davi dança pateticamente corado enquanto Raul coloca a mão na testa em negação, não conseguindo acreditar na atrocidade que seus olhos estão vendo.
--- Para de dançar, pelo amor de Deus, meus olhos tão quase derretendo.
--- Ah... --- Davi diz parando e derretendo de vergonha --- Eu tô na merda, cara!
--- Como você é boxeador e não sabe dançar? --- O careca diz indignado --- Boxe é ritmo!
Davi dá um sorriso triste e diz gargalhando da situação desesperadora que se encontra.
--- Acho que por isso que eu apanho tanto.
--- Caralho, chefe, até pesou o clima. --- Raul parece relutante, mas finalmente cede --- argh...ok, que merda, eu te ensino.
Davi levanta uma sobrancelha e encara desconfiado, ele cruza os braços e levanta um pouco o queixo. O rapaz segue olhando e analisando.
--- Cê não acha isso meio estranho, não? Dois marmanjos dançando valsa.
--- Ah, não sabia que você era homofóbico, chefe. --- Raul ironiza
--- N-N-Não é isso!
Davi começa a balançar as mãos mostrando a palma como sinal de negação, ele fica agitado e usa todo o seu ser para afastar a possibilidade que Raul trouxe brincando. O careca nota a inquietação e abre um largo sorriso irônico, logo em seguida diz com um tom de afronte.
--- Não é o que parece.
--- É que... porra, Raul, você é chato pra caralho!
Davi desiste e suspira, logo em seguida oferece a mão, tremendo de vergonha e com o rosto vermelho igual a um pimentão. Essa é uma das situações mais humilhantes que ele já viveu e a vergonha alheia está em um nível que chega a ser dor física.
--- Vamo logo.
--- Vou ser cuidadoso --- Raul diz brincando.
--- Vai se foder, não faz ser mais esquisito do que já tá.
Raul segura a mão de Davi e o puxa para perto, ele segura a mão esquerda do rapaz e com a direita ele envolve a cintura, os deixando colados. O careca fica rindo enquanto vê o boxeador ficar desconfortável com a proximidade dos dois. Eles estão próximos ao ponto de sentirem seus peitos inflando e desinflando a cada respiração, além do calor corporal um do outro.
— Tem que segurar a garota assim, para poder fazer os passos. Valsa é uma dança coladinha.
--- Tem que segurar minha cintura mesmo? --- Davi diz desconfortável.
--- Tem, já que nessa dança você é a garota --- Raul gargalha pertubando o amigo --- mas relaxa, gordo quando abraça não penetra porquê a barriga não deixa.
Davi olha para baixo e vê que Raul é magro para a altura que tem, sem nenhum tipo de barriga, o careca é em forma na medida no possível para uma pessoa normal que não treina nada. O boxeador levanta o olhar e o encara como se tivesse perdido uma parte da informação.
--- Mas você não tem barriga.
--- Então tu tá em perigo, chefe --- Raul ri
--- Você é irritante, Kuririn.
Raul gira Davi, fazendo que os dois rodopiem pela sala, logo depois ele afasta o boxeador e o gira de volta, o fazendo voltar de costas para ele e depois o inclina fazendo descer, depois o levanta e gira, fazendo que os dançarinos voltem para a posição original. O careca puxa Davi pela cintura e o deixa próximo dele, logo em seguida começa a falar.
--- A valsa tem dois tipos de passos: Deslizamentos e giros. Esse que acabamos de fazer são os giros.
--- Como você sabe disso?
--- Ter uma família rica e restrista tem algumas vantagens, você aprende coisas específicas.
Raul cola o peito com o de Davi, estica os braços dos dois e desliza por toda a sala, se movimento graciosamente enquanto Davi pateticamente tenta acompanhar os passos, sendo apenas conduzido e seguindo as deixas e os movimentos do careca.
--- Esses são os passos de deslizamento. Use esses dois tipos intercalados, variando entre um e outro para criar um ritmo. Fazendo isso vai conseguir enrolar que sabe dançar.
--- Ok! Acho que vai dar certo! --- Davi diz prestando atenção as lições.
