19: Uma sessão de Sol Poente
Notas Iniciais
Oii, anjinhos! Como estão? Eu senti muitas saudades! 🥺💜
Me adianto em pedir desculpas pela demora :') esse capítulo foi um pouco difícil de escrever, mas vocês vão conseguir ver os sentimentos do Tete e do Ggu hehe além de que experimentei colocar mais dos outros personagens e ainda tivemos novidades ;)
Eu excluí o capítulo contando a novidade para não ficar uma brecha na lista, mas queria compartilhar que agora nossos personagens tem contas nos tt! Queria de alguma forma nos aproximar um pouco mais, então se você, anjinho, quiser me dar uma chance eu vou ficar muito feliz! 💜 Os links dos perfis estão no mural do meu perfil!
Agora, sem mais delongas, peguem suas garrafinhas de água e boa leitura, anjinhos! 💜
Não se esqueçam das estrelinhas e de comentar o que vão achando, por favorzinho!
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"As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas. Talvez apenas com o toque de uma mão. Bem, eu, eu me apaixono por você a cada dia. E eu só quero te dizer que estou apaixonado. Então, querida, agora, me abrace amorosamente. Beije-me sob a luz de mil estrelas. Coloque sua cabeça sobre meu coração acelerado. Estou pensando alto. E talvez nós tenhamos encontrado o amor bem aqui onde estamos."
Thinking Out Loud - Ed Sheeran
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Na manhã seguinte, os garotos tiveram pouco tempo para conversar, afinal, tinham suas tarefas individuais e precisavam cumpri-las.
Devidamente arrumados e à mesa, suspiravam desgostosos de forma discreta, apesar de sentir os corpos descansados e fortes, a noite pareceu insuficiente para saciá-los da vontade de estar sempre juntos.
Taehyung não precisou se esforçar para passar todo o curto tempo animando o café da manhã, e Jeongguk também não, rindo e aproveitando seu calor e cheiro gostoso, com os olhos completamente voltados para o príncipe fazendo graça.
Percebendo que ele parecia alegre outra vez, o acastanhado sentiu orgulho de si mesmo, por ser o responsável pelo brilho daquele olhar logo cedo. E ainda que tivesse saído de casa pensando no que o moreninho segredou para si antes de dormir, não quis perguntar o que tinha acontecido durante o dia anterior para deixá-lo angustiado. Talvez suspeitasse do que poderia ser, entretanto, seu desejo maior era vê-lo sorrindo, pensando nas coisas boas que aconteceriam naquele novo dia encalorado.
Dessa forma, os últimos dois dias da semana se passaram sem que notasse, seus olhos estavam sempre ocupados com a função de capturar todo momento oportuno para observar o anjo, notando-o melhor depois de conversar com a panda psicóloga outra vez, mas também exibindo uma expressão deveras cansada com maior frequência. Soube através de Jimin que a ONG passava por um período exaustivo, preparando tudo para ajudar as ninhadas de bebês resgatados e os híbridos vindos de ONGs atacadas recentemente, descobrindo também ser aquela preocupação o motivo para o tamanho esforço que gastava o brilho natural do coelhinho, fazendo-o se aconchegar em seus braços à noite e no segundo seguinte já ressonar profundamente.
Encerrando esse ciclo semanal de clima caloroso e colorido, porém que não mais chamava a atenção de Jeon, mesmo esse tentando retirar um pouco mais de energia de seu corpo para participar da primavera após sair de seu segundo lar, a primeira noite assistindo filmes foi recusada, dando lugar a uma longa noite de sono que os olhos lacrimejantes de cansaço precisavam.
Tae também não se importou de ficar acordado por mais algumas horas, estava concentrado em distribuir vários selares pela pele macia como havia prometido, entrelaçando seus dedos aos fios negrescos realizando um carinho singelo, ninando sua paixão.
O dia se iniciou novamente. Um sábado iluminado pelos raios de sol, tão colorido e vivo que contagiava uma Byeol noona cantarolando pela cozinha.
Mas não um Jeongguk.
Ele preferiu se aconchegar ainda mais no corpo grandão e quente, farejando o cheiro de morango e chuva por todos os cantinhos de pele que seu nariz encontrava, negando-se a acordar.
Pela primeira vez desde que dormiam juntos, foi o Kim que despertou antes e não voltou a dormir mesmo naquela condição boa, sorrindo para o coelhinho dorminhoco que o mantinha colado a si.
Aquela sensação de ter o corpo menor protegido com o seu, lhe trazia à mente as mais belas notas para tocar com seu amigo violino mais tarde, imaginando estar tocando para seu anjo.
Sentindo uma vibração passear por todo seu corpo com o narizinho avantajado capturando a pele de seu pescoço, segurou um risinho envergonhado, amassando com os braços o ser molinho que não queria acordar, sem coragem de sair da cama, Taehyung passou a encarar o teto, pensando no que iria sugerir para fazerem juntos durante aquele dia quente.
O anjo foi acordado muito tempo depois, quando noona veio perguntar se iriam ter a primeira refeição do dia, que ela cuidou para não deixar nenhuma das massas preferidas de seus meninos esfriar.
Ela deixou o quarto rindo baixinho com a pouca vontade de Ggukie ao se sentar na cama e coçar os olhos, obrigando-se a despertar.
- Bom dia, TaeTae - Cumprimentou voltando a se deitar, arrancando uma risada do mais velho.
- Bom dia, pequeno, dormiu bem? - Recebeu como resposta um assentir preguiçoso.
- E você, hyung?
- Também - Taehyung se espreguiçou com vontade, sentindo o corpo relaxar sobre a cama. Cena que os olhos de jabuticaba não deixaram passar despercebida.
Em seguida, caíram em um silêncio confortável por alguns minutinhos, Tae se preparando para levantar e Ggukie tentando não voltar a dormir.
- Vamos levantar para aproveitar o dia? - Sugeriu o mais velho quebrando o silêncio, arqueando as sobrancelhas para si, fazendo graça. Uma risadinha escapou.
Erguendo a cabeça, Jeongguk viu pela janela o sol tentando invadir a cortina, e sentiu mais preguiça.
- Daqui a pouco, hyung. - Fechou os olhos, resmungando de forma manhosa.
- E se tomarmos café da manhã no jardim? - Uma gargalhada rouquinha preencheu o cômodo com os olhos galácticos se abrindo no mesmo segundo, parecendo bem despertos. - Sabia que ia gostar da ideia.
Pulando da cama, Jeongguk esticou todo o corpo, abrindo um largo sorriso em seguida.
- Vamos, levante, hyung!
Taehyung teve de se apressar para acompanhar o ritmo de repente elétrico do garoto coelho, seguindo-o para o andar de baixo prendendo o riso, observando-o quase saltitar pelos degraus. Queria dar a ele novamente uma manhã alegre.
Enquanto preparavam tudo sob a sombra de sua velha amiga árvore, noona saiu da propriedade tranquila, sabendo que iriam ter uma boa refeição, dirigindo pela avenida com os cestos de roupas sujas, com planos de deixá-los na lavanderia e visitar suas amigas cabeleireiras, as quais devia contar a história da chegada de Jeongguk em sua vida.
