O MAR

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Capítulo 8 – O Mar

Jimin havia surtado no dia seguinte. Havia acordado sem camisa ao lado do agente, na cama que deveria ser do russo. O príncipe teve uma síncope nervosa, não conseguia acreditar em tudo o que tinha feito, queria acreditar que suas memórias eram apenas fantasias ou sonhos, mas no fundo sabia que eram reais.

Odiou a bebida, a dor de cabeça e suas atitudes, se odiou por tudo o que havia feito e depois odiou sua vida. Tomou um banho quente para tentar limpar todas as lembranças das mãos do Russo em seu corpo e dos beijos calorosos em sua pele, mas nada parecia apagar aquilo da sua mente.

Então, depois de vestido, subiu até a igreja falsa e sem se importar com a veracidade do lugar, rezou por perdão. Se confessou para Deus e implorou para que aquilo não fosse algo real ou com significado, para que Lady Lithford o perdoasse e que conseguisse voltar para ela e viver ao seu lado. Pediu para que aquele pequeno contratempo, como preferiu chamar, não fosse de grande significado, mas bastou o Russo acordar e o encontrar ajoelhado no meio da catedral, que o inglês percebeu que havia perdido algo.

O olhar do agente era ligeiramente divertido, como se não entendesse o que o menino estava fazendo ali, mas logo terminou de se aproximar se sentando no banco ao lado do príncipe.

– Veio confessar os seus pecados? – Questionou com certo humor e Jimin apenas se focou no vitral, sem saber o que fazer. – Esse lugar é falso, se existe mesmo um Deus, ele não vai te ouvir daqui.

– Por que você parece tão calmo? – O menino questionou confuso. Ele não deveria no mínimo estar tão ou mais irritado? – Se lembra do que aconteceu ontem?

– Perfeitamente. – O agente concordou travando o maxilar enquanto analisava o inglês ainda ajoelhado. – Eu só não costumo voltar atrás na minha palavra. – O príncipe ponderou sobre aquilo e se lembrou que o Russo havia prometido não o odiar ou jogar a culpa sob ele. Certo. Era isso que o agente estava fazendo então. Tudo bem, afinal. – Qual o problema?

– Qual o problema? – Jimin questionou perplexo com a pergunta. – Está mesmo me perguntando qual o problema? – Disse de forma chocada, completamente inconformado com aquilo. – Eu sou noivo. Vou me casar em breve, com uma mulher maravilhosa que merece respeito acima de tudo e ontem eu estava em cima do senhor como se eu fosse uma... uma dançarina noturna ou... eu sei lá o que. – Disse de uma vez, rápido e nervoso. – Eu não sei o que fazer. – Murmurou e o agente concordou.

– Não sabe o que fazer porque se sente culpado ou porque gostou? – Jimin o encarou ainda mais ultrajado com o questionamento, mas ao olhar o russo notou que realmente não tinha uma resposta para aquilo. A resposta certa era pela culpa da traição, essa era a resposta que ele deveria dar, mas não era a resposta verdadeira.

A verdade era que havia gostado e não sabia o que fazer porque como poderia voltar para Liz depois de ter vivido aquilo? Como dormiria ao lado dela e teria filhos, se sempre pensaria naquilo? Fechou os olhos, se recusando a responder, se odiando por saber que aquilo por si só já era uma maldita resposta.

– Então pretende passar o resto do dia ajoelhado em uma igreja falsa, confessando pecados reais? – Questionou para o príncipe, que novamente não respondeu e isso fez o russo rir. – Eu até chamaria Yoongi para te ouvir, se não soubesse que a lista de pecados dele faria os seus terem pesadelos.

– O que veio fazer aqui? – Questionou se sentindo frustrado por não poder ficar sozinho. Será que aquele homem já não tinha o bagunçado o suficiente?

– Vim te chamar pra comer algo. – Explicou. – Taehyung está fazendo um caldo no fundo da igreja e depois poderíamos dar uma volta no mar e eu te mostraria onde fica a sauna russa, mas se prefere ficar e rezar. – Lançou a isca, se preparando para sair, mas viu pela visão periférica o menino se levantando.

