01.


Isa's POV

Olhei de novo para fora da janela do ônibus, para ver se mais alguém tinha chegado além da Tia Leci (coordenadora da escola que ia viajar com a gente), que estava andando lá na calçada de um lado para outro, parecendo mais animada do que eu ao querer viajar logo.

O ônibus ia sair às 6h da manhã em ponto, ou seja, era para todo mundo chegar até 5h40. Minha mãe apressada havia me deixado ali 5h10 e, já que agora eram 5h23, haviam se passado 13 minutos e só três pessoas estavam ali, incluindo eu. Queria que Bella chegasse logo para tagarelar incansavelmente para que eu pudesse me concentrar nela e não na sensação estranha na boca do meu estômago. Tá, eu odiava viajar de ônibus porque sempre tinha enjôo, mas já tinha levado o meu Plasil e estava de boa. A sensação era outra coisa.

Me sentia de volta no ônibus de excursão para o NR, três anos atrás. Eu não era a mesma de antes – irresponsável, que só queria era dar uns beijos na boca. Não, eu estava mudada, mas me sentia exatamente do mesmo jeito que eu me senti quando entrei no ônibus para viajar para lá. O mesmo nervosismo, ansiedade, inquietação... E naquela época eu nem sabia quem eu iria conhecer...

Eu sempre me lembrei de Taylor.

Caramba, como não me lembrar, foi com ele que eu perdi a virgindade (e, tipo assim, o cara me fez chegar ao orgasmo bem na minha primeira vez! Isso é o que eu chamo de ser foda). Mas não só por isso, eu sempre me lembrei dele também porque eu havia realmente gostado dele, tanto que depois do NR nós voltamos a nos encontrar quando eu viajava para Ribeirão Preto. Naturalmente, os pais dele não o deixaram morar em Franca, mas eu já sabia que isso ia acontecer. Nos víamos também quando ele ia passar o final de semana na casa da avó. Depois minha mãe desconfiou que eu estava de rolo com alguém de outra cidade e começou a ficar receosa de me deixar ir para Ribeirão, ou seja, comecei a ver Taylor somente uma vez a cada dois meses. Foi assim que nós dois fomos nos distanciando, cada um no seu canto, somente conversando por MSN, até que perdemos totalmente contato.

É, muita coisa havia mudado em três anos.

– Terra chamando a retardada da Isa. Estou falando com você, poxa! – Selena resmungou a duas poltronas à frente.

É, e tinha coisa que não havia mudado nada.

– O que é, Patricinha? – provoquei, dando um sorriso bem cínico.

Ela havia parado de me provocar desde que comecei a namorar Ian. Ela o respeitava, por isso que começou a me tratar um pouquinho melhor. Sabe, pelo menos ela andava tentando forçar uma amizade. Mas, logicamente, antes ela era um pé no saco, por isso eu continuava a provocá-la.

– Caramba, eu estava aqui conversando e você me deixou falando sozinha. Eu perguntei por que Ian vai viajar de avião – ela disse.

Algumas pessoas entraram no ônibus, incluindo Roberta e seu namorado, e nós demos oi. Elaine havia mudado de escola, por isso não estava ali com a gente.

– Hmm, porque os pais dele acharam legal pagar o avião para ele ir para Porto. – Dei de ombros.

Só as pessoas menos favorecidas ou que gostavam muito de farra iam de ônibus (tipo, só umas quinze pessoas). Então, para lotar, iríamos dividir o ônibus com o pessoal de uma escola de outra cidade.

– Ele vai chegar lá umas quatro horas antes da gente. Você não tem medo de ele fazer alguma coisa, aproveitando que está sozinho?

Ela não disse por mal, mas me irritou mesmo assim.

– Sabe, Selena, ele está me namorando, por isso não vai me trair. Ian sabe que se pisar na bola, já era.

– Principalmente porque vocês namoram há dois anos.

