13 ; 𝙇𝙞𝙡𝙮 𝙤𝙛 𝙩𝙝𝙚 𝙑𝙖𝙡𝙡𝙚𝙮

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⊹  P a r k   J i m i n  ⊹
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Cinco meses depois.

Todo esse tempo se passou e eu já estava no oitavo mês de gestação.

Jungkook esteve ao meu lado no vilarejo durante todo esse tempo, e agora já era parte integrante da nossa vida aqui. Para a Ordem, ele havia desaparecido enquanto me procurava, o que nos deu uma vantagem para nossos planos de ataques continuarem.

Sentado no gramado do vilarejo, observei a Haru brincando animada com algumas crianças que corriam ao redor. O neném estava agitado hoje, se mexendo impaciente, algo que sempre acontecia quando Jungkook estava longe.

— Por que você está tão bravinho hoje? Seu pai já vai voltar — eu conversei com minha barriga, passando a mão suavemente sobre ela.

Haru, cansada de brincar pela grama, veio até mim e se deitou ao meu lado. Sorri e afaguei seu pelo macio, enquanto eu olhava para o horizonte, esperando a hora do Jungkook voltar. Nós dois estávamos impacientes.

O melhor amigo do Jungkook se uniu a nós, no mês passado, após todos esses meses de planejamento para o ataque. Seu amigo foi essencial, já que permaneceu infiltrado na Ordem durante esse tempo, coletando todas as informações necessárias.

Eu queria ajudar nos planejamentos, queria ser útil, mas com a barriga desse tamanho, eu seria um peso para todos. Eu estava ansioso para ele nascer e poder participar, mesmo que a previsão fosse para daqui pouco mais de um mês.

Do meu lado havia um caderno, onde além de alguns rabiscos aleatórios, coloquei as opções de nomes para o bebê. Eram tantos que eu mal sabia qual escolher.

— Por que isso tem que ser tão difícil? Com a Haru foi tão fácil...

Ela deu um miado, já sabendo que eu estava falando dela. Sorri, afaguei sua cabeça, e então apoiei os braços para trás, sentindo os raios de sol esquentarem meu corpo. A leve brisa que passava pelo vilarejo trazia uma tranquilidade que me ajudava a relaxar, apesar da ansiedade que todos sentiam.

Ainda com os olhos fechados, escutei alguém pisar na grama próximo a mim. Abri os olhos e vi um dos seguranças do vilarejo se aproximar com passos cuidadosos.

— Com licença, Park. O senhor Yoongi está te chamando na sala dele.

— Obrigado, já estou indo.

Suspirei, me levantando com certa dificuldade e peguei a Haru no colo. Assim que deixei ela no meu quarto, fui direto para a sala do Yoongi.
Dei algumas batidas fracas na porta, até escutar sua voz lá de dentro, me dizendo para entrar.

Quando abri a porta, meu coração quase parou. Lá estava ninguém menos que o Jin. Minha única reação foi soltar um grito de surpresa e alegria. Ele correu na minha direção, e, mesmo com minha barriga, me deu um abraço apertado.

— Não acredito! — gritei rindo enquanto retribuía o abraço o melhor que podia.

— Olha essa barriga! — O Jin falou, se afastando um pouco para me olhar melhor. Ele colocou a mão e fez uma careta. — Parece que você vai explodir a qualquer momento!

Eu ri, revirando os olhos.

— É, eu sei. Cada vez mais pesado. Não vejo a hora dele nascer logo.

— Meninos, desculpem atrapalhar, mas preciso voltar pra reunião. Fiquem à vontade. — O Yoon falou e saiu.

— Vem, vamos passear.

Nós saímos e fomos caminhar pelo vilarejo enquanto conversamos. Ficamos todos esses meses sem nos ver, e mesmo que nossas ligações fossem diárias, eu queria colocar todos os assuntos em dia com ele.

— Você engordou! O que tem comido na minha ausência? — perguntei zombando suas bochechas inchadas.

— Fast food todos os dias, acredita? Agora que estou fazendo estágio no hospital, minha vida tá corrida demais.

Eu balancei a cabeça, achando graça.

— Eu avisei que isso ia acontecer. Todas as vezes que te ligo, você está ocupado com algo. Precisa cuidar de você também, comer coisas saudáveis. De quê adianta um médico sem saúde? Já te disse isso.

— Pois é — ele suspirou, dando com os ombros. — Mas pelo menos estou vivo e quase terminando a faculdade.

— Essa é uma notícia excelente.

— Sim, mas agora a prioridade é falar sobre você. Tem se alimentado direitinho? Pelo tamanho da sua barriga, parece que está comendo por dois mesmo... ou três! — brincou.

— Nem brinque com isso. Já é uma luta com um bebê, imagina se fossem dois.

Rimos juntos até encontrarmos um banco à sombra de uma árvore.

— Você vai ficar até quando? — perguntei.

— Só até amanhã cedo, infelizmente. Tenho prova com aquele professor ignorante de anatomia.

— Que droga, seria bom se você pudesse ficar mais tempo. Última vez que te vi foi há cinco meses atrás.

— Eu também queria. Quem sabe no fim das provas eu consiga? Só não esqueça de me avisar antes desse pequeno ou pequena nascer, eu quero estar com vocês.

— Pode deixar. Vou te manter informado sobre tudo.

Nós conversamos mais um pouco, relembrando velhas histórias e atualizando as novidades. Ele me mostrou várias fotos e vídeos da floricultura, e eu senti meu coração bater mais forte a cada imagem. Ela estava tão bem cuidada que meus olhos começaram a encher de lágrimas.

— Foi mal, meus hormônios estão uma bagunça, então eu choro por qualquer coisa. Obrigado mesmo por cuidar de tudo, mesmo com a correria da sua vida.

Ele começou a rir e me confortou com a mão nas minhas costas.

— Não precisa me agradecer, só o seu choro já é um agradecimento. E, além disso, minha mãe também tem cuidado da loja; até virou um novo hobby para ela.

Enquanto a conversa seguia tranquila, senti uma presença familiar atrás de mim. Antes que eu pudesse reagir, Jungkook se inclinou e deu um beijo no meu pescoço. Levantei o olhar para ele, surpreso, e vi o Namjoon, junto, que me cumprimentou.

Namjoon parecia relaxado, mas quando percebi o Jin ao meu lado, vi ele arrumando a postura. Pelo que me lembro, era a primeira vez que eles se viam.

— Nam, esse é o Seokjin. E Jin, esse é o Namjoon. — Jungkook fez as apresentações com naturalidade.

— O-oi... — Jin respondeu quase em um sussurro, desviando os olhos, nervoso.

Tentei segurar a risada, virando o rosto para o lado, mas não consegui evitar um pequeno sorriso ao ver sua reação.