No jardim, sentados sobre a toalha quadriculada de vermelho e branco, os garotos compartilhavam risadas e palavras baixas, sentindo o vento fresco bater em seus corpos com leveza, enquanto desfrutavam da comida.
- Acho que me transformei em um dorminhoco igual a você, hyung. - Uma risada divertida escapou dos lábios vermelhinhos, salpicados de açúcar de confeiteiro.
- Então à tarde podemos tirar um cochilo, o que acha? - Tae perguntou, um pouco abobado observando-o lamber os lábios, deixando-os com a cor mais viva.
- Vai ser muito bom. - Jeon concordou, ainda sentia seu corpo mole pela noite de sono.
- Tem trabalhado duro todos os dias, o descanso é bem vindo. - Um sorriso quadrado se abriu.
A reação do coelhinho foi deixar suas orelhas extensas dançarem. Desde que começou a encontrar respostas para seus nozinhos, achava aquele cuidado do príncipe diferente, bom e bonito.
Lembrou-se então que amigos compartilhavam as coisas, e que ele estava lutando ao seu lado. Queria da mesma forma lutar ao lado dele também. Só precisava saber como.
- Aquele dia, eu não quis contar todas as coisas boas e ruins que tinham acontecido, porque senti vontade de chorar. - Revelou baixinho.
Taehyung passou alguns segundos em silêncio, antes de se aproximar um pouco mais e tocar a mão quente do anjo.
- Eram muitas coisas misturadas, certo? - Jeongguk assentiu, olhando para suas mãos juntas. - Se isso acontecer de novo e seus sentimentos se misturarem assim, não precisa segurar, pequeno - Um aperto reconfortante lhe fez repuxar os lábios. - chorar traz alívio, eu gosto de chorar.
- O hyung gosta mesmo? - A pergunta veio junto de uma risadinha.
- Gosto demais - A expressão engraçada no rosto bonito lhe fez rir mais alto. - Quando eu choro, parece que todas as coisas acumuladas vão saindo, e depois que tudo vai embora eu me sinto melhor.
- Certo. - O moreno sorriu compreensivo. - Eu acho que gosto de chorar também. - Continuou depois de alguns segundos de reflexão.
- Está vendo? E quando acontecer, eu vou estar aqui para te dar abraços quentinhos. - Sorriram singelos um para o outro.
- E beijinhos também?
- É-É! Beijinhos também!
Depois de terminada a refeição e com cada coisa em seu devido lugar, os garotos não retornaram para o jardim, permaneceram no enorme sofá com as portas de vidro abertas, enroscados um no outro recebendo a visita do vento acolhedor. Na televisão, passava "Zootopia", ideia do Kim para deixá-lo animado podendo ver um personagem igualzinho a ele.
Mais tarde, noona havia mandado uma mensagem para Jeongguk, a fim de deixá-lo feliz também, avisando que almoçaria com as amigas, mas que tinha deixado tudo preparado para eles. Assim, não fizeram tanta bagunça pela cozinha, realizando a segunda refeição do dia e devorando uma barra de chocolate que encontraram no fundo do armário.
- O que vamos fazer agora, TaeTae? - Jeongguk voltou a se sentar no sofá, sentindo-se até mesmo estufado depois da comilança.
- Podemos cuidar um pouco do nosso jardim. - O acastanhado estava esparramado ao seu lado.
- Boa ideia.
Porém, ambos continuaram nas mesmas posições, observando o jornal do horário de almoço que passava na televisão, preguiçosos demais para se moverem.
[...]
Após uma hora de descanso, Jeongguk não suportou mais ficar parado e puxou seu hyung para além das portas de vidro, incentivado pela falta de programas interessantes na TV e pelo cheiro tão bom do jardim que o vento carregava para dentro da casa.
Com todos os itens necessários, como: luvas de jardinagem; pás pequenas; mangueira para regar; fertilizantes e as mudas semeadas dentro da forma aberta de plástico, os garotos se agacharam ao redor do canteirinho central e passaram a plantar.
- Você gostou do filme? - Tae puxou assunto depois de alguns minutinhos, sorrindo abobado pela delicadeza que o anjo tinha nas mãos ao depositar as mudas na terra.
- Foi muito divertido! - As orelhinhas felpudas abanaram animadas no ar. - Mas também é como se os predadores fossem os híbridos e as presas os humanos, trouxe uma boa mensagem.
Tae ficou em silêncio, não esperava uma resposta séria e verdadeira. Sua paixão refletia mesmo sobre tudo.
- É o melhor pensamento que eu já ouvi sobre esse filme. - Foi sincero.
- Muitos lembraram os amigos que fiz na ONG, - Riram em sincronia. - a noona e os hyungs também! A noona é parecida com a mãe da Judy, o Jimin hyung é um gato e também é parecido com o prefeito da cidade, - Tae soltou uma gargalhada concordando. - O Yoonie hyung é parecido com o oficial Benjamin!
- É a cara dele!
- O Hoseok hyung é parecido com o alce que apresenta o jornal. - Mais uma vez o Kim concordou. Estava adorando aquelas observações fofas de Ggukie.
- E eu?
- Você é parecido com o tigre dançarino! - Jeongguk sequer precisou pensar.
- Por que ele?
- Porque ele é grandão e forte, mas também é fofo, igual você, TaeTae!
Apesar das bochechas coradas, o coelhinho não deixou de dizer o que pensava. Não tinha medo de ter interpretado as respostas de seus nozinhos de forma errada, porque sabia que não tinha.
- A-Ah - Taehyung abaixou a cabeça envergonhado, sorrindo com o rosto efervescente. Jeon soltou uma risadinha soprada. - se você diz, então é a verdade. - Deixou alguns minutos caírem em silêncio, pensando. - Você também é muito parecido com a Judy.
- Meu pelo só é um pouco mais claro. - A resposta fofa o fez gargalhar.
- Tem razão, mas não é só por vocês dois serem coelhinhos que são parecidos, - O olhar negresco e brilhante o encarou curioso. - é uma força de vontade infinita para ajudar os outros que compartilham, mesmo que as coisas não dêem certo. Eu admiro muito isso em você.
- O hyung também é um guardião... extraordinário! - Seus corações descompassaram ao mesmo tempo.
- O-Obrigado, Ggukie! Só acho que ainda não sou tudo isso.
- Ah, o TaeTae é sim!
- Tudo bem então, mas agora preciso encontrar uma palavra ainda maior para você. - Tae sorriu todo desconsertado, devolvendo o grandioso de dentinhos avantajados que contornava os lábios vermelhinhos.
- Não precisa, hyung, gosto de ser igual a você. - Aquelas palavras o acertaram de várias formas diferentes. Sua reação foi apenas assentir.
Dentro de sua cabeça inundada de pensamentos emaranhados, o acastanhado tentava encontrar uma resposta. Como iria explicar ao pequeno anjo que seu maior desejo era idolatrá-lo? Que ele era o ser mais bonito do mundo, que tinha o coração mais puro e o olhar mais brilhante? Que ele não poderia ser colocado como um igual, que ele era absolutamente tudo, várias vezes mais que um simples guardião.
