O CASAMENTO
Aquela dose de depressão diária.
Boa leitura, comentem bastante.
Capítulo 13 – O Casamento
Jungkook sentia seu interior se revirando ao ver a igreja cheia de flores e as pessoas com chapéus enormes e vestidos bufantes, a música clássica também não ajudava e tudo parecia conspirar para seu mal-estar naquele maldito dia.
Jimin havia cancelado seus serviços como acompanhante particular, então estava na patrulha do casamento, observando o casamento de longe, de um lugar onde Jimin não poderia o ver, mas que mesmo assim o permitisse estar presente.
A uma hora dessas, Jimin deveria estar no quarto de preparação, dando os últimos retoques antes de finalmente entrar no desfile que o levaria até a igreja. O carro seria fechado e aprova de balas, dado os últimos acontecimentos e o histórico da família e o público entendeu e aceitou a decisão da família real.
Jungkook queria acompanhar o trajeto e quem sabe até o desfile, mas Jimin foi totalmente contra. O príncipe realmente não estava facilitando naquele dia. Pediu que o agente ficasse afastado e Jungkook optou por esperar na igreja, sendo o melhor que conseguiria naquele dia.
Agora, se posicionava e espiava para garantir que nada de suspeito pudesse estar acontecendo por ali, mas fora as pessoas estranhas e falsas da realeza, nada fora do normal acontecia.
Viu outros agentes e pessoas da segurança, que imaginou terem sido contratados pela própria rainha, alguns funcionários da igreja transitando de um lado para o outro e o padre verdadeiro que parecia nervoso com toda a movimentação em sua igreja.
Respirou fundo, segurando a arma na cintura e tentando se concentrar no serviço. Em uma outra vida, Jimin seria seu e isso era tudo o que poderia dizer agora para se consolar, porque sentia que nessa não tinha o que ser feito.
No palácio, Jimin se olhava no espelho uma última vez, a coroa era pesada e machucava sua cabeça, mas quando olhava de fora, parecia bonita e uma jóia deslumbrante que causava desejo em todos.
Seu pai havia morrido por ela, porque alguém queria a maldita coroa. Seu tio havia tentado o matar porque queria roubá-la e Jimin se perguntava se algum deles, se qualquer um deles, que tanto almejavam ela, imaginavam o fardo que vinha junto? Todos os sacrifícios e desejos renegados, a privação de uma vida toda e o silêncio agonizante de um sorriso falso que nunca pode se calar.
Eles queriam algo sem saber o que era, porque se soubessem, desejariam nunca ter.
– Está pronto? O carro já está lhe esperando, querido? – Escutou sua avó lhe chamando e se assustou porque ela não costumava vir pessoalmente.
– Estou. Eu só...
– Está mais triste do que eu esperava. – Sussurrou sentida.
Abigail sabia que o casamento não era sua vontade, bom, também não era da vontade dela e se não fosse o maldito contrato e o parlamento, não obrigaria Jimin a fazer algo como aquilo.
Ela melhor do que ninguém sabia como era a vida de um herdeiro. O que era ser uma moeda de troca.
– Sinto como se estivesse indo pra forca. – Comentou mórbido. – Liz é ótima, minha melhor amiga, mas eu não a amo.
– E tem alguém que você ame? – Questionou se aproximando do neto, vendo o mesmo olhar que tinha no rosto do seu filho quando ele admitiu amar uma mulher que não era inglesa.
– Isso não importa. Nunca importou. – Jimin negou, desviando o olhar. – Se eu amo alguém ou não, meu destino está escrito e não tem como mudar. Não sou eu quem decide e eu sempre soube que seria assim. – Respirou fundo, conferindo o broche real em seu terno, tentando segurar as lágrimas enquanto caminhava até a porta. – Eu deveria ter sido mais cuidadoso desde o começo e não ter deixado chegar tão longe, mas eu deixei e vou pagar pelo meu erro. Isso é tudo. Agora temos que ir. Liz pode se atrasar, mas eu não.
Abigail observou o neto sair da sala com a certeza de que Jimin carregava mais peso do que admitia e que assim como seu filho, havia se apaixonado por alguém que tinha medo de assumir aos holofotes.
Um de seus maiores arrependimentos em vida sempre seria não ter apoiado seu filho, que o único pecado foi amar alguém de outra nação. Se pudesse voltar no tempo, ter ele em seus braços, faria diferente, teria lhe apoiado e feito de tudo para ajudar, não teria dificultado tanto e talvez assim, seu filho ainda estivesse vivo hoje.
