08 ; 𝙎𝙥𝙞𝙙𝙚𝙧 𝙇𝙞𝙡𝙮
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⊹ J e o n J u n g k o o k ⊹
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Passei a madrugada inteira em claro, indo de um lado para o outro, desesperado atrás do Jimin. A cada minuto que passava, a aflição aumentava. Ignorei todas as ligações dos líderes e até a chamada de vídeo que solicitaram ontem à noite. Nada mais importava naquele momento.
Quando voltei para o carro e não encontrei o Jimin, percebi que ele havia sumido junto com o último fio de esperança que eu tinha. Meu celular estava no banco, com a conversa com o Namjoon aberta. Ele leu tudo. Ali estava a verdade que eu vinha escondendo, exposta, da pior forma possível.
Passei dias ensaiando, tentando encontrar as palavras certas pra contar à ele, imaginando como ele reagiria. Mas agora... agora ele descobriu tudo de uma vez. E eu sei que, aos olhos dele, me tornei o vilão. Ou talvez, eu sempre tenha sido. O vilão que teve a audácia de se apaixonar por sua própria presa.
O peso do que eu fiz me esmagava. E o pior era saber que, ao tentar proteger a nós dois, acabei perdendo qualquer chance de recuperar sua confiança.
Voltei para o hotel quando o sol já começava a nascer, trazendo uma luz pálida que mal disfarçava o cansaço no meu rosto. Na entrada, tive o desprazer de dar de cara com o Hoseok, o que só serviu para piorar meu humor.
— E aí, Jeon. Ontem você deu um jeito de me evitar, mas hoje vou atrás do Aether junto com você — ele disse, com aquele ar presunçoso que eu tanto odiava.
Ignorei ele completamente, passando direto e me dirigindo ao elevador, sem qualquer intenção de perder mais tempo com ele.
— E aproveitando... os líderes estão loucos atrás de você. Quer que eu diga a eles que está simplesmente ignorando as ordens?
Essas palavras me pararam. Lentamente, me virei para encarar sua cara.
— Se me ameaçar de novo, vou te matar, seu desgraçado — falei, em um tom baixo, mas letal.
Ele forçou um riso, mas o nervosismo era claro. Ele sabia que eu não estava brincando, e o recado estava dado.
— Calma aí, cara. Foi só uma brincadeira... — Ele levantou as mãos, fingindo rendição. — Mas vou te dar um conselho; se continuar assim, a Ordem vai acabar com você.
Apertei o botão do elevador sem responder e entrei, deixando ele para trás. As portas se fecharam, e enquanto o elevador subia, meu peito parecia apertar mais. O desespero me consumia, e eu não conseguia ignorar o medo de que a Ordem encontrasse o Jimin antes de mim. Precisava ver ele, precisava tentar me explicar, pedir desculpas... mas será que ele ouviria?
O elevador chegou ao meu andar, e eu segui direto para o quarto. Assim que abri a porta, vi Namjoon andando de um lado para o outro. Ele parou no mesmo instante, os olhos arregalados ao me ver.
— Merda, eu achei que você estava morto! Onde esteve? — Ele parecia exausto.
Me sentei na cama, deixando todo o cansaço me atingir. Afundei o rosto entre as mãos, sentindo a tensão na mente e o peso nos ombros. Não era só o cansaço físico. Era como se o peso de tudo o que escondi estivesse finalmente me esmagando.
— Eu estraguei tudo. O Jimin descobriu tudo... E da pior forma possível. Ele leu nossas mensagens e fugiu.
Namjoon arregalou os olhos, absorvendo o peso das minhas palavras.
— Droga, JK... como isso foi acontecer?
— Eu deixei o celular no carro enquanto fui comprar algo, e ele deve ter pegado. Quando voltei, já tinha sumido... Ele leu tudo, Nam, tudo. Agora sabe sobre a Ordem, sobre minha missão... sobre quem eu realmente sou. — Minhas mãos estavam fechadas em punhos, e a culpa parecia um nó apertado no peito.
Namjoon passou a mão pelo rosto, preocupado.
— Isso complica demais as coisas. Se ele fugir, a Ordem pode ir atrás dele antes mesmo de você.
— Eu sei, mas... como eu vou olhar para ele agora? Depois de tudo que ele descobriu, de tudo que eu escondi... ele deve me odiar. — Senti minha voz tremer ao final, o peso do arrependimento tomando conta.
— Você precisa de um plano, JK. E precisa ser rápido.
Olhei para ele, tentando processar tudo. Sabia que ele estava certo, mas o desespero de perder o Jimin para sempre tornava tudo mais difícil.
— O melhor amigo dele... A essa hora, ele deve estar na aula. Vou atrás dele — falei.
Quando pensei em sair, o celular do Namjoon tocou novamente. Ele me olhou com os olhos arregalados e virou o aparelho para mim, mostrando o nome do Sunoo na tela.
— Que merda... — ele murmurou.
A pressão no meu peito aumentou ainda mais. Era óbvio que eles já sabiam que eu estava ignorando as ordens.
— Atendo? — Namjoon perguntou, hesitando.
— Sim.
— Alô? — Namjoon ouviu por um momento, sua expressão piorando a cada segundo. Após uma pausa tensa, ele me entregou o celular com um olhar sério e carregado de preocupação.
Levei o celular ao ouvido, sentindo o peso no meu peito só aumentar a cada segundo.
— Bom dia, líder. — minha voz saiu firme, mas por dentro eu estava em pedaços, a ansiedade corroendo meu autocontrole.
O silêncio que se seguiu às minhas palavras parecia sufocante. Eu conseguia sentir a tensão e a raiva nas entrelinhas da fala do Sunoo.
— Jeon, Jeon... — a voz dele soou mais fria e distante — você me conhece, e sabe que não sou tão paciente quanto meu amado marido. Por que você não atende nossas ligações?
Meu estômago revirou, e minha mente acelerava em busca de uma resposta que não piorasse a situação. O que eu diria?
— Eu... estava resolvendo um problema, líder — menti, sabendo que aquilo não seria suficiente para justificar meu atraso.
— Um problema que te impede de cumprir sua missão? — A voz dele estava carregada de sarcasmo, cada palavra soando como uma acusação. — Você sabe o que acontece quando as ordens não são cumpridas, certo?
— Eu sei, líder — respondi, tentando manter a calma. — Mas estou fazendo o melhor que posso para resolver a situação com o Aether.
— O melhor não é o que esperamos de você, Jeon, queremos além disso — A frieza da sua resposta foi cortante. — Você tem um trabalho a fazer, e é vital que o execute perfeitamente. A confiança é uma via de mão dupla, e sua falta de compromisso pode custar caro.
