Capítulo 01

Min Yoongi estava sentado sozinho na cadeira do refeitório e, em suas mãos, havia um livro de literatura. Com seus cabelos pretos bem penteados para os lados e a roupa bem passada, era considerado o mestre do xadrez e o garoto solitário da Universidade, pois não era visto na companhia de ninguém. Mas o que as pessoas não desconfiavam era que ele sentia uma paixão unilateral pelo melhor amigo, Kim Seokjin, que mantinha um relacionamento sério com um rapaz do último período, Kim Namjoon.

Yoongi soltou o ar pelo nariz e virou a página do livro com os dedos molhados de saliva. Continuou dando atenção para a leitura, mas desviou os olhos das páginas depois que ouviu ruídos incomuns vindo das portas de vidro. Lee Wondow e Kang Habon acabavam de entrar no local. Ambos tinham um sorriso no rosto e as mãos unidas.

Wondow era o atacante do time de futebol e namorava o filho do diretor, Jung Hoseok, ou pelo menos era o que todos achavam. Mas parece que Habon, vindo do interior do Estado, roubou o coração do camisa 10, fazendo com que ele terminasse o relacionamento que tinha com Hoseok. Essa era a explicação mais plausível.

— O que você vai querer? — Wondow perguntou, olhando para o garoto.

— Não sei ainda. Vou ver aqui. — Habon reprimiu o sorriso, colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha e desviou os olhos, apertando os livros com mais força contra o peitoral.

Yoongi meneou a cabeça e fez uma careta desinteressada, voltando a ler seu livro. Eu não tenho nada a ver com isso. Esticou uma das mãos e pegou o pêssego na bandeja à sua frente, dando uma mordida, e sentindo a fruta descer pela sua garganta. Estava com mais fome do que imaginara, podia ter pegado mais daquilo, né. Fez esse movimento várias vezes, enchendo a boca e esvaziando-a, até se perder dentro do livro novamente.

Imerso na leitura, devorou toda a comida e só voltou para a realidade quando ouviu um barulho de prato caindo no chão e um "sinto muito" sendo pronunciado de forma baixa e irônica. Desviou o olhar do livro e viu Hoseok ao lado da mesa de Wondow. Havia comida no chão e, boa parte dela, estava sobre o colo do novato, que passava as mãos nas roupas em movimentos rápidos e precisos, tirando o alimento.

Isso foi de propósito. Certeza. É de Jung Hoseok que estamos falando. Ele tem capacidade de fazer aquilo.

— Sinto muito mesmo. Eu escorreguei e perdi o equilíbrio — Hoseok disse, se abaixando e pegando a bandeja do chão. A barra da sua calça e a ponta de suas botas participaram da ação. — Habon, posso comprar roupas novas para te compensar?

— Tudo bem. Não precisa! — O menino negou, apertando os lábios e mostrando uma fileira de dentes bem alinhados. Ele ainda continuava sorridente depois daquele desastre?

— Não, mas faço questão.

— Eu sei, mas não precisa. Estou bem, de verdade!

Enquanto os dois discutiam, Yoongi notou que Wondow arrastou a cadeira para trás e parou ao lado de Hoseok, cruzando os braços sobre o peitoral e juntando as sobrancelhas. Lá vai "o outro" se meter onde não foi chamado.

— Por que está fazendo isso, Hoseok?

— Isso o quê? — Hoseok perguntou, colocando a bandeja sobre a mesa. — O que eu estou fazendo?

— Esbarrando e jogando comida no Habon de propósito. Está fazendo isso por que eu agora amo ele?

Hoseok abriu a boca em falsa surpresa.

— Quê? Não, claro que não. Não é nada disso!

— É sim. Você vem perseguindo ele. Quantas vezes eu vou ter que dizer que não te amo mais? Que cacete, pare com isso!

Os olhos de Hoseok estreitaram-se. Aquelas palavras tinham sido duras.

Yoongi mordeu os lábios prestando atenção no que viria a seguir. Olhou para as pessoas que assistiam e percebeu que Hoseok seria o assunto dos corredores até o fim da semana. Boa coisa não era. Quando você se tornava assunto dos corredores, pessoas chegavam para tirar sarro e te ofender gratuitamente.