Os dois rapazes ficam pálidos e totalmente tesos, quando Gustavo abre a porta da sala e vê os dois agarrados e próximos, quase com as bochechas coladas. O cabeludo fica sem reação ao ver a cena e fica em silêncio por uns instantes, logo em seguida diz convicto como alguém que acabou de desvendar um mistério ou quebra cabeças.
--- Isso explica muita coisa...
--- NÃO É O QUE VOCÊ TÁ PENSANDO --- Davi berra largando Raul e se afastando --- Eu posso explicar!
--- Não vai me assumir, Davi? --- Raul diz pertubando fingindo tristeza --- Achei que o que tínhamos era especial.
O garoto vê Gustavo fechar a porta lentamente constrangido e sair, ele se vira para Raul e dá dedo irritado, enquanto o careca se rende as gargalhadas e ri até escorrer lágrimas de seus olhos.
--- Vai se foder! --- Davi esbraveja saindo correndo da sala atrás de Gustavo.
--- Boa sorte, amor --- Raul segue rindo freneticamente --- Pega ele, tigrão!
🥊
Depois de uma longa perseguição, Davi consegue alcançar Gustavo e explica toda a situação, após um longo e irritante deboche repleto de piadas, os rapazes voltam para a sala que estavam antes. Raul, Gustavo e Davi ficam sentados próximos e começam a agir como se estivessem em um tribunal, com juiz, júri e tudo mais, é algo sério, com um único objetivo: Decidir como o Davi irá convidar a Helena para o baile da escola.
— A opinião de vocês não vale de nada — Raul exclama – Um é um cabaço tímido e o outro é boa pinta e tal, mas parece que é assexuado, nunca vi paquerando ninguém.
— O correto é assexual — Davi retruca com um ar de sabe tudo.
— O correto é você ficar na sua, chefe — Raul cruza os braços — Os adultos tão discutindo seu futuro.
Gustavo está totalmente alheio e desinteressado pelo assunto, mas finalmente rompe o silêncio e dá sua opinião sobre o tema. Ele diz com uma voz calma e preguiçosa.
— Eu não sou assexuado, eu só foco no boxe. Não tenho tempo. E também é chato e cansativo ter praticamente todas as mulheres da escola dando em cima de mim, me sinto um pedaço de mau caminho — Ele ironiza.
— O correto é assexual!!!! — Davi rebate novamente, indignado.
— Ninguém liga, porra! — Raul se exalta — E vai se foder, Gustavo. "Ainn eu sou gostoso e lindo, as mulheres me amam, é tão difícil minha vida", babaca!
Gustavo cai na gargalhada e Davi o acompanha, é visível a pontada de inveja na voz de Raul, que apenas faz uma cara de emburrado. O dia inteiro o careca ficou enchendo o saco do protagonista, que agora sente que tem uma pequena chance de vingança, então ele cutuca um pouco o seu algoz com uma frase provocadora.
— Eu senti inveja nessa sua frase — Davi diz — Um dia você consegue ser popular com as garotas, ai quem sabe deixa de ser tão revoltado com tudo.
— É dos carecas que elas gostam mais! — Raul sai do sério — Mamãe passou açúcar em mim. Eu sou o rei das mulheres, é só você chegar nelas e...
Raul cerra os olhos, fazendo uma cara intensa e logo depois dá uma piscada com apenas um olho. Ele abre um sorriso pequeno de canto e começa a fazer pequenos movimentos com o pescoço.
— Eae, gatinha, seu pai é padeiro? — Ele diz fazendo piada.
— Não, porquê?— Davi diz entrando na onda.
— Porquê eu quero pegar na baguete dele. O enroladinho de salsicha com molho.
Gustavo franze a testa e coloca a mão no rosto, decepcionado, logo depois balança a cabeça em negação para tanta merda que tá sendo obrigado a escutar. Davi cai na gargalhada e prossegue na brincadeira, sendo irônico.
— O pão cacetinho — Ele diz rindo.
— O picolé de carne — Raul rebate.
— Caralho, calem a boca, pelo amor de Deus — Gustavo dá um leve tapa na mesa e é visível que ele perdeu a paciência — Vocês tão fugindo do assunto! É tão covarde assim, Davi? De querer fazer algo, mas não ter a coragem e ainda escapar do tema com humor barato?