O peso das palavras dele me atingiu com força, como sempre. Eu sabia que o Sunoo não estava apenas falando por falar; havia uma verdade crua em suas palavras.
— Entendo, líder. Vou agir imediatamente para o êxito da missão.
— Espero que sim. Você já sabe, quero esse Aether aqui o quanto antes. Faça seu trabalho logo.
O telefone desligou com um clique seco, e o Namjoon, que havia escutado tudo, me olhou com preocupação.
— E agora? — ele perguntou.
— Agora, preciso encontrar uma forma de me redimir e de proteger o Jimin. Vou procurar o amigo dele e tentar resolver isso antes que seja tarde demais.
— E os líderes?
— Eu vou pensar em uma solução. Não posso deixar que eles o encontrem primeiro. O Jimin precisa de mim agora mais do que nunca.
Namjoon balançou a cabeça, firme em seu apoio.
— Então vá. Vou me certificar de que as coisas aqui estejam sob controle e vou enrolar o Hoseok. Se precisar de ajuda, me avise.
Com um último olhar, saí em direção à universidade, onde o Seokjin provavelmente estaria. O tempo estava se esgotando, e eu precisava agir rapidamente para corrigir o erro que poderia custar não apenas meu futuro, mas o do Jimin também.
O trânsito estava caótico, e cada minuto que passava parecia aumentar a pressão em meu peito. Cheguei à universidade com uma sensação de urgência, como se cada segundo fosse uma eternidade. Estacionei o carro em uma vaga próxima e corri até o prédio principal.
A frente do prédio estava estranhamente vazia, mas o estacionamento em frente estava lotado, indicando que as aulas ainda estavam em andamento. Eu sabia que não poderia entrar na universidade, então esperei do lado de fora.
Tentei me concentrar, procurando qualquer sinal do Seokjin. Meu coração acelerava a cada grupo de estudantes que passava, cada risada e conversa casual parecia ecoar em um mundo que eu não fazia parte. O pânico me consumia, e eu me sentia cada vez mais impotente.
Decidi esperar um pouco mais, observando a entrada do prédio, ansioso.
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Duas horas depois, alguns alunos começaram a sair, e eu mantive os olhos fixos na porta, buscando não perder a oportunidade de falar com ele. Cada rosto que aparecia só aumentava a pressão em meu peito. O tempo estava se esgotando, e a possibilidade de perder o Jimin pra sempre me consumia.
Finalmente, vi o Seokjin saindo e fui em sua direção. Ao me ver, ele parou, e seu olhar não era de bons amigos.
— Eu sabia que você viria atrás de mim.
— Eu tô desesperado atrás dele — respondi.
— Por que escondeu quem você era? Por que enganou ele? — o Seokjin questionou, a raiva e a decepção claras em suas palavras. Ele tinha toda a razão em estar assim; eu machuquei seu melhor amigo.
— Eu realmente recebi a missão pra caçar e prender ele, mas no primeiro instante em que o vi, tudo mudou — confessei, sentindo a culpa e a vergonha pesarem sobre mim. — Eu ensaiei várias vezes como contar a verdade para ele, mas me apaixonei tanto que simplesmente fiquei com medo de perder ele. No primeiro segundo que vi seus olhos, eu já sabia que não conseguiria concluir minha missão. Estou disposto a falhar nela pelo Jimin.
Ele me observou em silêncio por um momento, como se estivesse tentando avaliar a sinceridade nas minhas palavras.
— Você tem noção do quanto está arriscando, não tem? Você faz parte de uma organização horrível, e a Ordem não vai aceitar isso. Se descobrirem que você se envolveu com um Aether, vão acabar com vocês dois.
Eu balancei a cabeça, reconhecendo a verdade em suas palavras. O peso da realidade era esmagador, mas eu não podia desistir agora.
— Eu sei disso. E é exatamente por isso que preciso encontrar o Jimin primeiro. Não posso permitir que façam algo com ele. Preciso me redimir e proteger ele ao mesmo tempo, mesmo que custe caro pra mim.
O Seokjin suspirou, parecendo refletir sobre o que eu disse, a tensão evidente em seus ombros.
— Olha, eu não posso te dizer onde ele está, seria trair a confiança dele, e eu nunca faria isso. Mas vou tentar convencer ele a ir a um bar para esfriar a cabeça. Assim que eu conseguir, te mando o endereço.
— Agradeço muito — eu disse, sentindo um alívio ao saber que ainda havia uma chance.
Ele balançou a cabeça, um pouco hesitante.
— O Jimin tem um jeito pacífico, mas ele é forte, muito forte. O que você está fazendo é um puta risco, e espero que esteja preparado caso algo fuja do controle.
— Eu entendo. Vou fazer o que for preciso, e não me importo com as consequências pra mim — respondi, minha determinação firme.
— Ok. — Ele pegou o celular e sincronizou com o meu. — Esse é meu número. Vou te dando notícias. Agora preciso ir, tchau.
Ele se despediu e se afastou, e eu voltei para o carro, com a mente cheia de pensamentos conflitantes. O caminho de volta para o hotel parecia mais longo do que nunca. A incerteza de não saber onde Jimin estava me deixava inquieto, mas eu precisava esperar por mais informações do Seokjin.
Cheguei ao hotel e subi para o quarto, a mente ainda agitada. Me sentei na cama e tentei me concentrar, tentando manter a calma enquanto aguardava a mensagem com o endereço. O tempo passava devagar, e a sensação de impotência era difícil de suportar.
Eu sabia que precisava estar pronto para agir rapidamente quando recebesse a localização do Jimin, mas por agora, tudo o que podia fazer era esperar e tentar manter a esperança de que ainda havia uma chance de corrigir tudo.
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Já era noite, e eu continuava sem notícias do Jimin, nem uma ligação ou mensagem do Seokjin. Minha mente corroía com todas as possibilidades, cada uma pior que a outra.
O Namjoon voltou para o quarto e foi até a varanda, onde eu estava. Quatro garrafas de cerveja vazias estavam ao meu lado, e a quinta na minha mão.
— Se continuar enchendo a cara, aí que vai ser difícil achar ele mesmo.
— Eu precisava desligar minha mente de alguma forma.
— E funcionou?
— Não — admiti, soltando um suspiro pesado.
Ele deu com ombros.
— Pois é, então para com isso. Ficar assim não vai ajudar em nada.
Suspirei e deixei a garrafa de lado, passando a mão pelo cabelo. Eu sabia que ele estava certo.
— Se o amigo dele prometeu te mandar uma mensagem, relaxa, é só questão de tempo.
— E se ele não conseguir? E se o Jimin decidir sumir de vez? — perguntei, a angústia vazando na minha voz.
