Calma



Alana estava colada em André, que ainda tentava se acalmar. Seu ódio por Inácia estava fazendo com que o empresário ficasse fora de si.

— Ela precisa pagar... — disse passando as mãos nos cabelos, desnorteado.

Ela vai pagar. De qualquer jeito. — garantiu Alana ao lado dele.

Depois de horas naquela discussão, André finalmente pareceu se acalmar e pensar direito. Respirou profundamente e foi até a geladeira, pegou água e encheu um copo.

Com o apoio de Alana, ele dormiu profundamente naquela noite. Marcara com Lara para ir conversar com Inácia — a quem sequer sabia o verdadeiro nome — às dez da manhã.

Acordou sobressaltado com a impressão de que não estava sozinho e se lembrou de Inácia. Precisava fazer alguma coisa para que ela pagasse por seus crimes.

— Eu estou enlouquecendo! — André disse em voz alta para o espelho em sua frente quando Alana sumiu e o deixou refletindo sobre o que pretendia fazer com Inácia.

O empresário tomou um banho demorado refazendo todas as perguntas que pretendia fazer àquela mulher. Preparou um café da manhã e ligou para Richard, seu sócio.

— Bom dia, André. Como se sente?

— Bem. Precisamos conversar pessoalmente. Vou abrir um processo contra essa pessoa que tem atendido pelo nome da Alana...

— O quê? Do que está falando?

— Aquela mulher não é a minha Alana.

— Isso é muito grave, André. Estou atolado de trabalho, fui às feiras, deleguei algumas funções, efetivei alguns estagiários, mas não são de inteira confiança, estou esperando que você se recupere para vermos juntos o que fazer com os cargos vagos.

— Hoje eu vou ao hospital conversar com aquela assassina e vou encontrar você.

— André, pelo amor de Deus do que está falando?

— Conversamos mais tarde, Richard. Até logo.

Esperou por Lara. A delegada avisou que passaria para buscá-lo. André pegou seu celular e acariciou uma foto antiga de Alana, a verdadeira.

— Como me deixei enganar assim? Eu fiquei completamente cego. Cego de saudade. De tudo...

Inácia se esquivou de todas as perguntas do investigador. Precisou ser contida e sedada para não se machucar e retardar sua saída do hospital.

— Oi, tudo bem? — falou com um interno que cuidava dela.

— Sim, e você como se sente?

— Bem... — disse sorrindo e começou a fazer perguntas pessoais sobre ele, se mostrando empática em alguns casos e quando notou que tocaria no ponto que precisava, jogou a isca.

— Você é ótimo, doutor Livaldo. Merece ganhar muito mais que esse salário miserável que pagam aqui. Eu sou dona de uma das maiores empresas do país, você sabe, né?

— Sei, sim. — disse e olhou para fora do local.

— Sou muito generosa com quem me ajuda, você poderia ganhar muito dinheiro se me ajudasse a sair daqui.

— Você ainda não está recuperada...

— Eu consigo andar com a prótese. Você só precisa conseguir uma ambulância e me ajudar a sair. Me passa tua conta... ninguém vai saber de nada. Você pode sair desse fim de mundo, recomeçar em outro lugar ou em outro país. Você decide...

Uma enfermeira entrou com um material para trocar os curativos dela e ela olhou nos olhos do médico, que se retirou, mas a olhou quando estava fora da sala, naquele momento ela notou que ele aceitaria ajudá-la.

O que ela não viu foi que Alana seguiu o médico.

Lara chegou e avisou a André que o esperava em frente ao prédio. O homem desceu apreensivo. Encararia Inácia pela primeira vez desde tudo o que aconteceu.

— Como se sente, André?

— Bem. Dormi muito bem. Senti muita raiva daquela mulher, mas preciso ser forte.

— Certo. O Murilo me disse que você pediu para depor sobre um caso arquivado há alguns anos, foi testemunha de algum homicídio?

Ele a olhou de soslaio e fitou a trânsito a sua frente. Engoliu saliva e respondeu:

— Sim.

Lara o analisou por uns segundos enquanto fitava a rua. Mesmo curiosa, ficou quieta. Teria acesso ao caso.

Estacionou na frente do hospital e entrou no local junto com o empresário. André andava devagar. Arrepiou-se inteiro quando adentrou o corredor do quarto onde Inácia estava. Havia dois policiais ali na porta.

— Vou ficar aqui, por favor, não faça nada contra ela.

— Fica tranquila. — garantiu e entrou no quarto.

Inácia estava de olhos fechados. André passou um tempo observando-a. Via uma figura esquelética, acabada, com prótese no braço.

— André?

— Oi... devo te chamar de quê? — perguntou com as mãos nos bolsos.

— Ah, meu amor, você está acreditando no que esse povo fala?

— Se me falar a verdade, eu posso ajudar você, mas se continuar com essa farsa eu juro que vou usar até a última gota de força que eu tiver para te jogar numa cadeia e garantir que não saia de lá nunca mais. — disse por entre os dentes fitando os olhos dela.

Inácia olhou em volta como se procurasse alguém.

— Ela não está aqui. — disse e a viu franzir o cenho. — Você me fez de idiota...

A mulher engoliu saliva. André falava com muita convicção. Não podia estar sendo induzido por Alana.

Faz tempo que não a vejo por aqui. — pensou com olhar fixo na parede. — Será que finalmente me deixou em paz? Será que é como nos filmes que ela só precisaria ser encontrada para poder descansar e ir direto para o inferno? — divagou esboçando um sorriso.

— E então? — André tirou-a de seu devaneio.

— Eu estou muito cansada, André. Você pode voltar para conversarmos melhor depois?

— Não, não posso, não. Graças a você eu deixei a minha empresa às moscas. Senão fosse o meu sócio e amigo fiel, ela nem existiria mais. Então eu não tenho tempo para ficar vindo aqui. Decida agora ou vai direto pra cadeia. E eu cumpro minhas promessas.

Ela engoliu saliva. Ele suspirou e pegou o celular. Procurou um número e saiu do quarto.

— André! — gritou, mas foi ignorada pelo homem.

Lara entrou no quarto e a viu xingar por não ter tido a atenção do empresário.

— Bom dia... como se sente?

Inácia ficou em silêncio. Ignorando a delegada, que sorriu.

— Você não contava com nada disso, né? — comentou sorrindo fitando a mulher que evitava encará-la.

Alana olhava para Inácia por cima do ombro de Lara soprando informações.

— Você será investigada. Espalhei sua foto pelo país inteiro. Principalmente cidades pequenas de interior nordestino de onde vem o seu sotaque. Mas pode ter pena reduzida se tentar se defender nos contando tudo.

— Vai pro inferno! Sai daqui.

— Desacato é crime, sabia?

Os olhos de Inácia ardiam na formação de lágrimas de ódio. Sabia que sairia dali em breve e estava encurralada. Não viu quando Lara apertou os olhos com os dedos e deixou o quarto.

Influenciada, a delegada sentiu o peso das palavras que disse sem querer. Saiu do hospital e foi direto para a delegacia. Pegou a foto de Inácia e enviou para o maior número de delegacias possíveis.

Completamente eufórica, Lara sentia tudo o que Alana sentia naquele momento. Seus olhos estavam marejados com a possibilidade de a calma e inteligência fazerem com que a justiça fosse feita.

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