Esse leve surto fez com que Davi e Raul se calassem e ficassem sérios, Gustavo continuou os encarando com um ar de julgamento. O cabeludo segue os pressionando com o olhar, logo depois rompe o silêncio e continua seu sermão.
— Meu ouvido não é pinico pra ouvir essas porra ai, além de que não sou desocupado pra perder tempo com isso não.
— Desculpa... — Davi diz envergonhado — Eu fiquei nervoso e quis fugir do tema. Eu vou ser sincero, não tenho experiência com garotas e tô morrendo de medo de pisar na bola, sei lá. Ela é uma garota legal, não quero passar vexame.
— Se você quer ir com ela, então só peça, não tem porque ser tão complicado assim. – Gustavo diz entediado — Se você hesita numa luta, seus socos saem lentos e fáceis de defender. Seu pedido deve ser direto, sem complicações.
Davi fica pensativo sobre o que acabara de escutar, em sua mente faz muito sentido. Não há motivos para complicar algo simples, sem curvas e sem voltas, é só ir lá e dizer o que achar apropriado no momento. Já Raul parece não ter ficado satisfeito com o que ouviu, fazendo uma careta de quem não concordou com a informação.
— Não vai seguir isso né, chefe? — Raul diz ironizando — Mulher não gosta de verdade, homem é visual e mulher é auditiva. Minta e fale o que ela quer ouvir, vai dar mais efeito. Pode apostar, elas querem emoção.
— Você é um canalha, isso sim. — Gustavo responde.
– Vai seguir qual conselho, Davi? – Raul coloca as mãos na cintura indignado esperando uma resposta — O do rei das mulheres ou o do Justin Bieber do Paraguai?
Raul e Gustavo se entreolham de forma desafiadora, é uma disputa de quem tem razão no final, ambos discordam totalmente do oponente e julgam as opiniões. Gustavo acha Raul sem moral e um canalha, já Raul acha que o cabeludo é iludido que vive no mundo dos contos de fadas, não passando de um romantismo barato. Davi os encara um pouco e então sorri.
— Eu vou seguir o conselho do emo do boxe.
— Vai se foder — Gustavo diz sorrindo após ser o alvo das piadas, mas logo depois acena positivamente com a cabeça— Tô orgulhoso de você.
🥊
Na saída da escola, Davi sai correndo para alcançar Helena no caminho da casa da garota, e após alguns minutos correndo ele finalmente chega até ela. O rapaz a cutuca por trás e a jovem já vira com a guarda alta pronta para atacar. Davi recua um passo e sorri, mostrando as palmas das mãos.
— Calma ai, perigosa. Sou só eu.
— Quase me matou de susto, lesado — Helena reclama abaixando a pose de luta.
— Foi mal, não foi a intenção.
Os dois começam a caminhar lado a lado indo para a mesma direção, Davi do lado da rua e Helena mais próxima da calçada. Eles seguem caminhando juntos, a garota tranquila e relaxada, enquanto Davi fica suando frio e com alguns pequenos espamos da perna. A moça nota e com certa preocupação tenta entender o que está acontecendo.
— Você tá bem? Não te vi no intervalo e agora você tá meio estranho. Tá passando mal?
— Ah.. — Davi sorri sem graça — Não é nada disso, eu tô bem. Passei o intervalo com o Raul.
Helena faz cara de emburrada ao ouvir esse nome e vira o rosto, depois cruza os braços e segue andando pisando pesado e mais lento do que antes. Davi nota e a acompanha, a garota segue irritada e incomodada com algo, então ela transparece suas insatisfações.
— Raul, é? Pois pra mim ainda é Mosca — Ela fala ríspida — O cara fazia o que fazia contigo e agora você chama ele até pelo nome? Não consigo fingir que nada rolou antes, ele fez muitas coisas ruins.
— Ele mudou, é um cara diferente agora. Não faz mais esse tipo de coisa e é um amigo.
— Mudar de nome não apaga nada e nem muda ninguém. Uma vez Mosca, sempre Mosca. Raul é o caralho. Não entendo como você aceita ser amiguinho dele.