— Não vai acontecer. Ele pode estar com raiva, mas também gosta de você.
O Namjoon estava tentando me tranquilizar, mas a verdade era que, até o momento, eu só tinha falhado. Falhado em proteger ele, em ser honesto, e agora talvez estivesse realmente perdendo o Jimin. O peso dessas falhas me esmagava, cada minuto que passava sem notícias parecia acrescentar mais um tijolo à muralha da culpa.
Ficar ali, esperando, era insuportável. O silêncio do quarto parecia amplificar tudo o que eu não queria sentir.
— Você comeu alguma coisa hoje? — ele perguntou, cortando o ar pesado entre nós.
— Não.
— Então vamos jantar no restaurante do hotel.
— Não tô afim, pode ir só você.
— Não é um convite, Jeon. Vamos, você precisa comer pra ter disposição e energia pra achar seu ômega.
Eu suspirei e me levantei da cadeira na varanda. Saímos do quarto e seguimos em direção ao restaurante, que ficava na cobertura do hotel. O silêncio entre nós era pesado, e minha mente não parava de pensar no Jimin, em como ele devia estar se sentindo agora.
Quando as portas do elevador se abriram, o cheiro de comida me fez perceber o quanto eu realmente estava com fome. Mesmo assim, o peso da preocupação continuava sobre meus ombros.
Sentamos em uma mesa próxima à janela, de onde se podia ver as luzes da cidade, que brilhava a noite. O ambiente era agradável, com poucas pessoas jantando naquela hora. O Namjoon pediu algo para nós dois, sem nem me perguntar o que eu queria, e eu agradeci mentalmente por isso. Minha cabeça estava longe demais pra escolher algo.
Alguns minutos depois, o garçom trouxe os pratos e, enquanto comíamos, o Namjoon até tentou mudar de assunto, mas eu estava distante, quase sem tocar na comida.
— Espera... e cadê o Hoseok? — perguntei, lembrando da existência dele.
— Ele precisou voltar pra Wonju, mas daqui a pouco já tá de volta. Ele é um que pode ir atrás do Jimin, ainda mais porque não viu a gente caçando desde que chegou.
— Preciso ficar esperto com ele.
Enquanto terminamos de comer, conversamos sobre algumas formas de agir com o Hoseok.
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Após o jantar, subimos para o quarto. Namjoon ligou o notebook e começou a trabalhar em alguns relatórios que precisava entregar à Ordem, enquanto eu desci novamente para a área da piscina. Estava vazia, e me sentei à beira da água, observando o ambiente ao redor, em busca de alguma clareza ou paz.
A área estava iluminada por luzes suaves, e a água refletia as cores das lâmpadas ao redor, criando um clima tranquilo. Me sentei em uma das cadeiras ao redor e deixei meus pensamentos vagarem.
Me perguntava como ele estava, se estava seguro, se ainda pensava em mim, apesar de tudo. O silêncio ao redor parecia amplificar minhas dúvidas e incertezas.
O tempo passava devagar enquanto eu continuava ali, esperando aquela maldita ligação, até que...
— Jungkook?
Quando olhei na direção da voz, vi que era o Hoseok. Era só o que faltava pra terminar de foder com minha noite.
— O que você quer?
Ele se sentou na cadeira ao lado e ficou em silêncio por alguns segundos.
— Só quero conversar com você. Até quando vai ficar nessa resistência?
Revirei os olhos, sem paciência pra ouvir o que ele tinha pra dizer. Estava pronto para levantar e sair, mas então ele continuou.
— Eu tô namorando um ômega, escondido da Ordem.
De todas as coisas que ele poderia ter dito, essa era a última que eu esperava. Apoiei as costas na cadeira e cruzei os braços, olhando para ele.
— E ele é um Aether?
Ele confirmou com um aceno de cabeça, pensou por alguns segundos e continuou.
— O nome dele é Taehyung. Você conhece, já que foi você quem o capturou. É o ômega rastreador. Conheci ele na mansão em Wonju, e, bem, estou tentando tirar ele de lá desde então.
Fiquei surpreso com a revelação, a mente lutando pra processar a informação. O Taehyung era o Aether que a Ordem mais utilizava os poderes recentemente, já que ele conseguia rastrear qualquer pessoa no mundo inteiro.
— Sim, eu sei quem é. Mas por que está confiando em mim para contar isso? Nós nunca fomos amigos.
— Pra ser sincero, eu acabei ouvindo você e o Namjoon conversando um dia desses, durante o café da manhã no restaurante do hotel. Algumas palavras bastaram para eu juntar as peças e entender que você está demorando para capturar o Aether dessa missão porque gosta dele.
Parei por alguns segundos antes de responder.
— Você contou o que ouviu para alguém?
— É claro que não, Jungkook.
Coloquei a mão na testa, a friccionando como se pudesse arrancar meus pensamentos com minhas próprias mãos.
— Você entende o que eu tô passando, por isso achei que seria uma boa ideia te contar — ele disse, com um tom mais baixo.
— E como você pretende tirar ele da mansão?
— Vou tentar fazer isso em um dia que os seguranças estejam distraídos, mas você sabe como eles são atentos. A Ordem tem olhos em todo lugar, e a segurança da mansão é bem rigorosa. Tirar ele das mãos da Ordem do Eclipse é como dar uma facada no peito deles, porque isso tiraria muito poder deles.
Ele parou por um momento, olhando para o chão, como se estivesse tentando montar o plano na cabeça dele. Ele não conseguiria agir sozinho.
— Tirar ele escondido é pior, você precisa de uma desculpa convincente. Eu vou te ajudar a tirar o Aether de lá — falei, firme.
Hoseok me olhou surpreso, seus olhos arregalados mostravam o choque com minha oferta. Ele parecia não ter esperado esse tipo de apoio, especialmente de mim, já que fui eu quem capturou esse Aether.
— É sério? — ele perguntou, quase sem acreditar.
— Sim.
Por um instante, vi um suspiro profundo escapar dele, como se um peso enorme tivesse sido tirado das suas costas. Era visível o alívio e a gratidão em seu rosto.
— Obrigado... muito obrigado mesmo — ele disse, com a voz um pouco trêmula. — E saiba que eu também estou com você nisso. Se precisar de informações, de um plano pra proteger o ômega, qualquer coisa... estou aqui, disposto a colaborar.
Assenti, mantendo o foco no próximo passo.
— Primeiro, precisamos tirar o Taehyung de lá. Ele pode ser a chave pra encontrarmos o Jimin.
Hoseok franziu a testa, a preocupação rapidamente se misturando à surpresa.
— Ele sumiu?
