Uma semana havia se passado desde o dia que Hoseok foi pego por Yoongi arranhando o carro de Habon no estacionamento da Universidade. Seria mentira se dissesse que não estava fugindo do seu novo ajudante. Sentia um pouco de vergonha pelas atitudes infantis que estava tendo ultimamente, mas isso não queria dizer que se arrependia de cada uma delas. Se tivesse outras oportunidades, faria tudo novamente só para prejudicar Habon e Wondow.

No sábado de manhã, com o sol escondido atrás das nuvens carregadas de chuva e o vento gélido, Hoseok dirigiu na direção da casa de Yoongi um pouco emburrado. Tinham que começar o projeto ou ficariam sem hora extra para completar a carga horária de estudo.

Tudo bem que nunca tivera afinidade com Min Yoongi, mas ao longo da semana, não encontrou ninguém melhor para lhe ajudar e acabou tendo que morrer na mão do jogador de xadrez Suspirou alto e fez uma careta de repulsa. Pelo menos eu não iria ficar sem horas extras e não seria repreendido pelo papai. No fim, eu até tinha me dado bem com todo o interesse desse cara, né.

Entrou na Rua 13 como Yoongi lhe orientou e procurou por uma casa que tinha um jardim na frente, encontrou-a em seguida. Era a única residência que se encaixava na descrição passada para si. Será que estava no lugar certo?

— Pela nota e pelas horas extras! — falou baixinho para si mesmo, estacionando o carro na calçada e segurando o volante com força. — É só por isso, Hoseok. Vocês não vão namorar e nem virar amigos, pode ficar tranquilo.

A casa que estava à sua frente tinha dois andares, um jardim bem cuidado na frente e a cerca de madeira que estava à sua volta era da cor branca. Parecia confortável e bonita. Reconheceu o carro de Yoongi estacionado na garagem, confirmando estar no local certo.

Desceu do carro, caminhou até o portão e bateu no cercado de madeira. Torceu para que o parceiro não estivesse dormindo, não queria ser inconveniente logo pela manhã. Não obtendo uma resposta, bateu novamente, agora com mais força, mas como da primeira vez, ninguém apareceu. Com vontade de ofender a próxima geração do seu ajudante, Hoseok meneou a cabeça e virou as costas para ir embora. Porém, assim que deu alguns passos na direção do seu carro, ouviu um barulho vindo da casa.

— Hey! — Yoongi abriu a porta da frente e chamou-o. — Está indo embora? Entra aí!

Um pouco constrangido, Hoseok caminhou na direção de Yoongi com um sorriso amarelo no rosto. Sem perceber, seus olhos passaram pelo rapaz, observando-o mais de perto.

Ele tinha uma aparência de quem acabara de acordar. Seus cabelos estavam jogados para todos os lados, dando um ar mais despojado, e seus olhos estavam menores, tentando bloquear a luz do dia. Seus lábios estavam inchados e sua roupa, moletom cinza, estava amarrotado.

— Esqueceu que eu viria hoje? — perguntou quando Yoongi deu-lhe espaço para passar pela porta e entrar na sala da residência. — Você parece que acordou agora.

— Não esqueci, apenas estava tirando um cochilo no sofá enquanto você não chegava — mentiu. — Quer comer alguma coisa? Estou faminto! — Fechou a porta atrás de si.

Por que será que sente fome? Acabou de acordar, né.

— Não, obrigado. Estou bem assim.

— Tem certeza? Eu sei fazer um misto que é uma delícia.

— Tenho. Estou mesmo sem fome! — Hoseok não queria dar trabalho e não estava ali para comer.

Caminharam para a cozinha e ele olhou em volta, preso nas paredes e nos vários quadros pendurados que estavam ali, enfeitando-as.

Aquele era Yoongi quando criança? Olhou para o retrato de um garotinho com um sorriso gengival fofo exposto. Tinha um rosto fino e olhos pequenos. Era até adorável vê-lo naqueles quadros. Continuou observando até se sentar na cadeira da cozinha e cravar os olhos no dono da casa, que não tinha aberto a boca para falar até aquele momento.