— Prazer em te conhecer, Jin. — Namjoon disse com seu tom calmo e amigável, estendendo a mão para ele.

Jin hesitou por uns segundos, mas acabou apertando a mão dele.

— Prazer em te conhecer também...

E então, um silêncio mortal entre nós quatro. Até que o Jungkook finalmente falou.

— Min, vim avisar que vamos precisar sair com o Yoongi, e...

Meu celular começou a tocar, e quando conferi, vi que era uma chamada da doutora do vilarejo. Ele viu e parou na hora de falar, atento em mim.

— Boa tarde, doutora.

— Olá, meu querido. Consegue vir até o consultório? Precisamos dar continuidade no seu último ultrassom, e consegui um horário agora pra te atender.

— Claro, estou indo.

Desliguei e olhei animado para eles.

— Acho que finalmente vamos descobrir o sexo do bebê.

Os olhos do Jungkook brilharam com a notícia.

Estamos ansiosos durante todos esses meses, afinal o bebê não colaborou em nenhuma das vezes anteriores e manteve as pernas fechadas. O primeiro exame indicou que era uma menina, o segundo, um menino, e o terceiro, deu como incerto. Agora, finalmente, teríamos uma resposta definitiva.

— Vamos, eu vou com você. — Jungkook falou, segurando minha mão com firmeza.

— Mas, você não ia sair?

— Não vou mais. — Ele respondeu como se fosse óbvio, sem nem me olhar. Em seguida, virou para Namjoon. — Nam, acompanhe o Jin até o quarto de visitas que ele vai ficar.

Ele abanou as mãos para dispensar qualquer discussão e saiu andando, me puxando pela mão. Fui meio arrastado por ele, ainda surpreso com a mudança de planos repentina.

Antes de seguir, olhei para trás e vi o Jin parado, completamente vermelho, enquanto Namjoon mantinha o mesmo ar tranquilo, esperando pacientemente por ele.

— Vamos, Jin? — Namjoon perguntou, com um pequeno sorriso no rosto, e Jin acenou rapidamente, tentando não tropeçar nas próprias pernas.

Eu nunca vi o Jin tão vermelho em toda a minha vida, e isso me fez rir baixinho durante todo o caminho até a clínica do vilarejo.

— Você notou, né? — perguntei, ainda tentando segurar o riso.

— Com certeza. O Namjoon gostou dele, e nem tentou disfarçar. Inflou o peito igual um pavão. — Jungkook brincou, lançando um sorriso de canto que me fez rir ainda mais.

— Seria louco se eles ficassem. — balancei a cabeça, já imaginando a cena. — Vou torcer por isso.

— Pode dar certo, eles parecem combinar.

Bastou passarmos das portas da clínica para tudo mudar. A sensação de tranquilidade desapareceu, e eu comecei a ficar nervoso enquanto a gente aguardava. Minhas mãos estavam suando, e eu tentava me acalmar a todo custo, mas parecia impossível.

Ele percebeu e segurou minha mão com carinho, dando um beijo nela.

— Tá ansioso?

— Uhum, muito.

— Eu também estou. — Ele apertou minha mão, e senti que as dele estavam tão geladas quanto as minhas.

Eu sabia que ele estava cada vez mais sobrecarregado com a situação de resgate dos outros Aethers que ainda estavam presos. Manter ele aqui, na clínica médica, talvez estivesse atrapalhando.

— Se quiser, pode ir onde você precisava ir. Eu termino aqui e te aviso.

— E perder a chance de ver ele no ultrassom mais uma vez? Jamais.

Seus olhos grandes brilhavam, e era como olhar as estrelas. Se eu já sentia que amava ele depois que nos conhecemos na floricultura, conhecer seu lado como pai fez meus sentimentos triplicarem.

A doutora nos chamou e nós entramos. Ela pediu para eu deitar na maca e preparou o equipamento de ultrassom, enquanto o Jungkook se posicionava ao meu lado, segurando minha mão com firmeza. Ele parecia muito mais nervoso do que eu.

— Ei, fica calmo — sussurrei.

Ele tentou respirar fundo, mas nem isso estava conseguindo, o que me fez rir.

— Os papais já pensaram em algum nome? — a doutora perguntou.

— Ainda não, estamos indecisos — respondi.

— Vamos ver como está o pequeno hoje, se colaborar e abrir as perninhas, vocês vão conseguir decidir o nome com mais clareza — disse a doutora, aplicando o gel frio na minha barriga e posicionando o transdutor.

A imagem na tela começou a se formar, e a doutora movimentava o aparelho com cuidado. O silêncio no consultório era quebrado apenas pelos sons do equipamento e pelas nossas respirações ansiosas. Eu olhei para o Jungkook, que estava tão concentrado quanto eu, com seus olhos fixos na tela.

A imagem do bebê na tela, mesmo em preto e branco, fez meu coração bater tão forte que o aparelho detectou meus batimentos.

— Parece que temos boas notícias. O bebê está saudável, e quase na posição ideal para o nascimento. E, finalmente ele abriu um pouco suas perninhas, acho que descobrimos o sexo.

Meu coração acelerou, e eu senti o Jungkook apertar minha mão com mais força.

— Parabéns, vocês vão ter um menino!

Olhei para o Jungkook, que estava radiante, e pude ver a emoção em seu rosto, com os olhos cheios de lágrimas empoçadas.

— Um menino... — repeti, quase em um sussurro, enquanto olhava para a tela.

A doutora continuou com as observações finais, garantindo que tudo estava bem com o bebê e que o nascimento estava se aproximando.
Ao fim do exame, coloquei minha roupa novamente e saímos do consultório, caminhando de mãos dadas.

— Agora que sabemos que é um menino, sua lista de nomes vai ficar mais fácil — disse o Jungkook, com um sorriso satisfeito.

— Sim, depois vou te mostrar quais eu tô na dúvida.

— Ok, meu loiro.

Assim que chegamos na cabana, vi uma pequena caixa em cima da cama, com um laço branco em volta dela.

— O que é isso? — apontei, curioso.

Ele deu de ombros, parecendo tranquilo.

— Não sei, confere aí.

Eu abri a caixa e, dentro, encontrei um buquê de lírios do vale, com um tom de rosa tão bonito que parecia de mentira. Eu peguei o buquê com um sorriso largo, encantado com a delicadeza das flores.

Esse era o melhor presente pra se dar para um florista.

— Que buquê lindo! Obrigado, Jun.

Abracei ele com um braço, enquanto o outro ainda segurava o buquê, tentando não amassar as flores.

— Gostou? — ele perguntou, com um sorriso tímido.

— Amei! Quero um vaso lindo pra colocar elas, vai ficar perfeito.

Ele sorriu, visivelmente feliz com a minha reação. Quando olhei novamente para o buquê, vi uma chave no fundo da caixa.