– Iria me levar para ver o mar? Tipo de perto? – Questionou curioso e surpreso, fazendo Jungkook sorrir convencido, porque no dia anterior Jimin havia comentado que nunca havia tido permissão para tocar o mar de verdade e que seria algo que queria fazer, mesmo com o agente lhe avisando que a água era fria.

– Iria, mas pensei que estivesse ocupado. – Jimin o encarou suspirando, para logo encarar o vitral, sentia que estava sendo arrastado da igreja pelo próprio demônio, que havia vindo pessoalmente o tentar, mas era fraco o suficiente para recusar.

– Eu estava. – Comentou derrotado. – Mas iria me arrepender se não fosse. – Admitiu, triste consigo mesmo e ao voltar a olhar para o homem, notou que ele também o encarava.

– Vai gostar da água gelada, ela ajuda na circulação, mas antes deveríamos comer alguma coisa. – Avisou, dando espaço para o príncipe passar e levou a mão até suas costas, mas Jimin se afastou, assustado.

– Não... – Suspirou, parando de falar na metade. – Jun, isso é meio complicado agora. Eu tô tentando resolver algumas coisas aqui. Preciso de distância entre nós. – O inglês tentou explicar de forma nervosa e meio sofrida, mas o agente apenas sorriu de lado, achando adorável de uma forma perturbadora e silenciou todas as vozes em sua cabeça que falavam o contrário.

– Não consegue resolver essas coisas comigo por perto? – Questionou sabendo a resposta e o príncipe bufou. – Eu poderia lhe ajudar a resolver elas. Também tenho algumas questões que acho que podem ser resolvidas aqui. – Jimin o encarou por alguns poucos minutos, os olhos do agente eram de longe o que mais o atraiam, era como cair de cabeça em um maldito abismo e Jimin odiava sentir que gostaria de se jogar de lá.

– Qual é a sua questão? – Perguntou em um tom de voz baixo, curioso em saber o que o agente poderia ter para resolver.

– Bom, particularmente, eu gostaria de não ter nenhuma trava, já lhe falei sobre isso algumas vezes e sendo prático, depois de ontem acho que ficou bem claro pra mim que não estou totalmente pra mulheres, o que explicaria muito todas as lembranças que eu tenho. – Jimin se arrepiou. Porque aquilo tinha seu sentido.

Se quando mais novo o agente havia mostrado qualquer demonstração, mesmo que mínima, de sentir atração por homens ou até mesmo coisas mais simples, como ser um pouco mais delicado, isso devia ter sido tratado com violência e opressão.

Talvez Jungkook não estivesse o chamando de Bicha por achar que ele fosse gay e sim por Jimin despertar pensamentos gays nele. Aquilo fazia certo sentido e o pensamento o deixou arrepiado.

– Quer minha ajuda pra ter certeza? – Sua pergunta era baixa e um tanto fragilizada, porque ajudá-lo seria sua ruína, mas assistiu o homem pensar por alguns segundos antes de concordar dando de ombros.

– Pode pensar assim se quiser, mas eu gostaria apenas de voltar a agir normalmente, se possível. – Jimin suspirou ao ouvir sua frase, ele estava certo, estava sendo ridículo. Haviam se beijado algumas vezes, mas isso era tudo, não era o fim do mundo, não precisava surtar assim.

– Está certo. Posso fazer isso. Agir normalmente. – Disse sem muita confiança. – Vamos comer e depois ir até o mar. – Resmungou para si mesmo, enquanto caminhava para o lado de fora da igreja, com os pensamentos longe e não demorou muito para avistar os cabelos de fogo de Taehyung.

– Oh, majestade. Bom dia, acordou cedo. – Cumprimentou ao ver o príncipe se aproximar e Jimin sorriu, encantado com o bom humor do homem.

– Bom dia. Estou acordado a um tempo. Estava na igreja. – Contou.

– Ah. Nós também estávamos aqui. Yoongi estava até agora assistindo a luta na TV do quartinho. Se soubéssemos que tinha subido poderia ter se juntado a nós. – Jimin abriu a boca para comentar, mas a fechou em seguida ao ouvir a risada do agente ao seu lado. Era um padre falso, em uma igreja falsa, ele poderia assistir violência na televisão se quisesse, não tinha problema nenhum.