Com rapidez e sob os olhos de Hoseok, Yoongi tirou as coisas de dentro da geladeira, colocou-as na bancada da pia, e coçou os olhos. Bocejou alto e preguiçoso, esticando o corpo.

— Você já pensou em algo para fazermos? — Hoseok perguntou, quebrando o silêncio. — Qualquer coisa.

— Ainda não. E você?

— Andei pensando em uma decoração com o tema de comidas tradicionais. O pessoal da gastronomia e da história gostaram da ideia. Seria algo diferente de tudo o que já fizemos até agora.

Continuou falando compulsivamente, tentando preencher o silêncio enquanto Yoongi tentava prestar atenção, mas parecia que estava perdido.

— Então podemos fazer maquetes e desenhos de pratos usando isopor como auxílio. E finalizamos com tinta e cola.

— Sim, isso seria perfeito! — Yoongi exclamou, colocando suco nos copos. — Aqui, pega um pão para você, fiz dois. Um para cada.

— Não precisava.

— Não precisava? Você é meu convidado, sou obrigado a ser gentil. Então, só cale e coma!

Ofendido, Hoseok pegou o pão e mordeu, sentindo o queijo escorrer pela sua boca. Aquilo estava muito bom, mas a raiva que começou a queimar dentro de si tirou toda a fome que sentia. Não gostou das palavras que foram jogadas em sua direção. Não conseguiria ficar calado por muito tempo. Torceu os lábios e colocou o pão no prato, limpando os dedos na roupa.

— Escuta, eu não gostei como acabou de falar comigo. Eu não pedi para você fazer comida para mim e muito menos não queria estar aqui! — Explodiu. — Você me mandou calar a porra boca e nem somos amigos para você falar dessa forma comigo. Você está tentando fazer? Me humilhar? Eu posso pegar minhas coisas e ir embora agora mesmo daqui.

Yoongi abriu a boca em espanto.

— Por favor, eu não quero fazer nada disso com você, pode ter certeza. Eu só acabei de acordar e queria um pouquinho de silêncio. Desculpa se fui rude. — Yoongi tinha um péssimo humor quando acordava pela manhã. — Foi tudo intencional.

— Então, quando chamar as pessoas para sua casa, seja educado ou acorde mais cedo para recebê-las com uma aura melhor. Ser tratado assim é frustrante e dá vontade de nunca mais aparecer por aqui.

— Me desculpa mesmo. Você pode esquecer isso?

— Posso tentar.

— Certo, já é alguma coisa. — Balançou a cabeça e tentou sorrir.

De semblante fechado, Hoseok voltou a pegar o pão e continuou comendo, deixando o silêncio desagradável tomar conta do local. Yoongi levantou da cadeira e disse que iria pegar as coisas para começarem a planejar a estrutura do evento para o dia render, nem tinha terminado seu lanche.

— Tudo bem! — Hoseok concordou.

— Espere por mim na sala. Pode levar seu lanche para lá se quiser — Yoongi disse.

— Não é necessário. — Hoseok balançou a cabeça e enfiou o resto da comida na boca como resposta. Não queria sujar o outro cômodo, não iria dar esse gostinho para aquele garoto.

— Certo. Eu vou buscar as coisas — Yoongi murmurou baixinho, passando as mãos na roupa e subindo a escada que levava para o seu quarto.

Chateado, Hoseok suspirou e analisou o clima de tensão que estava entre eles. Tudo estava péssimo e, se continuasse assim, não haveria trabalho e nem horas extras, isso era um problema. Mas se dependesse de si mesmo, engoliria o orgulho e terminaria todo o planejamento hoje mesmo. Estava a fim de virar a página e começar tudo do zero para fechar a algum resultado.

