bônus: 4 a 1 foi pouco. pronto, falei!

Obrigado, Copa do Mundo!

Apenas você pôde me proporcionar uma folga em plena segunda. Poderia ser sediada em um lugar melhor? Sem dúvidas. Mas infelizmente não tive como interferir nessa decisão.

Cerca de trinta minutos antes do jogo entre Brasil e Coreia do Sul, toquei a campainha do apartamento de Jungkook. Seria o primeiro jogo a assistirmos juntos e o convite surgiu por parte dele. Também era o nosso primeiro encontro desde a recaída nas eleições. Ele mandou algumas indiretas por mensagem, mas eu fingia nem lembrar da trepada.

— Ô nojeira! — foi o que disse ao abrir a porta e focar na minha camisa. Qual o problema dos ativos com a camisa azul da seleção? Muito mais linda que a amarela. — Pode ir tirando.

— Mal cheguei e já quer que eu tire a roupa? Me respeite!

— Que palhaçada é essa, Jimin? — ele cruzou os braços.

Como não fez menção em me dar espaço, o empurrei e passei pra dentro do apartamento. A televisão estava ligada e os apresentadores comentavam sobre as expectativas pro jogo.

— Você faz só pra provocar. Admita!

— Eu acabei de chegar, meu querido. — sentei no sofá. Ele bufou e encostou a porta.

— Só falta torcer de verdade pro Brasil.

— Ué e eu vim fazer o quê aqui?

— Torcer pra Coréia, não tá óbvio?

Fiz a mesma careta da Rosalía antes de cantar Bizcochito. Então percebi ele empurrar a bochecha com a língua. Jungkook estava falando sério, meu Zeus do céu.

— Por que eu torceria pra Coreia? Eu nasci no Brasil.

— E as suas raízes, Jimin? — ele se aproximou, parando na minha frente.

— Eu cresci com Charlie Brown Jr., não foi com Girls' Generation não.

— Não acredito nisso. — negou com a cabeça

— Parou com o surto?! Só quero beber e aproveitar a folga. Comprou o quê?

— Tá tudo aí da eleição que a gente esqueceu de beber.

Tópico delicado. Apenas assenti e encarei a televisão, fingindo interesse. Um tempo depois, Jungkook sentou-se ao meu lado. Acho que hoje não teria como cair na lábia dele. Minha camisa construiu um palácio na sua mente.

Os minutos foram passando e o silêncio reinava entre nós. Poxa, jamais tive intenção de irritá-lo, afinal nem conhecia o seu lado patriota. Ele nem gostava de Kpop.

— Essa música da Copa é boa, hum? — Ao ouvir a pergunta, olhei pra ele.

— Prefiro Waka Waka — eu poderia apenas concordar, né? Mas o meu compromisso com a sinceridade me tornava inconveniente em várias situações.

— Aí até eu. Shakira patroa do Piqué.

— Old, mô! — sorri.

Com o clima mais leve, relaxei no sofá. Estava esperando ele oferecer algo, mas tudo bem. Os times entraram em campo e eu admirei o camisa 9 da seleção coreana. Seria uma pena vê-lo chorar no final da partida.

Cantei o hino nacional internamente, pois senti o olhar de Jungkook me escanear. Bola em campo, início de jogo. Indo contra a Solineuza, eu entendia até muito de futebol, graças ao painho que acompanhava todos os campeonatos possíveis. Mas não era sequer meu esporte favorito. Vôlei muito mais emocionante, concordam?

Distraído entre lembranças de quando jogava vôlei na aula de Educação Física, e era uma negação, me assustei com o grito de Jungkook. O narrador também gritava, mas com o tom oposto. Cacete, o Brasil marcou gol antes dos dez minutos. Baila, Vini Jr!

O jogo prosseguiu e cerca de cinco minutos depois rolou um pênalti favorável ao Brasil. Jungkook xingava tanto que, caso não fosse da torcida contrária, se daria muito bem com a Rita Cadillac, sem um pingo de dúvida.

Revirei os olhos quando vi que o Neymar bateria o pênalti. Sim, o ranço falou mais alto, porém esse gol era nosso. Menos de quinze minutos e 2 a 0 pro Brasil. Desde outubro, só vitórias! Não poderia dizer o mesmo, né menino Ney?

A minha barriga roncou e como eu nem arriscava olhar pro querido, perguntei atento à televisão.

— Não rola uma pipoquinha?

Jamais faria um pedido desses sem a certeza de que ele reagiria com no máximo uns palavrões. Por favor, olha o tamanho deste homem! Um soco dele e eu dou baixa no hospital com múltiplas fraturas.

— Você tá pedindo, Jimin!

— Sim, uma pipoca pra acompanhar a cervejinha.