Sabia que a culpa não era sua, mas às vezes imaginava como teria sido se ele tivesse tido seu apoio quando precisou. Naquele momento, vendo Jimin sair daquele quarto com o coração quebrado, se perguntou se não estava cometendo o mesmo erro, se no futuro não iria desejar voltar no tempo e mudar os seus atos.
Salvar o seu neto.
Levantou a cabeça e respirou fundo, tentando pensar no que poderia ser feito, estava em cima da hora e Jimin nunca contava nada, nunca se abria ou demonstrava o que estava sentindo de verdade, não para ela.
Sempre tinha medo de decepcionar ou de não ser o esperado, de ser um fracasso ou menos do que perfeito, o que era impossível, porque aos olhos dela, nada era melhor do que Jimin, só ele não via isso.
Desceu as escadas atrás do neto e o seguiu até os carros que os esperavam, o trajeto até a igreja não era longo, mas havia sido interditado para a passeata e nas calçadas o povo esperava para ver os carros da realeza passando, como um verdadeiro desfile, todos animados e entusiasmados com o casamento dos futuros reis da Inglaterra.
Jimin observava o povo acenando e nem ao menos poderia abrir os vidros do carro para acenar de volta, por segurança, crianças com bandeirinhas e adultos com placas desejando votos felizes aos noivos.
A frente da igreja estava cheia de jornalistas e carros chiques de outras famílias importantes da nobreza e um longo tapete vermelho de veludo lhe mostrava o caminho. Uma faixa delimitava até onde os jornalistas poderiam ir sem atrapalhar os convidados do casamento, deixando a área de entrada da igreja livre para circulação.
E assim que o carro da Rainha parou, flashes de câmeras foram disparados e ela pode então passar pelo tapete, entrando na igreja acompanhada pela sua guarda pessoal, até o seu lugar no altar.
O carro de Jimin foi para frente e assim que sua porta se abriu, o homem desceu, se sentindo pequeno e indefeso, observado pelo mundo de uma forma que não gostaria. Sorriu para algumas câmeras, cumprimentou com um meio sorriso distante pessoas que não conhecia, e logo foi para dentro, também se posicionando no altar a marcha de uma música bonita.
Todos os convidados se levantaram para o ver ir até o padre e Jimin se sentiu intimidado e nervoso, mas não era a sensação que esperava para o dia. Não procurou ao redor, porque sabia que ele estava ali em algum lugar e não queria o achar.
– Príncipe Park, fui avisado de que o carro de Lady Lithford acabou de chegar. – O Guarda o avisou.
– Obrigado, senhor.
Jimin respirou fundo. Liz sonhava com o dia do casamento. Em entrar na igreja e ser coroada Rainha, era o que ela planejava desde os 15 anos quando os dois se sentavam no intervalo das aulas de piano e ela lhe contava seus planos para o grande dia.
Os planos começavam e terminavam com a festa, era tudo o que ela queria, uma grande festa, então Jimin esperava que ela estivesse feliz com o dia, mas assim que a marcha no piano começou a ser tocada e o público se levantou para sua grande entrada, Liz não parecia feliz.
Tudo estava perfeito. As flores eram lindas, o vestido era deslumbrante e ela estava impecável, tudo estava perfeito como ela sempre havia sonhado, mas ela não estava feliz. Sentiu os Flashes disparando por todos os lados e seus olhos procuraram por Jimin, seu melhor e único amigo naquela vida.
O único homem que conhecia seus medos e segredos, o homem que esteve ao seu lado durante o enterro do seu pai e segurou sua mão quando sua mãe a soltou, o homem que dançou sua valsa dos 15 anos e que entrou consigo na formatura do ensino médio. Jimin era sua pessoa no universo. A pessoa mais importante no mundo pra ela.
Mas não era boba, sabia que o sentimento que tinham um pelo outro não passava de amizade e nunca passaria, sabia que aquele casamento era uma loucura e durante seu tempo na faculdade havia feito de tudo para tentar cancelar o contrato, salvar Jimin dele, mas o Parlamento alegava que o Príncipe não poderia reger sozinho.
Fingia estar bem com ele para que Jimin não se sentisse mal, mas agora, diante do altar, era impossível esconder a exaustão, o medo e a tristeza de ter fracassado com ele, de ter condenado a vida dele aquilo, se sentia culpada, porque se não fosse seu pai e a maldita ganância dele, não existiria contrato e Jimin estaria livre, mas agora estavam condenados um ao outro.
Assim que terminou o trajeto até o altar e teve sua mão conectada a Jimin, sentiu o olhar dele a questionando sobre todos os sentimentos visíveis e a mão trêmula e suada, mas apenas fingiu não ver.