– Eu não queria incomodar. – Resmungou se sentando na mesa pequena e se encolheu ao ver o agente se sentar ao seu lado, pegando uma vasilha grande e começando a lhe servir o caldo quente. – Dormiram bem?

– Depois da segunda garrafa a gente desmaiou. – Taehyung resmungou rindo. – Fazia tempo que eu não bebia tanto assim, mas com Yoongi é sempre divertido.

– Onde ele tá falando nisso? – Jungkook questionou olhando em volta enquanto colocava a vasilha de comida na frente do príncipe. – Não vi ele desde que acordei.

– Ele está na estufa. Parece que faz parte do papel dele de padre bonzinho ou algo assim. – Resmungou rindo. – Logo, logo ele tá de volta. Ontem ele me contou algumas coisas sobre o tempo dele aqui e tem sido um verdadeiro porre. Entendo o cara.

– Eu já teria enlouquecido. – Jungkook admitiu olhando o lugar monótono e sem nenhuma alma viva. – Imagina viver aqui sozinho durante tanto tempo.

– Ninguém vem visitá-lo? – Jimin questionou olhando em volta e Jungkook negou.

– Não. Estragaria o disfarce. É pra ser um refúgio. Apenas vem aqui quando estão fugindo.

– Ou pra trazer suprimentos. – Taehyung relatou, já que era o agente que mais vinha visitar Yoongi.

Jimin concordou encarando seu prato de caldo e logo começou a tomar, a aparência não era das mais apetitosas, mas surpreendentemente, era delicioso. Estava a poucos dias ali, mas estava aprendendo a gostar da culinária, mesmo que sentisse uma saudade absurda de um bom chá e uma torta caseira.

– Olha só, se não é o nosso querido padre. – Jungkook zombou ao ver Yoongi passar pela porta e Jimin o acompanhou com os olhos ao ver o homem de batina passar pelo salão, carregando uma garrafa de bebida em uma mão e um monte de plantas na outra.

– Cala boca, idiota. – Resmungou colocando a garrafa na mesa. – Eu só achei essa, Taehy. – Avisou ao outro agente e logo se sentou. – Eai, dormiram bem? Eu passei lá de manhã, mas a porta tava trancada. – Jimin arregalou os olhos ao escutar o padre e se engasgou com o caldo, tossindo compulsivamente. O agente, preocupado, deu tapinhas em suas costas enquanto respondia.

– Eu fechei por segurança. – Disse indiferente. – Eu vi você tentando abrir, mas ignorei, tava muito cedo e ele tava dormindo. – Yoongi deu de ombros enquanto encarava o menino tossindo.

– Tá tudo bem? Precisa de água? – Jimin negou.

– Nós não estávamos fazendo nada. Apenas dormimos tarde e... – Começou a se justificar, como se precisasse e o agente 16 não pode deixar de achar aquilo adorável porque era como se estivesse gravado na personalidade de Jimin ter que se explicar por coisas que não desrespeitavam a ninguém além dele mesmo. – Acabamos perdendo o horário. Eu subi pra rezar assim que acordei, mas não te achei.

Eu duvido que Yoongi saiba rezar. – Jungkook alfinetou e Jimin lhe olhou feio por falar aquilo para um padre.

– Eu aprendi para o disfarce. – O homem rebateu. – Mas ele está certo, eu não sabia até um tempo atrás. – Deu risada. – Minha oração é tão decorada que não chega no teto. – Jimin o encarou prendendo o fôlego, chateado consigo mesmo por ainda não ter aceitado que aquilo era falso.

– Tudo bem. – Disse mais para si mesmo.

– Iremos terminar de comer e eu vou levar ele para ver o mar, depois vou preparar um banho russo. – Jungkook avisou e os dois amigos o encararam.

– Boa sorte. A cabine de banho funciona, mas nesse frio eu não vou lá nem fodendo. – Yoongi resmungou se servindo do caldo. – Taehyung vai ficar também, preciso dele pra me ajudar a conferir o inventário.

– Eu queria ir no banho. – Resmungou para contrariar, sem um real interesse.

– Você não veio aqui a passeio. – Implicou. – Vai ficar e trabalhar.

– É por isso que ninguém te visita, Yoongi. Você é um pé no saco. – O de cabelo vermelho resmungou engraçadinho e bastou isso para todos entrarem em uma conversa animada enquanto voltavam a comer.