— Fique à vontade! — apontou pra cozinha.

Boquiaberto, segui naquela direção porque a fome era mais importante que o orgulho. Botei a panela no fogo já que Jungkook vivia no século retrasado, no qual o micro-ondas nem existia. Vasculhei os armários atrás de uma vasilha pra pipoca e peguei as bebidas na geladeira.

De volta a sala, o placar continuava o mesmo. Entreguei uma garrafa para Jungkook e coloquei a vasilha com a pipoca entre nós. Mais uns minutos e me levantei com tudo, derrubando a vasilha e provocando uma sujeira. Nem me importei no momento porque era gol. Gol do Richarlison, gol do pombo, gol do meu amor.

— Pode pegar a vassoura — esbravejou Jungkook.

— No intervalo eu limpo. — não conseguia parar de sorrir.

— Virou Zé-chuteiro? Desde quando você gosta desse mano?

— Gostar é pouco, tô apaixonado. Pronto, falei!

Conhecia o querido antes da Copa? Jamais ouvi falar. Ai, como era bom ser básico e ir na onda das pessoas na internet. Obrigado por me apresentarem esse homem. Precisamos exercer o pensamento decolonial mais vezes e transformar brasileiros em heróis.

O Brasil fez o quarto gol ainda no primeiro tempo. A esse ponto, Jungkook não possuía força nem pra lamentar.

— Que dancinha ridícula! — murmurou com muito ranço.

— Muito bonito o rosto, todavia. Tá que tá, Paquetá!

— É por isso que você assiste futebol?

— Pra ver um monte de macho correndo atrás de uma bola que não é.

Após muitas emoções, o primeiro tempo chegou ao fim. Jungkook me obrigou a varrer a bagunça provocada pela mais genuína felicidade. Após torturar a minha coluna com a varrida, abri a latinha de uma bebida que não mencionarei, pois não ganho pra fazer publi. O narigudo continuava emburrado no sofá.

— Faz essa cara não — eita coração mole esse meu! — No fundo, eles sabiam que não teriam chance.

— Porra, você tá tentando me consolar? — me fuzilou, gerando o efeito contrário, pois senti apenas T. Haja terapia!

— O que te consolaria, então?

Prestes a responder, ele parou. Matutou por longos segundos enquanto a minha respiração acelerava. Incrível como você sempre se mete em enrascada, Park Jimin.

— Seja sincero — ele disse — Porque muda de assunto quando eu tento conversar sobre aquele dia?

Onde eu encontro veneno? Sei lá, ando com a paranoia de que tem rato lá em casa. Melhor precaver, né? Opa, deixei derramar um pouco na minha água. Acontece!

— Ai, Jungkook! — mordi o lábio em busca do ferro do sangue. Preciso de forças! — Digamos que a gente tenta outra vez e depois termina. Como ficaria nossa amizade? Arrisco dizer que pior do que você tá agora com a goleada.

— Eu topo arriscar, Ji. Porque conheço os meus sentimentos o suficiente pra saber que seria mais feliz contigo. Mas se você não tem coragem ou vontade...

— Não joga a escolha pro meu colo — abaixei a cabeça — Sou indeciso.

O jogo voltou da pausa. Segundo tempo. Vitória do Lula no segundo turno. Eram sinais de que eu deveria dar uma segunda chance? Ai, minha nossa senhora, me dê a mão!

Se fosse apenas por sentimento, já teria voltado com o Jungkook há dias. Mas eu era bastante grandinho pra saber que um relacionamento dependia de diversos fatores. E uma relação que já flopou antes, precisaria de mais remixes pra hitar.

— Você gosta de mim tipo "esse cara dá pra aguentar e o sexo é muito bom" ou "caraca, ele é tudo o que eu sonhei e o sexo encaixa certinho"? — perguntei, disposto a catar a verdade nos olhos dele.

— Gosto tipo "quero que ele se sinta tão bem como eu me sinto quando estamos juntos, na cama ou fora dela".

— Zerou. — bati palmas. — Você zerou as cantadas.

— Tirei nota zero?

— Nota treze. Agora me beije antes que o Brasil faça outro gol e você perca o clima.

Nos atracamos no sofá até o narrador miar um gol. Parece que a Coreia abençoou a nossa união. Comemorei no colo de Jungkook, rebolando uma coreografia imprópria para a rede das dancinhas.

— Se fosse jogador, você faria um gol pra mim? — questionei ao afastá-lo pro ar circular um pouco.

— Eu definitivamente enfiaria uma bola na sua rede.

— Babaca! — acertei um tapa bem no peito dele, mas mantive a mão no local.

Sempre tive um fraco por homens peitudos. Evito pensar muito nisso, pois vai que resgato um trauma de infância.

