Apaixonado e desiludido, o jovem passou a ter noites vazias sem dia seguinte. Nessas noites, conheceu Rebeca, uma modelo em ascensão que grudou nele e passou a surgir em todos os lugares onde ele estava e ter acesso fácil a ele. Enchendo a mídia de assunto inventados para falar sobre ele.

— E aí, tá namorando a Rebeca? — Luciano perguntou quando o irmão foi dormir em seu apartamento.

— Claro que não. Só ficamos uma vez. Ela que grudou, não entendo como consegue entrar no camarim, ficar perto do palco e muitas vezes chegar aos bastidores.

— Tu é apaixonadão pela Lia, que eu sei.

— Lia nunca me viu como homem pra ela, cara. Eu fui só o cantor que ela idolatrava. Parou de falar comigo para ficar com aquele cara lá.

— Isso não quer dizer que você não goste dela.

— Gosto até mais do que eu queria gostar. Fiz sete músicas pra ela, cara.

— Porra! Falando em música e o Javier?

— Não fala mais comigo. — disse com tristeza. — Ele era meu melhor amigo, mano. Eu confiava nele. Eu sei que se passou muito tempo, mas eu ainda me sentia magoado pelo que ele tentou fazer e acabei jogando isso em cima dele quando nos falamos pela última vez. Me senti horrível, mas já tinha falado e ele saiu, não tivemos como conversar.

— Cara, acho que você devia procurar esse povo todo. Lia, Javier, a galera. É o que você quer, a Lia, se não quiser nada com você, vai dizer isso e você vai aceitar as Rebecas da vida.

— Sei lá. Mas e tu? Fica me arrumando mulher de todo jeito, mas você não tem ninguém.

Luciano sorriu e desviou o olhar do irmão. Suspirou profundamente e o encarou sério.

— Ah, filho da mãe, você já tem alguém? Por que escondeu, brother? Sei que não gosta de aparecer, mas sou teu mano... — instigou sorrindo.

— É complicado... — Foi vago e mudou de assunto.

Mesmo com o crescimento das redes sociais e o acesso fácil a smartphones, Luciano se preservava e evitava abrir a vida na internet. Mas fez um Instagram.

Dam voltou a trabalhar e a fazer vários shows pelo mundo. Notou que Rebeca não só tinha acesso fácil a ele como sabia de seus passos e não era barrada por nenhum segurança. Incomodado com aquilo, o jovem foi procurar Amarildo.

— Você é o primeiro moleque de dezenove anos que se incomoda com a perseguição de uma gata daquelas.

— Só tenta manter ela longe de mim, por favor. Não gosto dela. — esclareceu e sentiu o celular vibrar.

— Você já ouviu falar em sexo? Ela só quer isso.

— E eu já dei isso a ela, mas não quero mais. Mantenha ela longe de mim ou contrato meus próprios seguranças para fazerem isso.

— Tudo bem... senão gosta de mulher, é só dizer. — disse sorrindo com sarcasmo.

— Eu não gosto é dela. — disse e saiu para retornar a chamada do irmão.

— Dam, descobri uma coisa chata, cara.

— O que foi? Fala logo... — pediu entrando no elevador.

— O Amarildo mandou a Lia ficar longe de você. Chegou a ameaçar a menina, mano.

— Como é que é?

— É isso mesmo. Ela disse que ele mandou ela aparecer com outro porque você é sensível e só aceitaria o sumiço dela se você a visse com outro.

Dam tentou voltar a sala do empresário, mas acabou saindo do prédio. Tinha lágrimas nos olhos quando socou o volante do próprio carro.

— Colocou a Rebeca para me perseguir. Devem estar juntos nisso.

Nasceu ali a desconfiança de Dam.

Depois de muito pensar e lamentar por não ter ido atrás de Lia, o jovem resolveu abordar Amarildo.

— Meu garoto, que bom que veio. Já ia ligar pra você. Fechei uma turnê pela Europa e vou colocar você no palco mundo do maior festival de pop do universo. — disse em êxtase.

A maior realização de um cantor era se apresentar naquele festival. Então Dam ficou sem palavras. Mas só acreditou que aquilo realmente aconteceria quando viu seu nome na lista de confirmados que circulava pela internet.

Oito meses foi o tempo que durou a parceria de Amarildo e Dam Rios. Pois o jovem descobriu minutos antes de entrar no palco para a maior apresentação de sua vida, que o irmão havia sido baleado e estava em estado grave no hospital, precisando de sangue.

O astro largou tudo e correu para o hospital. Deixou uma plateia de 300 mil pessoas frustrada, reclamando na internet e exigindo reembolso e Amarildo completamente louco de ódio, pois investiu e ganharia muito dinheiro com aquele show.