– Exatamente. Mas e aí, porque Dakota vai de avião também?

– Porque ela preferiu ir de avião. Eu perguntei de Ian porque ele é seu namorado! E Dakota não é minha namorada, ué, é minha amiga – justificou.

– Bem, isso eu já não sei, é com vocês – provoquei mais uma vez, com um sorrisinho metido. Mas me virei para olhar Bella entrando no ônibus.

– Amiguiiiiinha! – cumprimentei, dando um abração nela e a puxando para a poltrona do meu lado.

– Oi, Isa! Estou mais animada que pintinho no ninho.

– Eu também! Só estou com uma sensação estranha – reclamei.

– Ei, pessoal. O ônibus está partindo agora. Vamos fazer uma parada em Ribeirão Preto para pegar o pessoal da outra escola, não se esqueçam de ser agradáveis. Depois só iremos parar para almoçar em... – Tia Leci começou a explicar toda a rota, enquanto meu estômago se revirava mais e mais.

– A sensação piorou agora – comentei a Bella, depois que Leci acabou e o ônibus deu partida.

– Hmm, que estranho. Será que você está com medo de Ian trair você quando chegar mais cedo lá em Porto? – ela me perguntou.

– Não! – exclamei, me controlando para manter a voz baixa, já que éramos poucos no ônibus. – Você sabe muito bem que ele é educado demais para fazer esse tipo de coisa.

– Eu sei, eu sei. – Bella revirou os olhos. – Ian, o namorado perfeitinho.

– Exato. Eu acho que essa estranheza vem da sensação de Déjà vu que eu estou sentindo. Você consegue sentir?

Ela parou por um momento e ficou quieta. Depois, balançou a cabeça.

– No way. Como assim Déjà Vu?

– Como se estivéssemos indo para o NR de novo...

Ela soltou uma risada escandalosa.

– NR não tem nem a metade da putaria que Porto Seguro tem. Se bem que o seu NR foi bem menos impuro do que o NR de todas as outras meninas, não é mesmo? – Bella balançou as sobrancelhas.

– Sabe, acho que já está na hora de colocarmos nossos fones de ouvido e nos desligarmos da viagem – sugeri, revirando os olhos e dividindo os fones do Ipod dela: um para ela, um para mim, como sempre foi.

Tínhamos andado só quarenta minutos quando Bella desistiu de ouvir música e foi para trás do ônibus conversar com os meninos. Vai entender, ela sempre tinha amizade com meninos.

– Pessoal, estamos chegando a Ribeirão. Cada um se senta em seus lugares porque não vai ter lugar sobrando quando eles entrarem no ônibus! – Tia Leci avisou.

– Bella, vem! – chamei.

– Hmm, outro no way para você. Vou sentar aqui com o Yago.

– Como assim, você vai me deixar sentar sozinha?

– Veja o lado positivo: Um carinha muito gato de Ribeirão pode se sentar ao seu lado lindamente.

– Eu estou namorando – lembrei.

– Bem, então ótima hora para botar em prova seu amor por Ian – brincou, voltando a fazer sei lá o que com o Yago. Tipo, a putaria não tinha que começar em Porto Seguro? Eca, Bella era desnecessária.

Paramos em frente a uma escola bem conhecida da cidade. Caramba, tinha muita gente bonita ali. Ainda bem que eu não estava solteira, porque era difícil pensar em competir meninos com aquelas meninas tão bonitas de Ribeirão.

 Todo mundo começou a entrar no ônibus e pegar seus lugares. Só algumas garotas falaram um oi, ou seja, o que tinham de bonitas, tinham de chatas. Olhei para fora da janela do ônibus para ver se todos tinham entrado, mas nem precisei por muito tempo, porque não tinha mais ninguém lá fora e o motorista já tinha dado partida. Então olhei de volta para o corredor e o vi parado bem do lado da poltrona vazia ao meu lado.

