04 ; 𝙎𝙪𝙣𝙛𝙡𝙤𝙬𝙚𝙧
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⊹ J e o n J u n g k o o k ⊹
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Três dias depois.
Acordei com um barulho seco de metais batendo. Ao abrir a porta, vi que era o Namjoon abaixado no chão do quarto, de costas para mim.
— Que porra de barulho é esse? Você não está vendo que eu tô dormindo? — Reclamei.
Ele virou na minha direção, e ali vi ele segurando a algema quebrada.
— Não creio... como você quebrou uma algema dessas?
— Eu só levantei pra fazer xixi e esbarrei nessa merda. Nunca quebrou segurando Aether algum e quebrou com uma simples queda.
— Você se superou dessa vez. Bem, assumindo a culpa, por mim que se dane.
— Que ruim que você é, isso culpa é sua. Já era pra gente ter pego esse ômega há dias, mas parece que você tá gostando de brincar de conquistar ele.
— Isso é parte do plano. Ou podemos fazer melhor: eu fico sentado enquanto você tenta atacar ele. Vamos ver quem vai sair machucado dessa... Ou morto.
Ele resmungou e jogou a algema longe.
— Os líderes vão mandar eu voltar só pra buscar outra dessa, e ainda vou ouvir sermão do Sunoo.
Comecei a rir, zombando dele.
— Boa sorte, eu vou ficar por aqui.
— Babaca... eu preciso de férias, sério.
Enquanto ele continuava reclamando, eu troquei a água das flores.
— Você tá cuidando dessas flores mesmo, ein?!
— Já disse que paguei por elas, não vou descartar meu dinheiro.
Ele deu com os ombros.
— Já que você diz...
— E esse tom de ironia, Namjoon?
— Eu? Jamais, senhor Jeon. Aproveita que já levantou e vamos tomar café. Eu tô morto de fome.
Saímos do quarto e fomos em direção ao restaurante do hotel. Era um ambiente luxuoso e bem decorado. O restaurante era espaçoso, com um design moderno e futurista, com poltronas em assentos azuis e mesas brancas.
— Já que tocamos nesse assunto, como está o progresso com o Aether? — Nam perguntou, enquanto olhava para o menu.
— A viagem para a feira foi perfeita para ganhar a confiança dele. Se aceitou ir para um lugar tão longe comigo, e teve a segurança de que nada aconteceu, vai ser fácil capturar o ômega sem que ele perceba. — Respondi, tomando um gole de café.
— Podemos fazer isso hoje, se quiser.
— Não! Hoje não. — respondi rápido e tossi — Espere a hora certa pra agir.
— Mas se ele já confia em você, não tem motivo pra esperar.
— Relaxa, eu sei o que estou fazendo.
Namjoon se reclinou na cadeira e cruzou os braços, com um olhar desconfiado.
— Você não está se deixando levar por ele, está?
— Que pergunta mais idiota... É óbvio que não. Só olhar a quantidade de ômegas que já capturei. — Respondi com um tom firme, tentando esconder qualquer sinal de dúvida.
Não dava pra negar o quanto o Jimin era milimetricamente lindo, mas isso não quer dizer que estou me deixando levar. Mesmo que ele seja tão, mais tão atraente, meu dever é capturar ele e apenas isso.
— Então me tira uma dúvida, JK — a voz dele me despertou. — de todos os Aethers que você ou nós capturamos, qual o mais bonito? Eu respondo primeiro; o Aether que se teletransportava. Que droga, ele era bonito demais.
— Ele era mesmo, mas o trabalho que deu pra capturar ele foi insano.
— Foi — ele riu. — Os feromônios dele me deixaram maluco, lembra que até te abandonei sozinho com ele quando finalmente o pegamos?
Eu ri com a lembrança, afinal, no dia ele realmente saiu correndo desesperado, me largando com o ômega que tentava fugir a todo custo.
— Agora me diz você, qual foi o que você mais gostou.
Eu não ia conseguir fugir da pergunta dele. Nós capturamos muitos, e com certeza alguns rostos eu esqueci. Eu lembrava da grande maioria, mas nenhum dos quais lembrei se igualavam ao Jimin.
— O Aether dessa missão.
— O florista?
— Sim.
— Eu sabia... — ele sorriu. — Ele é bonito mesmo, mas eu prefiro o outro.
— Que bom que não prefere ele.
— Uhh, ciúmes?
— Cala a boca!
Ele estava caindo na risada quando nossos pedidos chegaram. O aroma do café fresco preencheu o ambiente ao nosso redor. Começamos a comer, e a nossa conversa continuou.
— Então, qual é o plano para hoje? — perguntou ele, dando uma mordida em uma torrada com geleia.
— Vou continuar com a mesma abordagem, fingindo ser simpático. Não quero levantar suspeitas dele. — Respondi enquanto levava um pedaço de quiche para a boca.
— Ok. Ah, se não estiver ocupado na hora do almoço, vamos em um restaurante que descobri pela internet. Vi que eles vendem o melhor curry da Coreia, eleito várias vezes, inclusive. Fica quase na saída de Elysium.
— Vamos.
Conversamos mais um pouco e terminamos o café da manhã. Enquanto caminhamos para o quarto, meu celular tocou, e ao conferir, senti até meus ossos tremerem.
— Quem é? — Namjoon perguntou.
Virei o celular na direção dele, mostrando o nome do diabo. Ou melhor, do Sunoo.
— Merda, estamos mortos.
— Shhh... — coloquei o dedo na boca pedindo silêncio e atendi a ligação — Alô?
