INSULTADO
Resolvi atualizar, porque aparentemente, tem gente passando mal. Então comentem muito e boa leitura.
Capítulo 3 – Insultado
Jimin tentou não ter medo. Agarrado a sua mala, enquanto observava a vista do avião de carga. A mulher, que descobriu ser uma agente de apoio da KGB, pilotava o avião com tranquilidade, enquanto o homem ao seu lado servia de copiloto.
Ao príncipe, havia sido entregue um balde, para caso ficasse enjoado e uma corda para se amarrar a lataria do avião, já que não tinha cadeiras ou cintos de segurança. No começo, Jimin achou que era uma piada, já que era uma viagem de mais de seis horas, mas quando viu que era verdade, apenas respirou fundo, se preparando para o que estava prestes a acontecer.
O avião tinha um cheiro forte de ferrugem e alguma outra coisa que Jimin não tinha a menor ideia do que era. O menino sentia a corda machucando em volta da sua cintura, mas não ousou reclamar. Conseguia ouvir os dois agentes conversando em russo e a sensação de se sentir desprotegido era grande.
Estava indo para um lugar desconhecido, com pessoas que não conhecia. Pior, pessoas que não eram do seu país. Aqueles homens não serviam a coroa Inglesa, poderiam até mesmo trair a própria KGB e o vender para algum país. Jimin se sentiu impotente, fraco e desprotegido, entregue a própria sorte.
O agente 16 era um homem assustador na maior parte do tempo e mesmo que parecesse um dos homens de maior confiança do embaixador Russo, não era seu. Ele claramente era bom, a forma como manipulou e passou despercebido por todos até chegar na fazenda havia deixado aquilo claro, mas e se o seu plano era apenas tirar Jimin do país?
O herdeiro ainda não tinha pensado naquilo e agora que estava amarrado ao avião de carga, com tempo de sobra para pensar em tudo o que poderia dar de errado, teve tempo o suficiente para deixar as paranoias sobre todos os esquemas de conspirações que poderia estar acontecendo. Como o motivo do porquê estavam atentando contra a sua vida.
Seus pais haviam morrido durante um atentado quando ele ainda era uma criança. Não estava durante o desfile de independência e não viu quando aconteceu. Também não procurou pelo vídeo na internet, porque se recusava a ver o momento exato em que atiradores acertavam a cabeça dos seus pais.
Seu pai era o herdeiro do trono inglês, assim como ele, mas sua mãe era estrangeira, uma lady coreana. Sua vó nunca aprovou o casamento, odiava a mistura na linhagem e acreditava que um rei inglês deveria ser puro, mas sempre deixou claro que amou Jimin desde o primeiro segundo e que seu sangue era tão puro e azul, quanto o dela. Jimin era inglês e isso era tudo o que importava.
Agora parecia que tudo se repetia e novamente estavam atentando contra sua vida. Sabia desde criança que a vida de um herdeiro era assim, cheia de perigos, soube disso no dia em que um dos provadores reais, morreu envenenado na sua frente, por um simples bolinho.
Jimin sabia a realidade por trás da vida de pessoas como Mikhail. Pessoas que não poderiam expressar emoções reais ou sequer decidir seus próprios destinos. Pessoas como Noah, que logo teria seu poder de escolha retirado ou que tinha tantas expectativas em cima. Jimin os entendia.
Jimin não tinha escolha. Sua vida já havia sido escrita por alguém, ele estava apenas seguindo o roteiro. Apenas sendo o que esperavam que ele fosse. Reagindo quando esperavam, sorrindo quando mandavam, acenando quando era o momento e nunca mostrando suas fraquezas ou tristezas, porque o povo não podia saber daquilo.
O príncipe não viu em que momento dormiu e não viu em que momento o avião pousou, mas acordou com o agente 16 batendo em seu rosto de leve. Estava frio e escuro, o rosto do homem era sério e não tinha mais sinal da outra agente.
– Precisa acordar. – O homem disse com o sotaque forte novamente e Jimin se perguntou por que ele nem sequer se esforçava para falar da forma certa com ele. – Nós chegamos. – As mãos do homem foram até o nó na sua cintura, o soltando das cordas e Jimin olhou ao redor, tremendo. – Vou pegar um casaco pra você. Está tremendo como um cão.
– Está frio. – Murmurou vendo fumaça formar pelo frio.
– É inverno. Tentarei te levar o mais rápido possível até uma hotelaria. – O agente disse enquanto puxava a mochila para perto. – Está de noite. Seguiremos viagem amanhã cedo. – Contou enquanto tirava um casaco grosso, enrolando o homem nele e esfregando os braços. Os lábios grossos do inglês estavam roxos e as maçãs do rosto e o nariz achatado vermelhos. – Consegue levantar? – Questionou ao ver ele todo encolhido e Jimin tentou mexer a perna, notando que estava dormente pelo frio e falta de movimento.