Tentando não voltar atrás com sua decisão, marcou a página do livro e depositou-o na mesa. Sabia muito bem como era amar alguém e não ser correspondido. Sabia também que, se algum momento da sua vida de universitário virasse assunto, sua reputação estaria em jogo. As pessoas eram perversas, não tinham um pingo de compaixão com o próximo.

Mesmo sabendo da fama de mimado e antipático que andava junto de Hoseok, levantou da cadeira e caminhou na direção da discussão. Era evidente que o jovem precisava de ajuda.

— Desculpa, pela intromissão, mas você não tem o direito de falar assim com Hoseok. Ele não é obrigado a ouvir essas palavras cruéis — Yoongi disse para Wondow, entrelaçando seu braço no de Hoseok. — Você está soberbo, crente de que seu ex-namorado tropeçou de propósito, né. Ele já não disse que foi sem querer? Por que insiste em ser grosseiro?

Hoseok enrijeceu sobre o braço de Yoongi.

— Sim, ele disse que foi sem querer — Wondow murmurou. —, mas eu realmente pensei que ele estava perseguindo Habon. Ele andou fazendo isso nas últimas semanas.

— Ah, pelo amor de Deus, você não é tudo isso! — Hoseok se meteu na conversa, bufando alto enquanto seus dentes surgiam no canto da sua boca, em um sorriso sarcástico. — Eu já te superei, cara. Quero que seja feliz. Que diabos eu iria perseguir seu novo namorado? O que você tem na cabeça?

Como ele podia mentir com tanta facilidade e nem sequer ficava vermelho? Era óbvio que não havia superado aquele término. Yoongi evitou balançar a cabeça e lançar um olhar de desconfiança na direção do filho do diretor.

— Eu não sei. Desculpa, estou envergonhado — Wondow pigarreou, desviando os olhos para as pessoas que observavam a cena. — Eu cometi um erro. — Voltou o olhar, agora encarando o ex. — Desculpe-me.

— Tudo bem. — A voz de Hoseok saiu baixa e suave. — Que essa situação nunca mais volte a acontecer, tá me entendendo? Você está criando uma rivalidade que não existe, tem noção disso?

— Tenho, Hoseok.

— Tudo bem, eu sei que você não fez de propósito, Hoseok. Estou de boa! — O novato finalmente deixou sua voz sair. — Não existe rivalidade entre nós. Pode ter certeza disso.

— Jura? Da minha parte também não há rivalidade, Habon. — Hoseok forçou um sorriso. — Nenhuma mesmo.

— Então, estamos resolvidos? — Habon abriu um sorriso que seria capaz de apaziguar qualquer guerra que a humanidade estivesse planejando.

— Claro, meu amor — Hoseok disse, revirando os olhos minimamente, tão minimamente que só Yoongi percebeu. — Está tudo resolvido.

Vendo que a discussão havia chegado ao fim, Yoongi colocou um sorriso no rosto e puxou Hoseok vagarosamente pelo braço, afastando-se, e levando-o consigo até à mesa onde estava sentado minutos atrás.

No processo, engoliu seco e soltou o ar lentamente pela boca. Tentou não lembrar da expressão nada amistosa de Hoseok de segundos atrás. Os olhos dele estavam duros e a mandíbula apertada. Ele podia matar ou persuadir qualquer pessoa só usando aquela expressão. Todo mundo sabia disso.

Merda. Eu não tinha o direito de me meter nos assuntos dele, mas meu impulso e meu senso de justiça tinham falado mais alto. Agora eu iria pagar por isso. Quem cruzava o caminho de Jung Hoseok não saía ileso. Era a porra de um inferno. Droga. Mil vezes droga!

Yoongi e Hoseok se jogaram nas cadeiras e ficaram em silêncio.

Yoongi foi o primeiro a levantar os olhos e mirar Hoseok, que manteve uma expressão de chateação formada no rosto. As bochechas dele estavam vermelhas, os cabelos escondiam sua testa e seus lábios formavam uma linha fina. Ficaram naquele clima por alguns segundos até o filho do diretor quebrar o silêncio.