Rapidamente, expliquei a situação para ele, contando como Jimin descobriu que eu fazia parte da Ordem e tudo o que aconteceu depois disso.
— Nós vamos conseguir achar ele — Hoseok disse, com uma confiança que me surpreendeu.
Eu nunca imaginei que receberia a ajuda dele, e menos ainda que acabaria o ajudando. Era uma situação estranha, tudo isso parecia fora do normal para nós dois, mas a ideia de ter mais um aliado nessa busca me dava uma faísca de esperança.
— Agradeço por confiar em mim e me contar tudo isso — falei.
Ele sorriu, com um ar genuinamente aliviado, como se compartilhar esse peso o tivesse feito respirar um pouco mais leve.
— Você também confiou em mim. Vou fazer o que puder para te ajudar com relação aos líderes, pelo menos até você conseguir um tempo para achar o Jimin — ele disse, dando um leve aceno de cabeça, reforçando sua promessa. — Bem, vou subir para o quarto. Boa noite, Jungkook.
Concordei, observando enquanto ele se afastava. Saber que ele estava do meu lado naquela situação complicada me fazia sentir que talvez, só talvez, houvesse uma chance real de trazer o Jimin de volta.
De repente, meu celular vibrou, quebrando o silêncio da noite. O nome de Seokjin apareceu na tela, e meu coração disparou. Era a tão esperada chamada. Atendi rapidamente, tentando manter a voz controlada apesar da ansiedade.
— Jeon, é o Jin. Hoje não vai rolar, mas vou conseguir levar o Jimin amanhã à noite em um bar. Vou te mandar o endereço. Não se atrase.
— Obrigado, eu estarei lá — respondi, a voz carregada de alívio e determinação.
Eu finalmente tinha uma chance real de consertar as coisas.
Voltei para o quarto com a intenção de dar a notícia ao Namjoon, mas ele já estava dormindo, jogado de qualquer jeito na cama, respirando calmamente. O alívio de saber que teria a chance de ver o Jimin novamente me deixou mais leve, mas a ansiedade ainda pairava, como uma sombra.
Sem mais nada a fazer, me preparei para dormir, mas os pensamentos não me davam descanso. A expectativa pelo reencontro com Jimin e o medo de tudo dar errado se misturavam, criando uma tempestade em minha mente inquieta. Fechei os olhos, na esperança de encontrar um pouco de paz, mesmo que meu coração ainda estivesse acelerado.
A possibilidade de finalmente consertar tudo no dia seguinte era a única coisa que me fazia fechar os olhos. Com isso em mente, deixei a noite me envolver, desejando que a manhã trouxesse respostas e a chance de corrigir meus erros. Talvez, com um pouco de sorte, eu encontraria o caminho de volta para ele.
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No dia seguinte.
Não tenho o hábito de sonhar, já que meu sono geralmente é leve e agitado. Mas, talvez pela exaustão que me consumia, consegui sonhar. No sonho, eu e o Jimin estávamos correndo juntos por um campo florido, rodeados por flores de cores vibrantes que se estendiam até o horizonte. A sensação de cada pétala tocando minha pele era tão vívida que parecia real, e o aroma doce das flores enchia o ar ao nosso redor, tornando aquele momento perfeito. Nós ríamos juntos, livres de preocupações, como se o mundo lá fora não existisse, como se tudo o que importasse fosse estarmos ali, um ao lado do outro.
Mas, como todo sonho bom, aquele também começou a se desfazer. As cores vibrantes das flores começaram a desaparecer, uma a uma, até o campo inteiro virar apenas uma sombra do que tinha sido. Senti um vazio no peito, um aperto sufocante, como se estivesse perdendo não só o sonho, mas também a esperança de ter Jimin de volta. Meu despertar foi brusco, e, ao abrir os olhos, a realidade dura me atingiu como um golpe.
De repente, socos apressados começaram a ecoar pela porta do quarto, me tirando de qualquer resquício de tranquilidade que restava. Eu e Namjoon, que ainda dormia, pulamos da cama. Caminhei rapidamente até a porta e a abri. Hoseok estava lá, visivelmente agitado, e o relógio marcava pouco mais de 6h da manhã.
— Porra, por que está acordando a gente? — perguntei, irritado.
— Os líderes estão ligando feito loucos pra mim. Eu não atendi, mas eles já descobriram que o Jimin fugiu — Hoseok respondeu, com uma expressão tensa.
— Merda! Como você soube disso? — perguntei, já sentindo o estômago se revirar com a notícia.
— O caçador que faz equipe comigo me avisou. Ele escutou tudo pelos corredores.
Nesse exato momento, meu celular começou a vibrar na mesa ao lado, interrompendo qualquer outro pensamento. Era uma chamada do Eunwoo, e na tela apareciam outras 32 ligações perdidas.
Respirei fundo e atendi, tentando manter a calma.
— Bom dia, líder — disse, controlando o tom de voz.
— Quero vocês três em Wonju imediatamente! — respondeu.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não temos tempo para perguntas. Não demorem — ele ordenou, desligando antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.
Namjoon nos olhou, confuso e surpreso ao ver Hoseok do meu lado, oferecendo ajuda. Explicamos rapidamente a situação, revelando o relacionamento dele com o Aether rastreador e como isso nos daria uma chance de resgatar Taehyung.
— Essa é nossa oportunidade de resgatar o Taehyung, então precisamos agir rápido e com cautela pra não levantar suspeitas — falei, firme.
Hoseok parecia esperançoso, uma expressão que eu nunca tinha visto nele. Era uma esperança parecida com a que eu sentia quando pensava em ter Jimin ao meu lado, livre e seguro.
Sem perder mais tempo, entramos no carro e partimos rumo a Wonju. O silêncio que se instalou no veículo era carregado de tensão e expectativa, cada um de nós perdido em seus próprios pensamentos, planejando, calculando, e, no fundo, torcendo para que essa fosse a oportunidade que precisávamos.
O caminho parecia mais longo do que nunca, e o peso da missão que nos aguardava pairava sobre nós. Sabíamos o que estava em jogo, e ninguém ali parecia disposto a recuar.
— O que você vai fazer depois de resgatar o Taehyung? — perguntei, mantendo os olhos na estrada enquanto dirigia.
Hoseok respirou fundo, pensativo.
— Vou levar ele para algum lugar bem longe, pelo menos até a poeira baixar e esquecerem dele — respondeu, sua voz cheia de certeza.
Namjoon, que estava quieto até então, perguntou com uma sobrancelha arqueada:
— E seu posto na Ordem?
Hoseok não hesitou.
— Vou abandonar. Não faz sentido continuar na organização que quer aprisionar ele feito um animal. — A convicção na voz dele era firme.