Eu nem lembrava mais do jogo. Ouvi o apito final do juiz e em seguida estava esparramado na cama de Jungkook. Ele tirou minha camisa – posso jurar que queria rasgá-la – e beijou toda a região descoberta.

Quando dentro de mim, puxei o rosto dele na direção do meu pescoço. Enlouquecia com as cócegas que o nariz dele provocava na região. Às vezes, Jungkook tentava escapar, mas eu o puxava de volta. Queria sentir a respiração, as fungadas. De olhos fechados, ouvia o meu próprio gemido ecoar pelo quarto.

Ele se desvencilhou das minhas mãos e parou de se mover.

— Você tá pensando em mim, não tá? — estreitou os olhos e engoli em seco,

— Em quem mais eu pensaria? Deixa de paranoia!

Achei ofensivo, mas ignorei pelo bem do nosso namoro recém retomado. Ele continuou socando enquanto eu o segurava pelos bíceps. Gozou na camisinha e me chupou até eu expelir porra na boca bem delineada.

— Eu te amo — sussurrou.

A essa altura vocês me conhecem o suficiente pra entender o meu jeitinho atrapalhadinho, tolinho. Sem maldade, juro, eu ri. Ah, Jimin, qual a graça? Não faço ideia. A vontade veio e eu cedi.

Pude ver o nítido desapontamento na expressão que Jungkook carregava ao se afastar. Olha, eu merecia ficar trancado por uma hora numa sala com a Cássia Kis depois dessa.

— Jun — tentei. — Goo — Nada — Coelhinho!

Ele me encarou, a boca tão cerrada que parecia ter passado cola nos lábios.

— Me desculpa! Eu sou isso aqui — apontei pro meu corpo — Dou risada quando não deveria, falo merda nas horas erradas — resolvi parar porque eu também não era um monstro — Mas eu te amo e não brincaria contigo ou com os seus sentimentos.

— Você vai me deixar louco, Jimin.

— Sempre foi o meu plano.

Beijei o canto da boca dele, o queixo e então o mordi no lábio inferior. Deitamos na cama, trocando carícias até pegar no sono. Quando acordei, um bom tempo depois, a primeira coisa que senti foi o calor da pele nua contra a minha.

Como um bobo apaixonado, admirei ele dormir de boca aberta. Homem lindo, gostoso e meu. Finalmente conheci o momento de glória que os cristãos tanto falam.

Em certo momento, Jungkook acordou. Selei nossas bocas, mas algo na atitude dele me parecia estranho. Como ele deu seguimento ao beijo, achei que era coisa da minha cabeça.

O fogo voltava a me consumir e eu precisava sentar nele. Chega de futebol, era hora do hipismo. Fui sedento atrás de uma camisinha na cômoda ao lado da cama, mas ele segurou meu braço.

— Vamo ficar um pouco na sala — estranhei o seu pedido.

— Tá cansado, garanhão?

— Um pouco.

Acenei com a cabeça, ainda desconfiado. Vestimos nossas roupas e ele deixou o quarto primeiro. Fiquei um tempo na cama, checando as novidades no meu celular. Quando fui pra sala, paralisei com a imagem: Jungkook, com um sorriso no rosto, assistia à novela das nove.

— Eu não tô acreditando que você me trocou pela atuação da Jade Picon.

— Vem cá, Ji! — estendeu um braço, mas permaneci no mesmo lugar. — A novela tá muito boa.

Se a televisão fosse minha, seria capaz de jogar uma pedra na tela. Mas como abominava toxicidade, fui até ele e me encolhi no seu abraço.

Esse namoro teria futuro? Talvez nem a Márcia Sensitiva possa opinar. Da minha parte, vocês são testemunhas do esforço que estou empregando. Afinal, não é por qualquer homem que eu veria a novela com um robô garçom.

Ai que saudade da minha solteirice!

💍

Olá, amores! Recebi muitos pedidos e encontrei essa oportunidade perfeita para uma continuação de AQSDME. Eu espero ter arrancado pelo menos um riso frouxo de cada um que leu. Aproveitem e me contem o que mais gostaram.

Quero agradecer ao carinho que tenho recebido tanto dessa, como das minhas outras histórias. Fazer aquela publi pra avisar que em Janeiro tem a pré-venda do meu primeiro livro físico, Os Fios Voltam a Crescer, adaptado de uma fanfic disponível no meu perfil. E como o Natal tá se aproximando, deixo também minha twoshot "visco para meu vascaíno" de recomendação.

Minhas redes sociais: Twitter (@vminoshi) e Instagram (@autorvitorsemc). Um ótimo final de ano e um 2023 incrível para todos nós. Um xêro 😘

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