– Preciso de ajuda pra levantar, mas acho que consigo andar. – Avisou e o Russo se levantou, se preparando para dar apoio ao príncipe. Jimin sentiu a dor na coluna, braços e pernas, mas se recusou a reclamar. O agente o colocou de pé, o ajudando a firmar o passo e mesmo que o formigamento fosse doloroso, logo conseguia ficar em pé sozinho. Se soltou aos poucos, testando as pernas e encaixou os braços nos buracos do casaco, o fechando. – Onde estamos?
– Zapolyarny. É um Vilarejo pequeno. Pouco povoado. Precisamos te levar até a cidade de Grense Jakobselv. – Jimin o encarou com estranheza, não conhecia os lugares que ele falava.
– O que tem lá? – Questionou e o agente riu.
– Nada. O lugar é quase abandonado. Tem uma igreja e uma cabana. Isso é tudo. É o esconderijo perfeito. – Disse enquanto buscava por algo na mala. – A KGB tornou a cabana um tipo de refúgio. Um lugar onde poderíamos esconder nosso líder no caso de uma guerra.
– Não é um inteligente me contar coisas como essa. – Jimin murmurou abafado e o agente o encarou com confusão, enquanto o entregava um par de luvas. – Eu sou o futuro rei inglês. Não deveria me dar detalhes de táticas de guerra.
– Não estou dando. – O agente afirmou, como se aquilo fosse uma piada. – Acredite. No caso de uma guerra contra a Rússia, a Inglaterra seria uma criança brincando de esconde-esconde. Seria ridículo e como futuro Rei, deveria ter isso em mente. – Jimin se sentiu levemente ofendido, mas preferiu não retrucar, visto que o homem a sua frente estava armado e era a única coisa que o impedia de morrer congelado e sozinho. Então apenas concordou.
– Terei. – Afirmou com um sorriso de lado.
– Vamos, pegue sua mala. Preciso manter sua bunda a salvo. – Comentou enquanto se levantava e abria a porta pesada do avião. Do lado de fora era ainda mais frio e a neve na Rússia com toda certeza era mais gelada do que a da Inglaterra. Pareciam ter pousado em algum tipo de armazém e o agente o conduziu por um caminho escuro e deserto, que não parecia ter fim.
Quando Jimin estava a um passo de cair exausto no chão. Com fome, sede e cansado demais para continuar andando, avistou uma luz no meio a neve e quase chorou de felicidade. O agente apenas se mantinha firme e apertou o passo até o que parecia ser uma pousada no meio da neve.
Era uma construção firme e alta. E para a sorte de Jimin, parecia emanar calor do lado de dentro. O barulho era alto, o que era um contraste bom, visto o silencio mortal que o agente mantinha durante todo o caminho e Jimin não se forçou a falar, já que cada palavra parecia um insulto diferente a tudo o que príncipe representava.
A porta era pesada e parecia levemente emperrada pela neve. Jimin teria batido na porta, mas o agente apenas entrou. Andaram até a recepção e o príncipe se manteve afastado, atrás do agente, por segurança. Observou homens e mais homens bebendo no meio de uma sala que parecia a área compartilhada do hotel. Eles eram barulhentos e pareciam violentos, mas talvez fosse apenas a língua de uma forma geral.
O agente falava em russo com o atendente e Jimin já estava se acostumando a não entender o que era dito. Por um segundo o olhar dos dois se caiu sobre ele e o agente negou algo, o homem pareceu rebater novamente de forma mais violenta e Jimin deu um passo pra trás ao ver o agente afastar o casaco para mostrar a arma em sua cintura. Segundos depois, o balconista o entregou a chave do quarto.
– Pegue suas coisas, rápido. – O agente questionou olhando ao redor, como se certificasse que mais ninguém os incomodaria e mesmo que Jimin estivesse nervoso com aquilo, apenas concordou, pegando suas coisas e se deixando ser guiado pela frente.
Após entrar no quarto, que não era nem muito limpo e muito menos confortável. Viu o agente trancar o quarto e olhar ao redor. Duas camas de solteiro, que pareciam duras e desconfortáveis. Um aquecedor e uma lareira que não estava acessa. Uma porta que deveria ser o banheiro, um frigobar e isso era tudo.
– O que aconteceu? – Jimin questionou ao ver o agente colocar a própria mala sobre uma das camas. – O que aquele homem disse?
– Precisamos dar um jeito na sua aparência. – O agente murmurou parecendo mais mal-humorado do que o normal. – O cabelo loiro e chamativo e te deixa afeminado demais.