Eu sorri de canto, um sorriso pequeno, mas genuíno, sentindo uma ponta de respeito por ele. A postura dele só reforçou minha própria determinação. Assim que o Jimin estivesse seguro, eu também estava disposto a deixar tudo para trás, se fosse preciso. Não era só sobre a missão. Era sobre fazer a coisa certa.
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Wonju, Coreia do Sul.
Assim que chegamos na mansão da Ordem, o clima estava carregado de tensão. Os corredores pareciam mais silenciosos do que o normal, e cada passo que dávamos parecia ecoar nas paredes. Fomos diretamente para a sala de reunião, e, para nossa sorte, encontramos apenas o Eunwoo ali, aguardando.
— Por que não reportaram que o Aether fugiu? — A pergunta dele foi como um golpe, e o tom exigente quase fazia as paredes vibrarem com a intensidade.
Eu respirei fundo antes de responder, tentando não deixar a pressão me dominar.
— Desculpe, líder. Estamos lidando com a situação da melhor forma possível — respondi.
Eunwoo nos lançou um olhar penetrante, que parecia vasculhar cada palavra, cada gesto. Era como se ele estivesse tentando medir nossa sinceridade, buscando um sinal de fraqueza ou de mentira. A pressão dele era palpável.
— Se fosse da melhor forma, ele não teria fugido — retrucou, com um tom frio e implacável. — Já possuem alguma dica do paradeiro dele?
— Ainda não, mas creio que o Aether rastreador possa nos ajudar.
Eunwoo me encarou com uma expressão severa, os lábios apertados em uma linha fina, como se tentasse entender o que estava ouvindo.
— Deixa eu ver se entendi: vocês querem levar o Taehyung daqui? — Ele me olhou incrédulo, como se a ideia fosse não só arriscada, mas totalmente absurda.
Era agora ou nunca. A pressão era forte, mas não podia hesitar.
— Seria ótimo se ele fosse junto, assim nossas chances serão muito maiores — falei, firme.
O líder franziu a testa, a expressão ainda mais difícil de ler.
— E que garantia vocês têm de que ele não vai agir contra vocês?
A pergunta foi direta e justa, e, diante dela, eu sabia que precisava ser firme. Essa era a chave para convencer Eunwoo de que nossa proposta tinha um fundamento sólido. Ele não iria aceitar qualquer tipo de incerteza.
— Nós três garantiremos a segurança dele — comecei, tentando manter a voz firme. — Ele está disposto a colaborar, e sua própria sobrevivência depende disso. Além disso, temos um plano bem estruturado para garantir que ele não tenha motivos para agir contra nós. Ele sabe que não há alternativa, e se quiser viver, precisará cooperar.
Eunwoo me observou por um momento longo e silencioso, como se estivesse avaliando minhas palavras, buscando falhas. O tempo parecia se arrastar, mas, finalmente, ele deu um leve aceno de cabeça.
Eunwoo ponderou a resposta por um instante, sua expressão denunciando que ele analisava cada palavra com cuidado. Ele confiava em mim, e eu sabia que acabaria aceitando. Após um longo suspiro, ele finalmente disse:
— Ok, façam o que for necessário, desde que voltem com os dois Aethers.
Foi um alívio ouvir isso. Não precisaríamos mais recorrer a um plano de fuga.
— Obrigado, líder — respondi, já pronto para colocar o plano em prática.
Com isso, nos dirigimos até a prisão no subsolo onde o Taehyung estava detido. Ao chegarmos lá, o clima era opressor e depressivo. O corredor estava mal iluminado, com uma luz fraca piscando aqui e ali, cheirando a mofo e ferrugem. O som de metal batendo e murmúrios abafados preenchia o ambiente, criando uma atmosfera quase insuportável.
Pela primeira vez, eu olhei aquele lugar com outros olhos. As celas, antes vistas apenas como parte do meu trabalho, agora se tornaram um símbolo de crueldade. O desespero estampado no rosto dos outros Aethers ali me incomodou muito, e era algo que eu não sentia antes. Cada rosto preso atrás das barras contava uma história de dor e luta, e isso pesava na minha consciência de forma dolorosa.
Eu precisava corrigir dos erros que essa vida me fizeram cometer.
Nos dirigimos até a cela onde o Taehyung estava preso. O guarda na entrada nos olhou com desconfiança, mas quando viu o Eunwoo do nosso lado, rapidamente abriu a cela, permitindo a passagem e se afastou para nos dar privacidade.
Taehyung estava sentado em um canto, com a cabeça abaixada. Ao ouvir o som da porta se abrindo, levantou os olhos, e nosso olhar se cruzou. Um vislumbre de medo surgiu em seu rosto ao reconhecer eu e o Namjoon, mas a expressão dele mudou ao ver o Hoseok ao nosso lado, como se a presença do amado trouxesse um fio de esperança.
— Taehyung, se prepare para ir com os três até Elysium para achar outro Aether. Você já sabe, se tentar fugir vai pagar caro por isso — disse o Eunwoo, sua voz autoritária preenchendo o espaço pesado da cela.
Taehyung se levantou lentamente, a cautela evidente em seus movimentos. Para não levantar suspeitas, ele precisou sair algemado. Era uma medida de segurança, mas também uma lembrança cruel do que a Ordem do Eclipse fazia com aqueles que eram capturados.
Enquanto caminhamos pelo corredor da prisão, a tensão no ar parecia piorar. Os seguranças nos observavam com olhares atentos, e cada passo ecoava nas paredes frias.
Finalmente, saímos daquele calabouço, e o ar fresco do exterior bateu em nossos rostos, trazendo um alívio temporário.
— Vamos rápido — disse Namjoon, como se esperasse que alguém aparecesse pra nos impedir a qualquer momento.
O Aether caminhou ao nosso lado, com a cabeça erguida, embora as algemas ainda o mantivessem preso. Quando chegamos ao carro, os nervos estavam à flor da pele. Eu fui o primeiro a entrar, seguido pelo Namjoon, enquanto o Eunwoo ficou do lado de fora da mansão, observando tudo.
— Taehyung, entre — disse Hoseok, abrindo a porta do banco de trás.
Ele hesitou um momento antes de entrar, mas aceitou. O plano estava em andamento, e nós estávamos prestes a criar uma guerra contra a Ordem. Assim que passamos pelos portões, o Hoseok tirou as algemas do ômega. Olhei pelo retrovisor e vi que, no banco de trás, eles começaram a se abraçar. Taehyung estava chorando, e a cena era um misto de alívio e tristeza.
Fiquei feliz por eles, mas ao mesmo tempo, a visão me fez refletir. Eu queria estar vivendo algo assim com o Jimin. A ideia de finalmente resolver a situação e ter ele de volta era a única coisa que eu queria. A lembrança dos momentos que passamos juntos e da conexão que tínhamos me encheu de esperança, mas também de um aperto no peito.
