Depressão


Olivia estava se preparando para dar aquela terrível notícia para Ana Maria. Com a ajuda de Lara, ela chegou a um bar para se recompor de tudo o que viu.

— Você quer beber alguma coisa? — perguntou acenando para um garçom e pediu uma dose de uísque.

— Pode ser uísque também.

Lara estava eufórica, ofegava levemente. Pegou o celular e ligou para Murilo.

— Murilo, eu estou no Pestalozzi, vem pra cá, preciso falar com você com urgência.

Olivia olhava para o vazio em lágrimas. O garçom voltou com as duas doses de uísque e perguntou se queriam algo a mais e Lara o dispensou. A delegada engoliu a bebida e viu Olivia repetir seu gesto fazendo uma careta em seguida.

— Como dar essa notícia pra tia Ana no estado em que ela está, Lara?

— É foda! Eu vou com você, mas ela está bem abalada.

— A Alana tinha surtos de depressão. Quando pensei que pudesse cuidar dela, pois ia voltar a morar perto de mim, ela apenas avisou que estava apaixonada e que se mudaria para Holambra quando voltasse.

— Depressão é doença traiçoeira, Olivia. Precisa ser tratada, é silenciosa e fatal. Ignorar só a fortalece.

— Eu sei. Mas infelizmente eu não pude fazer nada e tia Ana está na mesma situação. A dela é severa, não está acompanhada de uma vida comum. Tia não tem emprego, não tem uma atividade que a faça sair de casa todo dia. Ela está completamente entregue.

Olivia sentiu seu celular vibrar e olhou o visor.

— É ela. — Respirou fundo e atendeu. — Oi, tia, como a senhora está?

— Oi, minha filha, tentei ligar pra você antes, mas deu caixa postal.

— Eu acho que saiu de área, tia. Eu... — disse e olhou para Lara. — estou indo aí conversar com a senhora, tá? — Fechou os olhos e lágrimas desceram.

— Tá bom. Alana esteve aqui, conversamos por uns minutos, mas ela estava com pressa. Nem peguei o número novo dela. Você falou com ela, filha? Preciso do número novo.

Olivia tinha o cenho franzido. Lara a olhava vidrada.

— Como assim, tia? A Alana esteve aí quando?

Lara arregalou os olhos e ouviu a voz da mulher quando Olivia colocou a chamada no viva-voz.

— Hoje, acabou de sair daqui. Ela estava com pressa. Só pediu para eu ser forte. Não entendi muito bem. Depois que veio aqui me senti forte, sim. Ela é minha força. Morri um pouco quando soube que poderia ter acontecido algo com ela. Mas agora estou mais tranquila. Ela está linda, saudável.

Olivia tremia ofegando ao ouvir aquilo. Lara se levantou e a ajudou.

— Olivia! — Ana Maria chamou, pois, a médica ficou em silêncio.

— Oi, tia. Estou indo para o hotel e falo com a senhora. — avisou e desligou.

— O que foi isso, Olivia?

Olivia apertou a cabeça com as duas mãos. Murilo chegou naquele momento e olhou para Lara.

— A moça da estrada é a verdadeira Alana!

— O quê? — O homem quase gritou e se deixou cair sentado na cadeira.

— Pedi teste de DNA, mas ela já confirmou. Apesar de estar irreconhecível, no corpo ainda havia indícios que comprovaram.

Olivia se levantou. Deu um aceno de cabeça para Murilo e olhou para Lara.

— Você vai comigo ao hotel?

— Vou, sim. Murilo, não perde a mulher de vista. Ela matou a Alana para assumir a vida dela e poderá fazer qualquer coisa para fugir.

— Ok. Eu sei bem disso.

Alana estava no hospital no quarto de Inácia, que se recuperava da cirurgia na perna.

— Estou sentindo muita dor! Me ajuda. — gritou se debatendo.

Uma enfermeira chamou um médico ao vê-la agitada e olhando na direção de Alana, que não era vista pela enfermeira.

O médico entrou e depois de examiná-la, aplicou um sedativo no soro dela e nem assim conseguiu acalmá-la. Inácia gritava desesperada sentindo dor.

— Pega três, por favor. — ordenou com pressa e a enfermeira obedeceu.

Alana sorriu se deliciando com o sofrimento de Inácia, que se debateu tanto que sua perna começou a sangrar excessivamente.

— Para! — gritou para a entidade que manipulava os medicamentos.