— Entendo que cautela com um Aether classe A seja necessária, mas sempre achei que você preferia usar a força física, Jungkook... agir pelas beiradas nunca foi seu estilo.
— Desculpe, líder, mas o garoto é realmente forte. Estou agindo com cuidado para levar ele sem resistência, apenas conquistando sua confiança, e tenho conseguido com sucesso, cada vez mais.
Ele suspirou do outro lado da linha, deixando claro que sua paciência estava se esgotando.
— Confiamos em vocês dois, especialmente em você, Jeon. Não nos decepcione.
— Não vou decepcionar, líder. Garanto que o resultado será perfeito, assim como foi em todas as minhas outras capturas.
— É o que espero, um trabalho impecável, e nada diferente disso.
Ele respondeu e desligou, e eu fiquei parado por alguns segundos, encarando a tela do celular.
— Ele estava bravo? — Nam perguntou.
— Não sei, mas de qualquer forma, isso não muda o plano. Vou continuar do meu jeito, e vamos capturar o ômega sem complicações.
Ele me olhou por um instante e deu umas batidinhas nas minhas costas.
— Tô contigo nessa.
— Valeu.
Seguimos em silêncio até o quarto, com a tensão crescendo a cada passo. Eu sabia que o tempo estava se esgotando e que os líderes ficariam cada vez mais em cima de nós, então não podia perder tempo.
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Namjoon ficou no hotel enquanto eu segui em direção à floricultura, que não dava nem cinco minutos de distância de onde nos hospedamos.
Quando cheguei, não entrei de imediato. Parei um pouco distante e fiquei vigiando o movimento da loja, observando cada detalhe antes de agir.
Pela vitrine, entre as flores, pude ver ele lá dentro, andando de um lado para o outro enquanto atendia os clientes, que entravam e saíam com frequência.
Após um tempo observando, percebi que a loja estava tranquila, e ele, sozinho, era o momento ideal para eu entrar. Respirei fundo e me dirigi para a entrada da floricultura.
Ao abrir a porta, o som do sino soou. Ele levantou a cabeça quando ouviu, até que seus olhos encontraram os meus, e um sorriso amigável se formou em seu rosto.
— Bom dia, Jeon.
Ele era radiante, e a forma como ele parecia gostar da minha presença me fazia pensar que, no fundo, eu queria que essa missão durasse mais.
— Olá, Jimin. Bom dia.
— Veio buscar suas flores?
— Sim, vim. Por favor.
Ele sorriu e começou a olhar para os lados, até que o sorriso se transformou em uma expressão confusa.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Eu preparei seu arranjo mais cedo, mas não está aqui. O movimento foi grande, então acho que algum cliente deve ter levado por engano. Me desculpe.
— Tudo bem, não precisa pedir desculpas.
— Vou fazer outro agora mesmo. Espera aí. Não vou tomar seu tempo, eu te prometo.
— Não tenho compromissos hoje, então pode fazer com calma.
Entre as corridas de um lado para o outro, ele pegou tudo o que precisava.
— Vou fazer o melhor arranjo de todos, com girassóis, você gosta?
— Gosto. Boa escolha.
— Certo, vou caprichar. Fique à vontade na loja.
Comecei a andar olhando ao redor enquanto ele preparava o novo arranjo, e tudo era tão bonito e bem cuidado... Quando eu capturasse ele, seria o fim de tudo isso, tudo que ele lutou para conquistar. Eu nunca me importei com nenhum alvo, mas de certa forma, eu estava me sentindo muito incomodado em capturar ele.
Enquanto pensava nisso, olhei para o lado e vi o buquê de rosas que dei para ele, ao lado do balcão, em um vaso de barro decorado de forma artesanal. As flores estavam lindas e vivas, mesmo após todos esses dias.
— As rosas, elas estão lindas — apontei.
Ele olhou orgulhoso para elas.
— Elas estão mesmo. Eu fico pouco em casa, então trouxe para a loja, pra poder olhar e cuidar durante o dia. Obrigado mais uma vez pelo presente, eu nunca tinha recebido uma, mesmo trabalhando com isso. Irônico, né?!
— Então fui o primeiro? Que honra.
Ele sorriu, e aquele sorriso fazia eu me sentir ainda mais dividido. Cada gesto, cada palavra, parecia tornar a missão ainda mais complicada. E, mesmo com todas essas complicações, no fundo, eu não queria criar barreiras para evitar. Era como se algo em mim quisesse que as coisas ficassem ainda mais difíceis.
— Aqui está seu arranjo. — Ele me entregou, e eu peguei. Tinha girassóis e alguns lírios brancos, ornando perfeitamente umas com as outras.
— Ficou realmente lindo, obrigado.
Nossos olhares se encontraram por alguns segundos, mas ele logo desviou. Tomei uma decisão meio sem pensar, mas foi a única que raciocinei no momento pra ver ele mais um pouco.
— Você gosta de curry?
— Uhum, gosto. Por quê?
— Um amigo me indicou um restaurante que é especialista em curry, fica um pouco mais distante do centro, mas dizem que é o melhor curry da Coreia. Quer ir comigo hoje à noite?
Ele me olhou surpreso, mas, após um breve instante, sorriu.
— Quero sim.
Eu também sorri de volta.
— Ótimo! Passo na sua casa às sete? Assim evitamos o trânsito da hora do rush.
— Pode ser. Vou estar pronto.
Eu queria ficar mais ali, mas não havia mais desculpas e nem queria parecer incoveniente.
