Carona Errada




Alana abriu os braços na intenção de não se molhar mais ainda com o conteúdo do copo da estranha.

Eita! Presta atenção.

— Oh, meu Deus! Me perdoe, por favor. — disse abrindo a própria bolsa e tirando uma toalha.

— Tudo bem, deixa. Vou ao banheiro... — entrou e saiu rapidamente, precisava pegar a estrada.

— Oi, estou me sentindo péssima por ter atrasado sua viagem...

Alana analisou aquela figura à sua frente. A pele da mulher parecia suja de barro, usava um chapéu de couro e tinha o sotaque carregado.

— Tudo bem, moça. Fica tranquila, ok? Preciso ir...

— Para onde está indo? Desculpe, mas estou no meio do nada, meu marido não vem mais me buscar. — simulou um choro.

Alana franziu o cenho, compadeceu-se:

— Posso levá-la até um ponto de ônibus, segundo meu GPS há um a oito quilômetros daqui.

— Muito obrigada, moça. Deus lhe abençoe, viu?

— Vamos... qual é o seu nome? — indagou e se dirigiu ao seu carro.

— Inácia. São Paulo é tão bonito, né? — comentou olhando pela janela do carro já em movimento.

— É. De onde você vem, tem o sotaque diferente, do nordeste, né? — perguntou enquanto ouvia uma banda sueca no som do carro.

— Venho do interior de Pernambuco, estou indo trabalhar, era pra ter chegado anteontem, mas não deu certo... meu marido é um imprestável mesmo. Estou indo para Jaguariúna, conhece? — indagou sorrindo.

— Não, mas é bem perto de onde vou... você faz o que da vida?

— Sou queijeira? Se puder me dar teu endereço, faço questão de mandar uns queijos pra você, os melhores da região. — disse sorrindo e demonstrando gratidão e humildade.

— Estou indo para Holambra, vou para trabalhar também. Me dá teu número de telefone que a gente marca. Eu amo queijo. Sou aquela louca que coloca queijo em tudo.

Inácia anotou um número qualquer num caderninho de anotações e entregou para ela, que colocou no descanso de copos.

Alana se sentiu à vontade para falar de sua vida, quando parava, Inácia começava um assunto de sua vida e instigava a jovem a falar de si.

— Você é tão bonita, tem um namorado em Holambra, não tem?

— Tenho... — respondeu sorrindo sem graça. — Ele é muito romântico, gentil. Acho que é o homem perfeito, sabe?

— Sei, no início o meu era perfeito também. — disse e deu uma risadinha sem graça. — Não que o seu vá virar aquela coisa que o meu virou, mas a gente se apaixona, né?

— Verdade, mas o André é diferente. Vivemos um namoro à distância por mais de dois anos e ele não ficou com ninguém, tá que eu não tenho certeza, mas prefiro acreditar que foi fiel.

— Esse André é um rapaz de muita sorte, você é muito bonita. De onde vem?

— Do Rio de Janeiro, mas morei por muitos anos na Suíça.

E assim abrindo toda a sua vida, Alana seguiu viagem com aquela mulher que gravava na mente cada palavra que ela falava, cada expressão corporal.

A jovem notou que foi a melhor coisa que poderia acontecer, pois seria entediante viajar sozinha. Inácia contava várias histórias, era engraçada e notou que estavam na SP-340, logo estariam em Holambra.

Ela começou a ofegar, sacudiu as mãos na frente do rosto.

— Você está bem?

— Não, preciso descer, por favor, cinco minutos... — pediu ofegando.

Sem piscar e produzindo vento com a mão perto dos olhos, lágrimas desceram. Preocupada, Alana estacionou no acostamento e saiu do carro para ver se ela estava bem, pois a mulher saiu do carro e correu até o mato simulando um vômito.

Os carros que passavam naquela via eram em alta velocidade, se precisasse pedir ajuda teria que ter sorte.

Inácia tossia enquanto olhava em volta, onde estava não havia muitas opções, só havia arbustos.

— Inácia, vem para o carro, está começando a chover. — disse preocupada.

O tempo mudava a cada segundo. Inácia voltou limpando a boca na manga do casaco que usava.

Retomaram a viagem. O GPS guiou para um atalho, pois Alana queria chegar rápido. Inácia observava cada milímetro daquela estrada.

— Sente-se melhor? — indagou entregando uma garrafa de água para a acompanhante.

— Mais ou menos, obrigada. — Puxava o ar e soltava pela janela do carro.

Alana dirigia devagar, já chovia, olhava para Inácia de soslaio, às vezes. Olhou para o GPS e viu que havia um posto e loja de conveniência a três quilômetros.

Inácia olhou para o GPS e notou o posto se aproximando, fingiu passar mal de novo.

— Ai, meu Deus! Por favor, Alana, me deixe aqui. Não vou atrapalhar sua chegada ao seu destino... — pediu e saiu do carro quando o viu parando.

Alana respirou fundo, pensou mesmo em pedir ajuda e ir embora, mas seria crueldade demais deixá-la ali no meio do nada.

— Pode pegar minha mala, eu fico por aqui. Estou enjoando muito. Muito obrigada, mas preciso deixar você ir sozinha.

Alana olhou em volta a estrada estava completamente deserta. Tentava se proteger da fraca chuva com um jornal velho, mas estava cansada.

— Abra aqui... — pediu em lágrimas tentando abrir o porta-malas.

Usando o controle remoto Alana abriu o compartimento do carro.

— Inácia, vamos até o posto, cara! Lá é mais fácil pedir ajuda e tem como você descansar um pouco... não vou deixar você aqui! — disse se aproximando dela. — E está chovendo pra caralho!

— É melhor não... — disse com a voz fraca olhando em volta.

Alana sentiu a forte e certeira pancada de uma chave de roda em sua cabeça, ficando inconsciente imediatamente.

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