Não era o Batman, nem o Chucky Norris, nem o raio que o parta. Se bem que qualquer um seria mais previsível do que ele.

Então a sensação estranha no meu estômago parou completamente, como se esse tempo todo meu corpo estivesse tentando me avisar o que iria acontecer.

– Isa? – ele me perguntou, arregalando os olhos e me olhando de cima a baixo, como se para confirmar que eu tivesse me transformado naquele mulherão. Oras, fazia dois anos que a gente não se via!

– Taylor – sussurrei, sabendo que era ele. Não poderia ser outra pessoa. Ninguém era tão perfeito igual ele.

Taylor'sPOV

Não sei direito como começou, mas enquanto eu estava esperando junto com o resto da turma da minha classe o ônibus chegar de outra cidade para nos levar a Porto meu estômago começou a se revirar. Eu não estava tão ansioso assim para viajar. Eram as garotas que ficavam desse jeito.

– Quantas você acha que você vai pegar ou comer? – Kellan me perguntou baixinho, super animado.

Eu ri. Ele sempre me fazia rir e desde que Robert mudou de escola e meio que se distanciou Kel era meu melhor amigo.

– Eu não tenho uma previsão. Caramba, Kellan, não estamos mais indo para o NR.

– Eu sei, mas quero fazer muito sexo. – Ele me deu um soquinho. – Mas eu não me importaria de estar voltando para o NR também. Só que dessa vez eu ia pegar aquela gostosona, a Isa.

Eu dei um olhar de censura para ele, mas ele estava só brincando. Percebi pela cara que ele fez de "Eu sei que você gostou mesmo dela".

O ônibus chegou e eu parei por um momento ao ler a placa: Franca–SP. Então meu estômago se sacudiu um pouco e eu o ignorei, entrando no ônibus. Havia muitas escolas em Franca. Eu não teria a sorte de pegar o mesmo ônibus que ela.


Dois anos para cá nós paramos de nos falar e eu só tinha notícias dela pelo Facebook/Tumblr. Pelo jeito, ela andou de rolo sério com um menino, pois o perfil dela estava cheio de depoimentos dele. Não estava 'namorando' no relacionamento dela – mas isso era previsível, porque ela me contou uma vez que odiava colocar status de relacionamento. Eu vi algumas fotos e ela havia mudado um pouco. Estava mais bonita (e os peitos haviam crescido mais). Mas só. Nenhum contato.

Foi muito triste nosso lance acabar. Se a gente tivesse continuado a conversar, pelo menos, poderíamos ter alguma coisa nesse ano. Era ano de vestibular. Vai que a gente combinava de prestar na mesma cidade, aí poderíamos namorar e ficar juntos para sempre.

– Vam'bora, Tayzão! É nóis que tá. Hmm, eu já consigo ver umas gatas nesse ônibus. Desculpe, amigão, mas não vou me sentar com você – Kellan disse, entrando no ônibus e se sentando ao lado de uma garota muito bonita que estava sozinha lendo uma revista. Bem, tá, que seja.

Quando eu entrei, a primeira coisa que eu vi foi uma garota de cabelos pretos, pretos, que eu tinha certeza que já tinha visto antes. Ela me olhou nos olhos e eu percebi que me reconheceu. E então eu a reconheci também.

– Selena! – exclamei para mim mesmo. Ela arregalou os olhos e olhou para duas poltronas atrás dela.

Tudo foi muito rápido. Enquanto eu segui o olhar dela, o gelo na barriga sumiu e eu percebi que sabia quem estava sentada ali. Selena sempre esteve na sala dela. Só podia ser ela. Então minhas pernas se mexeram e eu andei até a poltrona vazia ao seu lado.

