Capítulo 4 - Bem-vinda


   Deixem a estrelinha e comentários pra ajudar a autora aqui a saber se estão gostando da nova versão, assim continuo postando pra vcs! 

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         Pela iluminação lá fora não se podia ter uma ideia do horário, afinal, naquele lugar, até o dia muitas vezes parecia com a noite, já que o sol costumava sempre permanecer por detrás das nuvens densas, privando a região da luz.


         Dentro do enorme quarto, os arcos e arestas compunham parte das paredes, subindo graciosamente até o teto, combinando perfeitamente com a mobília escolhida minuciosamente em cores escuras sob os tons mais sóbrios. Havia móveis por todo o espaço, decorando cada canto com certo volume, enchendo qualquer olhar ganancioso de tamanho que era o luxo, ainda mais diante de tantos objetos que também possuíam alguma prata, ouro ou pedras preciosas presentes.

 
          À primeira vista, quem entrava ali se deparava com a enorme e elegantemente ornamentada janela vitoriana, cujo vitral continha alguns caracóis em ferros nas extremidades, a mesma janela cuja pouca iluminação externa mal adentrava. Logo depois uma extensa lareira, um divã, poltronas, tapetes e, é claro, uma enorme cama com dossel de cortinas pretas, roubavam a atenção.


           E era sobre aquela cama, parcialmente coberta por tecido carmesim, que Isabell descansava em seu sono profundo.


          Klaus a fitou mais uma vez, baixando o livro que tentava ler enquanto aguardava pelo despertar alheio em uma poltrona diante da lateral da cama.

 
— Bela. — Disse baixo demais, mal se ouvindo. — Assustadoramente bela. — Os sobrancelhas se uniram ligeiramente. — É uma pena que o destino tenha dificultado as coisas, caso contrário não estaríamos assim aqui... — Ele suspirou para o nada, em meio a seus devaneios. — Ao menos nos encontramos no fim.

 
            Quando a jovem de cabelos negros se mexeu minimamente, dando indícios de que despertava, a figura loira não viu outra opção além de se arrumar melhor em seu assento e aguardar.

            O teto escuro do dossel foi a primeira coisa que Isabell viu ao abrir os olhos lentamente. As sobrancelhas volumosas se uniram em confusão enquanto o olhar descia pelo móvel, avistando as cortinas presas às arestas em cada vértice da cama.

 
            O olhar foi descendo até que ela avistasse o ser de cabelos pálidos que tinha total atenção sobre a garota, observando cada mínimo movimento seu.


— Achei que não acordaria hoje. — Ele ousou dizer, rompendo o silêncio no cômodo. — Parecia estar cansada, pois entrou em sono profundo muito fácil. — Ele dizia tudo com calmamente, calmo demais para quem via a feição alheia se converter de confusa para enraivecida.


— Você. — Ela proferiu, a palavra transbordando em rispidez enquanto se colocava sentada às pressas, o olhar nunca o abandonando.


— Eu. — Disse ele de volta, soando nitidamente se divertindo com a constatação dela.


            Isabell olhou ao redor tentando identificar o lugar, falhando miseravelmente.

 
— Onde estou? — Quis saber, voltando a encará-lo.

 
— Você foi adotada, não se lembra?

 
— Não me lembro de ter concordado com isso. — Ela pontuou, o olhar afiando-se.


— Não está feliz? Que pena, sua nova família vai ficar decepcionada... — Klaus nem fazia questão de esconder o sarcasmo por trás das palavras.


           Mas o que foi a gota d'água para Isabell mesmo foi o sorriso torto dele, de quem debochava dela.


— Bem-vinda. — Ainda ousou dizer, com aquele sorriso ardiloso.

 
— Vá para o inferno! — Ela jogou nele o primeiro travesseiro que encontrou, travesseiro que Klaus pegou no ar e jogou num canto ao lado da poltrona na qual se encontrava sentado.

— Que grossa você. Essa é uma péssima forma de começar um bom relacionamento com o seu novo irmão mais velho. — Ele colocou o livro que antes lia sobre o móvel de cabeceira e se pôs de pé, pronto para se retirar e assim avisar os outros de que Isabell tinha acordado.


— Antes... Seus olhos... — A fala dela o fez parar o caminho que havia iniciado. Klaus não viu o olhar dela afiando-se mais uma vez, buscando algo naquele de costas para si. — Eles mudaram de cor e aí você... — Klaus então virou-se para ela, a feição séria. — Como fez aquilo?