Que flor poderia ajudá-lo a lhe dizer tudo aquilo?
Abriu novamente o catálogo de sua mente.
Poderia presenteá-lo com begônias, elas significavam inocência e mimo; ou talvez com copos-de-leite, que significavam toda a pureza do anjo; ou ainda com margaridas, que traziam como significado um amor leal e confiança.
Seus olhos se arregalaram. Gloxínias! Elas eram perfeitas para contar de forma discreta o amor à primeira vista. De pétalas volumosas e miolo de tons claros até desabrochar em em um tom vívido até as pontas, ainda lhe dando a chance de comprar as azuis, representando a cor dos olhos do coelhinho quando transformado.
Mas antes, precisava perguntar a Yoongi se mais um buquê não seria exagero. Ele tinha que ter outro conselho para dar.
- TaeTae!
Chacoalhando a cabeça sendo chamado pela voz doce, Tae voltou-se para o garoto risonho, que plantava a última muda da fileira de amores-perfeitos.
- Quer compartilhar o que estava pensando? - Jeongguk perguntou de forma singela, demonstrando o mesmo cuidado que o príncipe tinha consigo.
- N-Não era nada, bobagem, pequeno. - Um sorriso nervoso se abriu nos lábios de pêssego. - Vamos regar essa fileira e aproveitar para molhar a terra da próxima. - Mudando de assunto, se esticou até pegar a mangueira, girando a trava deixando a água esguichar, mirando com cuidado para as folhagens que passaram a dançar sob sua chuva.
Jeon assistia atento, admirando as folhas molhadas começando a brilhar em contato com a luz do sol.
Até sentir respingos em suas mãos e de surpresa alguns em seu rosto. Deu um pequeno salto para trás.
- Opa, foi sem querer, Ggukie!
De olhos semicerrados, observou a face contorcida em falsa inocência do hyung.
Sem dizer nada deixou aquela passar. Até novos respingos o acertarem.
- TaeTae!
- O que?! Estou apenas regando as flores, pequeno!
As bochechas mais cheinhas coloriram-se de rubro intenso.
- Deixa eu regar também, hyung!
Se levantando e ameaçando tomar a mangueira das mãos grandes, assistiu Tae se afastar sorrindo de lado.
- Não-Não, eu sei exatamente o que você está planejando!
- Não estou planejando nada, hyung, só quero regar as flores também! - Jeongguk alcançou um pedaço da mangueira, próxima de onde esguichava água, usando toda a sua força para mirá-la no rosto do mais velho.
- Ah não! Isso é jogo sujo!
Tae tentou se esquivar algumas vezes, sendo atingido em cheio no rosto.
Assim, uma guerra para ver quem iria conseguir se apossar da mangueira, começou.
Correndo pelo perímetro que o tamanho da extensão de borracha permitia, os garotos foram roubando o item das mãos um do outro até estarem completamente encharcados, sentindo os pés descalços pela grama e rindo alto através do vento.
Estratégico, Ggukie se escondia parcialmente atrás do empresário, deixando-o molhar a si mesmo nas tentativas de acertá-lo, esse último que mantinha as mãos bem longes do corpo menor, mesmo que tivesse vontade de agarrá-lo apenas para conseguir jogar mais água em si. Respeitava-o imensamente e jamais faria algo que pudesse fazê-lo lembrar do passado.
Depois de muitos minutos correndo atrás do outro, Taehyung tomou a posse da mangueira por último e apenas mirou para cima, criando uma chuva gostosa sob o sol quente, assistindo embasbacado o moreninho abrir os braços e erguer o rosto com os olhinhos fechados, rodopiando lentamente sobre a grama sentindo as gotas frias beijarem sua pele. Aquela era a cena mais linda que poderia ter visto na vida.
Por fim, desligando a torneira que fornecia água pela mangueira, ambos se empenharam em terminar de decorar aquele canteirinho, secando as roupas e cabelos vagarosamente sob o sol, rindo e conversando animados.
O domingo se passou para eles com a mesma eletricidade, claro, comportados sob o olhar observador de dona Byeol, porém encerrando mais cedo para que houvesse tempo de um bom cochilo no sofá, com direito a abraços quentinhos e beijinhos pelas bochechas macias, enquanto a televisão reprisava o último filme do Homem de Ferro.
[...]
A nova semana então se iniciou com notável alegria e descanso. Taehyung se despediu do moreninho com um beijo estalado em sua bochecha e do gatuno com um envergonhado abraço devido seu sorriso sugestivo, os assistindo partir da casa com um suspiro aliviado, percebendo que o anjo estava com as energias recarregadas outra vez. Em seguida, despediu-se de sua segunda mãe e seguiu para seu árduo trabalho de patrão.
Assim, o Jeon e o Kim puderam apenas ficar com os pensamentos um no outro, enquanto, as horas se passavam de forma tortuosamente lenta.
No centro da cidade, a porta do escritório presidencial se abriu, revelando o acastanhado mais velho.
- O patrão está felizinho hoje?
Tae parou de cantarolar para se distrair e ergueu o olhar de seus documentos ao ouvir a voz provocativa do Min.
- Estou muito feliz e você, funcionário?
Arqueou as sobrancelhas assistindo-o se esparramar na cadeira do outro lado de sua mesa, sem que estivesse realmente surpreso com aquela atitude do melhor amigo.
- Eu estou mais frustrado do que feliz. - Yoongi inflou as bochechas, cruzando os braços rente ao peitoral coberto pelo terno de tom claro.
- Por que? - Tae perguntou, substituindo a expressão provocativa por uma preocupada.
- Faz dias que o meu gatão não me dá atenção!
A confissão o fez prender o interior das bochechas entre os dentes para não rir.
- Que dozinho do meu hyung.
- Eu vou embora! - Se levantando com um alto bufar, o Min lhe deu as costas, andando o caminho restante de volta para a porta. - Você ouviu o que eu disse? - Olhou para trás assim que tocou a maçaneta
- Ouvi sim, pode ir, hyung. - O Kim riu com petulância.
- Não vai pedir desculpas e insistir para eu ficar? - Negou. - Seu babaca!
- Estou brincando, Yoonie hyung! Venha aqui desabafar com o seu melhor amigo. - Erguendo a mão destra, o acastanhado o chamou com um gesto nobre, completamente dramático.
- Ah, agora ele sabe brincar - Yoongi revirou os olhos, refazendo o caminho até a cadeira giratória. - Pois saiba que quando estiver desesperado precisando de um conselho, eu não vou te dar! - Se sentou novamente.
- Vai sim!
- Me obrigue!
- Não vou precisar nem me esforçar. - Outro bufar escapou do mais baixo. Yoongi sabia que era verdade. - Mas continue me contando, hyung.