Assim que terminaram e lavaram a louça, Jungkook guiou Jimin até o lado de fora, onde dava para sentir a maresia e o cheiro do mar. O barulho das ondas batendo nas pedras causava uma sensação gostosa em Jimin e aquilo fez o príncipe sorrir, estava animado e ansioso. Nunca havia tido permissão para ver o mar de perto, ainda mais sozinho, sem a companhia de toda a guarda da rainha.

O agente o acompanhou de longe, apenas o indicando onde era um lugar seguro para molhar os pés, já que achava pouco provável que a flor inglesa conseguisse mergulhar mais do que apenas aquilo, também o levou para perto de onde ficava a casa de banho, para que pudesse preparar a sauna e colocar o banho ferver.

Observou o homem a sua frente e como ele parecia animado e encantado com a água, bufou com as lembranças da noite passada, quando suas mãos estavam enfiadas nos cabelos loiros e tinha total acesso ao corpo bonito da bicha no seu colo. Se lembrou de quando o príncipe arrancou a própria camiseta e a jogou longe e de quando pôde ver a pele clara e sem marcas sem a proteção de nenhuma roupa, se odiou por gostar daquilo, mas era inegável que havia gostado.

Se lembrou de como a boca do inglês ficou vermelha e inchada após alguns minutos de beijos fortes e se odiou ainda mais por imaginar coisas ainda mais cruéis e perversas com aqueles lábios. A maldita bicha sabia como provocar pensamentos em outros homens, não tinha como negar.

– Jun, aqui é seguro? – Escutou a voz melodiosa e procurou pelo homem, logo o encontrando a poucos metros na frente, apontando para o mar.

– É. Pode tirar os sapatos e levantar a barra das calças, mas fique na beirada, o mar vai te puxar pro fundo. – Alertou. – A casa de banho é logo ali na frente. Eu vou colocar a água para ferver e já venho para ficar com você. – Avisou enquanto mostrava a casa de madeira escondida atrás de algumas pedras a poucos passos de distância.

Jimin concordou, logo arrancando os sapatos enquanto observava o agente se afastando. Colocou o pé na areia gelada e se arrepiou ao sentir o gelo que estava ali, imaginou que seria muito mais fácil fazer aquilo no verão e na própria Inglaterra, mas não teria outra oportunidade como aquela. Respirou fundo encarando a água e em um pico de coragem deixou a onda tocar seus pés, era como mergulhar no gelo puro, mas tinha gosto de liberdade.

Um riso feliz e um pouco histérico saiu da sua garganta e logo outra onda o atingiu, com mais força, molhando a barra da sua calça e a explodindo na sua roupa, Jimin até tentou colocar a mão na frente, mas a onda era violenta e agressiva e também não era como se ele ligasse totalmente para aquilo, estava feliz demais para se importar ao todo.

De longe, o agente o observava. A água do banho já fervia e a fumaça já servia para a sauna, logo poderiam entrar ali e se esquentar, mas por hora, estava distraído observando aquele homem que parecia curtir seu momento de liberdade com a euforia de uma criança descobrindo algo novo.

Gostava daquilo, gostava de ver o homem livre e feliz, algo em seu peito se enchia ao ver aquilo e não poderia ignorar aquele momento. Caminhou para perto do inglês com um sorriso bobo que a muito tempo não tocava seu rosto.

– Vamos. O banho está pronto. Vai acabar doente se continuar nessa água fria. – Avisou, vendo o loiro rir enquanto o olhava.

– Isso é divertido. – Jimin afirmou rindo. – Mas tá gelada como o inferno. Vocês costumam entrar aqui?

– Às vezes. – Deu de ombros. – Você se acostuma. – Jimin concordou, logo saindo da água e indo para perto do agente. – Vá para dentro da sauna. Lá tem água quente e vapor, vai te esquentar. – Jimin o encarou por alguns segundos, imaginou que o agente entraria com ele, já que a casa de banho era compartilhada, mas talvez aquela não fosse a melhor ideia do mundo, então apenas ficou em silêncio e concordou, indo para o lugar indicado.

Talvez o agente tivesse finalmente entendido que precisavam de certa distância. 


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