— Por que vocês dois estão nos ajudando? — perguntou o Aether, a voz dele ainda embargada.
Olhei pelo retrovisor e, com sinceridade, respondi:
— Porque vocês têm que ficar juntos, e eu nunca deveria ter te caçado.
Ele me lançou um olhar de gratidão, seus olhos marejados pareciam carregar o peso de tudo o que havia acontecido. No banco de trás, ele apertou a mão de Hoseok com mais força, como se aquilo fosse a âncora que o mantinha firme.
— Obrigado... — ele sussurrou, quase inaudível.
Era a primeira vez na minha vida que eu agia contra a Ordem do Eclipse, rompendo com tudo aquilo que um dia acreditei ser o certo. Passei anos sendo leal, cumprindo cada missão e acreditando nas regras que nos impunham. Sempre achei que estava fazendo a coisa certa, que tudo o que fazíamos era para um bem maior. Mas agora, à medida que conheci o Jimin, percebi que essa certeza talvez nunca tivesse sido real.
Tudo o que eu defendia parecia desmoronar, e cada passo que dava era um movimento de ruptura, uma negação ao que eu era até então. Mesmo que o medo e a incerteza me assombrassem, havia algo mais forte me guiando, como uma chama que eu não podia mais apagar.
Eu estava pronto para ser eu mesmo, pela primeira vez.
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Elysium, Coreia do Sul.
Assim que chegamos à cidade, Hoseok e Taehyung seguiram direto para o quarto. Eles estavam exaustos e precisavam de descanso antes de colocarem o plano de fuga em prática no dia seguinte. O tempo que teriam ali seria apenas o suficiente para recuperar as forças antes de seguirem para um lugar seguro.
Eu e Namjoon fomos para o nosso quarto. Senti a necessidade de uma ducha quente, mesmo com o calor sufocante do verão. A água morna ajudava a aliviar a tensão que havia se acumulado no meu corpo, me preparando mentalmente para a noite que viria.
Após o banho, me sentei na beira da cama, secando o cabelo enquanto tentava organizar a enxurrada de ideias. O plano de resgatar todos os Aethers não era apenas o caminho mais justo, mas também o mais arriscado. Precisávamos agir com extrema cautela e estratégia. Um erro, por menor que fosse, poderia colocar não apenas Jimin, mas também qualquer outro envolvido em perigo.
Namjoon entrou no quarto em silêncio e se sentou ao meu lado.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou.
— Um pouco mais aliviado, mas ainda preocupado com o que vem hoje à noite.
— Vai dar tudo certo, só tome cuidado.
Após um breve silêncio, respirei fundo e olhei para ele.
— Nam, você não precisa me ajudar nisso. Eu tenho um motivo pra me virar contra a Ordem e encarar as consequências, mas você... você não tem nada a ver com isso.
Namjoon deu uma leve risada, mas logo seu sorriso desapareceu, e o rosto dele se tornou sério.
— Olha, eu não vou deixar você passar por isso sozinho. Desde que nos conhecemos, a gente sempre se ajudou, e isso não vai mudar agora. Eu me importo mais com nossa amizade do que com a Ordem. Eu não cresci lá, então não tenho consideração nenhuma por eles, só estou pelo salário alto, que, na real, nem tô ligando. Já tô rico mesmo.
As palavras dele me pegaram de surpresa, e eu dei uma risada, aliviando um pouco a tensão que estava pesando sobre mim.
— Valeu, Nam — respondi, a gratidão invadindo meu peito. — Não sei nem como te retribuir por isso.
Namjoon deu com os ombros, descomplicado, como se a ajuda dele fosse a coisa mais natural do mundo.
— Não precisa se preocupar com isso. O importante é que estamos juntos nessa, e vamos fazer esse relacionamento de vocês dois dar certo.
Ouvir isso, saber que tinha alguém como ele ao meu lado, me deu uma motivação extra. A ansiedade que eu sentia sobre o que estava por vir se misturava com uma vontade crescente de dar tudo certo, de terminar com essa história e finalmente ter o Jimin de volta.
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Quando o sol se pôs e a escuridão da noite cobriu Elysium, meu celular vibrou com uma única mensagem de Seokjin, informando o endereço onde estariam em trinta minutos. Graças a ele, finalmente eu encontraria o Jimin. Mas sabia que precisava agir com calma; não fazia ideia de como ele reagiria ao me ver.
Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que se acumulava em meu peito. Peguei as chaves do carro e me despedi do Namjoon, que me desejou boa sorte com um sorriso apreensivo. Enquanto dirigia pelas ruas tranquilas de Elysium, a mistura de expectativa e medo era quase insuportável. Eu queria acreditar que o Jimin ainda me amava, mas a dúvida me atormentava a cada quilômetro percorrido.
Chegando ao endereço, estacionei em uma rua próxima e caminhei até o local. O bar era discreto, escondido entre outras construções, com uma fachada simples, quase despercebida. Luzes baixas emanavam das janelas, e a música suave que saía de dentro era quase inaudível, como se o ambiente estivesse feito para conversas discretas.
Assim que entrei, a sensação de ansiedade se intensificou. Meus olhos vasculharam o ambiente em busca dele, e meu coração acelerou ao avistar o Seokjin em uma mesa ao fundo. Ele me viu, disfarçou um sorriso nervoso, e logo pegou o celular. Em segundos, minha tela vibrou com sua mensagem:
"Espere um pouco, quando eu sair da mesa, você vem."
O Jimin estava de costas para mim, e foi quase uma tortura ver seu cabelo loiro e não poder tocar. Cada movimento dele parecia carregar uma lembrança de tudo que eu ainda sentia por ele, e o simples fato de estar tão perto, mas ainda tão distante, mexia comigo de uma forma que eu não sabia como lidar.
Fiquei parado ali, tentando controlar a respiração, mas a ansiedade quase me engoliu. O som abafado da música e a conversa das outras mesas pareciam distantes, como se eu estivesse em outro mundo, esperando pelo momento certo para agir.
E então, o Seokjin se levantou finalmente, com um sorriso disfarçado de naturalidade, e foi até o balcão do bar. Era a deixa que eu esperava. Me movi lentamente, dando um último olhar para o Jimin antes de me aproximar. Cada passo parecia pesar mais, mas meu foco estava em não cometer nenhum erro.
Com determinação, me sentei na cadeira que ele havia deixado, de frente para o Jimin, que estava mexendo na bolsa na cadeira ao lado, sem perceber minha presença. Assim que ele levantou os olhos e me viu, sua expressão se transformou. A raiva estava estampada em seu rosto, e eu pude sentir o peso daquela emoção.