 
            O sorriso perigoso, traiçoeiro demais, se fez presente, mas os lumes verdes não acompanhavam, pois a definição mais adequada para eles era a de sombrios.


            Um passo e outro, e então mais um até que Klaus se viu diante da enorme cama, logo deixando um joelho sobre as cobertas escuras ao se inclinar para frente, aproximando os corpos enquanto se mantinha equilibrado pelo braço em volta de uma das arestas da cama. Em resposta àquele ato, ele ganhou as orbes dela esbugalhadas em surpresa, o que despertou em Klaus a vontade de rir, vontade que ele segurou e ocultou por detrás daquele semblante sóbrio.

— Por que não tenta adivinhar? — Ele sugeriu, erguendo uma sobrancelha quando olhar desceu pelo pescoço dela e chegou ao decote discreto da camisola. — Sei que consegue. Disse que gosta de livros de ficção, não é? Comece por eles. — O olhar vagou pela região do colo da garota, perdendo-se na pele pálida.

   
           Isabell rapidamente tapou seu corpo com a coberta, atraindo o olhar alheio para o seu novamente.

 
— Pervertido. Eu tenho dezessete anos, sabia? — Proferiu em tom acusatório.


— E? — Para a surpresa dela, ele riu soprado, se inclinando mais e mais até os rostos estarem bem pertos. — Isso só significa algo se você estiver no seu mundo, mas agora você está no meu...

 
     "Seu mundo?" Essas palavras ecoaram na mente confusa de Bell.


Aqui a idade adulta é a partir dos dezesseis. — Ele revelou como se fosse um segredo com aquelas duas esferas verdes parecendo brilharem travessas para ela. Um segundo depois e Klaus tinha se afastado, deixando a cama, sério outra vez. — E se você for quem eu penso que é, você está enganada sobre sua própria idade.

 
— Que?? — Mas ele não respondeu, em vez disso, foi em direção à porta. — Klaus! — Isabell ainda tentou interditá-lo, mas ele foi rápido, fechando a porta na sua cara. — Klaus! Abre essa porta!


      Do outro lado, ele sorriu. Ela o divertia. A mão se manteve segurando a maçaneta firmemente, sendo impossível da garota conseguir girar um sequer milímetro do outro lado enquanto berrava.


— O que você está fazendo? — Rayna o questionou assim que apareceu no corredor, ouvindo os gritos alheios antes mesmo de se aproximar.

 
— Como pode ver, ela acordou. — Foi a resposta dele, o semblante leve, como uma criança realizada.

 
— E está aos gritos lá dentro. — Rayna pontuou, colocando as mãos na cintura. — O que diabos você fez, Klaus?

 
— Nada. — Simplesmente respondeu, dando de ombros. — Por que veio?


       Rayna bufou, Isabell continuava a berrar, chegando até a dar um chute do outro lado da porta.

 
— Mamãe pediu para que eu te chamasse para o jantar. — Respondeu. — Avise-a de que Bell acordou e que eu vim acalmá-la.

 
— Tudo bem. — E largou a maçaneta agora que ambos ouviam Isabell dando passos pesados pelo quarto, nitidamente impaciente.

 
       No térreo, Helina e Vlad dividiram a tarefa de arrumar a mesa extensa. Um acendia os candelabros enquanto o outro colocava cálices diante dos lugares. As velas presentes no enorme lustre com cordões de pérolas, já se encontravam acesas, Aquecendo o ambiente com iluminação amarelada, contrastando perfeitamente com a escuridão além das três compridas janelas, cujos vidros estavam molhados de pingos da chuva forte lá fora.

 
       O azul frio demais das paredes combinava perfeitamente com os arcos cruzados no teto em cinza, a única cor naquele ambiente era a das dálias negras, cuja cor, na verdade, era de um vermelho tão escuro, que quando a noite chegava, ela podia ser confundida, sendo tomada por vários tons de preto.

 
       Assim que Klaus adentrou no espaço, ele se dirigiu ao vaso branco esguio diante da janela central, erguendo uma sobrancelha ao perceber as flores tão vivas e perfeitamente desabrochadas.


— Isso não estava assim. — Sussurrou ao tocar uma das flores, encantado pela beleza dela.

 
— Estão lindas, não acha? — Helina se aproximou do filho com um pequeno sorriso, agraciando o rosto pálido que parecia sem vida, se não fosse, é claro, pelos lábios manchados de vermelho natural, o mesmo vermelho presente nos jarros que Vladimir colocava agora sobre a mesa. — Abriram-se hoje de manhã. É a primeira vez que elas desabrocham desde que as trouxe.