— Perfeito. Então vou indo, até mais tarde, Jimin.
Ele acenou com as mãos e se despediu. Saí da floricultura com o arranjo nas mãos, me sentindo ridiculamente animado e ansioso.
Entrei no carro, mas assim que comecei a dirigir, o Nam me ligou. Ele não tinha o costume de me ligar, então eu sabia que poderia ser algo sério.
— Já estou voltando para o hotel.
— Nem vem para cá. Os líderes mandaram um endereço aqui perto pra gente pegar um Aether que está em Elysium. Te mandei o endereço.
— Ok, estou indo.
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Dirigi até o endereço que o Namjoon me enviou, com a mente ainda presa na conversa com o Jimin. A animação que senti momentos antes foi substituída por um foco gelado à medida que me aproximava do endereço. Elysium era uma cidade perigosa para Aethers, mas também para caçadores como nós, onde uma pequena falha poderia custar caro para ambos.
O endereço me levou a um shopping. Estacionei o carro no subsolo e fui até a entrada, onde encontrei Nam me esperando enquanto olhava algumas vitrines.
— O que temos? — perguntei quando parei ao seu lado.
— Um Aether classe B. Ele está lá dentro, aparentemente fazendo compras.
— Ok, qual o poder dele?
— Invisibilidade. Precisamos ficar atentos. Um segundo de descuido e ele pode desaparecer.
— Vamos aproveitar que o lugar está cheio e entrar pra vigiar seus movimentos, pelo menos até surgir uma boa oportunidade de pegar ele. Coloque o comunicador.
Ele concordou e entramos na loja. O shopping estava lotado, o que complicava as coisas, mas ao mesmo tempo oferecia uma vantagem, afinal a multidão nos dava cobertura. Assim que entramos, nos dividimos para cobrir mais terreno, mas sempre mantendo um ao outro à vista. O clima era de aparente normalidade, com pessoas indo e vindo, carregando sacolas e conversando animadamente.
— Conseguiu visualizar ele? — murmurei pelo comunicador, enquanto fingia observar algumas vitrines.
— Ainda não. Mas ele está por aqui, então não baixe a guarda.
Continuei caminhando, mantendo meu olhar atento e discreto. A situação nos exigia cautela; qualquer passo em falso, e o Aether poderia perceber nossa presença e desaparecer. Não só isso, não podemos ter testemunhas, o que seria impossível nesse lugar cheio de gente.
Finalmente, após longos minutos de busca, avistei alguém que correspondia à descrição que havíamos recebido. Ele estava em uma loja de sapatos, distraído enquanto passeava entre as prateleiras.
— Achei o ômega — murmurei para o Namjoon, que rapidamente se posicionou em um ponto estratégico. — Ele está na loja à esquerda do corredor principal, parece estar escolhendo alguma coisa.
— Vamos esperar ele sair. Pelas roupas caras que ele está vestindo, com certeza veio de carro. Vamos acompanhar ele até o estacionamento. — O Nam sugeriu, a voz baixa e firme.
— Ok, é o melhor mesmo.
Continuei observando o Aether, mantendo uma distância segura, mas sem perder ele de vista. O ômega parecia estar finalmente terminando suas compras e se dirigiu ao caixa. Esse era o momento de ficarmos prontos. Olhei para o Nam, que já estava preparado, e juntos aguardamos a oportunidade certa para agir.
Quando ele saiu da loja e entrou no elevador, junto de outras pessoas, nós entramos também. Ele parecia distraído com um fone de ouvido e várias sacolas no braço, e nem se importou com nossa presença. As pessoas desceram nos andares anteriores, mas no estacionamento subsolo, descemos apenas nós três.
Assim que saímos do elevador, o Aether caminhou até um carro estacionado em uma das vagas mais distantes. Era agora ou nunca. Trocamos um olhar e começamos a nos aproximar. A missão estava prestes a se concretizar, e qualquer erro poderia custar sua fuga.
Eu vim por trás e segurei o Aether com força contra o carro.
— Q-quem é você? O que está fazendo? — ele gritou, assustado.
— Shhh, não grita. Só colabore e tudo terminará bem.
Ele me olhou aterrorizado e imediatamente ficou invisível. Mesmo assim, continuei segurando seus braços, pois sua matéria não desaparecia com a invisibilidade.
— Namjoon, abra o carro.
Sem enxergar o Aether, continuei segurando enquanto colocamos ele dentro do carro. Quando tentei soltar ele para mudar de assento e dirigir, o Aether me acertou com um soco no rosto, mas precisamente, na sombrancelha.
— Filho da puta! Namjoon, aplica a seringa nele logo!
— Me soltem, seus desgraçados! — ele gritou enfurecido.
O Aether estava lutando desesperadamente dentro do carro, mas o Namjoon conseguiu aplicar a seringa, mesmo sem saber exatamente onde estava aplicando. Em questão de segundos, o ômega começou a parar de se debater e sua invisibilidade foi se dissipando, mostrando sua presença novamente. Até que ele desmaiou de vez.
— Merda, que ômega forte... — Namjoon comentou, enxugando o suor do rosto.
Coloquei a mão onde ele me acertou e meus dedos ficaram sujos de sangue.
— Fique segurando ele, mesmo que esteja apagado. Vou dirigir e ligar para os líderes — falei indo para o volante.
Liguei o carro e saí do estacionamento sem levantar suspeitas. Liguei para o Eunwoo, que atendeu rapidamente.
— Líder, pegamos o Aether da invisibilidade. O Namjoon vai levar ele até Wonju.