Caramba! Como ela havia mudado! Seus cabelos estavam enormes, tipo assim, batendo no quadril dela. E eles estavam mais grossos, mas com o mesmo tom castanho. Os peitos haviam crescido mesmo e parecia que ela tinha emagrecido mais que o normal (mas continuava bem gostosa, tipo com um corpo Megan Fox). E se eu não me enganava estava mais alta. Quando ela parou de olhar a janela e voltou seu olhar para mim, vi que só podia ser a Isa mesmo. Tudo bem que seu rosto estava mais magro e as bochechas lindas dela haviam endurecido quase que completamente, mas seus olhos eram os mesmos – castanhos não tão escuros, não tão claros. E ela me reconheceu.

– Isa? – chamei. Hmm, tá, era ela, mas era melhor perguntar, né?

– Taylor! – exclamou, com a maior alegria e surpresa. Sua voz havia mudado também; estava mais... mulher.

– Oi! – Sorri. – Hmm, posso me sentar aqui, ou a Bella...

– Não, Bella está sentada em outro lugar. – Isa deu uma olhadela para trás, nas últimas poltronas, e eu vi a melhor amiga da Isa praticamente sentada em outro lugar mesmo. Nossa, completamente desnecessário.

– A putaria não tinha que começar só em Porto? – eu perguntei para ela.

Isa me olhou profundamente, enrugando o cenho.

– Foi exatamente essas palavras que eu pensei – respondeu, dando um sorrisinho. – Senta aí.

– Ãhn, tá. – Eu me sentei e fiquei totalmente a vontade ao lado dela. – Senti sua falta.

Eu me aproximei para lhe dar um beijo quando ela me surpreendeu totalmente se afastando de mim. Ela nunca saberia o tanto que isso me magoou.

Isa's POV

– Desculpa, é que... Eu tenho um namorado – falei.

Mesmo se eu não tivesse, pensei. Ele sumiu. O que tinha entre nós acabou!

– Você vai namorando para Porto Seguro? – ele me perguntou, rindo pra caramba.

– Hm, sim. Não ia terminar um namoro de dois anos por Porto. – Olhei para o outro lado, me controlando para não o mandar para a puta que pariu.

– Tá, não fica brava, é só que é... muito peculiar. E nem parece coisa de Isa.

– Não brava. – Olhei para ele, levantando uma sobrancelha.

– Isa... – Ele deu um sorriso lindo. – Eu sei quando você está mentindo. Para começar, você fala abreviado: Tô. Tá.

. Que seja. É irritante demais você se lembrar justo desses detalhes – reclamei.

– Eu não me lembro só desses detalhes. Eu me lembro de todos eles. De tudo. – Seus olhos ardiam e era como se ele estivesse tentando me falar outra coisa com essas palavras.

– Como eu disse, , que seja. E eu mudei. Não sou mais rodada. Namoro fixo agora – me defendi.

– Você nunca traiu seu namorado? – perguntou.

– Nunca – confessei, olhando em seus olhos.

– Eu queria que você estivesse me namorando, não a outro... – disse, devagar, me iludindo gradativamente e me enlouquecendo.

Caralho, eu também queria isso! Mas me controlei e apenas falei:

– Too late.

Ele mordeu o lábio, sinal que eu havia o magoado um pouco. Eu sabia disso porque conhecia tudo naquele garoto. Soube no exato momento que ele voltou a me olhar nos olhos que ele ia mudar de assunto, para amenizar a sua dor.

– Falando nisso, cadê ele?

– Ãhn, ele vai de avião. – Dei de ombros.

– Eu tenho uma viagem inteira para aproveitar com você? – brincou, piscando para mim. – Isso sim vai ser bom.

Tentei me segurar, mas senti minha barriga dando voltas (e não era enjôo de movimento). A reação que eu mostrei foi apenas rir dele e levar na brincadeira, mas eu queria mais do que tudo aproveitar a viagem com ele.

– Vê se controla esse fogo. Eu sou fiel – expliquei.

Taylor levantou a sobrancelha razoavelmente, me encarando sem piscar.