     Os lábios de Klaus oscilaram quando ele tentou reprimir um sorriso.


— Conveniente.

 
— Hm? — A mulher estranhou o comentário.


— Ela acordou.

 
     Tanto Helina, quanto Vladimir que havia posto o último jarro sobre a mesa, e Festus que adentrava na enorme sala de jantar, voltaram-se a Klaus.

 
— Você devia ter dito logo, idiota. — Vlad bufou, irritado. — Eu acabei de arrumar a mesa.
O mais novo dos irmãos riu para o mais velho, caçoando-o.


— E como ela está? — Helina quis saber.

 
— Estressada com a mudança. Rayna foi acalmá-la.


       Helina suspirou, antes de se virar e ir ajudar Vladimir a desfazer os arranjos do jantar.

 
— Já era de se esperar. — Festus comentou, adentrando no espaço também, pela passagem que levava à cozinha. — Nós a trouxemos sem seu consentimento,  praticamente a sequestramos.


— O senhor está vendo tudo por uma visão muito negativa, pai. — Klaus argumentou. — Eu diria mais que... nós demos um novo lar para ela.

 
    Festus ergueu uma sobrancelha para o caçula.


— Você precisou hipnotizá-la para que ela viesse. — Contra atacou.


    Mas o mais novo apenas deu de ombros, voltando a admirar a flor recém desabrochada.


— Se ela é quem pensamos mesmo, aqui sempre foi o seu lugar de toda forma. — Sussurrou. — Esse sempre foi seu destino.

 
   Helina, ouvindo aquilo, com um jarro na mão, disse:


— O destino de você dois, você quis dizer. Se for mesmo ela, ela finalmente está onde deve estar, e você deve ficar ao seu lado. Então vá jantar logo no seu quarto e depois vá vê-la.

 
— Acho que tudo o que ela menos quer é me ver agora. — Um riso travesso escapou dos lábios do vampiro mais novo.

 
     O olhar de Helina se afiou para o filho.


— O que diabos você fez?


— Nada, mãe. — Negou rapidamente, pegando um jarro com líquido escarlate para si. Aquele seria seu jantar. — Eu só dei as boas vindas a ela e ela saiu gritando comigo toda nervosinha. — Alegou.


        Vladimir que passava por ali, voltando da cozinha, riu também, mas era por descrença, pois sabia bem o quanto seu irmão aprontava, logo não confiava numa sequer palavra dele.


— Klaus Thomas Durand! — Helina deu dois passos na direção do loiro e o encarou fixamente, o semblante convertido em pura seriedade. — Não teste minha paciência! A menina acabou de chegar nesta casa, precisamos que ela se acostume a nós e a esse mundo, e não que queira fugir, então você vai lá e vai criar uma relação estável entre vocês. — Ordenou.

       O mais novo suspirou. Ele sabia que sua mãe estava certa.

— 'Tá bem.

 
— Ótimo. — Helina proferiu, suspirando a seguir também.

 
— Mas eu tenho uma dúvida. — Klaus alternou o olhar entre os pais. — E se Isabell não for quem pensamos que é? O que faremos com ela?


    E por um segundo o silêncio caiu sobre o cômodo.


— Nós já a trouxemos de toda forma, então ela será parte da família. — Foi Festus quem respondeu. — E como todos nós pudemos presenciar, aquela criança tem magia correndo nas veias. Não há como levá-la de volta para que viva entre os humanos sendo uma bruxa.


       Fazia sentido.


— Ou seja, — Vlad encarou o irmão. — Agora você não é mais o caçula.

 
        Apesar do tom do moreno ser de breve provocação, Klaus não se importou, pois sua mente estava na garota que agora bufou irritada lá em cima.


— Eu quero ir embora! — Isabell disse, quase num grito.


       Mas Rayna nem sequer lhe deu atenção, pois estava ocupada dentro do closet, escolhendo algumas peças de roupas para a garota.


— Já aviso que escolhi algumas roupas para você usar pelos próximos dias. — Disse, saindo do espaço e voltando para o quarto, logo parando em frente a garota com dois cabides em mãos. — Tem conjuntos como esse e vestidos longos como esses. — Ergueu um, depois outro cabide. — Você pode usar o que quiser, já que no nosso mundo cada um usa o que bem se sentir confortável. — E lhe deu um pequeno sorriso.


— Eu já disse que quero ir embora. — Isabell repetiu, o tom ríspido, sem paciência.
Rayna deu de ombros.