- Eu fiz um jantar todo burguês para dois na sexta-feira, - Um suspiro escapou do outro. - Me esforcei para deixar tudo romântico, até usei o perfume que ele gosta de sentir em mim! - O mais novo assentiu, prestando atenção nele e deixando seus papéis de lado. Nada era mais importante que o seu melhor amigo ali. - E você sabe o que ele fez?!
- O quê? - Tae crispou os lábios, receoso, sabia que o Min era tão sensível quanto si próprio, só não gostava de demonstrar.
- Ele chegou, comeu rapidinho e voltou para o celular resolver não sei quantos problemas!
Yoongi começou a enrugar o nariz redondinho, e quando fazia isso, sabia que ele estava segurando o choro.
- Não fique assim, hyung, tenha um pouco mais de paciência, o Jiminie vai perceber o que fez e se desculpar.
- Agora eu não quero mais saber! - Ficaram em silêncio por alguns segundos. - Eu sei que a ONG precisa de toda a atenção e cuidado nesse momento, e tentei de verdade não me magoar sozinho por causa da porcaria de um jantar, mas cara, eu também quero atenção. - Um enorme bico se formou nos finos lábios.
- Devia conversar com ele, Yoonie. - O patrão sugeriu seriamente, realmente preocupado.
- Isso é bobagem, não vou fazer ele ficar preocupado comigo quando tem mais problemas para resolver. - Sua voz soou murchinha.
- Então vem aqui, que o seu melhor amigo te dá atenção. - Tae se levantou incentivando-o a fazer o mesmo, aproximando-se e enrolando o menor em seus braços como um bolinho, soprando um riso, ainda que preocupado, com a fungadinha que soou contra seu terno. Erguendo o olhar para a parede onde um enorme relógio estava pendurado, sorriu. Soube um jeito de distraí-lo. - Já está na hora do almoço, que tal comermos juntos?
- Vamos.
Entrelaçando os dedos carinhosamente, como faziam desde crianças, ambos deixaram a sala depois do Kim pegar seus pertences pessoais e trancar a porta.
- Hoseokie! - Yoongi o chamou assim que viu sua silhueta pelo corredor, entortando a cabeça curioso para o embrulho colorido que ele carregava. - Uh, para quem é esse presente? - Arqueou as sobrancelhas, sugestivo.
- N-Não é um presente! - O Jung tinha a expressão encabulada. - T-Tipo, é um presente, mas não...
- Sei-sei, não precisa se explicar. - Os outros dois riram baixinho, enquanto, sua face foi tomada pela cor vermelho tomate. - Vamos almoçar juntos?
- No restaurante de sempre?
- Uhum! Desde que ficou fora por um ano, nós só vamos lá porque lembra você.
- O Min foi sincero, emocionando o amigo.
- Nossa, assim eu fico até sem graça. - Hoseok sorriu exibindo um formato fofo de coração nos lábios, erguendo uma das mãos formando um coraçãozinho com os dedos em suas direções. - Eu também amo vocês.
- Então vamos? - Os olhos do Min brilharam intensamente.
- Eu encontro vocês lá, preciso passar na ONG antes, - Dois pares de olhos de repente arregalados vasculharam seu rosto, antes de enormes sorrisos surgirem. - é-é aniversário de um filhote, eu quero dar os parabéns. - Começou a mover uma das pernas de forma involuntária, tentando despistá-los.
- Tudo bem, vamos esperar você então. - Tae respondeu primeiro, puxando-o pelo caminho e os guiando para o elevador. Estava com muita fome e teria que comprar várias sobremesas para mimar o melhor amigo amuado. - Depois nos conte toda a verdade. - Riu com o olhar espantado do Jung sobre si. Não tinha caído em seu conto.
- T-Tá bom.
Em seu lar adotivo, Jeongguk deixou a cozinha depois de ajudar com a limpeza da segunda refeição do dia, seguindo para o elevador com passos preguiçosos sentindo-se sonolento, porém não queria tirar um cochilo, o cheirinho de morango e chuva não estava em lugar algum para poder farejar bem de perto e fechar os olhos.
Passou toda a manhã perdido em pensamentos sobre o príncipe, imaginando uma forma de cuidar dele sem precisar dizer, como era feito consigo, até que a ideia de zelar pelo seu sono surgiu, assim como ele gostava de cuidar si enquanto dormia, iria dar um jeitinho de niná-lo igualmente.
Saindo pelas portas grandes de vidro, notou o jardim silencioso e suavemente vazio. Muitos híbridos tinham seus trabalhos fora da ONG, deixando -mesmo que arriscando suas seguranças-, as famílias, além dos filhotes que estavam em aula, com professoras humanas que os davam muito carinho e aprendizado, formando um ciclo entre uma semana na escola com outras crianças humanas e a outra em um enorme quiosque no centro do jardim.
Sorriu, conformado de que seu povo poderia estar seguro onde estivesse. Eles precisavam de tudo aquilo para aprender a como ser fortes. Tinha altas esperanças.
- Oi, coelhinho! - Procurou pela voz de Taeho, que surgiu seguindo o limite da calçada, vindo da hortinha dos filhotes.
- Oi, hyung!
- Veja o que consegui. - Subindo os três degraus rapidamente, ele lhe mostrou uma cestinha cheia de dentes-de-leão. - O melhor legume do mundo! - Soltou uma risadinha.
Nunca havia provado um dente-de-leão em sua forma humana, mas seu lado coelhinho estava agitado, lhe dizendo através do olfato com o cheirinho bom exalando da flor, que ela era apetitosa.
- Sirva-se!
Com as orelhas extensas dançando, pegou um pequeno caule bem cheio, voltando a encarar o coelho de cabelos e orelhas negras.
Taeho foi o primeiro a abocanhar o miolo redondo e amarelinho, deixando sobrar apenas o caule, e contagiado, Jeongguk fez o mesmo, mastigando devagar tentando decifrar o gosto da flor. Era uma mistura doce e amarga ao mesmo tempo.
Porém, o coelho dentro de si faltou saltitar de alegria, fazendo-o perceber que há algum tempo não estava comendo o que seus instintos mandavam de forma equilibrada.
- É bom, não é?
- Uhum - Repuxou os lábios para ele, pegando mais alguns dentes-de-leão da cesta estendida em sua direção.
- Aqui é o melhor lugar para encontrar essas leguminosas para nós. - Riu um pouco mais alto, achando-o engraçado.
- Os filhotes trabalharam duro na hortinha, tome cuidado para não pegarem você, hyung.
- Nem todos são rápidos como o coelho aqui. - O Kim soltou uma piscadela, recebendo outra risada do mais novo. Gostava de ouvi-lo rir.
- Certo.
- E por acaso, coelhinho, não gostaria de compa... - Foi interrompido pelo toque característico de chamadas de um celular, observando o moreno retirar o exemplar branco do bolso e atender, abrindo um largo sorriso automaticamente, sem qualquer esforço de quem quer que estivesse do outro lado da linha.
- Oi, príncipe!
Taeho segurou a vontade de revirar os olhos. Mas seu lado humano o repreendia e mandava-o sair de perto, o que impedia era todo o lado pertencente ao seu coelho interno, que desejava o outro. Estava confuso.