— E aquela chave ali?

— Chave? — ele fingiu confusão.

Peguei a chave, tentando entender o que significava, até que ele me entregou seu celular. Na tela, vi fotos de uma casa de campo enorme, com uma grande plantação ao lado, entre algumas colinas.

— Que casa linda! De quem é? — perguntei, impressionado com a beleza do lugar.

— Nossa.

Puxei o celular da mão dele, dando zoom nas fotos para observar melhor.

— Espera aí, o q-que você disse?

Ele sorriu de canto, claramente se divertindo com minha reação.

— É nossa, Jimin. Eu comprei pra gente, pro nosso futuro. Eu prometi para o Arconde que você passaria sua gestação aqui pelo bem de vocês, mas estamos cada vez mais perto de acabar com a Ordem.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, ainda tentando absorver o que ele tinha acabado de dizer. Meu coração batia acelerado, e uma mistura de emoção e surpresa tomou conta de mim.

— Para... você tá falando sério?

— Muito sério. Quero que a gente tenha um lugar só nosso, pra criar nosso menino longe de toda confusão. E achei que esse era o lugar perfeito. Quero que ele cresça em contato com a natureza, assim como você cresceu.

Meus olhos começaram a lacrimejar, e eu não consegui segurar o sorriso que se formou no meu rosto. Pulei nos braços dele, apertando ele com força.

— Eu não acredito que você fez isso... Eu amo você.

Ele riu, me segurando firme.

— Eu também te amo, Min. Sei que você gosta de Elysium, então a casa é perto de lá, mesmo sendo no campo.

— E ainda vou poder cuidar da minha floricultura e ficar perto do Jin.

Nesse momento, o neném deu um chute, e eu olhei surpreso pra ele, pegando sua mão e colocando na minha barriga para sentir. E então, outro chute. Jungkook riu, os olhos grandes brilhando enquanto sentia o movimento do bebê.

— Parece que ele está aprovando a ideia também.

Eu sorri, emocionado.

— Ele sabe que vamos cuidar bem dele. Já estamos preparando tudo, e agora com essa casa, vai ser perfeito.

Jungkook me puxou para mais perto, colocando sua cabeça no meu ombro, enquanto sua mão continuava na minha barriga.

— Eu nunca imaginei que viveria tudo isso — ele murmurou.

Eu afaguei seus cabelos, sentindo o calor do momento e o quanto nossas vidas tinham mudado.

— Nem eu... mas agora, não consigo imaginar outra coisa.

Esse momento bom entre nós foi interrompido por alguém chamando do lado de fora. O Jun foi atender enquanto eu tentava tirar a Haru de dentro da caixa onde as flores estavam.

— Saí daí, Haru.

Ela nem me deu atenção. Acabei sentando na cama rindo e tirando algumas fotos dela espremida na caixa minúscula, até que ele voltou.

— O Arconde está me chamando. Vou ter que voltar. Vai ficar bem?

Que droga... desde que ele chegou ao vilarejo, há cinco meses, todos os dias têm sido assim. Eles já conseguiram libertar alguns Aethers, mas eu só queria um pouco mais de tempo com ele. Mesmo assim, eu sabia que não podia ser egoísta, não com uma causa tão importante.

— Uhum, vou ficar bem.

— Se precisar de qualquer coisa, me liga que eu corro para cá. Se não conseguir falar comigo, ligue para o Yoongi.

— Pode deixar.

Ele se aproximou, me deu um último beijo e saiu. Eu fiquei observando da porta até ele sumir do meu campo de visão, soltando um suspiro em seguida. Assim que entrei a Haru pulou no meu colo, como se percebesse o momento e quisesse me confortar, como sempre faz.

— Só nós de novo, hein? Vamos lá ver o Jin.

Levantei, peguei a Haru nos braços e fui em direção a uma das cabanas onde o Jin ficaria essa noite. Bati de leve na porta.

— Entra! — ele gritou lá de dentro.

Abri a porta e o encontrei jogado na cama, mexendo no celular. Ele deu um pulo assim que viu minha gata e a pegou das minhas mãos com uma rapidez impressionante.

— Haru, que saudade de você! Vou fazer uma videochamada com minha mãe pra ela ver. Senta aí, Park.

Sentei na cama e observei, rindo, enquanto ele quase sufocava a gata de tanto carinho.

— Mãe, olha quem está aqui! Dá oi, Haru.

Ela, esperta como sempre, deu um miadinho e os dois ficaram em êxtase.

— Cadê o Jimin? Quero ver ele! — Sua mãe falou, e ele virou o celular na minha direção.

— Oi, tia! — acenei.

— Ah, meu querido, que bochechas enormes. Você está lindo, mas cadê a barriga?

Eu estava sentado e, como estava usando roupas mais largas, não dava para perceber. Quando me levantei, ela viu a barriga e começou a surtar de alegria na linha. Eu fiquei todo tímido com a reação dela.

— Que barriga linda! Você está lindo e radiante! Já pensou em um nome? Já sabem o sexo? — ela perguntou, cheia de entusiasmo.

— Descobrimos agora há pouco que é um menino, mas ainda não pensamos em um nome.

— Um menino, que maravilha! Ele vai ser lindo, esperto e talentoso assim como você — ela disse com tanto carinho que eu não consegui evitar de me sentir ainda mais feliz.

— Obrigado, tia. Significa muito pra mim.

Conversamos mais um pouco, e o tempo parecia passar rápido demais. Assim que desligamos, eu olhei indignado para o Jin.

— O que foi? — ele perguntou, tentando segurar o riso.

— Sua mãe disse que minhas bochechas estão enormes!

Ele não aguentou e começou a rir, jogando a cabeça para trás.

— Mas ela não mentiu.

— Cala a boca — revirei os olhos, tentando disfarçar o sorriso.

Seokjin riu ainda mais e deu com os ombros.

— Relaxa, é temporário. Agora vamos mudar de assunto, me diga, aquele amigo do Jeon, é o que era caçador também? — ele perguntou.

— Sim, mas ele também está do nosso lado agora. Gostou dele, hm?

— Muito! Você notou o tamanho dele? Ele deve ter quase uns dois metros de altura. E aqueles ombros?! Droga, que homem lindo. Mas...

— Mas o quê, Seokjin?!

— Você ainda pergunta? Eu sou um beta, é meio óbvio que ele deve querer algum ômega. Ainda mais que já foi caçador e tinha contato com feromônios de ômegas todo dia. — Ele deu com os ombros.

— Bonito desse jeito, estudioso, um médico cirurgião quase formado, simpático, talentoso. Ele seria um louco se não se interessasse por você. Se toca, Jin!

Ele apenas balançou a cabeça, rindo.

— Obrigado por inflar meu ego, Park.