– Você está falando sério – concluiu. – Você mudou mesmo. Cadê a minha Isa?

Foi minha vez de encará-lo cinicamente, com uma cara de Blair Waldorf.

Sua Isa desapareceu dois anos atrás, quando foi abandonada pelo amor da vida dela. Agora a nova Isa está firme, tentando segurar as pontas, tentando consertar o que você estragou – falei.

Ele abriu a boca, se preparando para argumentar. Eu o impedi.

– Não quero falar do passado. Não posso, não consigo e não vou deixar você me ter de volta, Taylor. Por favor. Se você quer ser meu amigo, pelo menos, então vamos conversar sobre coisas não relacionadas a nós.

Ele suspirou e assentiu com a cabeça.

– Tudo bem. Se é o que você quer...

É o que eu quero.

– Então ok. Vamos esquecer. Hmm, que tal conversarmos então sobre o que vamos fazer em Porto Seguro? – sugeriu.

Eu sorri, quase pulando em cima dele. Eu tinha me esquecido o tanto que ele era fofo e caía de quatro pelas minhas vontades.

– Por mim, está ótimo! – Revirei os olhos. – Pretende ficar com muitas meninas lá? – Tentei ao máximo parecer indiferente.

– Por que você pode perguntar da minha vida amorosa e eu não posso nem comentar a sua? – reclamou, de brincadeira.

– Porque você já sabe que eu estou namorando e que não vou pegar ninguém em Porto. Agora só estou perguntando você...

Ele riu.

– Quase me esqueci do tanto que você é temperamental. Hmm, logicamente, quero ficar com muitas garotas – respondeu.

– Só as TOPs. Senão eu te bato – ameacei, com um sorriso malvado.

– Bem que eu queria que você me batesse.

– Pegue a garota errada, que eu farei isso. – Levantei uma sobrancelha para mostrar que estava falando sério. Ele era gato demais para uma garota qualquer, aleatória.

– Tudo bem. – Ele revirou os olhos. – E, mudando de assunto, já andou pensando em alguma faculdade?

Nos jogamos a esse assunto, empolgados em falar sobre o futuro. Ele queria Arquitetura na USP de Ribeirão Preto, enquanto eu queria Medicina ou Jornalismo nessa mesma universidade.

– Então ano que vem você vai estar em Ribeirão? – perguntou.

Assenti com a cabeça. Ele só sorriu marotamente (pqp, quem fala isso?), pensando em algo que eu provavelmente não ia querer saber.

– Isa, me passa meu... – Bella começou a falar, chegando junto com o Yago, mas parou quando percebeu Taylor. – UOU, você por aqui! – Ela me olhou super indignada e deu um pulo em T. – Seu sumido! Parece que eu senti saudade de você, acredite se quiser. OMG, que inesperado!

– Aqui seu celular. – Soquei na mão dela, olhando com cara de "cala a boca".

– Tudo bem, estamos voltando para trás. Juízo aí. – Bella piscou para nós dois, saindo rindo.

– Ai, ai, senti saudades dessa doidona... – Taylor deu um sorriso tão tãaao fofo, que quase o beijei. Quase.

– Falando nisso, cadê Robert, Kellan...? – perguntei, tentando desviar meus pensamentos dele.

– Rob mudou de escola... Só Kellan está aqui... – Taylor apontou para um menino enormemente alto sentado em algumas poltronas à frente.

– Kellan está aqui! – Dei uma risada e me levantei com tudo, infelizmente, no mesmo momento que o ônibus deu um solavanco. Ou seja, caí diretamente no colo de T.

– Hmm, hein? – Ele riu, me segurando firme.

– Taylor! – Revirei os olhos.

– Ok, só porque você fez essa carinha. Vamos falar oi para o Kel.

Kellan adorou me ver, me deu um abraço e tudo mais, mas foi discreto porque estava querendo pegar uma menina lá.