Já o Jeon, se afastou em direção às portas escancaradas outra vez, avisando com um sorriso e olhar educado para o maior que ele iria conversar com outra pessoa por breves momentos, respirando profundamente ao poder ouvir a voz de seu hyung preferido.
- Como estão as coisas por aí, pequeno?
Seu rabinho pomposo se eletrizou, quase conseguia ver o sorriso nos lábios bonitos e apessegados.
- Estão indo bem, hyung! De manhã deu muito trabalho, mas agora temos tempo para descansar.
- Isso é muito bom! Eu também estou descansando agora.
Suspiraram ao mesmo tempo.
- Um cochilo cairia bem, não é?
- Uhum. - Como se a voz rouquinha fosse mágica, o moreno bocejou, naquele momento, quis algum lugar quentinho para se enroscar e dormir. - Jimin-ssi disse que estão tentando trazer os bebês resgatados logo, mas eles estão doentinhos demais para aguentar.
- Não se preocupe, Ggukie, os esquadrões podem ser formados por híbridos grandes e fortes, mas eles são cuidadosos e vão trazer todos em segurança.
- Eu acredito em você, hyung!
- Também tive uma conversa por telefone com o meu primo, fazia anos que eu não falava com ele, estava ansioso para conhecer você.
- Seokjin hyung?
- Isso mesmo! Jimin me avisou que já tinha falado dele para você.
- Sim, disse também que ele e o marido dele vão nos ajudar com a segurança das ONGs!
Tae não respondeu de imediato, ficou observando de forma vaga o restaurante ao seu redor, sorrindo abobado com a forma adorável que Jeongguk estava usando as palavras, incluindo-se em todas elas. Nosso, nós... simplesmente amava ouvi-lo falar.
- TaeTae?
Chacoalhou a cabeça.
- D-Desculpe, Ggukie! - Deu uma breve pausa, estapeando a testa levemente. Sempre agia como um idiota na frente dele, até pelo celular. - Mas é verdade, os primos são incríveis e vão ajudar a salvar... nosso povo.
As orelhas felpudas dobraram as pontinhas. Ggukie sorriu estonteante, adorou ouvi-lo falar daquele jeito.
- Sinto que estamos perto de conseguir a liberdade de todos.
- Vamos conseguir, porque estamos juntos guiando-os para o lado mais forte.
Uma vibração boa passeou pelo corpo do moreno.
- Todos estão tranquilos e felizes hoje.
Tae sorriu grandemente, não podia vê-lo, mas sabia que seu anjo estava sorrindo também, com os olhinhos de jabuticaba olhando ao redor, sentindo-se realizado.
- É claro que estão, porque é você que está aí sendo o guardião deles!
As bochechas mais rechonchudas coraram.
- Os filhotes só não chamam pelo hyung ainda, porque estão em aula agora, mas também se sentem felizes com você!
Um quadrado fofo contornou os lábios róseos.
Yoongi, que mantinha-se ocupado com sua sobremesa recheada de chocolate, contorceu a expressão, observando a face brilhante e boiola do melhor amigo, suspirando com o celular grudado na orelha.
- Quando nós estamos juntos também, não é? - O empresário mordeu o lábio inferior, com o corpo todo agitado ouvindo a risadinha do mais novo.
- Sempre quando estamos juntos, príncipe!
Apoiando a mão no peito acelerado, Taehyung escorregou levemente na cadeira. Parecia que iria derreter da cabeça aos pés.
Ter ajudado a dar aquele presente para o anjo foi a melhor decisão dos amigos, pois, poder se comunicar com o dono de seu coração mais vezes ao dia era o que iria mantê-lo animado até a noite, quando poria seus olhos nele outra vez.
- Acabou nosso horário de almoço, temos que voltar. - Comentou o acastanhado mais baixo, depois de comer todas as tortinhas doces da bandeja e ter procurado pelo Jung, que não tinha aparecido para se juntar a eles.
Com um biquinho se formando na boca, Tae concordou.
- Eu vou precisar voltar para o trabalho agora, pequeno. - Disse com os últimos resquícios alegres de sua voz.
- Tudo bem, TaeTae, eu também preciso ir. - As orelhas de coelho caíram, Ggukie também não queria deixar de falar com o mais velho.
- Mas para nos deixar animados até a noite, podemos planejar o que queremos fazer em casa!
- É uma boa ideia, hyung!
- Para começar, eu posso ir te buscar hoje de novo?
- Eu adoraria!
- Tudo bem então, - Uma risadinha rouca agraciou os ouvidos do mais novo. - e você? O que quer fazer hoje?
- Ainda temos missões no jardim, depois de terminar, podemos assistir "Vingadores" de novo?
- De novo?
- Só mais uma vez, TaeTae... - A manha na voz doce abalou o Kim.
- Tudo bem, vamos assistir, com direito a pipoca, chocolates e tudo o mais.
- Certo!
- E depois?
- Depois nós vamos dormir na cama do hyung! - Uma risadinha sapeca escapou dos lábios vermelhinhos, mas o de fios negros não pode se conter, aquela era sua forma de pedir para ficar com o seu herói.
- Ótima ideia, Ggukie, estou animado para nossa noite!
- Eu também!
Passaram alguns segundos em silêncio, adiando a despedida.
- Bom, então tenha uma boa tarde no trabalho, pequeno! Nos vemos mais tarde.
- Obrigado, hyung! E para você também, até mais tarde.
Escutaram por mais algum tempinho a respiração um do outro.
- Pode desligar primeiro, Ggukie.
Rindo, o coelhinho desligou o aparelho, continuando a encarar o contato aberto do príncipe na tela acesa. Era incrivelmente bom conversar com ele.
- Vai querer mais dentes-de-leão, coelhinho? - Taeho que estava um pouco afastado, perguntou, tentando conter qualquer expressão desgostosa. Seu lado coelho estava agitado.
- Muito obrigado, mas eu preciso voltar para a ala hospitalar agora - O Jeon sorriu pequeno, conferindo a hora pela tela de seu celular, terminando de adentrar o primeiro piso do prédio.
- Ah, tudo bem, então.
- Até mais tarde, Taeho hyung! - Se despedindo com um aceno fofo, o moreno lhe deu as costas, sumindo pelo largo corredor.
O coelho negro suspirou, era difícil chamar a atenção do mais baixo.
Deixando o elevador no andar de seu honroso trabalho, Jeongguk esticou os braços e massageou atrás do pescoço, tirando os pequenos incômodos dolorosos resultados de uma manhã inteira em pé. Caminhando a passos calmos em direção às outras portas que dividiam o balcão dos leitos ocupados, arregalou os olhos ao encontrar um de seus hyungs sentado em uma da fileira de cadeiras próxima à parede.
- Hoseokie hyung! - Se aproximou para cumprimentá-lo.
- Oi, coelhinho! - Levantando-se, o Jung puxou-o para um abraço. - Por isso ouvi falarem coisas muito boas sobre o hospital, você está trabalhando aqui!
- E-Eu só ajudo, hyung. - O jeitinho tímido lhe arrancou uma risadinha.
