Ouija
Alana fechou os olhos gritando apavorada e foi contida por André que a abraçou com força.
— Calma! Está tudo bem! — disse apertando-a em si, até que ela se acalmou e abriu os olhos devagar.
Depois de passado aquele pavor, Alana tomou um copo com água, oferecido pelo empresário, que a observava, sério e de cenho franzido.
— O que está acontecendo, Alana?
— Eu não aguento mais isso, André! — disse ainda tremendo tentando se recuperar do susto.
— Eu liguei para o doutor Luiz, você precisa de acompanhamento.
— Acompanhamento? De quem? Você acha que estou louca?
— Meu amor, eu estou vendo o seu estresse, é para o seu bem, entendo que depois de tudo o que passamos é natural, você precisa conversar com alguém imparcial. — disse, preocupado.
Rebeca entrou correndo com Dr. Shay pela porta dos fundos.
Alana gritou de pavor e foi contida por André, que a agarrou por trás, ouvindo-a gritar e tentar se largar dos braços dele até desmaiar, pois sentiu os dentes de Rebeca rasgando sua pele numa mordida dolorosa.
O empresário chamou uma ambulância e a executiva foi levada.
André voltou para casa depois de fazer o sepultamento dos filhos, tinha lágrimas e uma tristeza imensa no rosto.
Não entendia o porquê de aquilo ter acontecido com a família dele. Perguntava-se, mas não achava resposta nenhuma.
Lembrou-se que na adolescência perdeu uma grande amiga que se apavorou com as brincadeiras de tabuleiro ouija, o famoso jogo de comunicação com espíritos, mas a moça era cardíaca, só ficou assustada, aqueles acontecimentos não podiam ter correlação com o passado tão inocente.
Mesmo assim, resolveu sair daquela casa tão grande, se mudou para lá quando ainda era criança, e seus pais resolveram sair quando ele se casou, pois queriam dar mais conforto à família que o filho formaria.
Naquele momento André se deu conta de que não existia mais família. Sua família era apenas Alana.
Depois de fazer tudo e colocar a casa à venda, André estava terminando de colocar seus pertences numa caminhonete; lágrimas rolavam por seu rosto. Ele olhou para trás e analisou a casa onde fora muito feliz e terrivelmente triste.
Deu vazão a seu pranto ao encostar a cabeça no braço que estava sobre o capô no veículo.
Talvez um dia pudesse entender tudo aquilo, mas sabia o quão difícil seria seguir em frente.
Abriu a porta do carona e colocou uma mala de mão, foi neste momento que a entidade obscura, que não saia de perto dele, entrou no carro e se acomodou ali, se encolheu, abraçou os joelhos e ficou com o olhar fixo para frente, cabelo pingando lama como sempre, rosto pálido com partes roxas escuras.
Ele respirou fundo e deu partida no carro saindo devagar em seguida.
A mansão foi ficando para trás, André e a entidade pegaram o caminho rumo ao prédio de apartamentos onde o empresário pretendia morar com Alana.
Alana estava internada havia cinco dias quando André foi buscá-la.
— Pra onde estamos indo? — indagou ao não reconhecer o caminho que levava à mansão.
— Para nossa nova casa, resolvi sair daquela, vamos começar uma nova vida!
Ela ficou calada e passou a observar a rua. Recomeçaria com André como sempre quis.
Esqueceria aquela coisa horrível que passou por suas vidas e recomeçaria, quem sabe em um ou dois anos engravidasse e alegrasse um pouco a vida do amado.
O apartamento era amplo, arejado, decoração em tons claros, e como todas as coisas de André, sofisticada.
Alana estava reticente quando entrou no local, estava todo silencioso, André abriu as janelas e avisou que faria o almoço deles.
— Vou cozinhar para nós, você precisa descansar. — disse docemente, pois viu o desespero da namorada com os últimos acontecimentos.
André ainda sentia muito pela perda de sua família, mas precisava ser forte, Alana estava ao seu lado, como dissera logo que mantiveram o primeiro contato, não tinha família, seus pais morreram quando ainda era criança e viveu em um abrigo de onde saiu quando chegou à maioridade.
— Não me sinto cansada, prefiro fazer companhia pra vo... — foi interrompida pela chegada de Rebeca e seu fiel companheiro Dr. Shay. — Você? — disse admirada, porém feliz, pois acreditava que tudo não passara de estresse. — Ah, graças a Deus...
André franziu o cenho ao ver a gerente de sua empresa olhando para o vazio como se falasse com alguém.
— Está tudo bem, Alana?
— Sim, claro. — Olhou para o lado e viu a menina ir até a janela e olhar para trás.
O grito de Alana foi ensurdecedor quando o rosto da menina se transformou no rosto horrível daquela entidade maligna e correu em sua direção com os membros crescendo em uma rapidez surreal.
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