– Quer sentar aqui para poupar espaço? – Tay perguntou para mim, dando dois tapinhas na coxa, quando voltamos às nossas poltronas.

– Não, obrigada – falei, simplesmente, me sentando na minha poltrona.

– Você que sabe. – Ele riu.

Quatro horas e meia depois, paramos para almoçar em um posto muito chicoso (wtf?).

Bella largou o Yago (AAAALELUUUUIAAA) e veio comigo. Olhei para Taylor.

– Você vai se sentar com a gente? – perguntei, tentando não deixar muito óbvio que era um convite. – Sei lá, Kellan pode se sentar conosco também.

– É, pode ser. Vou chamá-lo. – Ele saiu para buscar Kel.

– Isabella Branquinho. O que você vai fazer com a sua vida? – Bella me perguntou, quando ficamos finalmente a sós.

– Isabella Barichello, na verdade... eu não tenho a mínima ideia – confessei, mordendo o lábio. – Sério. Vou tentar nem pensar nisso.

– Mas você gostou mesmo de Taylor – insistiu.

– Eu sei.

– Você ainda gosta dele.

– Eu sei.

– Mais do que você gosta de Ian...

– Eu sei, Bella – suspirei. – Mas não vou largar Ian por Taylor. Se não deu certo com ele uma vez, não vai dar dessa vez também. Nem vou arriscar.

– Talvez você devesse... É a sua felicidade, não é? – Ela torceu os lábios.

– Sim, mas estou feliz assim também.

– Não, você está somente... satisfeita. – Ela me encarou profundamente. – Você era feliz quando estava com ele, cow. Você deveria se ver naquela época. Você estava muito muito feliz, irradiava felicidade.

– Pare de fazer chantagem emocional. – Revirei meus olhos.

– Que seja. – Ela também revirou os olhos. – Só estou dizendo a verdade.

– A verdade é que eu não quero nem pensar nisso, porque tudo o que eu mais desejo é poder voltar para Taylor. Satisfeita? Vamos mudar de assunto, pois não vou ter uma recaída.

– Você não quer mais voltar ao tempo, certo?

– Exatamente. – Fechei o assunto quando Taylor se aproximou com Kellan.

– Hey, boys, vamos comer. – Bella deu um sorriso provocante para Kel. Ou seja, ela ia acabar pegando ele.

– Comer comida, não comer a Bella – brinquei, fazendo os dois rirem.

– A Bella só pode ser comida em Porto Seguro, né? – Taylor entrou na brincadeira.

Isso me fez dar uma super risada e me senti um pouco a velha Isa, principalmente quando tive que me apoiar em T. para não cair de tanto rir.

– Você é hilário, Tay – consegui falar, depois da crise.

– Esqueci o tanto que vocês dois juntos são insuportáveis. – Bella revirou os olhos, meio que abraçou Kellan e foi pedindo o seu lanche.

Taylor deu de ombros para mim e eu fiz a mesma coisa, soltando mais uma risadinha.

– E você, pretende ser comida em Porto também? – ele começou a falar, mas ficou sério. – Ah, é. Você tem um namorado agora... Não precisa estar em Porto Seguro para ser comida.

Eu entendi o que ele quis dizer. Entendi na hora. Ele estava errado, mas, mesmo assim, abaixei a cabeça com vergonha, no primeiro momento.

– Foi só uma brincadeirinha, Isa – Taylor disse, pensando que havia me magoado.

– Não é por isso... – Soltei uma risadinha sem graça, conseguindo finalmente olhar para ele. – Meu namoro não é assim como você está pensando... Eu e Ian nunca... – Fiz um silêncio sugestivo.

– O quê? – Taylor meio que gritou, abaixando a voz na mesma hora. – Se eu e você não tivéssemos... dormido juntos... no NR, você ainda seria virgem?

– Sim – admiti.