- Não seja modesto, você faz por merecer todos os elogios do mundo!
- Não vi o hyung mais legal do mundo chegar. - Comentou Ggukie, tentando mudar de assunto e também elogiar seu hyung, que vinha visitar e ensinar os filhotes quase todas as semanas.
- Assim eu me sinto especial, Ggukie - Foi a vez das bochechas do mais alto colorirem-se de rubro. - eu passei pela cozinha, mas não quis atrapalhar seu almoço, soube que estava um agito esse lugar de manhã.
- Um pouco. - Os olhos escuros e brilhantes encontraram o papel especial contornando uma caixa grande entre suas mãos. - Vai presentear alguém, hyung? - Perguntou, rindo em seguida, quando os olhos dele se arregalaram.
Ggukie sabia que Eunbi estava sendo atendida pelo seu hyung Junseo, e só poderia ser aquele o motivo dele estar ali, havia prometido uma visita especial a ela.
- Isso n-não é bem o que está pensando, é...
- Eu acho que é um presente de amor, hein! - O Jeon lembrou-se de quando entregou seu presente de natal para o príncipe, e havia escutado do mais velho em sua frente algo parecido.
- Não poderia ser, poderia? - O sorriso em forma de coração não se abriu totalmente feliz.
- Poderia sim, hyung! Tenho certeza que Eunbi vai gostar.
- Disso eu também não duvido, mas sobre ser amor, acho que não para mim... - Uma lufada de ar escapou em um riso mudo. - isso eu vejo entre você e o Tae, huh? - Arqueou as sobrancelhas, fazendo graça.
O rosto do ser pálido enrubesceu violentamente e Hoseok explodiu em risadas.
- N-Não vale, hyung!
- Por que não?
- Porque eu não sei o que é esse tipo de amor. - A fala adorável fez o Jung ter vontade de apertar as bochechas vermelhas. Jeongguk sabia, só não podia ver ainda.
- Vai descobrir algum dia. - Foi sincero.
- O hyung já descobriu o que é?
- Já, com o Yoongi, durante os anos de faculdade. - Riu mais alto com a face surpresa voltada em sua direção. - Mas também descobrimos que estávamos confundindo uma amizade muito bonita com amor, então decidimos voltar a ser só amigos.
Não foi sua intenção, mas Hoseok acabou trazendo mais nozinhos confusos para os pensamentos do garoto coelho.
Será que não havia encontrado a resposta verdadeira para a confusão dentro de si? Pensou Jeongguk.
- Mas então...
- Não são todos os casos, coelhinho, quando é amor, de alguma forma dá para sentir. Começa borbulhando algo pequeno dentro do nosso coração, e depois, explode e se espalha por todo o nosso corpo, - Os fios negros balançaram com o assentir frenético e atento do mais novo. - o estágio inicial são sorrisos a toa, suspiros e pensamentos voltados para a pessoa especial. O estágio final, é quando seu corpo não suporta ficar longe do outro, que a todo momento precisa de um contato para compartilhar o amor.
Hoseok explicou com um sorriso no rosto, observando com curiosidade o garoto de queixo caído.
- O hyung sabe mesmo sobre amor!
Riu.
- Eu tento entender... - As portas se abriram revelando o híbrido de onça empurrando calmamente a raposa cadeirante, com um sorriso grande de presas de fora. - Mas não pense muito sobre isso, deixe as coisas rolarem e apenas sinta. - Jogou uma piscadela para o mais novo, que tinha muito mais nozinhos em mente, outra vez, do que poderia contar.
- Que bom que voltou, Ggukie! Temos muitos curativos para trocar e também preciso medicar alguns híbridos de novo.
- Certo, hyung. - Ainda que desnorteado, o mais novo respondeu, chacoalhando a cabeça tentando afastar aqueles novos pensamentos.
- Hoseok. - Eunbi chamou baixo, olhando diretamente para o sorriso com os olhos dele.
- Ggukie avisou que eu viria?
- Uhum.
- Bem, então eu posso começar oferecendo a minha ajuda? - Com as mãos recheadas escondidas atrás das costas, Hoseok se balançou sobre os calcanhares.
- N-Não, eu consigo sozinha. - Apoiando as mãos nas rodas barulhentas, Eunbi impulsionou-se para frente, na direção do elevador, parando para apertar o botão e estranhando não encontrar o Jung ao seu lado. - Você não vem? - Olhou de canto para ele, que ainda estava parado no mesmo lugar.
- C-Claro! - O homem de sorriso em forma de coração deu um leve sobressalto e rapidamente se pôs a caminhar. - Tchau gente! - Acenou para os outros dois antes de entrar no elevador com ela, ainda tentando esconder o embrulho.
Jeongguk e Junseo trocaram um olhar antes de rirem baixinho, adentrando o enorme cômodo com os leitos que deveriam atender.
Já os outros dois seguiram em silêncio por todo o trajeto até o térreo.
- Você... - Hoseok engoliu em seco, andando ao lado de Eunbi pela calçada, já fora do prédio branco. - Como tem passado?
- Como todos os outros dias, e você?
Ele sorriu grandemente, um pequeno gesto de retribuição seu, fez com que sentisse suas esperanças aumentarem. A raposa estava tentando, e sentia muito orgulho dela.
- Como todos os outros dias, também.
Voltaram a ficar em silêncio, até chegarem no último quiosque do jardim, onde abriu a porta e ajudou a mulher a passar.
- Eu trouxe um presente... - Comentou baixinho, não sabia que reação esperar dela.
- O que é? - A curiosidade disfarçada no tom frio da voz feminina, lhe fez rir.
- Abra. - Ofereceu a caixa colorida, essa sendo delicadamente retirada de suas mãos e depositada no colo coberto por uma fina coberta.
Desfazendo o laço e puxando a tampa, a raposa entortou a cabeça, piscando lentamente para uma bonequinha de amigurumi idêntica a si.
- S-Sou eu?
- Quase. - Ergueu o olhar para encarar o homem abaixado em sua frente. - O nome dela é Eunba e vai fazer o tratamento com você.
O coração da raposa disparou, assistindo o Jung retirar a boneca descansada sobre papéis de seda coloridos e deixá-la sobre suas mãos.
- C-Como soube?
- O Ggukie me contou. - Hoseok sorriu para ela, tentando acalmá-la, o que estranhamente deu certo para a moça. - Ela vai estar do seu lado durante todo o processo, vai melhorar junto com você.
- Ela é bonita. - Segurando a boneca pelo tronco com uma mão, Eunbi acariciou o rosto pálido e cheio de sardas com o indicador livre.
- É sim, muito bonita... - Hoseok concordou, mas olhando diretamente para a híbrido.
- Você - Voltando a encará-lo de repente, a mulher sentiu coisas estranhas percebendo que o olhar dele já estava sobre si. - vai estar lá também? - Perguntou um pouco acanhada. - A-Afinal, foi quem abriu os meus olhos.
- Tenha certeza de que vou estar.