— Só um de vocês? Não. O ômega é forte e tem facilidade para a fuga, então quero que vocês dois tragam ele até nós.
Isso complicava as coisas. Wonju ficava à quase duas horas de distância de Elysium, e agora eram 15h. Eu chegaria em cima da hora para o jantar com o Jimin.
— Ok, levaremos ele.
Comecei a dirigir rápido, mantendo a atenção dividida entre a estrada e o retrovisor. O Nam estava no banco de trás, segurando o ômega que continuava apagado com o efeito do sedativo.
— Como estão os batimentos dele? — perguntei.
— Devagar, mas parece estar bem.
— Ok, fique de olho nisso. E qualquer sinal de arritmia por causa do sedativo, aplique a seringa de adrenalina.
Já eram 16h35, e ainda tínhamos um bom tempo de estrada pela frente. O trânsito estava razoável, o que facilitava correr um pouco mais, mas, para atrapalhar, notei que o medidor de gasolina estava perto da reserva, e precisava aproveitar o posto um pouco à frente.
— Vou precisar parar para abastecer — avisei.
— Você não abastece esse carro, não?
— Sim, mas eu não sabia que ia ter que levar esse ômega para a puta que pariu.
Ele riu, e o som aliviou um pouco a tensão que estava no ar.
Parei em um posto de gasolina ao longo da estrada. Abasteci o carro enquanto o Nam continuava mantendo o ômega sob controle. Enquanto eu estava na bomba, ele abriu a janela.
— Posso saber por que você está correndo?
— Tenho um compromisso em Elysium.
— Hmm, e por acaso esse compromisso tem a ver com o florista?
— Sim, vou jantar com ele no restaurante que você falou.
Ele me encarou indignado, abrindo os braços.
— Eu falei para gente ir comer lá, e não você e ele.
— Paciência.
— É, bem, já que o florista é uma prioridade agora, parece que vou ter que comer no hotel sozinho.
— Para de drama, amanhã nós dois vamos... — dei risada, e ele riu também.
Terminei de abastecer e voltei para o carro pra continuar a viagem. Apesar da tentativa de manter a calma, nossa preocupação era evidente. O ômega, agora totalmente visível, continuava inconsciente, mas ainda podia reagir a qualquer momento.
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Finalmente chegamos ao esconderijo em Wonju. Alguns seguranças vieram retirar o ômega do carro, ainda desacordado. Eu já estava pronto para voltar ao carro e partir, mas o Eunwoo apareceu na porta de entrada e nos chamou.
— Jungkook, Namjoon, venham aqui um momento.
Nos aproximamos do líder, que estava com uma expressão séria.
— Como foi a captura? — ele perguntou.
— Ele tentou resistir usando seus poderes, mas conseguimos conter ele com sedativo. — respondi.
— Ótimo — ele acenou com a cabeça. — Agora, preciso que vocês vão ao escritório e preencham o relatório sobre essa missão. E não se esqueçam de incluir todos os detalhes sobre o ômega, suas habilidades, e o que vocês encontraram durante a captura.
Porra, eu não podia acreditar nisso... Eu até poderia mandar uma mensagem para o Jimin e avisar que atrasaria, mas, eu não queria isso. Eu deveria apenas aceitar o pedido do Eunwoo e ir preencher o relatório, mas algo me dizia para insistir.
— Líder, desculpe, mas hoje tenho um jantar com o Aether que estou tentando conquistar a confiança. Sinto que essa é uma oportunidade importante para concretizar esse objetivo, mas, se eu for preencher o relatório agora, vou acabar perdendo essa chance de aproximação.
Ele me avaliou por um momento, como se pensasse na situação. O Nam também me olhou surpreso, afinal nunca questionei ou contrariei algum pedido do Eunwoo e do Sunoo.
— Um jantar?
— Sim. Ele já está começando a confiar em mim, mas quero garantir que o plano vai funcionar.
Ele suspirou, pensativo. Se fosse o Sunoo no lugar dele, eu teria recebido um "não" sem pestanejar, e provavelmente ainda seria punido.
— Tudo bem, volte para Elysium.
— Obrigado, líder — me curvei agradecendo.
— Namjoon, fique e preencha o relatório por ele. Você retorna para Elysium amanhã.
— Certo, ficarei.
Me despedi do Nam e voltei a dirigir, ansioso para chegar. O caminho era longo, mas acelerei o máximo possível.
A estrada parecia interminável, e cada minuto que passava aumentava minha ansiedade. Não queria chegar atrasado, não quando finalmente estava conseguindo me aproximar do Aether... Ou melhor, do Jimin.
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Quando cheguei no hotel já eram 18h53. Tomei a ducha mais rápida da minha vida e saí novamente em direção ao apartamento dele.
Eu estava nervoso, o que era estranho para mim, mas mesmo nervoso, queria garantir que tudo desse certo. Quando cheguei ao apartamento dele já eram 19h17, ou seja, eu estava atrasado. Desci do carro apressado e toquei o interfone.
Com menos de um minuto de espera, alguém abriu a porta de entrada do prédio. Olhei ansioso, já achando que era ele, mas era um morador qualquer. Comecei a me sentir frustrado, já considerando que ele odiou meu atraso e não ia mais sair comigo, até que...
— Achei que você tinha desistido — ele brincou, segurando a porta.
Olhei na sua direção, e quando ele me viu, seu rosto se iluminou em um sorriso tão bonito que eu fiquei sem rumo por uns segundos.
— Desculpe, tive alguns problemas com coisas do trabalho — tentei justificar meu atraso.