Ele ficou um tempo infinito me encarando, com uma expressão muito diferente que eu não conseguia adivinhar o que significava. Sim, eu o conhecia mais que tudo, mas ele também sabia ser enigmático.

Taylor's POV

Eu não sabia mais o que eu tinha que fazer ou falar. Só conseguia ficar olhando para Isa e me controlando para não dar um beijo naquela boca maravilhosa e pegar a garota para mim, para sempre.

Ela namorava há dois anos e nunca tinha dado para o namorado.

A única vez que ela transou com alguém foi comigo.

E agora estávamos ali novamente.

Era como se tudo isso significasse que Isa era realmente para mim.

– Eu juro por Deus que se você continuar me olhando assim vou lhe dar um chute no estômago. Um chute bem dado que eu venho treinando nas aulas de boxe – Isa ameaçou.

– Hmm, você faz boxe agora? – perguntei, tentando sair do meu transe e prestar atenção naquela garota, que ainda seria minha novamente. Um dia.

– Comecei ano passado. Você precisa me ver lutando. Sou foda. – Ela fez uma dancinha muito igual do vídeo dos "Avassaladores" com a música "Sou foda".

– Você também, não – reclamei. – Essa música não sai da minha cabeça!

– A melhor é a resposta! Eu posso cantar para você? Sei a letra inteirinha! – Então ela começou a cantar a versão sertaneja da música "Coitado": "Coitado, se acha muito macho, sou eu que te esculacho, te faço de capacho. Se acha o bicho. Nem era tudo aquilo que contava pros amigos. Eu sempre te defino: Desanimador, prepotente e arrogante...".

– Isa, você é absurda.

– Eu sei. – Ela sorriu para mim e eu tive que me controlar novamente.

– O casalzinho vai querer comer o quê? – a atendente perguntou, deixando Isa totalmente constrangida.

– Nós não somos um casal – ela contradisse.

– Vamos querer um X-frango, obrigado. Amor, não fala assim, você já me perdoou por sexta. Somos um casal novamente – falei bem seriamente, imitando direitinho.

Isa revirou os olhos para mim, sabendo que eu estava zoando com todo mundo.

– Vai brincando... Alguém escuta, acredita e já era meu namoro com Ian – ela reclamou.

– Hmm, agora pode me falar o ponto negativo. – Balancei as sobrancelhas para ela, o que me fez ganhar um tapa no braço.

Isa's POV

– Isso não é engraçado – falei, tentando soar séria, mas rindo pra caramba por dentro. Algo tipo: OSUHDSUHDUSHDUSHDUHSUDSHDUSUSHDUSHDUSHDUSHDUSHDUSHDUSHDUSHDUSHDUSDUHSDUSHDUSDUSDHSUHDHSDUSDUSHDUSDUHSSUHDUSHDUHSUDSUDHSUHDSUHDUSHDUSHUSHDSUHDSUHDUSHDUHSUHDUDSH.

– Eu sei que você gostou – provocou, pegando nossos lanches e me seguindo até a geladeira. Peguei uma Coca para mim e uma Fanta para ele e fui em direção à mesa em que Bella estava com Kel.

– Olha aqueles dois... Vão se pegar daqui a pouco, quer apostar? – mudei de assunto.

– Não aposto nada, não, tá doida?

– Hmm, demoraram para arrumar esse lanche, hein? – Bella me olhou maliciosamente assim que nós dois nos sentamos. – Ian deveria se preocupar?

– Nem um pouco – respondi, dando uma mordida no meu X-frango. – Não voltei ao passado.

– Ainda – Taylor disse, me surpreendendo totalmente. Pensei que eu estivesse falando numa linguagem que só Bella e eu fôssemos entender, mas ele parecia estar sacando tudo.

Bella fez um toquinho com ele e eu só revirei os olhos.

– Vocês são tão engraçados... – Continuei comendo.