- Obrigada. - Sua voz soou baixa na única palavra, mas que trazia vários significados além de agradecer o presente.
- Não é nada, eu só achei que esse presente combinava com você. - Um riso nervoso escapou de Hoseok.
- Junseo-ssi disse que meus músculos estão em um nível médio de atrofia, vai ser mais complicado.
- Não quando Eunba e Hoseok estão por perto!
Segurando com as polpas dos dedos os finos bracinhos de crochê, O Jung os ergueu, imitando um som agudo para demonstrar um grito animado.
Eunbi soltou a primeira risada do dia.
[...]
Com mais um dia terminado, desta vez com os nozinhos confusos escondidos dos pensamentos de quase todos os garotos, restando apenas o cansaço do trabalho, esses estavam em suas devidas casas.
Hoseok desfrutava da boa comida de seu restaurante favorito, assistindo televisão de forma vaga, pensando no que mais poderia fazer para ajudar sua nova amiga.
Yoongi no apartamento próximo, já estava na cama, fingindo dormir para não ter de encarar seu gatão. Seu desejo era dizer boas verdades para ele, mas não queria ser o namorado imaturo, não era seu direito, então ficou quietinho enquanto ouvia seus passos pelos cômodos, até o momento em que se juntou a si na cama e lhe deu um beijo molhado na nuca, arrepiando-o, antes de desejar boa noite e se agarrar ao seu corpo.
Os mais novos do grupo, no entanto, estavam bem despertos. Haviam feito tudo o que planejaram desde o momento que não se desgrudaram mais ao que Taehyung foi buscar Jeongguk na ONG, com certo momento obrigando-os a se separar quando tiveram que preparar-se para dormir.
No tempo em que Taehyung andava pelo seu quarto, dentro de um pijama listrado de azul e branco decorado com corações vermelhos, ajeitando a cama de casal com as cobertas mais finas e macias, sorrindo bobo para o segundo travesseiro ao lado do seu, Jeongguk permanecia dentro do banheiro de seu quarto perfeitamente arrumado, olhando para seu próprio reflexo enquanto secava com uma mão o cabelo e com a outra segurava a toalha grossa e fofa enrolando seu tronco.
Retirando o máximo de água possível de seus fios, devolveu a toalha menor para o nicho ao lado do espelho, sorrindo para si próprio. Não tinha mais receio de olhar para sua imagem, agora via-se colorido dos pés às orelhinhas de coelho.
Abrindo a gaveta da cômoda rente ao seu quadril, pegou o tubo de pomada já espremido até a metade e sorriu mais ainda, ela estava o curando fisicamente, tirando de sua visão os hematomas e traços de má cicatrização. Retirando a tampa, despejou em sua palmas uma gota generosa, espalhando primeiramente por seu braço esquerdo, apreciando quando seu cheirinho de torta de limão ficou mais forte.
Seus instintos mandavam comandos alegres todas as noites depois de massagear seu corpo com a pomada, pois assim, seu lado coelhinho conseguia marcar os lençóis e mesclar seu cheiro com o do príncipe.
Empenhado, Ggukie percorreu cada centímetro de seu corpo com leveza, focando novamente em seu rosto quando terminou.
- Eu gosto da forma que o meu cheiro fica quando se mistura com o do príncipe...
Farejou o cômodo menor preenchido com seu cheiro harmonizado, conseguindo buscar apurado os morangos frescos que vinham de suas roupas depois de um longo abraço ainda na ONG.
Lentamente, foi erguendo o olhar do cesto de roupas, analisando desde seu quadril até os fios de cabelos espetadinhos.
Livre, apoiou as mãos nas bochechas, sentindo o calor das próprias palmas acariciá-lo.
- Eu gosto do formato do meu rosto... - Sorriu grandemente. - gosto do Jeongguk feliz, que já sabe o que é sentir calor.
Feliz. Sentiu algo doce na boca ao dizer a palavrinha especial, e que há tempos rondava seus pensamentos, em voz alta pela primeira vez.
Movendo os dedos, fechou os olhos sentindo a pele sensível das pálpebras e os cílios longos tocando-lhe as digitais, descendo, encontrou o formato redondo e avantajado de seu nariz e refez seu traço com o dedo indicador, em seguida, encontrou seus lábios não mais ressecados, sentindo a maciez e temperatura que adorava tocar a pele do seu herói.
- Eu adoro beijar o TaeTae.
Riu baixinho para si mesmo, se divertindo com a atividade de autoconhecimento que vinha praticando todos os dias, como prometeu a sua amiga psicóloga.
- E adoro receber beijinhos dele também.
Começou a sentir cócegas engraçadas em sua boca de um segundo para o outro. Entendeu. Queria dar mais um beijinho.
Chacoalhando a cabeça tentando conter aquele nozinho, desceu as mãos um pouco mais, encontrando a pele de seu pescoço quase limpa, restando apenas traços pouco visíveis que demarcavam os anos usando uma coleira. Suspirou, nunca mais lembraria o que era se sentir sufocado, ou, olhar para seu corpo e ver as feias pinturas das quais tinha tanto medo.
- Eu gosto da minha pele.
Então passou as mãos por seus ombros quase abraçando a si próprio, acompanhando os movimentos através do espelho, em seguida, encontrou a derme macia de seu peitoral e cada vez que olhava um pouco mais, nenhuma cicatriz ou costela à mostra se faziam presentes, lembrando-se de sempre repetir que gostava do que via. Parou então em sua barriga, cutucando com o indicador onde as gordurinhas que noona dizia ser de seus pãezinhos doces, diziam sobre sua boa saúde. Riu animado.
Girando o corpo, tentou encontrar por cima dos ombros suas costas, observando precariamente os poucos hematomas que restavam, mas que já estavam desfocados por causa das novas cores ganhando brilho em sua pele.
Podia ver-se todo pintado de arco-íris.
- Eu gosto. - Disse simplesmente. Agora não precisou ver seu reflexo outra vez, não foi necessário citar o que mais gostava em si. Gostava de tudo desde que sentiu levemente o aroma de morango grudado no corpo que voltou a pertencê-lo.
E lembrando-se do dono desse, trocou rapidamente um sorriso com o Jeongguk que vinha se conhecendo e transformando, depois, vestiu o pijama rosa bebê com desenhos de coelhinhos que noona havia lhe dado de presente dias atrás.
Penteando os cabelos um pouco desleixado pela pressa, deixou seu banheiro com rápidos pulos em direção ao quarto de fronte. Ao passar pela porta, encontrou o hyung no banheiro particular dele, terminando de secar os cabelos segurando o secador com uma mão e a escova com a outra. Aproveitando sua distração ao estar assistindo a própria imagem no espelho, foi ligeiro e se jogou contra o colchão macio, rolando sobre as camadas gostosas e frias dos cobertores, apreciando a preguiça que o tomou ao se espreguiçar e relaxar sobre a cama.
- O senhorzinho é mesmo muito esperto, mas pode se levantar e vir aqui secar o cabelo direito!
Tae o chamou assim que desligou o secador, sem nem mesmo precisar sair do banheiro, sorrindo grandemente para o espelho contando os segundos até o anjo dentro do pijama fofo aparecer na porta.