— Por que fez isso? Eu não preciso da sua ajuda! — Os olhos estavam estreitos e algumas veias ameaçavam saltar sob a pele do seu pescoço. — Você não tinha o direito de me tirar de lá.

Yoongi bufou alto e revirou os olhos. Tudo bem que conhecia ele só de vista, nunca tinham se falado antes, mas isso não iria impedi-lo de ajudar.

— É isso que eu recebo depois de ter ajudado você?

— Ajudou porque quis. Agora as pessoas vão pensar que estamos juntos. O que passou pela sua cabeça quando resolveu se meter onde não foi chamado? Tem noção que anulou todas as minhas chances de voltar com o meu ex-namorado?

Yoongi mexeu-se sobre a cadeira e cruzou os braços sobre o peitoral. Soltou uma risada irônica e balançou a cabeça sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.

— Não acredito no que estou ouvindo. Você é a porra de um ingrato, hein? Parece um bichinho querendo migalhas daquele cara. Eu te fiz um favor te tirando de lá, garoto, não devia ao menos me agradecer?

— E em algum momento eu te pedi ajuda?

— Não, mas...

— Então da próxima vez, certifique-se de cuidar da sua própria vida. Você é muito atrevido!

Hoseok levantou da cadeira e mostrou o dedo do meio para Yoongi. Virou as costas e deixou o local, batendo a porta do refeitório assim que passou por ela.

Ótimo. Maravilha. Quem mandou ser coração? Frustrado, Yoongi abandonou a mesa e caminhou para a sala de aula. Eu nunca mais serei trouxa a esse ponto. Nunca mais sentirei compaixão por ninguém. Nunca. Alcançou a sala e entrou, sentando-se em seu lugar de sempre, no fundo da sala, mas para sua surpresa, o professor já estava ali com a metade do quadro preenchido de questões.

Merda. Aquele maldito me fez perder a hora. Abriu a mochila, colocou os livros sobre a mesa e tentou prestar atenção no que o mestre estava dizendo. Hoje será mais um dia longo e cansativo. Desde o terceiro período, quando passei a ter aulas integrais, desconhecia o descanso. Suspirou alto em agonia.

Quando o sol se escondeu atrás dos prédios indicando que à tarde já estava partindo para dar lugar a noite, os professores liberaram os estudantes. Como esperado, Yoongi levantou de sua cadeira, pegou suas coisas e saiu porta afora o mais rápido do que de costume. Caminhou com pressa pelo corredor, desviando das pessoas e dos objetos por puro reflexo. Tinha que se apressar ou não conseguiria conversar um pouco com Kim Seokjin.

Ainda conseguia lembrar claramente das primeiras semanas que ingressou na Universidade e participou da festa dos calouros. Foi lá que conheceu Jin. Foi lá que se beijaram pela primeira e última vez. E foi dali para frente que se viu apaixonado pelo amigo. Porém, quando as aulas começaram, Jin conversou e agiu como se nada tivesse acontecido entre eles. Yoongi não teve coragem de retomar os acontecimentos e preferiu guardar tudo para si.

Agora ele era o único que estava em um amor não correspondido.

— Yoon! — Seokjin gritou, mexendo as mãos incansavelmente. Estava no fim do corredor quando reparou o amigo se aproximar.

Yoongi buscou o olhar do rapaz e seu rosto iluminou quando seus olhos se encontraram. Seu coração bateu forte e sentiu as bochechas ruborizadas. Jin é mesmo lindo.

Os cabelos dele estavam puxados para trás, usava jeans escuro na altura da cintura e vestia uma blusa do time de vôlei. Seus materiais estavam nos braços e algumas gotas de suor desciam pela lateral do seu rosto, revelando bochechas avermelhadas. Parecia que tinha corrido uma maratona. Ele estava abusadamente magnífico.

— Oi, Jin. Como você está? — Yoongi perguntou, se colocando ao lado do amigo e contando até dez mentalmente.

— Estou ótimo. Acabei de sair do treino de vôlei e preciso de um banho.

Precisa não. Você tá maravilhoso, como sempre. Yoongi tentou distrair-se com outro assunto. Não podia alimentar seus pensamentos quando estava na presença do garoto.