— É a verdade. E outra, vou dar um jeito de vocês dois se conhecerem melhor, confie no seu melhor amigo.

— Aí que tá o problema, eu não confio.

Eu dei risada da sua resposta, e joguei meu corpo para trás, deitando na cama enquanto nosso papo ia e vinha entre vários assuntos. Contei sobre a casa e mostrei algumas fotos que o Jun me enviou.

— Até um tempo atrás, a gente só estava pegando o metrô juntos, você pra faculdade, e eu pra floricultura. Como que atender um cliente trouxe todas essas mudanças? — suspirei, encarando o teto.

Jin deitou também e me olhou.

— A vida tem dessas... A gente nunca sabe o que vai acontecer. Uma simples escolha e, de repente, tudo muda.

Eu concordei, ainda processando a loucura que tudo tinha se tornado, e ele continuou.

— É louco pensar que, no fim, foi bom o Jungkook te caçar. Se ele não tivesse recebido essa missão dos parasitas da Ordem, vocês nunca teriam se conhecido.

Eu soltei uma sútil risada.

— Pois é. Parece coisa de livro... O caçador se apaixonando pelo alvo. — Suspirei.

Mesmo que descobrir que o Jungkook fazia parte da Ordem tenha me machucado, o Jin estava certo. Se não fosse por essa missão dele, ele nunca teria cruzado meu caminho.

— Será que você estaria com o Yeonjoo? — ele perguntou.

— Talvez. Com certeza não estaria esperando um filho dele, mas quem sabe a gente estivesse pelo menos namorando... — Fiz uma pausa antes de perguntar. — E ele, como está?

— Está bem. Tá fazendo estágio em um hospital na área mais periférica de Elysium, e disse que tem visto e aprendido de tudo por lá. Ele sempre pergunta se você está bem.

— Ele é um cara legal, merece encontrar alguém bom.

Ele concordou e se ajeitou na cama em outra posição.

— E o Jungkook, já te contou algo sobre a infância dele?

— Não... só sei o básico...

Ultimamente, o fato de Jungkook ser um pouco mais reservado com seu passado me incomodava. Eu sabia que ele carregava seus traumas, mas queria ajudar ele a lidar com isso.

— Ele se abre pouco pra mim, menos do que eu gostaria. Queria saber mais sobre o passado dele... só sei o que ele sempre diz, que cresceu na Ordem, mas não sei o porquê. E seus pais? Sua família? Não sei nada.

— Ou pode ser que ele tenha tido um passado ruim e queira te poupar disso. Imagina o quão horrível deve ser nascer e crescer dentro daquela organização?! Uhgh, só de pensar sinto arrepios.

— Sim, deve ter sido realmente horrível. Bem, vou tentar fazer ele se abrir um pouco mais. Hoje vou fazer ele sair pra algum lugar.

— Nesse fim de mundo?

— Aqui tem muito lugar bonito, ok? Babaca.

Ele ficou gargalhando.

— Com esse meninão aí, você não vai conseguir fazer muita coisa, se estiver pensando nessas colinas ao redor.

— Parece que não me conhece, Jin. Não sou humano — respondi com um sorriso.

Ele riu e acenou com a cabeça, enquanto eu levantei e fui em direção a porta.

— Onde pensa que vai, gravidinho?

— Tomar meus suplementos e tentar pensar em um passeio. Mais tarde eu volto aí.

— Tá. Vou fazer um tour pela cidade e vou demorar. Se eu for embora e não te ver, volto daqui alguns dias. Ah, e cuide do meu sobrinho.

— Pode deixar.

Enquanto caminhava pelos corredores do casarão, aproveitei pra passar pela biblioteca e pegar alguns livros que a alquimista me pediu. Entre as prateleiras, avistei um pequeno livro de um conto infantil que eu sempre lia quando era pequeno: As Aventuras de Yuki. Peguei e comecei a ler, relembrando como se fosse a primeira vez que eu o lia.

Era o conto de um menino destemido que se aventurava em uma floresta mágica em busca de um artefato perdido. Durante a jornada, ele enfrentava criaturas fantásticas e desafios mágicos, aprendendo que a verdadeira força estava na amizade.

Com as mãos apoiadas no livro acima da mesa, sob o silêncio da biblioteca, comecei a repetir o nome na minha boca.

— Yuki...

Todas essas sensações nostálgicas me fizeram esquecer do horário do meu remédio. Assim que lembrei, peguei os livros rapidamente e fui para a cabana, levando também o conto nas mãos.

O Jungkook já estava na cabana, e parecia ter acabado de chegar também.

— Já estava quase indo atrás de você. Passou na biblioteca? — ele perguntou, dando um beijo na minha testa.

— Uhum, preciso desses livros para amanhã. Ah, e também trouxe um pra treinar meus poderes sozinho.

Peguei minha garrafa de água e tomei meu suplemento, enquanto o Jungkook arqueava uma sobrancelha pra mim, analisando bem o que disse.

— Jimin, o Yoongi já me explicou que esses treinos podem ser perigosos pra você fazer agora.

Eu suspirei, já esperando a resposta dele. Eu sabia que ele só estava se preocupando comigo, mas eu precisava encontrar uma forma de continuar treinando, mesmo com todas as restrições.

— Eu sei, mas eu não posso depender dos outros o tempo todo. Preciso aprender a controlar meus poderes sozinho, principalmente agora. Não quero que aquilo aconteça de novo — Falei, tentando soar firme.

Ele me olhou com um misto de preocupação e teimosia, obviamente querendo insistir, mas também sabia que, no fundo, eu estava certo. Ainda assim, ele se aproximou e colocou as mãos nos meus ombros.

— Eu entendo que você quer treinar, mas precisamos pensar no bebê também. E se algo der errado? Se tiver uma sobrecarga?

— Nada vai acontecer, eu vou ser cuidadoso. — Respondi, tentando tranquilizar enquanto usava meus poderes nele.

Ele ficou em silêncio por um momento, me olhando com intensidade. Finalmente, ele suspirou, cedendo.

— Tudo bem... mas eu quero estar lá quando você for treinar. Só por precaução.

Eu sorri, aliviado e segurei a mão dele, tentando mudar o assunto.

— Tudo bem. Ahh, e hoje eu quero sair com você. A gente podia comer fora hoje, o que acha? A feirinha noturna no centro da cidade é hoje. Não é nada romântico, eu sei, mas tô cansado de só comer aqui.

Jungkook pensou por um momento, mas logo sorriu.

— Parece uma boa ideia, nós merecemos.

— Sim, merecemos. Vou me preparar.

Como de costume, coloquei uma camisa básica e uma blusa de moletom por cima, todas oversized. Mesmo que fossem largas, era nítido que eu era um gestante.