— O que você pensa que está fazendo aqui? — ele perguntou, sua voz e olhar carregados de ódio.
— Me deixe falar com você, por favor. Se ainda assim você não acreditar em mim, eu te deixo em paz.
— Eu não quero te ouvir, seu mentiroso! Eu odeio você, e sinto nojo só de te olhar!
As palavras dele cortaram o ar e me atingiram com a força de um soco no estômago. O ódio transbordava em cada sílaba, e o olhar que ele me lançou queimava de raiva. Por um momento, eu só queria desaparecer, sumir dali e nunca mais ver aquela expressão. Mas algo dentro de mim me impedia de ir embora. Eu precisava tentar explicar, precisava fazer ele entender.
— Jimin, por favor... eu não sou quem você pensa que sou, não mais. O que aconteceu entre a gente foi real, foi tudo real. Eu só... — minha voz falhou por um instante, o peso da situação apertando meu peito, mas continuei. — Eu só queria te proteger antes de contar a verdade.
Ele riu, um riso baixo e sarcástico, mas cheio de dor.
— Proteger? Você me enganou e me usou pra conseguir me caçar. E funcionou, o ômega virgem e patético caiu no seu joguinho. Só que não vai funcionar mais. Eu nunca mais quero te ver, e não se atreva a aparecer de novo na minha frente, caso contrário eu vou te matar!
As palavras dele cortaram o ar como lâminas afiadas. O ódio em sua voz era insano, e eu senti cada sílaba como um golpe. Era como se ele tivesse me fechado uma porta na cara, uma porta que eu nunca mais conseguiria abrir. E, de alguma forma, eu sabia que tudo o que eu fiz até ali, tudo o que eu estava tentando, talvez não fosse suficiente. Mas o que mais eu poderia fazer se não tentasse? O que mais eu poderia fazer, além de tentar explicar a verdade?
Ele tentou se levantar, mas, em um impulso desesperado, segurei seu braço. Aquele gesto foi meu pior erro.
Ele me encarou com um olhar carregado de uma raiva imensa, e em segundos, seus olhos ficaram completamente brancos e brilhantes, uma luz que parecia consumir toda a escuridão ao redor. Antes que eu pudesse reagir, uma onda de energia brutal se espalhou por nós. O impacto foi como uma explosão, e tudo ao nosso redor começou a desmoronar.
As paredes do bar tremeram, o teto começou a se estilhaçar, e os objetos flutuavam no ar, levados por uma força descontrolada. As pessoas gritaram, apavoradas, correndo para a saída, tentando fugir do caos que se desenrolava diante de seus olhos. Mas, no meio daquela tempestade de destruição, o único som que eu conseguia ouvir era o meu próprio coração, batendo forte no peito.
Foi tudo tão rápido.
Eu nunca tinha visto tanto poder assim, e sabia que aquilo era mais do que suficiente pra atrair a atenção da Ordem. Meu coração disparou, consciente do risco.
— Jimin, não faz isso! — gritei, tentando atravessar o vento cortante e os estilhaços que flutuavam ao nosso redor.
Corri em sua direção, lutando contra a força esmagadora que ele emanava. Mas antes que pudesse chegar perto, Jimin me ergueu no ar com uma facilidade assustadora, como se eu não passasse de um objeto qualquer. Num movimento rápido, me lançou contra a parede com brutalidade. O impacto foi devastador, e a dor irradiou por cada centímetro do meu corpo.
Mal tive tempo de processar a situação antes de sentir o poder dele apertando meu corpo contra a parede, a pressão se intensificando ao redor do meu pescoço, me sufocando cada vez mais. A sensação de ar escapando, a falta de controle, a impossibilidade de emitir qualquer som... Eu estava à mercê de sua raiva, e tudo o que restava era torcer para que ele encontrasse uma razão para parar.
O bar estava em ruínas, com pedaços das paredes caindo ao redor, e o caos só parecia aumentar. A cada segundo, mais destroços desabavam, o som de vidros quebrando e gritos abafados enchendo o ar.
Ele me mantinha pressionado contra a parede, e a dor em cada músculo do meu corpo era insuportável. Tentei reunir o que restava de força para reagir, mas a pressão em meu pescoço e o caos ao nosso redor tornavam qualquer movimento impossível.
— Min... p-por fav... — as palavras saíam trêmulas e entrecortadas pela falta de ar.
Jimin flutuava à minha frente, o olhar ardendo em raiva, e ver ele assim me devastava. Aquele era o mesmo Jimin que eu queria proteger, que eu amava. Mas agora, tomado por uma fúria implacável, ele parecia incapaz de ouvir minhas súplicas. Sua expressão era de pura dor e ódio, como se tivesse perdido o controle de si mesmo, consumido por tudo o que eu causei.
A destruição ao redor se intensificava, pedaços de concreto e estilhaços giravam pelo ar como em um furacão, enquanto ele apertava ainda mais minha garganta. Minha visão começou a embaçar, e o desespero tomou conta.
— P-por favor, me perdoe...
Seokjin tentava desesperadamente se aproximar, mas a energia que irradiava do corpo de Jimin parecia uma tempestade de luz e vento, como relâmpagos formando uma barreira invisível ao seu redor, impossibilitando qualquer aproximação. Ele avançava um passo e era repelido pela força bruta daquela energia, enquanto seus olhos buscavam alguma forma de romper o bloqueio.
— A Ordem vai te achar! Para com isso agora! — ele gritou, o desespero evidente em sua voz.
Mas Jimin não parecia ouvir, ou, se ouvia, ignorava. Estava completamente dominado pela fúria, e a intensidade do seu poder aumentava como um mar revolto. O bar, antes apenas parcialmente destruído, agora se tornava um verdadeiro campo de batalha. Paredes desabavam, estilhaços giravam pelo ar, e o chão tremia. Era uma cena de caos absoluto, como se o próprio ambiente refletisse a tempestade dentro dele.
O aperto ao redor do meu pescoço aumentou ainda mais, e a dor se espalhou, cortante e sufocante. Minha visão começou a falhar, escurecendo nas bordas, e o ar escapava em pequenas tentativas fracas de respiração. Sabia que, se ele não parasse, aquilo seria o fim. Mas com a pouca força que me restava, tentei me conectar com ele uma última vez.
— E-eu... eu te amo, Min... — sussurrei, quase inaudível.
De repente, senti seu poder se desfazer, e ele me soltou. Meu corpo despencou e atingiu o chão com força, o impacto arrancando o pouco de ar que me restava. A dor irradiava por cada músculo, mas a maior ferida estava em ver Jimin se afastando, sua figura se desvanecendo na escuridão do bar destruído. Ele caminhava lentamente para longe, seu rosto ainda marcado pela dor e pela raiva, como se eu já não fosse nada pra ele.