Davi faz silêncio, ele não consegue concordar com a amiga dessa vez, ele a acha completamente equivocada e falando do que não entende. O rapaz pensa um pouco no que responder, mas opta por calar a boca e não render o assunto, não quer brigar com ela. Após decidir não contra-argumentar, o boxeador apenas resolve dar uma informação para ela.
— Pelo menos chama de Raul, ele não gosta que chamem de Mosca. Faz ele se sentir mal.
— Mosca, Mosca, Mosca, Mosca, Mosca! — Ela rebate irritada — Babacas não tem direito de escolher nada. Que ele se sinta mal e lembre do que fez, é o mínimo.
— Eu entendo o seu lado, não posso julgar, Helena. Ele não é um anjinho, mas também não é o diabo, leve o tempo que precisar pra ver isso. — Davi faz uma pausa e a olha sério — No meio das coisas ruins, também houveram coisa boas, por exemplo: Ele me ajudou a ter coragem de vir aqui te chamar pro baile.
A expressão carrancuda se desfaz do rosto da garota, a deixando sem reação. Uma feição de surpresa surge na sua face e menina para de andar, Davi nota e também para, se virando para ela. Helena então quebra o silêncio com a voz meio trêmula.
— Você vai me chamar pra ir pro baile da escola? — A surpresa é nítida, ela foi pega sem esperar — Eu achei que você não gostasse dessas coisas.
— É que eu nunca fui um pé de valsa, tinha medo de passar vergonha — Ele sorri sem jeito — Mas você vale a pena. Então tô te chamando agora. Helena, você quer ser meu par no baile do colégio?
A garota fica sem chão, se antes ela estava sem reação, agora ela está totalmente petrificada, como uma estátua. Na sua mente é apenas estática, nenhum pensamento coerente se forma, é como se um turbilhão de fogos de artifício voassem na sua cabeça, como se uma orquestra de batuque pulsasse e tocasse em seu coração. Davi ao perceber como disse casualmente o convite e ver o estado que a garota ficou, começou a pensar que pediu errado e que estragou tudo. O rapaz começa a tremer e ficar ansioso, os segundos simplesmente não passam e os dois ficam se encarando, completamente corados com as bochechas vermelhas e a linguagem corporal nervosa.
Até que todo o clima tenso se desfaz quando Helena finalmente volta a si e seu rosto se ilumina com um largo e brilhante sorriso de orelha a orelha, é um riso sincero e honesto, uma alegria perceptível e palpável. A moça se enche de energia e não duvidaria se ela soltasse pulos de alegria, mas ela consegue se controlar e começa a tagarelar sem parar, para por para fora todo esse turbilhão de emoções que está sentindo.
— Claro, claro né. É mais do que óbvio que eu quero ir com você. Eu topo, sem dúvidas nenhuma! Eu vou com você, é um sim. Sim, sim.
Davi sorri e sente um arrepio percorrer toda a sua coluna, ele sente as pernas ficarem moles e seu coração galopar no peito. Ela dizer sim é como se ele estivesse sonhando acordado, mas ele sabe que é verdade e isso o infla e enche com uma felicidade gigantesca.
— Você topou? Que ótimo, vamos nos divertir. Juro não pisar muito no seu pé na dança. — Davi diz ainda nervoso e ansioso.
— Pode pisar o quanto quiser! — Ela sorri — Nossa, eu achei que você nunca fosse me chamar, lerdinho.
— Que bom que eu chamei. — O rapaz diz retribuindo o sorriso.
Contagem de palavras: 2965
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Eae galera, beleza? Essa semana o amor está no ar. Espero que vocês shippem o Davi e a Helena tanto quanto eu, acho eles muito fofos juntos. Se bem que alguns de vocês (não citarei nomes kskks) tem opiniões bem duvidosas, vi comentarem que shippam o Davi com o Mosca/Raul kskks, essa me surpreendeu pra krl kskks. Pra agradar Gregos e troianos, vcs preferem oq? DavixHelena ou DavixRaul? É um teste pra eu ver a sanidade mental de vcs kskskks.
Enfim, esse foi o capítulo da semana, curtiram? Tomara que sim. Te vejo na próxima sexta-feira? Até mais, coloquem suas luvas e vamos para o próximo round.
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