Me sentei na cama para colocar o tênis, com dificuldade por causa da barriga, quando ele voltou com a toalha amarrada na cintura e o corpo levemente molhado. Sem eu pedir, ele abaixou pra me ajudar com o calçado.

— Como você é gostoso... — falei, olhando para ele, admirado de que tudo aquilo era meu.

Jungkook riu, e assim que amarrou meu cadarço, levantou e ficou na minha frente. Ele pegou minha mão e começou a deslizar pelos seus músculos, do abdômen até o peito, criando uma tensão no ar. Quando a sua mão pousou na minha nuca e segurou meu cabelo, ele abaixou e sussurrou com a boca próxima da minha:

— Vamos logo antes que eu te devore.

— E se eu quiser ser devorado? — provoquei, encarando seus olhos.

Ele sorriu maliciosamente.

— Com esse barrigão vai ser complicado.

— Então não me provoca, idiota. — Resmunguei, mas sem conseguir conter a risada.

Ele se afastou rindo pra trocar de roupa.

Eu decidi levar a Haru junto, já que o único lugar que ela costumava explorar era dentro do vilarejo. Prendi a coleira no peitoral dela e seguimos para o carro, prontos para aproveitar a noite.

Prendi minha gata no banco de trás, e ela parecia curiosa com a nova aventura. Jungkook ligou o carro, e logo pegamos estrada. O caminho era tranquilo, com o céu estrelado acima e uma brisa leve que entrava pelas janelas entreabertas.

— Faz tempo que não saímos assim — comentei, olhando para as luzes da cidade que começavam a aparecer no horizonte.

— Quando o bebê nascer vamos sair com mais frequência. — Ele olhou de relance pra mim enquanto dirigia.

A Haru, no banco de trás, se mexia inquieta, tentando ver melhor pela janela. Eu sorri, aliviado por termos decidido sair por um tempo.

Chegamos à feirinha no centro, e o cheiro de comida tomou conta do ambiente. As luzes penduradas entre as barracas iluminavam o lugar, criando uma atmosfera acolhedora e movimentada. Jungkook estacionou, e eu saí com Haru no colo, atraindo alguns olhares curiosos.

Com essa barriga, todos sabem que sou um ômega, então automaticamente algumas pessoas ficam receosas, com medo da possibilidade de eu ser um Aether. Mesmo que ninguém dissesse nada, eu sentia o peso dos olhares, e minha vida toda sempre foi assim. Jungkook se aproximou e colocou uma mão firme na minha cintura.

— O que você quer comer? — ele perguntou.

— Ainda não sei. Vamos andar um pouco mais e ver o que tem de bom.

Caminhamos pela feirinha noturna, com as luzes iluminando o caminho e o cheiro de comida se espalhando pelo ar. A Haru, curiosa como sempre, olhava ao redor, observando tudo com atenção. Jungkook parecia tranquilo, e isso me fazia relaxar também.

Entre os aromas deliciosos pelo ar, um em especial me chamou a atenção.

— Isso é cheiro de tangsuyuk. Eu quero!

Fomos andando até encontrar a barraca onde estavam vendendo. É um prato chinês de carne agridoce frita, e eu amava. Comprei duas tigelas, acompanhadas de gohan.
Enquanto esperava o pedido ficar pronto, Jungkook foi buscar refrigerantes.

Quando finalmente pegamos tudo, fomos para o gramado da praça.
A cidade, que ficava em uma região alta, oferecia uma vista espetacular dos penhascos ao redor. Sentamos em um deles, contemplando a imensidão diante de nós. O silêncio era quebrado apenas pelo som suave do vento, e aquele momento parecia perfeito.

— Você pode beber álcool, se quiser. — comentei, já que não via ele beber há muito tempo.

— Se você não pode beber, automaticamente eu também não posso. O refrigerante está ótimo.

Eu segurei a mão dele, e fiquei fazendo carinho olhando pra ela, pensativo. Ele então apoiou a mão no meu queixo e levantou meu rosto com cuidado.

— Eu te amo, meu loiro.

Eu senti minhas bochechas queimarem. Era uma sensação tão boa...

— Eu também amo você, Jun.

Comemos e conversamos sobre vários assuntos.
Jungkook me mostrou fotos do berço e de outros móveis que comprou para o bebê e já estavam na nossa nova casa. Eu estava ansioso pra me mudar e deixar tudo do nosso jeitinho.

Enquanto assistimos a vista à nossa frente, ele colocou a mão na minha barriga e começou a conversar com o bebê, com uma voz carinhosa que sempre me derretia, e pelo jeito, não era só eu. Isso foi o suficiente para o bebê começar a se mexer dentro de mim. Eu senti os pulos leves, e um sorriso involuntário tomou conta do meu rosto.

— Ele fica doido quando te ouve. — falei, colocando minha mão sobre a dele, sentindo o calor e o carinho daquele momento.

— Acho que ele está ansioso pra conhecer a gente, assim como estamos pra conhecer ele. — Ele respondeu, rindo baixinho enquanto continuava fazendo carinho na minha barriga.

Ele ficou olhando nossas mãos por um momento, como se estivesse pensando em algo. Depois de um tempo, suspirou.

— Será que vou ser um bom pai? — Ele perguntou, desviando o olhar para o horizonte, a expressão séria.

Eu o observei por alguns segundos, sentindo a sinceridade e vulnerabilidade em suas palavras.

— Não era nem pra você estar questionando isso. Você já é um bom pai.

— Nunca tive referência paterna alguma. Eu não sei quem eu sou, e tenho medo que isso incomode ou atrapalhe vocês dois de alguma forma. — Ele confessou, a voz cheia de insegurança.

Ele mesmo tocou no assunto do seu passado, e eu precisava ser cauteloso. Olhei para ele, sentindo a dor em suas palavras. Puxei ele para mais perto, e me virei um pouco na sua direção.

— O que importa não é o que você tem ou não tem, mas quem você é agora. E quem você é, é alguém que eu amo e que vai ser um pai incrível. Não se preocupe com o passado. Vamos construir nossas próprias memórias e criar um futuro maravilhoso pra gente.

Ele me olhou com um misto de alívio e gratidão, e uma leveza começou a se instaurar em seu semblante.

— Obrigado, Min.

Eu sorri, sentindo um calor no peito ao ver sua expressão.

— Eu quero que você saiba que estou aqui, e vamos enfrentar tudo juntos.

Jungkook passou o braço ao redor de mim, me puxando para mais perto, e eu encostei a cabeça em seu ombro. A brisa fresca da noite e a vista das luzes da cidade ao fundo criavam um cenário perfeito para aquele momento.

Ficamos apreciando a noite tranquila, saboreando o tangsuyuk e desfrutando a companhia um do outro, enquanto a Haru dormia aconchegada na minha perna.