Ele se aproximou mais, como se tentasse olhar meu rosto mais de perto.
— Tá tudo bem? Você tá sangrando... — ele disse com o semblante de preocupação.
Passei a mão no rosto e vi que estava escorrendo sangue de onde tomei o soco, muito mais que antes. Eu tomei banho tão apressado que mal lembrei de fazer um curativo.
— Ahh, isso? Eu... eu bati em um dos armários do banheiro, coisa boba.
— Não, isso não é bobo, tá sangrando bastante. Vem, vou fazer um curativo em você.
Ele pegou meu pulso e me puxou para dentro do apartamento, e eu apenas segui. Subimos alguns lances de escada até chegar a um corredor com várias portas. Ele continuou me guiando até uma delas e a abriu.
— Meu apartamento é simples, então só ignora, por favor.
Entrei no apartamento, e a primeira coisa que notei foi o cheiro, que era incrivelmente bom. Era uma mistura suave dos seus feromônios com perfume de flores.
— Senta ali no sofá. — Ele apontou para o canto da sala.
Fiz o que ele pediu, e ele foi até o banheiro buscar o que precisava. Enquanto isso, fiquei olhando ao redor. O apartamento era simples, mas tinha um toque aconchegante e bonito em cada canto, desde as várias plantas e flores espalhadas por todo o apartamento, até o fato que estava tudo criteriosamente organizado e decorado.
A gata dele começou a andar ao meu redor, subiu no sofá e ficou ao meu lado, com a cabeça apoiada em mim.
— Aqui, achei. — Ele voltou com uma caixinha de primeiros socorros. — Inclina a cabeça pra trás.
Ele sentou do meu lado e começou a limpar o corte com cuidado, enquanto fiquei apenas observando seu rosto concentrado na tarefa. Seu toque era gentil, e mesmo com o corte ardendo, eu me sentia estranhamente bem.
— Não foi um corte tão fundo, ainda bem — ele comentou sem tirar os olhos do machucado, e eu, sem tirar os olhos dele.
— Pronto, só não vá bater em mais nenhum armário. — Ele sorriu de novo, e eu senti meu coração acelerar.
— Vou tentar. — respondi, com um meio sorriso. — E obrigado por isso.
— Não precisa agradecer...
Nosso contato visual continuou, e por um momento, o silêncio entre nós parecia cheio de significados. Eu podia sentir a tensão no ar, mas era uma tensão boa, como se algo estivesse prestes a acontecer.
Ele estava tão perto que eu pude sentir seu cheiro mais intenso que antes. Minha respiração ficou um pouco mais pesada, e percebi que meu olhar havia caído para seus lábios, que pareciam desenhados, mas voltei rapidamente para seus olhos.
— V-vamos? — Ele perguntou, quebrando o silêncio enquanto levantava.
— Sim, vamos.
Ele colocou um sachê de atum em um potinho, colocou no chão e se despediu da sua gatinha.
Saímos do apartamento e fomos para o carro. Enquanto eu dirigia, ele mexia no celular, digitando mensagens para alguém. No dossiê dele constava a informação de um único amigo, e eu já deduzi que era com ele que o Jimin estava conversando.
✧
Assim que chegamos, estacionei em uma vaga em frente ao restaurante, e entramos juntos. Ele escolheu uma mesa perto de uma das janelas, e nos acomodamos.
A decoração era simples, com uma atmosfera acolhedora e descontraída. As paredes, em tons suaves de creme, exibiam fotografias antigas e algumas pinturas modestas que adicionavam charme ao ambiente. As mesas de madeira escura, cobertas por toalhas brancas, eram acompanhadas de cadeiras confortáveis, ainda que básicas.
O restaurante estava bem movimentado, com o burburinho das conversas e o som dos talheres preenchendo o espaço. O aroma da comida caseira, com um toque sutil de especiarias, pairava no ar, deixando o lugar ainda mais convidativo.
— Que lugar aconchegante, nem sabia que esse restaurante existia... — ele comentou, olhando ao redor com interesse.
— Fico feliz que tenha gostado — respondi, abrindo o cardápio. — Como eu escolhi o lugar, vou deixar você decidir o que vamos pedir.
Ele abriu um sorriso largo e estufou o peito.
— Deixa comigo, vou escolher algo bem gostoso pra gente.
Ele começou a passar o dedo indicador pelas opções do cardápio, estudando cada prato com atenção. Seus olhos brilhavam com um toque de entusiasmo, e ele parecia ainda mais bonito enquanto estava concentrado.
— Você prefere algo apimentado ou mais suave? — perguntou, levantando o olhar pra me encarar.
— Apimentado, com certeza.
Ele sorriu satisfeito e voltou ao cardápio.
— Então, que tal o curry de carne de porco? — começou a explicar, empolgado. — Parece que leva pimenta jalapeño e um toque de wasabi... Ah, olha só, também vai mel. Acho que deve dar um toque agridoce, balanceando o sabor da pimenta.
— Parece uma ótima escolha. Por mim, pode ser esse — concordei.
Ele sorriu satisfeito, chamou o garçom e fez nossos pedidos, acrescentando arroz e legumes salteados como acompanhamento para o curry. Assim que o garçom se afastou, ele voltou seu olhar para mim, e eu pude notar o brilho de entusiasmo nos seus olhos pequenos, quase como se estivesse ansioso para provar a própria escolha.
— Eu espero que seja bom.
— Tenho certeza de que será — respondi, confiante.
Ele deu mais uma olhada ao redor, se apoiando na cadeira com um ar relaxado.