O padre começou a falar, todos se sentaram e apenas alguns flashes eram disparados, Jimin não conseguia prestar atenção em uma palavra sequer do que era dito, porque sua cabeça rodava e nada parecia consistente naquele momento.
Sentiu um nó na garganta, seus lábios tremeram e apertou com mais força as mãos de Liz quando a primeira lágrima escorreu. Estava tudo bem. Estava tudo bem. Não tinha por que chorar, metade dos herdeiros daquele lugar não tinham a sorte que ele tinha. Estava tudo bem. Ele sabia o que era amar e ser amado. Ele sempre poderia fechar os olhos e se lembrar das palavras e, mesmo que Jungkook nunca mais fosse lhe tocar como homem, ele ficaria na Inglaterra, havia prometido ficar, poderia sempre o ver e repetir que o amava.
Era egoísta, já que Jungkook o veria constituir família com Liz e Jimin havia lhe dito que seria melhor para Jungkook voltar pra Rússia, mesmo que não fosse o melhor para ele, mas o agente havia negado, não iria, sairia da KGB se fosse necessário, mas não iria para lugar nenhum. Não iria desgrudar os olhos do loiro.
Jimin sabia que ter Jungkook por perto todos os dias apenas o lembraria do que nunca seria seu e naquele momento, estava odiando ter que jurar lealdade e fidelidade a Liz perante a Deus, porque Liz nem sequer queria aquilo de uma forma romântica, mas em um outra vida, Jungkook seria seu homem e então eles seriam felizes.
– Jimin, tem que falar aceito. – Liz sussurrou com a voz embargada em um choro preso, acordando Jimin de seus pensamentos, que olhou para os lados assustado por um minuto e viu pelo canto do olho, o agente que rondava o seu lado.
Sentiu sua mão tremer vacilando. Era só uma palavra, uma palavra e estava feito sua parte, todos ficariam felizes e poderia enfim terminar aquela maldita sessão de tortura. Era só isso que precisava ser feito.
Escutou alguns gritos e um barulho alto, Eliza soltou sua mão para se virar para a multidão, alguns guardas a puxaram e Jimin sentiu alguém o puxando, quando um segundo barulho ecoou e um zumbido chato explodiu em seu ouvido, um pouco antes de um corpo pesado cair sobre o seu.
Ele não entendeu o que estava acontecendo até associar que o som havia sido de um tiro e que o zumbido no seu ouvido indicava que havia sido de muito perto.
Percebeu que estava no chão, quando suas costas doeram e seus olhos se abriram de forma lenta porque sua cabeça doía, viu o rosto do agente sobre o seu e ele parecia agoniado.
– Eu falei que deveria ter vindo junto. – Jungkook resmungou irritado.
– Quer discutir isso agora? O que está acontecendo? – Jimin perguntou, olhando em volta ao ver a correria e os guardas levando um homem preso.
– Eu não sei, mas era apenas um atirador. Ele estava no meio da multidão, nas primeiras fileiras. Já o levaram sob custódia. – Explicou tentando se levantar, mas paralisou ao ver o terno branco do príncipe manchado de vermelho. – Você está bem? Tá sangrando. – Questionou em pânico crescente e Jimin olhou para baixo, não sentia dor além da pancada na cabeça com a queda e não tinha buraco de tiro.
Percepção brilhou em sua mente aos poucos quando consciência lhe atingiu e Jimin aos poucos foi trocando a posição dos dois, porque Jungkook parecia desesperado, em choque, com medo de que o príncipe estivesse machucado.
– Eu preciso de ajuda. – Jimin avisou para o guarda ao seu lado.
– Ajuda? Você se machucou? – Jungkook voltou a repetir, tentando se levantar, mas a poça de sangue crescia no chão.
– Não. Eu tô bem. Eu tô bem, Jun. – Jimin repetiu, sentindo os olhos arderem. – Fique acordado, okay? A ajuda vai chegar e nós vamos pro hospital. Acho que você foi baleado.
– Baleado?
– Acho que você pulou na frente da bala. Está sentindo dor? – O agente parou por um segundo, se deitando de vez no chão e olhando para o teto da igreja, segurando a mão de Jimin com força.
– Eu não sinto nada.
Jimin ofegou, mordendo os lábios para não chorar. Estava ajoelhado na poça de sangue e estava consciente de que sua avó e alguns convidados o observavam, o resgate já deveria estar a caminho e era questão de tempo até irem para o hospital, ele só precisava aguentar um pouco mais.
Deus, por favor, não. Isso não. Tudo menos isso.
– Não feche os olhos, Jun. – Pediu novamente ao ver ele quase perder a consciência.