Assim que eu comecei a bocejar, juntamos nossas coisas e decidimos voltar para o vilarejo. A noite estava agradável, e a brisa leve fez com que o retorno fosse ainda mais prazeroso.
Ele dirigia com calma, e eu me apoiava no banco do passageiro, me sentindo confortável.

Ao chegarmos no vilarejo, Jungkook pegou a Haru e entramos juntos. Coloquei minha bolsa num canto e me estiquei um pouco na cama, sentindo o cansaço do dia.

— Quero sair cedo daqui pra conhecer nossa casa. — comentei.

Ele me olhou por um segundo, surpreso.

— Não lembro de ter combinado isso. — ele arqueou a sobrancelha.

— Pois então estamos combinando agora. — sorri de lado. — Eu tenho um bebê comigo, então tenho preferência nas escolhas.

Ele suspirou, como se já esperasse minha resposta, e balançou a cabeça, rindo.

— Por que parece que você sempre me convence? Você tá usando seus poderes em mim, hm?

— Eu? Claro que não, meu amor. — fiz uma expressão bondosa, e ele riu mais ainda.

— Tenho quase certeza que usa. — Ele se aproximou, beijando minha testa. — Amanhã cedo eu explico para o Arconde, ok? Não vamos sair sem a autorização dele.

Sorri largo, animado, e o abracei apertado.

— Tudo bem. Obrigado!

Depois de dar um sachê pra Haru, trocamos de roupa e finalmente deitamos. Como de costume, minha gata subiu na cama e se encostou em mim, se esparramando confortável. Jungkook me puxou para mais perto, seu braço envolvendo minha cintura, enquanto ele fazia carinho suave na minha barriga. Esse simples gesto sempre me tranquilizava, era como se ele soubesse exatamente o que fazer para acalmar o bebê e fazer meu sono chegar.

E assim foi... Aos poucos, o cansaço me venceu, e eu adormeci nos braços dele.


⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

No dia seguinte.

O Jungkook avisou o Arconde logo nas primeiras horas do dia, e mesmo hesitante, ele deixou. Ainda tive tempo de me despedir do Jin antes dele voltar para Elysium.

Juntamos algumas coisas que já deixaríamos na casa, colocamos no porta-malas e pegamos a estrada, com a Haru nos acompanhando. Eu estava feliz; mesmo que meu apartamento em Elysium e o vilarejo tenham deixado memórias valiosas, eu estava animado para criar novas lembranças com minha família.

Família... Nunca imaginei que teria uma, nem o Jungkook imaginava, e agora estamos construindo a nossa. Eu me sentia tão feliz que acabava sorrindo sozinho.

À medida que o carro se aproximava, a beleza do lugar começou a se revelar. A casa de campo se erguia com uma charmosa simplicidade, com suas paredes de madeira branca que se destacavam suavemente contra o fundo verde dos arredores. O telhado, com telhas de cerâmica cinza, dava um ar acolhedor e tradicional ao lugar.

A varanda da frente era espaçosa, com uma cerca de madeira pintada de branco e um pequeno banco de balanço, ideal para relaxar e apreciar a vista. Alguns vasos de flores decoravam o espaço, embora ainda estivessem vazios, prontos para receber a plantação de primavera que eu planejava.

Os jardins ao redor da casa estavam bem cuidados, com caminhos de pedras e canteiros, onde eu já imaginava plantando uma variedade de flores. Havia uma grande horta ao lado, ainda sem uso, mas com grande potencial para cultivar muitas espécies de plantas e flores.

— Uau! — eu falava chocado, olhando ao redor sem acreditar no que eu estava vendo.

— Gostou? — ele perguntou, com expectativa na voz.

— Gostar é pouco, eu amei. É como se eu já pudesse imaginar ele correndo por todo esse campo.

Jungkook sorriu, aliviado e feliz com a minha reação.

— Que bom que você gostou, Min. Quero deixar com a nossa cara.

Dentro, a casa era tão acolhedora quanto o exterior prometia. O interior tinha um estilo rústico, com paredes claras e móveis confortáveis. A sala de estar tinha uma lareira, rodeada por sofás fofos e uma mesa de café em frente. Grandes janelas permitiam uma vista deslumbrante do campo e das colinas, e a luz do sol entrava suavemente, criando um ambiente acolhedor.

Exploramos cada cômodo animados, imaginando como seria nosso dia a dia no nosso novo lar.

A cozinha era ampla, com armários de madeira clara e uma bancada de granito. As janelas da cozinha se abriam para uma vista do jardim, permitindo que a luz do sol iluminasse o ambiente o dia todo.

— Isso me lembrou que você nunca cozinhou pra mim — brinquei.

— Já que estamos aqui, posso cozinhar algo. Que tal nosso primeiro almoço na nova casa?

— Eu amaria!

— O que quer comer?

— Hmm, me surpreenda! — respondi, rindo. — Desde que esteja bom, estou aberto a qualquer coisa.

— Ok, mas precisamos dos ingredientes.

Ele conferiu no celular e descobriu que o mercadinho mais próximo ficava a uns 15 minutos de distância da nossa casa.
Enquanto ele foi fazer as compras, eu aproveitei para explorar o restante da casa.

No andar de cima, havia quatro quartos. O primeiro que visitei foi o quarto principal. Ele era espaçoso e iluminado, com janelas grandes que ofereciam uma vista maravilhosa do campo. A cama king-size dominava o espaço, coberta com uma colcha macia e travesseiros fofos, todos novos.

Senti uma onda de satisfação ao imaginar como aquele espaço seria o nosso refúgio, e em como ele organizou tudo isso sozinho, lembrando até de coisas simples como livros e algumas decorações.

Explorando os quartos, encontrei um que parecia perfeito para o neném: um ambiente acolhedor com paredes em tom verde claro, uma janela que deixava entrar luz natural e uma decoração lúdica inspirada na natureza.

Ao ver o berço no canto do quarto, percebi o cuidado dele até nos detalhes mais sutis. Apoiei a mão na grade do berço e senti lágrimas se acumulando nos meus olhos.

Haru pulou no berço e começou a miar e ronronar.

— Não estou triste, ok? São lágrimas de felicidade. — falei com ela, enchendo seu pelo macio de beijos.

Depois de explorar o restante dos cômodos, ouvi o carro de Jungkook chegando. Ele desceu com as sacolas e seguiu para a cozinha, onde comecei a observar enquanto ele cortava legumes e separava os ingredientes.

— Quer ajuda? — perguntei.

Ele se esticou um pouco e deu um beijo no meu pescoço.

— Não precisa, vá descansar um pouco.

Pff, descansar. Eu nem estava cansado.

Aproveitei e fui até o carro pegar algumas coisas que trouxemos. Havia uma caixa pesada, mas eu sabia que conseguiria carregar ela, afinal, sou um Aether. No entanto, ao entrar em casa, o fundo da caixa rasgou e tudo caiu no chão. O barulho fez Jungkook correr até mim, preocupado.

