Subverso


Havia algo tenebroso em seguir Hermione Granger enquanto ela parecia fumegar. Harry e Ronald compartilhavam o sentimento de temor com receio daquela sentença. Não era comum meia frase e ordem restritiva por via dela, muito menos tanta raiva contida, ainda mais quando arrastava a dupla de melhores amigos para sua área favorita da escola: A biblioteca.

— Eu sei muito pouco de Kelpies — Hermione sussurrou assim que suas passadas rápidas alcançaram a enorme porta de madeira. — Menos ainda dos Kelpies do lago negro.

— Mesmo sendo estranho você não dominar algo, não entendo por que seria "ruim, muito ruim" e se isso é razão para te deixar tão, hum, tão, tão assim! — o ruivo tentou expressar seu desconforto, mas se embolava conforme os olhos de Hermione o fitavam em desafio.

— O pouco que eu sei deles é assustador, e sonho com eles não pode ser bom, não é bom. — Ela torceu a boca, respondendo a indagação antes de virar de costas e ir andando até a seção que almejava. — Kelpies são criaturas estranhas, territorialistas e estupidamente fortes.

— Olha, você está me assustando! — Harry se pronunciou pela primeira vez desde que saíram do grande salão. Engoliu em seco, temeroso.

Hermione passou a mão no rosto, completamente nervosa, e prendeu os densos cachos neles mesmo de forma desajeitada. O ruivo quis fazer um comentário sobre como ela ficava linda assim, mas havia tanto medo no olhar dela que se manteve em silêncio.

— Vamos lá, pelo que me lembro, os Kelpies têm algumas raças diferentes. Eu não sei qual deles vivem no lago. — Fez uma pausa, apenas para confirmar se os meninos acompanhavam sua fala e raciocínio.

— Tem alguma raça completamente indefesa? — Potter questionou com esperança, mas Hermione arqueou a sobrancelha com uma expressão tão sarcástica que ele grunhiu. — Esqueça.

Continuando, em sua maioria Kelpies gostam de ter um parceiro para a vida toda. Esses parceiros não podem tentar, nem ter a intenção, de ter ou ser de outros Kelpies, eles têm que se submeter, entre eles isso é um processo fácil, requer as magias se misturando. É até mesmo bonito. Tipo almas gêmeas.

Harry olhou para Rony que parecia claramente distante na explicação, muito pouco interessado em Biologia Mágica. Se fosse franco, também não era seu tópico favorito, mas a curiosidade era mais forte.

— Porém, algumas vezes, e é aqui que vem o "ruim, muito ruim", Ron, os líderes escolhem seres de outras espécies, normalmente fadas ou ninfas, mas também podem ser humanos. — Hermione suspirou antes de prosseguir. — Eu tinha desconfiado sobre a história de Malfoy simplesmente tentar montar em um Kelpie, qualquer puro sangue sabe que é suicídio, mas com você tendo sonhos...

— Isso está extremamente confuso, eu ouvi que ele tentou se matar — Ron interrompeu, estranhando.

Alguns dias atrás o lago negro ficou agitado como mar, muitos alunos dizem ter visto Draco Malfoy perto e depois não mais. Os boatos que se espalhavam não eram nada dóceis. Muitos diziam que o rapaz havia tirado a própria vida, outros juravam ter ouvido sons de cavalos, característico dos Kelpies, fomentando a ideia que o herdeiro tentou montar a criatura, poucos maldosos apenas especularam uma fuga ou que o universo havia o tirado dali.

— Você supõe que Malfoy não tentou montar um Kelpie para tê-lo sob seu poder, como estavam falando, e sim que um escolheu ele como companheiro?

— Sim, mais ou menos, as magias podem ter se escolhido ou sido induzidas a tal, é difícil dizer sem nenhuma prova, nem cheguei a ver quando ele foi ao lago, tudo aqui é especulação por causa de boatos e falas do Harry.

— Como se induz uma magia? — Weasley pareceu interessado pela primeira vez, havia quase malícia na sua voz ao questionar.

— O que eu tenho a ver com isso? — Havia medo genuíno na voz de Potter.

Harry e Ronald questionaram ao mesmo tempo.

— No caso de criaturas mágicas, você pode gerar vínculos, alimentando elas, dando itens seus, conversando com elas e até mesmo ajudando-as, ou pode fazer tudo isso em nome da pessoa que você quer induzir, até ele se vincular afetivamente, isso é comum para adestrar ou conhecer as culturas, métodos de pesquisa — explicou para Ron. E ao terminar se virou para Harry. — Agora, lembra o que eu falei sobre tentar ou ter a intenção de não ser companheiro deles?

O moreno apenas assentiu firmemente.

— Se quando o Kelpie jogou sua magia para vincular na de Malfoy, ele tenha tido a intenção de fazer isso com outra pessoa, no caso se ligar com alguém, consciente ou inconscientemente, o vínculo é negado, e a partir disso o Kelpie faz de tudo para eliminar a concorrência, por assim dizer.