— Sabe, eu não faço isso com muita frequência. Sair pra jantar assim... na verdade, sair com alguém.
— Sério? — perguntei, surpreso. — E hoje, o que te fez mudar de ideia?
Ele sorriu de canto, como se buscasse as palavras certas. Seus olhos desviaram por um segundo, mas logo voltaram para mim, e naquele instante ele parecia vulnerável de um jeito quase encantador.
— Eu gosto da sua companhia.
Seu olhar sincero e o tom de voz suave me deixaram sem jeito. Por um momento, fiquei sem saber o que responder, sentindo uma mistura de emoções que eu não conseguia explicar.
— Eu também gosto da sua, mais do que imaginei que gostaria.
Ele pareceu surpreso com minha resposta, sorriu e olhou para suas próprias mãos em cima da mesa.
Antes de continuar a conversa, o garçom voltou com os pratos, e o aroma apimentado do curry se espalhou pela nossa mesa. Na primeira colherada já pude sentir que era gostoso. O sabor era intenso, uma combinação perfeita de especiarias com o toque agridoce do mel e o ardor forte do wasabi. Ele acertou em cheio.
— Hmmm, isso parece comida de vó. Não que eu tenha tido uma... — ele riu.
Ele era bondoso, mesmo com tantas coisas que tenha passado na vida. O tipo de pessoa que faz piada com suas tragédias pra tentar aliviar o clima.
— É, parece mesmo comida de vó — concordei, sorrindo. — Sabe, você tem um jeito de tornar tudo mais leve.
Ele me lançou um olhar tímido, com um sorriso de canto.
— Obrigado... se não for assim, as coisas ficam mais difíceis do que realmente são.
— Concordo com você — falei.
Ele sorriu, levando mais uma colher de curry para a boca, e por um momento, o silêncio entre nós foi confortável, preenchido apenas pelos sons do restaurante ao nosso redor e pelo sabor da comida.
Mesmo confortável, eu queria ouvir a voz dele.
— E você? — ele perguntou depois de um tempo, brincando com a comida no prato. — Como faz pra lidar com as coisas difíceis?
Eu parei para pensar, lembrando de todas as coisas que faço, e pela primeira vez na vida, senti um certo arrependimento.
— Eu... não sei se tenho uma resposta certa. Acho que tento me manter ocupado, focado no que preciso fazer. Talvez isso me ajude a não pensar muito no que não posso controlar.
Ele me olhou por alguns segundos, como se estivesse analisando minhas palavras, e depois sorriu, compreensivo.
— Faz sentido. Talvez seja a melhor maneira de seguir em frente.
— Talvez... e quanto a você? Como consegue lidar com tudo? Imagino que seja difícil estar sozinho em uma cidade tão grande quanto essa.
Ele suspirou, baixando os olhos para o prato por um momento antes de responder.
— Às vezes é um pouco ruim, mas dificilmente estou realmente sozinho. Sempre tem alguém, como meu melhor amigo, ou até alguns clientes que vão lá com frequência e acabo fazendo amizade... E agora, tem você também.
Suas palavras me pegaram de jeito, e senti um calor estranho no peito ao ouvir isso.
— Fico feliz em ouvir isso. — respondi, tentando esconder o quanto aquilo realmente mexeu comigo.
Ele sorriu de volta, e por um momento, o ambiente ao nosso redor pareceu sumir. Era só eu e ele, compartilhando algo simples, mas que, de alguma forma, parecia mais profundo do que qualquer coisa que eu já tenha sentido.
Eu não sabia se isso era um sentimento genuíno ou se era ele influenciando minha mente com seu poder, mas, no ponto em que estamos, eu já nem acreditava mais na segunda opção. Seja lá o que fosse, era real o suficiente para me fazer questionar todas as coisas que eu faço ou sou.
Assim que terminamos de comer, paguei a conta e saímos juntos, caminhando lado a lado em direção ao carro. A noite estava tranquila, e, por mais que fosse hora de ir embora, eu sentia uma resistência dentro de mim, como se o fim daquele momento não fosse o que eu realmente queria.
Respirei fundo, reunindo coragem, e falei:
— Bem... vou ser sincero. Queria muito continuar com sua companhia por mais um tempo. Quer dar uma volta antes de eu te levar pra casa? Se não quiser, está tudo bem.
Ele parou, olhando para o chão por um instante, como se estivesse realmente pensando na proposta. Quando levantou o rosto, abriu um sorriso suave, os olhos pequenos quase se fechando com o gesto.
— Hmm, eu topo. Mas pra onde você tem em mente?
— Que tal a praia de Haeundae? À noite a orla fica tranquila e bem iluminada. A vista do mar junto com as luzes da cidade é uma combinação incrível.
— Por mim, tá perfeito.
Com um sorriso que disfarçava um toque de nervosismo, caminhamos até o carro. Assim que nos acomodamos, liguei o motor e comecei a dirigir, o caminho rumo à praia trazendo uma sensação leve e cheia de expectativa.
✧
Ao chegarmos à praia, estacionamos e saímos do carro, sendo recebidos pela brisa fresca do mar e pelo som hipnotizante das ondas quebrando na areia. A orla estava calmamente iluminada por postes de luz amarelada que refletiam no mar, transformando a paisagem em um cenário quase mágico, onde a escuridão do céu se fundia com as águas.
— Uau, a vista é realmente linda — ele disse, com um sorriso admirado, o olhar fixo na imensidão à nossa frente.
Eu observei seu perfil por um instante antes de responder.