— Que susto... — ele disse, aliviado ao me ver bem.

— Desculpe, tentei ajudar.

— Essa caixa é pesada, não precisa pegar.

Enquanto ele recolhia as coisas que caíram, notei que o livro do conto também estava entre os itens. Abaixei para pegar ele e comecei a folhear, olhando suas páginas coloridas e bonitas.

— Yuki...

— Oi? — Ele perguntou, confuso.

Eu virei o livro para ele e mostrei.

— É o nome do personagem principal desse livro. Eu lia quando era criança e peguei na biblioteca do vilarejo para reler. Não era para ter vindo para cá, mas ele veio junto com a gente.

Ele se aproximou e também folheou o livro.

— Um jovem aventureiro, corajoso e forte. Gostou desse nome? — ele perguntou carinhosamente.

— Uhum.

Ele então colocou a mão na minha barriga e, sorrindo, olhou nos meus olhos.

— Talvez, esse garotinho aqui tenha ganhado um nome. — Ele disse, enquanto acariciava minha barriga e me olhava com um sorriso.

Senti uma onda de emoção e sorri de volta.

— Será?

— Se você gostou e tem um significado especial, por que não? — ele respondeu.

Eu sorri ao sentir o bebê se mexer ainda mais, como se estivesse respondendo à nossa escolha.

— Acho que ele gostou. — falei sorrindo feito bobo.

Jungkook abaixou e deu um beijo suave na minha barriga, sussurrando com carinho.

— Estamos ansiosos pra te ver, Yuki.

O movimento do bebê se intensificou, confirmando a escolha. Esse seria o nome dele.

Enquanto o Jun foi terminar o almoço, eu fiquei sentado no balanço da varanda, sussurrando o nome diversas vezes, vendo como soava. A Haru parecia estar se adaptando bem à nova casa, correndo feliz e brincando nas árvores, bem diferente do meu apartamento minúsculo.

Eu observava todo aquele cenário ao meu redor, acariciando suavemente minha barriga e ainda sem acreditar que viveremos em um lugar como esse. O sol da tarde iluminava a cena de forma tranquila,  ainda centralizado no céu e fornecendo um calor confortável.

Na varanda também havia uma mesa, então ele preparou tudo ali mesmo e trouxe uma travessa repleta de uddon. Meus olhos brilharam ao ver e sentir o cheiro.
Antes de se sentar, ele ainda lembrou de colocar a comida da Haru e, só então se sentou à mesa.

— Amo que você só aceitou que virou o pai dela também — brinquei.

Jungkook riu, se ajeitando na cadeira enquanto servia o uddon nos nossos pratos.

— Ela já me adotou como pai desde o início, não tem volta agora.

Enquanto comemos, o ambiente estava tranquilo, e uma leve brisa atravessava a varanda, balançando suavemente as cortinas. O som distante dos grilos se misturava com o leve som dos talheres, criando uma atmosfera de paz.

— Isso está simplesmente delicioso — elogiei, aproveitando cada garfada. — Agora cozinhar pra mim será sua sentença.

— Posso cozinhar todos os dias, se você quiser.

Era louco pensar que alguém com tantos traumas pudesse ser tão bom quanto ele.
Enquanto o observava conversar com a Haru no chão, senti um calor no peito, como se borboletas estivessem voando dentro de mim.

Ele percebeu meu olhar e perguntou:

— Tá tudo bem?

— Tá, sim... ainda tô sem acreditar em tudo isso. Parece um sonho.

Ele abriu um grande sorriso e segurou minha mão sobre a mesa. Com aquele simples toque, senti um calor suave se espalhar pelo meu corpo. Era reconfortante, como se todas as inseguranças desaparecessem naquele momento.

— Um sonho que vai ser nossa realidade daqui pra frente.

Ficamos em silêncio por um instante, apenas aproveitando a companhia um do outro. A Haru, como sempre, parecia perceber o clima e miou baixinho, atraindo nossa atenção. Rimos juntos, quebrando o momento de silêncio.

Tudo parecia perfeito demais para ser verdade, e isso me deixava com medo. Medo da realidade que nos cerca, ou melhor, que me cerca.

Após o almoço, o Arconde ligou para o Jungkook, uma videochamada pra falar sobre algumas pistas contra a Ordem. Era como se eu estivesse flutuando em nuvens e, de repente, uma nuvem escura de tempestade estivesse se aproximando.

— Desculpe, Min, vou ter que fazer essa reunião com ele.

— Tá tudo bem, vou ficar lá fora e mexer na horta.

— Não faça nenhum esforço físico.

— Tá, tá... — saí abanando as mãos.

Enquanto ele ficou na sala com o notebook, fui para o lado de fora com a minha gata, conferindo a terra da horta e anotando quais plantas e flores eu gostaria de plantar.

Enquanto eu mexia na terra, olhei para a minha barriga e sorri.

— Acho bom você nascer logo pra gente fazer parte dessa mudança, garotinho. Vamos acabar com a Ordem do Eclipse — falei, acariciando minha barriga com carinho.

O vento soprava suavemente, trazendo o aroma da terra e das plantas.

Por um momento, me peguei imaginando como seria nossa vida depois de tudo isso: a tranquilidade de cultivar flores, ver nosso filho crescer livre, longe de ameaças. Mas logo a realidade voltou, e a presença da Ordem me fez lembrar que, antes disso, ainda havia muito o que enfrentar.

A Haru correu ao redor, brincando na grama, enquanto eu observava o horizonte repleto de colinas, pensativo. Eu gostava do vilarejo, e estava bem com o cuidado deles comigo, mas, eu queria ficar aqui. Eu queria me mudar hoje mesmo.

Quando a noite caiu, eu estava deitado no quarto, ainda maravilhado com tudo ao meu redor. Jungkook se aproximou e sentou na cama ao meu lado.

— Vamos voltar? — ele perguntou.

Suspirei, sentindo um aperto no peito.

— Eu quero ficar aqui...

Ele acariciou meu rosto gentilmente.

— O Arconde não vai gostar. Estamos à quase duas horas de distância do vilarejo e, de certa forma, vulneráveis.

Olhei para minhas mãos, mexendo nelas impacientemente, pensando por alguns segundos, e então, mirei no fundo dos seus olhos.

— Podemos, pelo menos, dormir aqui hoje?

Ele suspirou e me olhou com um sorriso de canto.

— Você está usando seus poderes de novo?

— Juro que não estou. — cruzei os dedos em um símbolo de promessa, mesmo que eu realmente estivesse usando.

— Tá bom, só por hoje. Mas amanhã a gente vai embora.

Meu rosto se iluminou com um sorriso de alívio.