Tentei levantar, mas meu corpo não respondia, cada centímetro doía intensamente. Meus olhos começaram a pesar, as pálpebras se fechando sem que eu pudesse evitar. A última visão que tive foi a silhueta do Jimin se tornando cada vez mais distante, desfocada, até sumir por completo.
E então, tudo se apagou.
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Eu... eu estava em um lugar escuro, e o som de água ecoava ao meu redor. Quando olhei para o lado, vi um lago, também envolto em trevas. Do outro lado desse lago, em meio à neblina, vi o Jimin, cercado por várias flores de lírio-aranha.
Das inúmeras flores que poderiam aparecer, justo essas estavam ao redor dele, conhecidas por suas superstições ligadas à morte. A visão era inquietante, e um frio percorreu meu corpo.
De repente, comecei a afundar no chão como se estivesse em areia movediça. O desespero tomou conta de mim e comecei a me debater, tentando me libertar daquela pressão opressora que me puxava para baixo. Sentia que cada vez mais me afundava, sufocado pela sensação de que não conseguiria escapar. Foi então que, em um último impulso desesperado, eu acordei… Minha respiração estava ofegante, e minha boca, seca.
O ambiente ao meu redor era familiar, mas a adrenalina ainda corria pelas minhas veias, como se eu estivesse preso entre o sonho e a realidade. O quarto estava escuro, com algumas luzes da rua filtrando pelas cortinas e projetando sombras que dançavam nas paredes. Tentei me acalmar, levando as mãos ao rosto e respirando fundo, tentando dissipar a sensação de pânico que ainda apertava meu peito.
Foi então que ouvi uma voz familiar.
— Você está bem?
Virei a cabeça e vi Taehyung sentado ao meu lado. Apontei para o frigobar, sem dizer nada, e ele imediatamente entendeu, levantando para pegar uma garrafa de água.
— O Hoseok e seu amigo foram buscar remédio pra você, e já vão voltar.
— Obrigado — murmurei.
Eles já deviam ter saído há um tempo, pois chegaram menos de três minutos depois.
— Tá sentindo alguma dor? — perguntou Namjoon
— Só um pouco.
Namjoon soltou um suspiro de alívio e se sentou ao meu lado na cama, como se finalmente pudesse relaxar um pouco.
— O que foi que aconteceu naquele bar?
As lembranças vieram como uma onda que eu não podia evitar. Eu estava começando a pensar que aquilo tinha sido apenas um pesadelo, um fragmento de algo ruim criado pela minha mente. Mas, infelizmente, foi real.
— Ele quis ir embora, eu segurei seu braço e ele ficou louco de raiva. — As palavras saíram num sussurro, como se eu temesse que, ao falar, tudo pudesse se repetir. — Ele saiu de si; era como se os poderes tivessem tomado conta do corpo dele. Eu nunca vi tanto poder em toda a minha vida.
Namjoon me olhou com uma expressão de compreensão e preocupação, como se tentasse absorver o peso daquilo que eu havia dito.
— Não é à toa que a Ordem quer tanto ele. Ele não destruiu só o bar, mas vários imóveis ao redor. — Namjoon continuou, sua voz tensa. — Várias testemunhas relataram na televisão o que aconteceu, e é claro que isso ia chegar aos ouvidos da Ordem. Por sorte, usei a desculpa de que você foi tentar capturar ele em uma emboscada e ele reagiu, então os líderes realmente acham que estamos tentando pegar ele. Isso nos dará mais tempo.
A situação era pior do que eu imaginava.
Peguei meu celular pra ligar para o Seokjin, mas percebi que eram quase 02h da manhã. Eu seria completamente incoveniente se ligasse agora.
— Volte a dormir, ok? Infelizmente, não podemos te levar para o hospital, não com a destruição que vocês fizeram, mas dormir vai te fazer bem — disse Namjoon.
Ele me deu um remédio que eu mal sabia qual era, mas, em meio ao turbilhão de emoções, só aceitei, acreditando que qualquer coisa que me ajudasse a relaxar seria bem-vinda.
— Nós vamos voltar para o quarto. Se precisarem de algo, me liguem — disse o Hoseok, antes de sair com o Taehyung.
— Obrigado pela ajuda — Namjoon agradeceu, e eles saíram.
Assim que a porta se fechou, senti meus olhos começarem a lacrimejar. A pressão no peito parecia se intensificar a cada segundo, e foi ali que percebi o quanto a situação era mais grave do que eu imaginava. A sensação de perda era sufocante.
— Acho que... perdi ele de verdade — murmurei.
Namjoon me olhou com firmeza, balançando a cabeça.
— Não diga isso. Você nunca desistiu de nada antes, e essa não vai ser a primeira vez. Recupere suas forças, e deixe ele ter o tempo dele. Com a ajuda do Taehyung, vamos achar um jeito de achar ele de novo.
As palavras dele, firmes e decididas, acenderam uma pequena chama de esperança em meio ao desespero. Talvez, mesmo com tudo, ainda existisse uma chance.
— Obrigado... de verdade, Namjoon — agradeci, sinceramente.
Ele sorriu, um gesto que, mesmo simples, parecia carregar a promessa de que eu não enfrentaria isso sozinho.
— Irmãos são pra isso. Agora descanse, vou dormir também. Amanhã o dia vai ser longo, e você precisa estar bem.
Namjoon se ajeitou na cama ao lado, se preparando para dormir. Mas, mesmo com a calma que sua presença trazia, eu continuei acordado, encarando o teto, preso às memórias da loucura que aconteceu no bar. As cenas se repetiam em minha mente, como um pesadelo que se recusava a me deixar. O caos, os gritos, o olhar de ódio no rosto do Jimin… cada detalhe estava gravado com uma clareza dolorosa.
Na escuridão do quarto, meus pensamentos giravam em torno dele, trazendo à tona cada detalhe, cada momento que compartilhamos.
À medida que a madrugada avançava, o silêncio ao redor se tornava mais denso, como se cada segundo carregasse o peso dos meus sentimentos, tornando o ar difícil de respirar. Fechei os olhos, tentando encontrar um traço de paz no meio de tanto caos, enquanto uma única certeza tomava forma, crescendo com força dentro de mim: eu não desistiria dele. Não importava o quanto tivesse que lutar ou esperar.
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🪻
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Poxa, Min! Não faz isso! :(
Agradeço pela sua leitura e apoio.
Vamos acompanhar o que os próximos acontecimentos nos reservam.
Até o próximo capítulo!
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