— Vim aqui há uns meses, só que estava sozinho. É bom estar aqui com você dessa vez.
Ele me lançou um olhar suave, e então voltou a contemplar a paisagem.
— É bom conhecer lugares novos com você. Obrigado pelo convite.
Caminhamos lentamente pela areia, a conversa fluindo de forma leve e natural, como se cada palavra fosse uma extensão do momento. Em certo ponto, paramos, decidindo sentar. Eu tirei a jaqueta, coloquei sobre a areia e sentamos lado a lado.
— Você bebe? — perguntei.
— Uhum.
— Vou comprar algumas garrafas para a gente. Me espera aqui.
A praia estava movimentada, e não demorei para localizar um bar à beira-mar. Comprei algumas garrafas de soju, que era fácil de encontrar ali, e voltei até ele.
Fomos bebendo enquanto o papo fluía sobre coisas triviais, e não demorou muito pro efeito do álcool aparecer. Suas bochechas ganharam um tom avermelhado, e ele parecia um pouco mais relaxado, com o sorriso fácil.
Com a bebida fazendo efeito, comecei a notar algo que nunca tinha sentido com tanta intensidade antes. Seus feromônios estavam mais perceptíveis, quase como uma fragrância que pairava ao nosso redor. Era sutil, mas o suficiente para despertar uma inquietação em mim, aguçando meus sentidos de uma forma que nunca havia experimentado.
Após um longo suspiro, ele virou para mim, o olhar meio hesitante, mas curioso.
— Por que se aproximou de mim?
A pergunta dele me pegou de surpresa, e senti uma espécie de aperto no peito. Eu precisava mentir.
— Porque fui comprar flores e gostei do florista.
Ele deu um sorriso meio sem jeito e começou a mexer na areia, os dedos afundando e desenhando formas sem sentido, talvez para disfarçar o nervosismo que ele também parecia sentir.
À medida que o soju fazia efeito, a conversa fluía mais naturalmente, e nossa proximidade aumentava. Ele estava mais solto, com um sorriso mais frequente, e eu também relaxava, como se o peso de tudo tivesse desaparecido. Nossos olhares se cruzavam mais vezes, e a atmosfera ao nosso redor parecia intensa, com apenas o som suave das ondas e a iluminação sútil dos postes ao redor da orla.
Sem pensar muito, me inclinei um pouco mais. A distância entre nós quase desapareceu, e nossas respirações estavam sincronizadas, criando um ritmo quase hipnotizante. Eu podia sentir o calor que exalava dele, combinado com o aroma suave de soju e com o aroma inesquecível dos seus feromônios.
Quando nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância, ele hesitou, seu olhar abaixou ligeiramente, e então, antes que qualquer um de nós pudesse cruzar aquela pequena distância, ele recuou e se afastou.
— Vou pegar mais uma garrafa de soju... — murmurou mexendo na sacola, tentando disfarçar.
Ele abriu a garrafa e deu um gole, como se a bebida pudesse camuflar o nervosismo que surgiu entre nós. Eu quis beijar ele, quis tanto que, por uns segundos, esqueci completamente quem eu era, e o que significava tudo isso. Mas sabia que não podia me deixar levar desse jeito.
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Depois de mais algumas garrafas e conversas, o sono começou a pesar nas pálpebras dele, com seus olhos se fechando aos poucos. Eu me levantei, estendendo a mão para ele.
— Vamos, vou te levar pra sua casa, já está tarde.
Ele piscou devagar, lutando contra o sono, e pegou minha mão. Quando se levantou, deu um passo em falso, e instintivamente, minha mão se moveu para segurar sua cintura, evitando que ele caísse.
— M-me desculpe, eu bebi demais... — ele riu, e seu riso, leve e despreocupado, me desarmou.
Ali, tão perto, ele estava vulnerável. Como um caçador, eu sabia que era a oportunidade perfeita para capturar ele; uma chance assim dificilmente se repetiria. Mas, ao invés de agir, me vi hesitando.
— É um sinal de que você se divertiu. E eu também... então, isso é algo bom — falei, num tom que tentava soar natural, mas, por dentro, eu estava um caos.
Ele sorriu, os olhos brilhando com uma confiança tranquila. Esse sorriso que, de algum jeito, parecia me tirar o controle.
— Eu realmente gostei dessa noite — murmurou, a voz soando meio embargada pelo sono e pelo efeito do álcool.
A oportunidade perfeita estava ali, ao alcance das minhas mãos... mas eu simplesmente não sabia se deveria dar o próximo passo.
Eu não queria dar esse passo.
Seguimos para o carro, e eu dirigi até o apartamento dele. Assim como no dia da feira, ele adormeceu no caminho, a expressão serena e o rosto suavemente iluminado pelas luzes da rua. Observar ele assim, tão bonito e tranquilo, tornava difícil acreditar no poder que ele carregava. Ele poderia acabar comigo em um segundo, com um simples estalar de dedos.
E, mesmo com todas as possibilidades diante de mim, eu apenas o levei de volta para casa. Quando chegamos ao prédio dele, estacionei.
Fiquei ali por um instante, observando ele dormir profundamente. Cada detalhe de seu rosto relaxado chamava atenção: a curva dos lábios carnudos, os cílios, o cabelo loiro e a respiração calma. Parte de mim queria deixar ele ali, olhando e gravando cada detalhe na minha mente, só pra não esquecer essa imagem.
Infelizmente, as coisas não podiam ser do jeito que eu queria. Toquei o braço dele, tentando ser o mais suave possível.