— Obrigado, Jun.

Ele pegou minha mão e deu um beijo.

— Vou avisar o Yoongi, já volto.

Enquanto ele estava do lado de fora, fiquei observando o ambiente ao redor, tentando gravar cada detalhe daquele momento. O lugar era tão calmo, e a ideia de começar uma nova vida ali, afastados de tudo e todos, me trouxe uma sensação de paz.

Fui até o banheiro da suíte, que ainda não tinha explorado, e encontrei uma banheira perfeita. Na mochila, eu tinha sabonete, shampoo e roupas, ou seja, eu queria usar essa banheira.
Me aproximei, tentei entender os botões e apertei um deles. A banheira começou a se encher.

Ele apareceu na porta, tirando a camisa.

— Vamos tomar banho? Ótimo.

Eu ri.

Eu vou. — respondi.

— Não, nós vamos, corrija aí.

Eu sorri com a determinação dele e balancei a cabeça, rendido.

— Tá bom, nós vamos.

Ele se aproximou, me puxou pela cintura e me deu um beijo demorado na testa antes de continuar tirando a roupa. Enquanto eu pegava minhas coisas para o banho, ele ligava a água e ajustava a temperatura.

Entramos na banheira juntos, e assim que a água quente e a espuma nos envolveram, o cansaço do dia começou a se dissipar, como se cada gota aliviasse o peso acumulado. Jun se acomodou com as costas apoiadas na parede da banheira, enquanto eu me sentei à sua frente, encostando as costas nele. O calor do seu corpo se misturava ao da água, e tudo parecia mais leve naquele instante.

A primeira coisa que fez foi colocar mais sabonete nas mãos, espalhando a espuma em movimentos suaves sobre minha barriga. Seus dedos deslizavam com cuidado, buscando me relaxar do peso que ela estava. Senti meus ombros relaxarem, e, curtindo o momento, joguei a cabeça para trás, me apoiando completamente nele.

Ele era sempre tão atencioso e gentil, e fez dessa gravidez algo muito mais leve. Diferente de antes, nos primeiros meses em que fiquei sem ele, quando o medo e a insegurança eram meus únicos companheiros. Agora, ele estava aqui, e o vazio de antes era apenas uma memória distante.

— Obrigado por ter largado toda sua vida pra trás por causa de nós... — murmurei.

Em resposta, ele encheu meu pescoço e ombro com uma série de beijinhos rápidos, carinhosos e cheios de afeto. Cada toque parecia um pequeno lembrete do quanto ele estava ali por nós.

— Eu faria outras mil vezes se precisasse — ele sussurrou entre os beijos, a voz baixa e sincera, carregada de emoção. — Vocês são tudo pra mim agora.

Meu coração aqueceu ainda mais, e um sorriso suave apareceu no meu rosto.

— Somos sortudos de ter você — sussurrei, apertando sua mão sobre minha barriga.

O clima entre nós estava leve, tranquilo, como se o mundo lá fora não importasse mais. Ficar assim, compartilhando esses momentos simples, me fazia perceber o quanto eu precisava disso... o quanto eu precisava dele. Seu passado, seus traumas e sacrifícios, tudo isso se tornava irrelevante quando estamos juntos.

Ficamos curtindo o banho por um bom tempo, deixando que a água quente e o silêncio entre nós falassem mais do que qualquer palavra. Era o tipo de paz que eu nem sabia que precisava, até encontrar nos braços dele.

Eu podia sentir seu peito subir e descer lentamente, enquanto sua respiração ritmada e tranquila acalmava a minha.

Depois de um tempo, ele começou a massagear meus ombros, e eu suspirei aliviado. Suas mãos, firmes, sabiam exatamente onde pressionar, dissolvendo qualquer resquício de tensão que ainda houvesse no meu corpo.

— Tá se sentindo melhor? — ele perguntou, a voz baixa e calma, como se não quisesse quebrar a serenidade do momento.

— Uhum, muito melhor... — respondi, com os olhos fechados, aproveitando o toque dele.

De repente, senti uma pequena movimentação dentro de mim.

— Ele acabou de mexer.

Jungkook ficou quieto por um instante, e eu sorri ao perceber que ele estava concentrado, esperando sentir o próximo movimento. Quando aconteceu de novo, ele riu de leve, um riso baixo e orgulhoso.

Depois de algum tempo, quando a água começou a esfriar, me virei um pouco na sua direção.

— Vamos sair antes que a gente congele...

Ele riu e balançou a cabeça, mas não me deixou levantar de imediato. Ao invés disso, segurou meu rosto entre suas mãos molhadas e me deu um beijo lento, daqueles que fazem o tempo parar.
Quando finalmente nos separamos, senti como se ele quisesse dizer algo, mas acabou apenas sorrindo novamente.

Com cuidado, saímos da banheira, nos secando com toalhas macias que deixei ao lado. O frio leve do ambiente contrastava com o calor que ainda sentíamos um pelo outro, mas foi rapidamente aliviado quando nos vestimos e nos aconchegamos sob as cobertas.

Deitados na cama, com a Haru já encolhida nos pés, eu me virei de costas para o Jungkook. Ele me puxou para mais perto, os braços envolvendo meu corpo com aquele abraço familiar que sempre me fazia sentir seguro. Sem precisar dizer nada, fechamos os olhos, deixando que o cansaço finalmente nos envolvesse.

Ali, no escuro, a única certeza que eu tinha era que estávamos exatamente onde deveríamos estar.

— Agora vamos dormir. Amanhã teremos um longo dia pela frente. — ele murmurou, a voz baixa e suave, como se o sono já estivesse o levando.

Ainda fiquei acordado um pouco, sentindo o calor do corpo dele e as batidas do seu coração, ritmadas e tranquilas. Era como se todo o caos lá fora não pudesse nos alcançar naquele instante. A nossa pequena bolha de paz, mesmo que eu soubesse que era temporária, era tudo o que eu precisava agora.

Fechei os olhos, desejando, no fundo, que esse momento pudesse se estender por mais do que apenas uma noite. Que esse sentimento de calma, de estar juntos e conectados, fosse eterno. Porque, apesar de todas as dificuldades e desafios que ainda viriam, ali, nos braços dele, eu sentia que podíamos enfrentar qualquer coisa.

O som da sua respiração foi a última coisa que ouvi antes de finalmente ser levado pelo sono, enquanto a certeza de que, por mais breve que fosse, aquele momento seria guardado em mim para sempre.
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🪻

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Olá, leitor!
Aproveitei o feriado para escrever, revisar e postar os capítulos. Vou tentar manter esse ritmo durante a semana (isso se o trabalho não me atrapalhar).

Espero que estejam gostando da história.
Comentem muito e senta o dedo na estrelinha ali em baixo.

E até o próximo capítulo!

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