– Afeminado? – Jimin murmurou. Não se considerava afeminado. Em nada na verdade. Era um homem muito bem estruturado e com traços bem-marcados. Não tinha um ar tão violento e neandertal quanto o agente parecia ter, mas de forma alguma era afeminado. – O que exatamente quer dizer?
– Parece uma bicha. – Respondeu o encarando. – É um país preconceituoso. Eles resolvem isso com violência. Será difícil te proteger se continuar com essa aparência bonita.
– Uma bicha? Isso... Eu nunca fui tão... – Não tinha palavras para se expressar naquele momento. Sabia que não deveria se sentir ofendido. Afinal não tinha problema nenhum se fosse, não era. Iria se casar com Lady Lithford, mas a forma como aquele homem dizia qualquer frase, fazia qualquer elogio parecer um insulto. – Será que consegue parar de me insultar um segundo sequer, Senhor? Desde que o conheci essa manhã, o senhor não tem feito outra coisa além de ser grosseiro e estupido. – Jimin disse em um ataque de fúria contido e o agente o encarou sem saber ao certo o que era aquilo. – Para a sua informação, eu não sou afeminado. Sou inglês, é diferente. Sou educado e vaidoso. Talvez não saiba o que isso significa, mas são virtudes que presamos muito no meu país. Também não sou uma... – Engoliu a palavra, porque não se sentia bem a pronunciando, achava um termo ofensivo. – Não sou gay. Eu sou noivo. Irei me casar, com uma mulher. – Afirmou, querendo deixando claro, sentindo que precisava provar aquilo. – E se puder parar de desrespeitar a mim, meu país e todas as pessoas do mundo. Seria muito mais fácil conviver com o senhor.
– Acabou? – O agente questionou, cruzando os braços e o encarando com uma feição limpa. Jimin concordou, sentindo a adrenalina em seu corpo e quase se arrependeu de ter sido tão cruel com o agente. – Não quis desrespeitar você. Apenas quis deixar claro esse fato. Não temos uma palavra para isso em russo. Chamamos de bicha, porque é a tradução da palavra que temos. Como eu disse, é um país homofobico, não me orgulho disso. – Jimin respirou com dificuldade, desviando o olhar. – Esses homens não estão acostumado com homens bonitos, não como você. Isso pode os deixar com raiva. Precisamos dar um jeito de mascarar isso ou de esconder. Principalmente o cabelo loiro.
– O que o homem disse? – Jimin voltou a questionar, com um receio do porquê o agente teve que mostrar a arma.
– Ele não queria gente como você no hotel. Tive que afirmar que você ficaria. – Jimin sentiu o peito apertar. "Gente como ele" Deus, em que tempo aquelas pessoas viviam?
– Todos acham que eu sou gay, por que sou bonito? Isso não faz sentido.
– A maioria desses homens foi criado de uma forma dura e brutal. Aprenderam que qualquer mínima demonstração de sentimento, fragilidade ou vaidade são sinônimos de violência. Vi crianças e homens serem espancados até a morte, por menos. Eles não fazem sentido, o preconceito não faz. – O agente respirou fundo. – Se você é bonito, pode despertar o desejo em outros homens e isso gera medo neles. Por isso você não é bem-visto aqui. Por isso eles te veem como uma bicha e um possível problema.
– Eles tem medo. – Jimin disse enfim entendendo o real problema.
– Eles julgam que... qual a palavra certa pra bicha? – Questionou confuso e o inglês murmurou a resposta. – Eles julga que ser gay é uma doença contagiosa e que se você é, pode contaminar os outros. Resolvem isso, matando os contaminados. É uma forma de gerar medo e impedir os outros de se manifestarem.
– Isso é horrível. – Jimin murmurou achando aquilo um absurdo sem tamanho. – Como um discurso desse ainda pode existir?
– São apenas nos lugares menores e mais afastados. As grandes cidades, onde é mais desenvolvido, já são mais evoluídos. – O agente explicou.
– É por isso que você não é preconceituoso? – Questionou interessado.
– Eu não me considero alguém sem preconceito. – Foi sincero. – Gostaria de ser. Gostaria de não ter isso em mim. Essa voz que diz que é errado, mas eu tenho. Fui criado assim e sempre que vejo é como se ouvisse a voz do meu pai, mas me policiou, porque sei que estou errado, que ele estava errado.
– Okay. – Jimin respondeu olhando nos olhos do homem a sua frente. Entendendo melhor tudo o que aconteceu durante o dia. Ele não era grosseiro de propósito. Culturalmente, a Rússia era assim. Tudo bem, como um diplomata, poderia entender isso e manter as coisas amigavelmente.
– Temos que dar um jeito de te deixar menos atraente.
| AGENTE RUSSO |
Eai, estão gostando? Me sinto solitário nessa história. Onde está todo mundo?
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