— Ei, chegamos — falei baixinho.
Ele abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes pra entender onde estava. Quando se deu conta, abriu um sorriso meio sonolento, meio desajeitado.
— Já? — murmurou, esfregando os olhos.
— Sim, vou te ajudar a subir — respondi, saindo do carro e dando a volta pra abrir a porta dele.
— N-não precisa…
— Eu insisto.
Ele aceitou minha ajuda, e juntos subimos os lances de escadas. O silêncio entre nós era quebrado só pelo som dos nossos passos e pela respiração dele, ainda um pouco lenta por causa do sono e do álcool.
Quando chegamos à porta do apartamento, ele demorou um pouco pra encontrar as chaves no bolso. Quando finalmente conseguiu, abriu a porta e se virou pra mim com um sorriso meio tímido.
— Obrigado por hoje...
Eu apenas sorri, tentando esconder o turbilhão de emoções que sentia.
— Foi uma boa noite, me diverti com você. Descanse bem, Jimin.
Ele hesitou por um segundo, como se estivesse prestes a dizer algo, mas no final apenas deu um aceno tímido com a mão e entrou no apartamento. Fiquei ali parado, olhando para a porta, até ouvir o clique suave da fechadura.
Respirei fundo e comecei a caminhar de volta para o carro, sentindo o peso de cada passo. A noite foi ótima, mas agora uma mistura de confusão e frustração se acumulava em mim. Eu queria ter dito mais alguma coisa, talvez ter sido mais sincero, ou talvez até mesmo... não, isso era só mais um pensamento impossível. Mesmo assim, não conseguia evitar.
A sensação era a de que algo dentro de mim realmente havia mudado, e, por mais que eu tentasse ignorar, isso me deixava inquieto.
Entrei no carro, soltei o ar com força, encostando a cabeça no volante por um momento antes de ligar o motor e dirigir de volta pro hotel, sabendo que essa noite não sairia da minha cabeça tão cedo.
✧
Assim que cheguei ao hotel, a primeira coisa que fiz foi ligar para o Namjoon, que tinha ficado em Wonju por conta do relatório.
— Tá me acordando por quê, Jeon? Vingança por hoje cedo? — ele reclamou com a voz arrastada de sono.
— Ainda são meia-noite.
— Ainda? — ele riu, um pouco sarcástico. — O que você quer?
— Me manda a ficha do Jimin de novo.
— Uau, não é mais "ômega" ou "Aether" agora, você chama ele pelo nome? Que fofo.
— Cala a boca e só manda logo. Tchau.
Desliguei e fui direto pro banheiro, precisava de uma ducha pra clarear a cabeça. A água gelada fez meu corpo despertar, mas meus pensamentos ainda estavam um pouco embaralhados.
Me sequei e voltei pro quarto, e logo vi meu celular iluminando. Era o dossiê do Jimin. Sentei na cama, abri o arquivo e comecei a ler com mais atenção, algo que não tinha feito de verdade antes de conhecer ele. Conforme eu deslizava o dedo pela tela, abri o arquivo e comecei a ler as informações. Era estranho, mas agora que eu o conhecia pessoalmente, cada detalhe parecia ganhar uma outra perspectiva.
As informações básicas estavam lá: nome completo, idade, habilidades. Mas o que realmente me prendeu foi o histórico de vida dele. Apesar de todo o poder que ele possuía, a vida dele sempre tinha sido marcada por desafios e dificuldades. Ele nunca teve a chance de ter uma vida comum, de construir relacionamentos reais, sempre precisando esconder o que era, sempre fugindo de cidade em cidade.
Meus olhos pararam em uma nota no rodapé, com um símbolo de atenção “Aether Classe A: Extremamente perigoso. Abordar com cautela.”
Era estranho ler isso depois da noite que tivemos. Lembrei do jeito que ele riu, das bochechas coradas pelo soju, de como ele parecia vulnerável enquanto olhava o mar, ou enquanto comia curry e ria. Difícil conciliar aquela imagem com o termo “perigoso”, mesmo sabendo que era verdade. Ele poderia acabar comigo sem esforço algum, assim como já fez com outros caçadores.
À medida que lia, uma pontada de arrependimento foi surgindo. Minha missão de vida sempre foi clara: localizar Aether, capturar e entregar para a Ordem do Eclipse. Foi pra isso que fui treinado, programado quase como uma máquina destrutiva. Mas agora, com ele... parecia que minha visão de certo e errado estava se distorcendo.
Nunca me importei com nenhum alvo, muito menos me deixava afetar por feromônios ou qualquer outra distração. Mas, com o Jimin, as coisas estavam fora de controle, e eu não conseguia entender o porquê.
Joguei o celular de lado na cama, sentindo o peso da responsabilidade que estava sobre mim. O que eu faria se tivesse que escolher entre ele e minha missão? Fechei os olhos e me deitei, tentando afastar esses pensamentos, mas a imagem dele, com seu sorriso tímido e o brilho nos olhos, não saía da minha cabeça.
Tentei ignorar a sensação de conexão que estava se formando, mas era difícil. Cada vez que tentava pensar em outra coisa, lembranças da nossa conversa, do calor da sua presença e até do cheiro dos seus feromônios invadiam minha mente.
Depois de me revirar na cama várias vezes, finalmente consegui desligar minha mente e dormir.
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🪻
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Oi, mi amor!
O que está achando?
Aquele recadin de sempre: desculpe se tiver algum errinho, sempre reviso mais de uma vez, mas algo sempre passa.
Até o próximo capítulo!
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