Dam chegou ao hospital e foi direto ajudar o irmão, pois foi levado por um médico que o prepararia para a transfusão.

Luciano estava na mesa de cirurgia, havia usado todo o estoque de sangue O- disponível no hospital e esperava mais para sobreviver. Juvenal estava a caminho, mas não chegaria a tempo.

Dam estava fora de si com medo de perder o irmão. Doou o quanto precisou e ficou em um quarto esperando e se recuperando.

Luciano ainda estava em estado crítico no dia seguinte, quando Dam deixou o hospital e enfrentou a imprensa e o empresário, que estava furioso. Amarildo não o deixou falar com ninguém. Estava com celular descarregado e se deixou levar pelo homem.

Amarildo rompeu o contrato alegando que precisaria pagar a multa pelo show cancelado.

— O meu irmão estava morrendo, caramba. Se é dinheiro que você quer, eu te dou dinheiro, mas não venha comparar a porcaria de um show com uma vida.

Dam pagou a multa do festival e rompeu o contrato com o homem, que cancelou uma turnê pelo Brasil.

— Eu posso tentar andar sozinho, pai, mas nesse momento preciso que o Luciano reaja. Saia dessa. — disse quando contou ao pai o que havia acontecido e recebeu apoio do homem.

Dam foi às redes sociais e explicou o que estava acontecendo em sua vida, pois a imprensa havia contado várias versões sobre o cancelamento do show e uma delas foi briga entre ele e o empresário.

Depois de divulgar o vídeo de desabafo, foi contatado por várias pessoas e recebeu apoio dos fãs também.

Luciano saiu do estado crítico e passou a se recuperar. Dam ia todos os dias ficar com o irmão, que ao acordar e vê-lo ali, olhou em volta e fechou os olhos. Dam acordou depois de ouvir o monitor cardíaco.

— Luciano?

— Oi...

— Ah, porra! Você me deu o maior susto, cara. — disse sorrindo e chamou um médico.

Luciano chamou o irmão para conversar no dia seguinte, pois receberia a polícia. Sentia-se melhor e pronto para contar o que aconteceu e por que fora baleado.

Dam ligou para Javier e se encontrou com ele antes de ir ao hospital.

— Cara, eu fiquei com muita raiva quando soube que vocês tinham vindo sem mim. Me senti traído.

— Eu fui na tua casa, Dam. Falei com a tua mãe. Te esperamos no dia por mais de três horas e fomos sabendo que o Amarildo ia buscar você. Nunca passou pela minha cabeça deixar você pra trás. E eu só te deixaria lá se tivesse ido pra faculdade, você só tinha quinze anos, precisava terminar o ensino médio.

— Porra, mano. Minha mãe não falou nada. Nunca tocou nesse assunto e eu fui um otário com você.

— Eu também fui um otário com você, Dam. Desculpa, eu devia ter te falado naquele dia, mas o Amarildo tava roubando a gente.

— O quê?

— É isso mesmo. Eu descobri e ele disse que estava precisando pagar uma dívida e fez um drama, mas poucos dias depois você veio falar comigo avisando que seguiria solo.

— Puta que pariu. Ele arrancou uma boa grana de mim antes de sair. Sumiu, aquele desgraçado. Ainda tentou me queimar depois do festival.

— As músicas da Téssera da nossa época, ele ficou com todas. Tudo o que fizemos nesses três anos tá com ele.

— Não acredito nisso. Que droga! E eu estava com uma pasta cheia, cara. Ia te enviar um álbum, mas aconteceu umas merdas aí e escondi, sabe?

— Que merdas?

— Lia, pô. A garota sumiu do nada, aí o Luciano descobriu que aquele maldito tinha mandado a menina ficar longe de mim.

— Ele se gabava que éramos os produtos dele, não duvido que quisesse controlar até quem você namorava.

— Estou indo ver o Luciano no hospital, vamos lá?

Javier se levantou e acompanhou o amigo. Luciano estava assistindo TV.

— Oi, manão, olha quem está aqui...

Luciano sorriu e acenou.

— E aí, como se sente, cara?

— Furado. — brincou sorrindo. — Estou melhor. Mas foi por pouco.

— Rio é muito perigoso mesmo. Bala perdida quase sempre.

— É, mas não foi bala perdida. — disse fazendo o irmão se aproximar de cenho franzido.

— Você sabe quem atirou em você?

— Botei o Amarildo na parede, aquele desgraçado estava roubando vocês. Ele ameaçou a Lia, tocou o terror com a família dela. Antes de atirar em mim, ele disse que te sugaria até a última gota e depois te descartaria como fez com a banda.