Bem, acabou que depois de acabarmos de almoçar fomos parar em umas prateleiras cheias de ursinhos de pelúcia. E Taylor sabia mais do que ninguém que...

– Ursinhos de pelúcia são o fraco da Isa – ele comentou, pegando um leãozinho e mostrando para nós três. – Principalmente vaquinhas e sapinhos.

– Você já começou a falar no diminutivo igual à Bella? – brinquei, tentando desviar a atenção desse outro detalhe que ele conhecia de mim: minha paixão por brinquedos. Será que ele estava me provocando para valer ou era sem intenção?

– Ah, a gente acaba pegando essas manias, né? – Ele deu de ombros.

Em dez minutos, todo mundo estava dentro do ônibus de novo. Kellan voltou a se sentar com a garota lá, Bella voltou a se sentar com o garoto lá e, bem, eu era meio óbvio.

– Então acho que vamos ficar sentados juntos até a próxima parada – Taylor comentou, relaxando ao meu lado.

– É. – Fingi que nem estava ligando, mas não era bem assim.

Deu que conversamos e nos divertimos muito, porque o que Taylor mais sabia fazer (depois de me seduzir) era brincar. Quando o ônibus parou para a segunda parada, ele estava deitado no meu colo e eu estava mexendo no cabelo dele. Eu não conseguia evitar me sentir assim, próxima a ele, como se a gente ainda namorasse.

– Hora de irmos fazer um xixi – Bella chegou falando, atrapalhando o clima.

Eu a encarei.

– Vocabulário interessante – ironizei.

– Não quero sair daqui – reclamou Taylor.

– Imagino que não, mas aposto que se você ficar com vontade de ir ao banheiro não terá problemas em ir ao banheiro do ônibus, o que não é o caso da Isa, já que ela é uma garota, ou seja, não usa banheiro de ônibus. – Ela revirou os olhos, tirando-o do meu colo. – Vai logo, preguiça.

Eu me levantei em seguida, mas não deu tempo de falar nada, pois Bê já foi me carregando para o banheiro.

Acho que você está meio apertada – brinquei, rindo.

– Isa, é sério. Você está namorando, não devia ficar desse jeito com ele – disse seriamente, baixo, para que ninguém ali ouvisse.

– Fala sério, Bella. Não é como se eu fosse trair Ian. Eu não vou ficar com Taylor, por meu orgulho.

– Mesmo assim, Isa... Todo mundo no ônibus está vendo a intimidade que vocês dois tem um com o outro! Mesmo que vocês não estejam se pegando ali na frente de todos, dá para ver que vocês já tiveram alguma coisa. Como eu já disse, você fica radiante quando está com ele. Só estou falando que o pessoal pode ir comentando essas coisas com Ian e você vai ficar com fama de puta. Aposto que você não quer essa fama de novo.

– Com certeza não – respondi. – Mas eu não consigo, Bê. Quando estou perto dele, tudo é diferente. Você viu o tanto que ele está mais bonito do que quando tinha 14 ou 15 anos? Ele está mais alto, mais forte, mais homem. A voz mudou, o queixo endureceu. Ele é perfeito, pode ter todas, mas ainda assim continua gostando de estar comigo. Às vezes penso se eu vou conseguir me livrar dele nos meus pensamentos e é impossível achar uma resposta... Sabe, a culpa é toda sua! Era para você estar sentada ao meu lado!

– Pior é que é verdade. – Ela suspirou. – Vou mudar meu lugar.

No momento em que a gente estava saindo, ela se abaixou para cochichar mais alguma coisa no meu ouvido.

Quando eu me aproximei de vocês dois lá no ônibus, agora a pouco, eu vi o tanto que vocês ficam lindos juntos. Você costumava ficar mexendo no cabelo dele enquanto ele estava deitado no seu colo na época em que vocês namoravam – lembrou.

Só a encarei, com uma cara de você realmente não está ajudando em nada.

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