— Como foi seu dia hoje? Minha equipe de xadrez não teve treino.

— Ah, tenho tanta inveja do seu treinador — Jin disse, desviando das pessoas e passando pelas portas duplas, saindo para o gramado do pátio. — Hoje foi produtivo. Penso que estamos a um passo para entrar no Campeonato Nacional. Isso é tão animador!

Os olhos de Yoongi brilharam sem nenhum esforço. Imaginou-se na arquibancada, torcendo e gritando pelo amigo.

— Nossa, vocês já estão se preparando para as Nacionais? Acho que nossa equipe está muito longe de conquistar esse mérito.

— Não está, não. O treinador de vocês é um cara bacana e não os coloca sob pressão, deveriam agradecer. Ele deixa vocês seguirem o próprio ritmo, não percebe?

— Tenho que concordar com você. Ele é alguém legal. — Yoongi deu de ombros. — Não reclamo mais!

Seokjin soltou uma risada e mudou de assunto.

— E como está o clube de leitura? Está mesmo participando?

— Estou participando sim. Aliás... — Puxou o livro que tinha começado a ler na noite passada. — Estou lendo este aqui. É bem legal. Por que não se junta também?

— Não sei não! — murmurou, pegando o livro da mão de Yoongi e folheando-o sem parar. — Conta a história do quê?

Animado e puxando o fôlego, Yoongi começou a descrever os acontecimentos do livro. Sua voz ficou baixa e desviou o rosto assim que sentiu os olhos de Jin queimando nos seus. Mas para sua tristeza, Kim Namjoon gritou por eles de longe.

— Hey!

— Amor! — Jin abanou a mão e abriu um sorriso, sua atenção foi desviada no mesmo segundo.

Sentindo-se um pouco estranho, Yoongi abaixou a cabeça e mordeu os lábios com força. Tinha que sair dali. Não se sentia bem estando perto de Namjoon quando carregava a culpa de estar apaixonado pelo namorado dele. Não estava certo.

— Jin, tenho que ir... — murmurou.

— Não vá — ele disse e gritou para o namorado em seguida. — Venha logo, Yoon quer ir embora!

Apavorado, Yoongi passou os olhos pelo local procurando por uma saída estratégica. Tinha que ser rápido ou ficaria no mesmo ambiente que Kim Namjoon.

— Vou para casa, Jin. Tenho muito trabalho para fazer. — Puxou o amigo pelo ombro e o beijou na testa. — Nos vemos amanhã, mas se algo acontecer, me ligue.

Virou as costas e se misturou aos outros estudantes, não dando oportunidade para o menino responder. Era melhor assim. Sabia que poderia fazer as vontades de Seokjin facilmente se pedisse para ele ficar. Aquilo era perigoso.

Caminhando em passos largos, seguiu direto para o estacionamento sem olhar para trás. Não queria que Namjoon olhasse em meus olhos e enxergasse meus desejos mais obscuros. Segurou a alça da mochila com mais firmeza até alcançar o carro, mas um pensamento rotineiro passou pela sua cabeça. E se voltasse e lutasse pelo amor de Jin?

Destrancou o veículo e sentou-se no banco do motorista, batendo a porta. Podia conquistar o amigo assim como Kim Namjoon havia feito. Eu teria a mesma oportunidade que aquele cara havia tido e eu não ficaria frustrado se olhasse para o retrovisor agora mesmo, porque seria eu que estaria beijando meu amigo nesse momento. Era para eu estar ali.

Frustrado e com vontade de sumir do mundo, ligou o carro e saiu do estacionamento em uma velocidade um pouco mais alta que o permitido. Não iria para casa, não queria ficar sozinho com seus pensamentos e sofrimento. Procuraria uma forma de abafá-los até a hora de colocar a cabeça no travesseiro para adormecer. Era o único jeito.








NOTAS FINAIS:

E aí? O que acharam do primeiro capítulo?


A história é inspirada da música: "Accidentally In Love" de Counting Crows.

Espero que estejam preparados para lidar com Hoseok mais malvadinho kkkk

Obrigada por terem lido até aqui.

História disponível no Spirit também.

Até no próximo capítulo. Beijos.

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