— Por que Malfoy pensaria no Harry no sentido de companheiro? — Ron jogou a frase quase rindo.

Merda — murmurou repetidamente Harry se encolhendo no chão da biblioteca.

Hermione havia pegado um livro da estante e arqueou a sobrancelha curiosa para o amigo que apenas fazia caretas e murmurava xingamentos, ela sentou ao seu lado, abrindo o livro.

— Só o próprio Draco pode te responder isso, Ron, ou o Harry... — refletiu sugestiva. — Quem sabe?

— Pare com esse tom — Potter retrucou pondo as palmas sob o rosto, se escondendo.

— Que tom? — repetiu com o mesmo ar de sugestão com deboche.

— Esse de quem sabe das coisas, mas quer que eu admita. — A voz abafada pela mão soava melancólica.

— Gente, do que vocês estão falando? Me perdi muito aqui. — O ruivo riu, tentando amenizar o clima.

— Eu estava tendo um romance com Draco, e agora tenho certeza que Hermione, de alguma forma, sabia disso. — O moreno parou de se esconder, olhando para a amiga com revolta.

— Como assim? — Rony parecia chocado da mesma forma que Hermione vitoriosa.

— Brigamos uma semana antes de ele ser levado para o fundo do lago negro, eram tantas versões que eu não sabia no que acreditar, mas não fazia sentido ele se suicidar...

— Você beijou o Malfoy? — Ron parecia meio verde ao interromper a fala dele.

— Você está indo por caminhos que não deveria, amigo. — Harry riu divertido. O ruivo apenas se sentou do lado dele com uma expressão de puro horror.

— Aqui.

Hermione ergueu o livro de criaturas mágicas, mostrando uma foto do animal e vários dados.

— Explica o que é relevante, não quero ler tudo isso — resmungou Rony, ainda parecendo abatido pelas novas informações.

— Bem, além do que eu já falei, suponho que Draco rejeitou o vínculo, não exatamente ele, a magia dele, o subconsciente — Hermione franziu a expressão, repassando a frase em busca de sentido, estava um pouco difícil explicar tantas suposições enquanto sua mente fervia em novas teorias.

— Isso quer dizer que ele gosta de mim? — Harry perguntou baixinho.

— Não, isso quer dizer que ele, aceitando ou não, te ama e a magia dele te escolheu — Granger falou sincera, observando a força que as bochechas de Potter ficavam vermelhas rapidamente.

— Eu vou vomitar, é sério! — Weasley resmungou fingindo segurar o vômito.

Voltando, também suspeito ter sido induzido. Porque os Kelpies do lago são bem dóceis comparados aos selvagens, e como a magia negou a criatura, deve ter levado a assinatura mágica de Harry para ela, e agora ele recebe isso. A cena dele sendo levado e essa sensação como pedidos de socorro vindo do próprio Draco de forma consciente, ou apenas de sua magia, de forma inconsciente. Não tem nada aqui sobre como Kelpies mantém seus companheiros na água, quem dirá os que o rejeitam, Malfoy pode, provavelmente, estar em estado de semivida.

— Morto? Morrendo? É isso que quer dizer? — Harry perguntou em agonia. O véu frio lhe causando calafrios.

— Infelizmente, sim.

Harry levanta em um solavanco, saindo da biblioteca às pressas, mal vendo os amigos em seu encalço gritando por ele. Nada importava. Ele sentia o frio lhe adornando, uma assombração fechando na garganta.

— Que merda você pretende fazer? — Hermione puxou a blusa de Harry com força, fazendo-o dar bons passos para trás, quase batendo seu corpo contra o dela.

— Óbvio que ele está indo salvar o Malfoy! — Rony falou com fervor.

— Eu sei, só não vou deixar!

— Mione, eu simplesmente não posso ficar de braços cruzados — Potter choramingou, arrumando suas vestes, um olhar suplicante em direção à dupla de amigos. Seu corpo doía e rejeitava se acalmar.

— O que você não pode é se jogar no lago negro e esperar o melhor! Isso não vai acontecer, é suicídio, Harry Potter! — Granger esbravejou quase perdendo o controle.

— Eu pretendia pegar um pouco de Guelricho — acrescentou em sua defesa, mas aquilo pouco importou para a menina.

— Você morreria de graça, se em terra Kelpies são estupidamente fortes e poderosos, imagine em seu habitat, ainda mais em prol de seus "companheiros". Você estaria indo para a morte de forma certeira! — Hermione falou de forma tão crua, como só ela conseguia, olhando em seus olhos, o marrom brilhante em pavor.

— O que sugere? — respondeu a contragosto.

— Fale com Severus, ele com certeza trabalha em algo. Irei estudar também, tenho algumas ideias.

Mesmo xingando baixo, Harry mudou a rota indo para as masmorras. Porém, ele sabia, tinha certeza, que nada ali adiantaria ou mudaria sua mente, ele já tinha tomado sua decisão.

Não era apenas Malfoy que havia escolhido ele.

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