Confesse!

— Nunca, sua desgraçada!

O médico parou o que estava fazendo e observou aquele monólogo da paciente. Aplicou uma superdose de sedativo e nem assim fez efeito. O homem franziu o cenho e se afastou.

— Sai daqui, me deixa em paz. — gritou e viu os profissionais se afastando.

Confesse!

— Estou sentindo muita dor! — gritou novamente. — Faz alguma coisa!

O chefe do hospital entrou naquele momento e ouviu do médico o que estava acontecendo.

— Nada do que fizemos funcionou, doutor. Ela é praticamente imune ao sedativo.

— Nunca vi isso.

Depois de examiná-la e constatar que mesmo depois das altas doses de remédios, ela ainda se mantinha normal, ele saiu para pedir ajuda a outro médico.

Inácia entrou em desespero quando viu Alana volitando até ela, foi segurada pelo médico e a enfermeira.

Alana levantou as duas mãos e as posicionou sobre a perna operada de Inácia e retirou toda a sua dor, proporcionando a paz que ela tanto almejava.

A assassina respirou profundamente e desfaleceu calma, suspirou.

Confesse!

Inácia ficou em silêncio.

Confesse!

Murilo entrou junto com os médicos naquele momento. Alana passou a observar o que eles falavam.

— O que aconteceu? — indagou ao ver a cama toda ensanguentada.

— Ela teve um surto de dor, não conseguimos acalmá-la. — O chefe respondeu e olhou para o ortopedista que o acompanhava.

O homem examinava a perna de Inácia.

— Dona Alana, a senhora pode me ouvir?

— Ela está acordada, o sedativo não causou efeito nenhum nela. — avisou o médico que aplicou.

Alana tocou na perna dela pelas mãos do ortopedista e apertou com força fazendo-a abrir os olhos. O homem se afastou quando ouviu o grito desesperado da paciente.

Confesse!

— Nunca! Some daqui! Me deixa em paz, sua desgraçada!

Murilo se afastou de cenho franzido e notou que todos fizeram o mesmo. A enfermeira saiu da sala desnorteada, pois era a única mulher ali.

Alana a deixou sem dor e seguiu Murilo quando o policial saiu do quarto junto com o chefe do hospital.

— Essa mulher é suspeita de vários assassinatos, doutor. Precisamos que fique bem logo, pois precisa responder por seus crimes.

— Reforce a segurança, ela já tentou fugir uma vez e provavelmente tentará de novo. Tem claramente algum distúrbio, pois o sedativo não faz efeito nela. Vou descobrir o que está acontecendo. Fazer novos exames.

— Ok. Obrigado!

Alana ficou ao lado do detetive por uns minutos e ouviu os pensamentos dele. Murilo estava exausto daquele caso, era questão de honra colocar aquela mulher na cadeia.

Murilo passou as mãos na cabeça e pegou o celular, ligou para Lara:

— Lara, a mulher está tendo complicações na cirurgia, o local estava sangrando. Está completamente surtada. Tentaram sedá-la, e o remédio não funciona.

— Que é isso, Murilo? Você conversou com o médico?

— Sim, acabou de sair do quarto.

Alana voltou ao quarto de Inácia e viu um médico fazendo novo curativo na perna dela.

Tocou na bolsa de soro dela e a deixou escura como se fosse lama e aos poucos o olhar de desespero e dor de Inácia se tornou brando. Exausta a mulher adormeceu.

O médico terminou o curativo. Examinou a paciente verificando seus sinais vitais e viu que estava tudo normal. Aplicou antibióticos e deixou a paciência descansando.

Olivia chegou ao quarto de Ana Maria e a viu completamente mudada. Até maquiagem a mulher usou.

— Tia Ana!

— Oi, filha, você chorou? O que aconteceu? — indagou preocupada.

Olivia olhou para Lara, que estava cada vez mais confusa e entrou no quarto junto com ela.

Ana Maria estava falante, renovada, sorria ao contar que a filha estivera ali há pouco tempo, sem lembrar em nada o estado em que se encontrava quando chegou.

Olivia passou as mãos no rosto e nos cabelos completamente confusa. Lara estava parada observando a mulher.

— Tia Ana, senta aqui! — disse finalmente e puxou a mulher pelas mãos.

Ana Maria se sentou à frente dela e esperou que ela falasse. Olivia olhou para Lara em busca de apoio.

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