Sozinho na cozinha de Yoongi, Hoseok levou o prato até a pia e lavou-o. Saiu do cômodo e entrou na sala, passando os olhos pelo local. Tudo estava bem arrumado e bonito, não combinava com o dono da casa, ou pelo menos achava que não, já que não o conhecia.

Sentou no sofá e cruzou os braços sobre o peitoral, ainda olhando à sua volta. Os móveis claros e finos a encantavam. Tinha que admitir que o garoto tinha bom gosto.

— Você é bom em desenhar? — Yoongi perguntou do alto da escada, desceu os degraus de dois em dois e se aproximou. — Você pode ir desenhando o modelo que será a estrutura da feira enquanto procuro pelos materiais na internet.

Em suas mãos havia um caderno, um estojo e um notebook. Estava realmente pronto para começar o dia.

— Não sou tão bom em desenhar, mas posso tentar.

— Então, toma!

Yoongi passou os papéis para Hoseok e jogou-se no sofá. Colocou os dois pés no assento macio e puxou uma almofada, ligando o aparelho sobre o colo. Hoseok o acompanhou, sentindo a maciez do sofá sob seus pés.

Em silêncio, começaram a trabalhar, cada um focado em algo, deixando o silêncio, agora, confortável, pairando no ar. Mas diferente de Hoseok, Yoongi não estava tão dentro dos preparativos para a exposição como desejava. Na verdade, não tirava os olhos do rosto do filho do diretor, parecia sentir-se incomodado pela forma como foi mal interpretado mais cedo. Aquela confusão mexeu consigo.

Mordendo os lábios, Hoseok soltou um suspiro irritado e passou a borracha no papel com mais força e com ódio. Como eu não consigo desenhar esse negócio direito. É só um prato de macarrão com queijo, não é tão difícil.

— Tudo bem aí? — Yoongi perguntou, tirando Hoseok dos seus pensamentos.

— Está sim.

— Mesmo?

— Sim. — Hoseok apertou os olhos e mordeu a bochecha interna, esticando o desenho à sua frente, analisando o que já havia feito.

Yoongi bateu os dedos sobre o teclado e arranhou a garganta, dizendo:

— Ah, quase ia me esquecendo, tenho que devolver seu estilete. Ele está no bolso da frente da minha mochila há muito tempo.

— Eu estou mesmo querendo ele de volta. Meus lápis coloridos estão quase todos sem pontas e a senhora Lee nunca pega leve — Hoseok falou, concentrado em seu desenho. — Estou passando por momentos difíceis nas aulas de artes.

— Então vou te devolver. A propósito, parou de perseguir seu ex-namorado depois daquele dia chuvoso? Eu estou preparadíssimo para parar de te chamar de cachorrinho de Wondow.

Pela primeira vez desde que começaram a trabalhar, Hoseok levantou a cabeça e fez uma careta de nojo.

— Lá vem você com esse papo chato de novo. Para sua informação, não ando perseguindo ninguém, tá. Que chatice, cara. Cachorrinho é você!

Yoongi reprimiu um sorriso.

— Então não está perseguindo Habon e nem Wondow?

— Não. Nunca faria isso! — Deu de ombros, fazendo bico. — Você está viajando.

— Ahãm. Mas falando sério agora, você gosta tanto assim de Wondow? Ele já está com outra pessoa e você ainda parece ser tão fissurado por ele.

Hoseok desviou o olhar para um canto qualquer do cômodo e engoliu seco. Era a primeira vez no dia, após levantar da cama, que pensava de fato no ex-namorado. Só agora havia percebido.

— Ele foi meu namorado desde o ensino fundamental e fomos juntos para a Universidade. É injusto alguém chegar e roubar ele de mim, você não acha?

— Tem razão, mas Habon é uma boa pessoa, não tem culpa de nada. Essas coisas sobre o amor não dá para controlar. Não pode ficar descontando sua raiva no coitado. O destino gosta de brincar com a gente, nos cabe superar e seguir a vida.

