Sósia
Murilo chamou um enfermeiro quando viu a paciente se debatendo. Uma equipe de médicos entrou correndo ali e conteve a mulher.
Inácia gritava desesperada, pois se lembrava de cada detalhe do que aconteceu. Alana se mantinha ali ao seu lado mantendo-a acordada.
— Prepara uma dose de clonazepam. Senhora, pode me ouvir? — Uma médica perguntou enquanto tentava contê-la.
— Tirem essa desgraçada daqui! — gritou rasgando a garganta emitindo um urro sem seguida.
— Do que ela está falando? — Um médico indagou confuso enquanto segurava uma seringa.
— Não sei, aplica logo isso.
— Já apliquei, doutora. — avisou assustado, pois o sedativo não surtiu efeito nenhum sobre Inácia, que se debatia possessa.
A médica olhou para a janela onde ainda estavam Lara e Murilo.
Quando estavam prestes a aplicar outra dose de sedativo em Inácia, Alana tomou conta de seu corpo.
— Eu preciso ir embora daqui! — disse com uma demoníaca voz rouca.
A paciente se levantou empurrando todos os médicos que estavam ao seu redor e caiu no chão, pois tentou se apoiar na perna amputada.
Alana gritou quebrando todos os objetos de vidro que havia naquela sala.
Murilo sacou sua arma e se preparou para agir quando aquela mulher toda deformada mencionou atravessar a porta.
— Eu sei que isso é completamente fora do normal, mas você não pode atirar numa paciente descontrolada assim. — Lara ponderou se afastando.
Alana usando o corpo de Inácia, avançou no policial e levou um tiro no peito caindo aos pés do homem, que tremia.
Ofegando, Lara verificou se a paciente estava morta e sentiu pulso em sua carótida.
— Alguém ajuda! — gritou e viu Murilo travado ofegando em pé ao seu lado.
A mesma equipe que foi empurrada dentro da sala de tratamento intensivo, prestou socorro à paciente, agora baleada.
— Prepara uma sala! — ordenou a médica e levaram Inácia numa maca.
Lara meneou a cabeça olhando para o colega e o puxou para saírem dali.
— Acorda!
— Você viu aquilo? — perguntou ofegando com o rosto ardendo.
— Claro que eu vi. Vi também você atirando numa paciente visivelmente descontrolada e sob efeito de medicamentos.
— E se o que disseram em Holambra for verdade?
— Acho que quem precisa de atendimento é você.
— A mulher estava toda arrebentada, doutora Lara. Foi sedada e ainda assim tentou nos atacar.
— Você já ouviu falar em adrenalina? Torça para aquela mulher não morrer... — pediu e o deixou sozinho.
†
André acordou no hospital em São Paulo e olhou em volta. Viu Inácia dormindo numa poltrona.
— Alana? — indagou num sussurro.
De cenho franzido o homem ficou observando a mulher dormir.
— Alana. — chamou e ficou esperando que ela acordasse.
A mulher se mexeu e olhou para o namorado. Passou as mãos nos olhos e sorriu.
— Oi, meu amor! Como se sente?
— Bem, melhor vendo você bem. — respondeu e respirou fundo. — O que aconteceu? Sua voz está diferente.
— Essa é a minha voz de verdade, André! Mas você foi incapaz de saber a diferença. — disse com ódio no olhar e dentes cerrados.
— Do que está falando, Alana? O que houve? Você está diferente. Sua pele...
— Essa sou eu de verdade! — Sua voz ficou rouca e carregada de ódio.
Ela pulou sobre a cama e se agachou em cima do empresário, que começou a ofegar de medo quando viu todas as diferenças que distinguiam a Alana de verdade da sósia assassina.
— O que aconteceu? — perguntou beirando o desespero.
Sem poder se mover, o homem tentou gritar, mas sentiu a mão gelada de Alana em sua boca.
— Me descreva, seu desgraçado!
— O quê?
— Me descreva! Você sentia orgulho de conhecer meu corpo.
André entrou em desespero quando viu o belo rosto da amada se desfigurando como se se decompusesse ali em cima dele, que sentiu o cheiro podre que exalava de Inácia quando voltou a Holambra para ser apresentada a sua família. O homem gritou quando ouviu a voz da entidade e sentiu o gosto salgado e podre da gosma do rosto da mulher que pedia para ele descrevê-la fazendo-o se lembrar da verdadeira Alana.
— Socorro! — gritou o mais alto que pôde de olhos fechados.
Quando abriu os olhos, André estava sozinho. A sensação de que havia sonhado era intensificada pela presença de um silêncio ensurdecedor. O homem engoliu saliva, tinha a garganta seca, ofegava e sentia o cheiro podre de Alana e seu perfume suave de quando morava na Europa.
Uma enfermeira entrou e viu o homem acordar.
— Bom dia! O doutor está vindo. — avisou enquanto aplicava um medicamento nele.
— Você tem notícias da Alana, minha noiva?
— Não, senhor. — A mulher respondeu e o analisou.
O que ouviu pelos corredores do hospital quando ele chegou, foi que quem teria feito aquilo com ele foi a própria noiva, que estava foragida depois de matar dois funcionários do condomínio onde morava.
O médico entrou e começou a fazer perguntas a André.
— Bom dia, André. Você se lembra de algo que aconteceu com você?
— Vagamente, doutor. Preciso saber o que houve? Cadê a minha noiva? Quanto tempo ainda vou precisar ficar aqui?
— Você precisa de mais uns sete dias de repouso. Tentamos contato com algum familiar do senhor, mas não conseguimos. O senhor pode nos ajudar com isso?
— Eu não tenho mais ninguém, doutor. Só tenho um amigo, Richard, ele é meu sócio; e tenho a minha noiva. Tentaram o telefone dela?
O médico olhou para a enfermeira, respirou fundo.
— André, a sua noiva está foragida da polícia.
— O quê? Por quê? O que houve?
— Acalme-se. O senhor se lembra do que houve naquela garagem do prédio?
— Eu lembro nitidamente de ter sido atacado pelo porteiro. Ela tentou me ajudar e foi atacada pelo jardineiro de lá. Por que está foragida? Do que a estão acusando? — indagou nervoso.
— Já tem dez dias que o senhor veio pra cá e ela não apareceu. Muito menos o seu sócio. Mas vou ligar novamente, ok?
— Me responda. Por que ela está foragida? — perguntou aumentando o tom de voz.
— Acalme-se ou não poderei contar nada.
— Estou calmo. Pode contar. Eu preciso saber.
— Ela matou os dois funcionários do condomínio e atacou o senhor.
— Mas que absurdo é esse? — gritou tentando sair da cama.
— Acalme-se, André. Você está totalmente impossibilitado de sair dessa cama. As imagens das câmeras de segurança mostram nitidamente ela agindo contra todos vocês.
A enfermeira, que estava de costas, se virou e fitou os olhos de André, que viu o rosto de Alana nela. A mulher sorriu e o deixou paralisado.
O médico pediu ajuda e correu para pegar um carrinho de reanimação quando notou que o empresário estava tendo uma parada cardíaca.
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