— E eu que isso não é possível. — A ruiva respondeu calmamente, como da primeira vez. — Agora escolhe um pra se trocar. Depois, se quiser, podemos sair para comprar mais roupas.

 
— Isso é sequestro! — Gritou, sentando na beirada da cama, logo depois bufou novamente. — Por que vocês estão fazendo isso comigo?

 
— Nós adotamos você. Você é parte da família agora. — Rayna era tão serena, nem parecia que estava respondendo a uma pessoa que parecia que ia explodir a qualquer momento.


— Mas eu não quero ser adotada! Eu não pedi por isso!

 
      Em resposta, a ruiva baixou as mãos com os cabides e deu um passo à frente, ficando mais perto de Bell.


— Seu mundo é perigoso demais para você agora que está despertando. Está mais segura conosco. — E ergueu o cabide com o conjunto de roupas. — Acho que você pode usar esse hoje, já que está mais acostumada. Depois você experimenta o resto e vê o que acha.
Isabell uniu as sobrancelhas.

 
     De novo aquilo sobre seu mundo...


— Do que você está falando? — O tom da voz baixou consideravelmente.
Rayna a fitou por um momento.

 
       Talvez Isabell precisasse de algumas respostas para aceitar toda aquela mudança inesperada para si.


        Logo a mais velha deixou os dois cabides sobre o assento da poltrona onde antes Klaus estivera e se aproximou novamente da morena.


— Você sentiu, não sentiu? — Quis saber, os lumes encontrando os seus. — Sentiu aquilo correndo pelo seu corpo quando o lustre chocou-se no chão...

 
       Bell uniu as sobrancelhas, a mente vagando até o momento.

 
       Sentiu o que?

 
— Eu não entendi, quando o lustre... — Ela só lembrava da raiva, do desconforto, de como queria ir embora dali, daquela sala.


— A energia, Isabell. Os sentimentos à flor da pele...

 
      Rayna inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, os lumes atentos à garota que parecia estar com as engrenagens de sua mente funcionando rapidamente, buscando acompanhar seu raciocínio.


      Bell então sentiu os pelos de seu corpo arrepiarem, como se estivesse revivendo o momento.


— Você se lembra como Klaus foi rápido em te afastar dali antes que aquele lustre caísse em você?

 
      Sim, ela se lembrava, lembrava muito bem de como num segundo estava debaixo daquele lustre e no outro, estava nos braços do loiro, longe o suficiente do objeto estraçalhado ao chão.


      Rayna sorriu pequeno quando um vislumbre de assombro percorreu o semblante alheio.
Em resposta, a ruiva se aproximou mais, e com o rosto bem próximo ao perfil da outra, ela ousou dizer:


É tudo real, Bell. — A fala não passou de um sussurro, mas seu peso não foi menos intenso por isso. Quando ela se afastou, as duas se fitaram mais uma vez. — Por que não escolhe uma roupa confortável, hm? Saia um pouco desse quarto e conheça a casa. — Sugeriu. — Talvez assim você acredite no que está tentando negar quanto a nós e a si mesma.

 
     E sem mais nem menos, ela desapareceu, deixando um único som da porta sendo fechada logo depois de sair.

 
     Isabell soltou o ar que nem sabia estar prendendo. A mente estava confusa demais.
Sonhos obscuros com um estranho que de repente se mostra real, gente desaparecendo diante dos seus olhos, lumes sendo dominados por um tom de vermelho vivo, lustre quebrando sem explicação...


        Eventos misteriosos demais decorrendo-se em sequência.

 
       Isabell fitou as roupas jogadas na poltrona.


       Talvez, só talvez, ela devesse seguir o conselho da ruiva, pois se tinha uma coisa que Isabell tinha certeza àquela altura, era de que ninguém naquela casa era normal.

 
       E se suas suspeitas estavam certas, aquelas mesmas suspeitas que tentava negar serem reais porque cresceu a vida toda achando que só encontraria nos livros de fantasia, existiam bem diante de seus olhos, então ela precisava confirmar por si mesma.

 
      Pelo jeito, a família que tinha adotado era tudo, menos humana.

 
      Minutos depois, vestida com o conjunto de calça jeans e blusa com mangas longas rendadas, ambos da cor preta, ela se pôs diante da porta e segurou a maçaneta.

 
      Isabell não sabia, mas aquele era o primeiro passo para que descobrisse um novo mundo e a si mesma. 


*****

Se a capa mudar de novo, é pq ainda to decidindo o que representa mais o livro, então sorry ficar mudando! 

       É assim que imagino a Rayna:


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