– Ya chertovski lyublyu tebya – Jimin reconhecia a frase que Jungkook repetia em tom melancólico todas as noites.
– O que isso quer dizer? – Perguntou chorando, sem medo de que alguém visse suas fraquezas ou imperfeições, porque estava com medo, estava apavorado e não ligava pra mais nada.
– Significa que eu te amo para caralho.
– Eu também te amo, Jun. Porra. Eu te amo muito. Não faz isso. Não me deixa. – Jimin estava quase hiperventilando, quando o guarda chegou, com paramédicos e uma maca.
– A ambulância está esperando do lado de fora, Príncipe Park. Precisa soltá-lo para que eles possam levá-lo. – O guarda avisou, mas a avó, vendo a cena em pânico, saiu do meio dos próprios guardas e foi ao lado do neto, o ajudando a se levantar e o abraçando.
– Está tudo bem, Jimin. Iremos acompanhar o Agente 16 até o hospital.
– O nome dele é Jungkook. – Corrigiu em prantos, tentando controlar o choro soluçado e limpar o sangue das mãos. – Eu dei um nome pra ele, mas não pensamos em um sobrenome.
– Tudo bem. Jungkook. – Sua vó repetiu, o levando porta afora e percebendo que falar ajudava a distrai-lo, continuou. – O seu avô por parte de mãe era da dinastia Jeon, se eu não me engano. Pode usar o sobrenome de forma provisória para o registrar no hospital.
– Tudo bem. A gente pode ir? – Questionou um pouco bambo e se acalmou ao ver os paramédicos o levando, ainda consciente para a ambulância. – Onde está Liz?
– Ela foi levada em segurança para o palácio. Não vai haver casamento. Não depois de hoje. – A avó comentou pensativa o conduzindo para o carro com a ajuda dos guardas. – O homem que tentou atirar em você está sob custódia. Irá ser interrogado. Parece que esse inferno nunca tem fim.
– É porque não tem. – Jimin fungou entrando no carro e deu espaço para sua avó se sentar ao seu lado. Sentia as lágrimas escorrendo e sua cabeça latejando, mas não conseguia pensar em nada que não fosse ele. – Por favor, Deus.
– Ele parece ser muito importante pra você.
– Eu amo ele. – Confessou. – O amo mais do que tudo. Eu sei que não deveria e que vou me casar com Liz, mas me apaixonei por ele. – Não tinha coragem de olhar para sua avó, não queria ver a reação de desgosto e decepção no olhar dela, mas não queria esconder aquilo. – Eu não vou quebrar os meus votos ou trair a Liz, vou ser fiel até o meu último dia, vou seguir e fazer tudo o que vocês planejaram e esperam de mim, como tem que ser, mas eu amo ele. Ele não pode morrer.
– Jimin...
– Não. Não precisa falar. Eu sei. É o meu papel. Eu sou o futuro Rei e tenho um dever com o povo, não posso decepcioná-los. Não posso ser assim ou... Eu sei. – Suspirou. – Eu sempre soube. Jungkook foi como... eu não sei... foi como, foi inexplicável, simplesmente foi inevitável, não deveria ter sido, mas foi, tentamos impedir, mas não conseguimos, tentamos lutar contra, mas foi em vão. Ele disse que não conseguiríamos ficar juntos nessa vida, mas que na próxima iremos ser felizes juntos. Disse que morreria me amando, mas eu não quero que ele morra assim, não agora. Não era isso que era pra acontecer.
– Se acalma. Tá tudo bem, meu filho. – Sua avó o consolou, o abraçando como podia, sentia a dor do neto em cada palavra, o corpo todo do menino tremia e o choro convulsionava o corpo que naquele momento parecia pequeno e desamparado, como uma criança que havia acabado de perder tudo o que tinha. – Iremos dar um jeito. Ele vai ficar bem. Vamos fazer de tudo para salvá-lo. Ele terá o melhor atendimento do país. Dia e noite, até estar bem.
– Promete? – Jimin perguntou choroso. Nunca em sua vida havia cobrado uma resposta de sua avó, não havia a questionado sobre nada, nem sobre seus pais, ou sobre o casamento, ou sobre sua decisão de o ensinar em casa e sobre os bailes em que foi obrigado a ir, sempre abaixou a cabeça e obedeceu, mas naquela vez, apenas daquela vez, gostaria de ter uma resposta de verdade.
– Lhe dou minha palavra.
| Agente Russo |
Espero que tenham gostado, porque eu chorei.
FALTAM 2 CAPÍTULOS PARA O FINAL
Esse capítulo foi betado pela Karol bastos e pela eumamaopapaia as salvadoras da pátria e donas do meu coração.
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