— Pelo amor de Deus, quantas baboseiras. E eu, não sou uma boa pessoa? Eu também sou o injustiçado da história. Eu dediquei a minha vida toda investindo no meu relacionamento, mas aí chega alguém, totalmente desconhecido, e meu namorado cai de quatro, esquecendo todas as coisas que já vivemos juntos? O que faz Habon ser melhor que eu? Não consigo entender.

Yoongi meneou a cabeça enquanto Hoseok continuou defendendo seu ponto de vista. Em partes, entendia o porquê de ele estar agindo como um adolescente mimado. As pessoas esquecem que uma história sempre tem dois lados e que não é fácil perder o amor de sua vida do dia para a noite.

— Engraçado que todo mundo cai de amores por ele, né. As mesmas pessoas que diziam que eu e Wondow nascemos um para o outro, agora nem olha mais na minha cara. Como isso é possível? — Hoseok continuou reclamando. — Todos eles me abandonaram e meu único amigo agora é Park Jimin.

Com aquela revolta no coração e com um bom ouvinte que Yoongi era, Hoseok não calou mais a boca. Colocou tudo o que estava sentindo pra fora. Contou sobre sua vida, seus planos e não deixou de perguntar como Yoongi resolveu ingressar na Universidade.

Passaram o dia conversando e só deram uma pausa para comer e ir ao banheiro. Porém, depois de perceberem que o céu do lado de fora já estava escuro e coberto por nuvens cinzentas, Hoseok teve que levantar do sofá e avisar que já era hora de ir para casa, estava ficando tarde.

— Hoje foi legal, mas eu preciso ir — disse, passando os desenhos que tinha feito para o novo amigo e esticando o corpo. — Você não é tão chato como parecia ser, hein.

Yoongi revirou os olhos e segurou o sorriso.

— E você nem é tão malvado como juravam por aí. Só está deixando suas feridas abertas, expostas para todo mundo ver. Tem que cuidar disso, viu.

— Sabe o que eu acho? Que você tem que cuidar da sua própria vida. Estou muito bem assim, tá bom? Ainda quero Wondow de volta e só vou parar quando conseguir. — Um bico formou em seus lábios. — É a minha meta de vida.

— Tudo bem, faça o que quiser, então. Quem sou eu para te julgar? — Deu de ombros, erguendo as mãos em rendimento. — Afinal, o apaixonado aqui é você.

Hoseok resmungou.

— Sim, o apaixonado aqui sou eu.

— Graças a Deus por isso.

Trocaram mais algumas palavras antes de Yoongi ir até o quarto e voltar com o estilete na mão. Tinha que devolver aquilo para o dono, já estava passando da hora.

— Obrigado por hoje. Assim que eu terminar, mando a planilha de preço para o seu e-mail — Yoongi disse, entregando o objeto. — Tenho que ajustar só mais algumas coisinhas.

— Eu que agradeço. Estarei esperando por isso. Não se esqueça de mandar ainda hoje, viu. Tenho que passar o valor para o diretor o quanto antes. Ele vai preparar o orçamento para começarmos a investir na feira.

— Sim, senhor.

E foi naquele clima que Hoseok se despediu de Yoongi com um abraço desengonçado e um beijo tímido na bochecha. Quando dirigiu de volta para casa, a única coisa que conseguia pensar era em como Yoongi havia sido a primeira pessoa que tinha compreendido sua história com Wondow.

Será que é possível que aquele garoto tenha mesmo entendido minha dor? Entre tantas pessoas, justo ele? Não estava acreditando tanto naquilo. Precisaria de mais alguns dias na presença de Yoongi para analisar e saber como a cabeça dele funciona. Sorriu satisfeito com o pensamento sem perceber que ali estava surgindo uma amizade pura e genuína.

NOTAS:

E aí, o que acharam?

Acho que agora o Hobi vai ter um pouco de juízo, viu.

Tava precisando desabafar e fazer novas amizades.

Aiii... Animada estou.

Obrigada por terem lido até aqui. Não esquece de deixar votinho.

Até no próximo capítulo.

Beijos.