- Precisa mesmo, hyung? - A pergunta manhosa quase o convenceu.
- Não quer dormir com o cabelo molhado, quer? - O moreno negou. - Eu seco para você.
- Certo!
Com as orelhas dançantes, o Jeon prontamente se colocou em sua frente, permanecendo quietinho e sorridente, sentindo quando voltou a ligar o eletrodoméstico direcionando o ar quente nos fios macios e cheirosos, junto da escova escorregando pelo comprimento sem nós.
- Está muito quente? - Tae perguntou preocupado.
- Não. Está bom, TaeTae. - Acolhido pelo calor e preguiça, os olhos negrescos piscaram lentamente.
Com fios secos e cheirosos, os garotos deixaram o banheiro, indo diretamente para a cama preparada para niná-los a noite toda, aconchegando-se automaticamente um no outro, enquanto, a tv do quarto era ligada.
- Hum... - Tae resmungou depois de algum tempo, sem cessar o cafuné no cabelo pretinho do anjo. - acreditaria em mim se eu dissesse que estou com fome?
Jeon deixou um riso soprado escapar. Estava quase dormindo.
- Acredito, hyung.
- Vamos fazer um lanchinho?
- Vamos! - O sono se foi tão rapidamente quanto o pulo que deram da cama, abandonando o quarto e um filme da Marvel, para descer as escadas nas pontas dos pés em direção à cozinha.
[...]
Na manhã seguinte, o Jeon se despediu rapidamente do príncipe, empurrando-o para além da porta depois de um beijinho na bochecha, impedindo-o de tentar se atrasar para o trabalho e ver como as suas orelhinhas e rabinho estavam agitados. Desejava que ele fosse o mais rápido possível, pois tinha uma sessão com a psicóloga, e para falar o que vinha dominando seus nozinhos de pensamentos, precisava estar longe do causador deles.
Quando Hyubi passou pela porta de entrada aberta por noona, que iria sair para o jardim da frente e deixá-los a sós, foi recebida por um coelho faltando pouco para saltitar pela sala.
- Oi, Hyubi noona!
- Olá, Jeongguk! Você parece bem animado hoje.
- Tenho novidades para contar e perguntas para fazer! - O coelhinho tentou se aquietar sobre o sofá, sendo denunciado pelas orelhas extensas dançando.
A panda riu baixinho.
- Estou aqui para ouvir tudo - Sentou-se ao lado dele, pegando seu velho caderninho de dentro da bolsa. - Por onde quer começar?
- Estou fazendo a atividade de autoconhecimento e para aprender a me amar todos os dias, noona! - As mãos branquelas não paravam, batendo ansiosas nas pernas cobertas.
Hyubi não se preocupava mais com toda aquela inquietude de seu paciente, não quando sentia o cheiro cítrico de torta de limão completamente normal e saudável em seu olfato de panda. Era uma eletricidade além do que o garoto conseguia controlar, do seu lado animal.
- E quais resultados encontrou? - Perguntou curiosa, analisando a feição alegre do Jeon.
- Descobri que o meu lado coelho gosta das folhas e o meu humano da cenoura, - A psicóloga segurou o riso, mantendo a pose profissional. - também gosto de tudo o que me faz... ser eu agora.
- É muito bom ouvir isso, você se saiu muito bem na sua atividade, porém não significa que é para deixar de praticar.
- Certo!
- E a atividade sobre se amar?
- Ainda não descobri muito bem como funciona - Ggukie foi sincero. - Mas o hyung me deu uma pomada que tem o meu cheiro, ela tirou toda a sujeira do meu corpo, e agora eu gosto de me ver todos os dias no espelho, quando toco o meu corpo, sinto calor, me vejo bonito com as cores novas... - As orelhas de coelho caíram, enquanto falava sem parar, realçando as bochechas coradas.
- É um bom resultado - A ursa assentiu, sorrindo enquanto escrevia pela folha do caderno. - e como se sente? É o suficiente para você?
- Não.
A resposta a fez levantar o rosto. Esperou ver alguma reação negativa no mais novo, porém, seu rosto continuava alegre e corado.
- Não?
- Quero descobrir tudo sobre amar a mim mesmo, pesquisei na internet, mas acho que ainda não consegui.
Nenhuma sessão deixaria de impressionar a panda. Seu paciente estava em constante mudança e essa era tão grandiosa que ao simplesmente olhá-lo, conseguia identificar.
- E como você pretende alcançar esse objetivo?
- Vou treinar todos os dias, eu quero me amar! - A voz doce e determinada inspirou até a psicóloga.
- Desse jeito, vai conseguir o mais breve possível, não é algo fácil, tão pouco que você possa parar de praticar também, sabe disso, não é? - Jeongguk concordou.
- Nunca vou parar de tentar, noona!
- E sobre suas perguntas, quais são?
As bochechas macias tornaram a coloração rubra e Jeongguk aquietou-se no sofá.
- E-Eu preciso esperar me amar primeiro para só depois descobrir o que é amar outra pessoa?
Daquela vez, a pergunta tinha uma resposta na ponta da língua da psicóloga.
- Se amar é extremamente importante, é um bem estar para seu corpo e sua mente. Mas acha que tem problema amar outra pessoa ao mesmo tempo?
- Não tenho certeza.
Os olhos negrescos brilhavam arregalados. Tudo o que Jeongguk queria saber desde o início da conversa era sobre aquilo, entretanto, também queria mostrar que estava cumprindo suas tarefas e orgulhar sua amiga.
- Vamos começar com outra pergunta então - Assentiu prontamente, se ajeitando sobre o estofado. - O que você pensa sobre essa descoberta do amor?
- Um hyung me contou que conheceu o amor na faculdade, mas no fim tinha confundindo com uma boa amizade. - Hyubi balançou a cabeça, prestando atenção em sua resposta. - Quando eu vejo na televisão com a noona, parece fácil conhecer o amor, mas depois do que o hyung falou, fiquei confuso. Como eu sei que não vou confundir também?
Aquele era seu maior nozinho. O que mais apertava e dava dor de cabeça.
- Isso é você que vai me dizer, - A panda deixou um riso soprado escapar com a confusão que tomou o rosto pálido. - Se sente que está pronto e quer dar esse passo, precisa tentar. E é assim que vai descobrindo.
- Eu posso mesmo tentar?
A pergunta soou em um sussurro. Jeongguk tinha a intenção de ser apenas em seu pensamento, mas fugiu de seus lábios.
- Acha que o amor é bonito o suficiente e precisa ser conhecido? - Assentiu freneticamente. - Então...?
- Eu vou tentar! - Seu rabinho eletrizou-se e teve que se ajeitar no sofá para deixá-lo balançar livremente. - Quero conhecer o amor com o TaeTae!
A psicóloga concordou, virando a folha de seu caderno, voltando a fazer anotações.
- Se já escolheu alguém para te ajudar nessa busca, alguém em que confia para permitir chegar tão perto do seu coração, teste e veja se já está na hora.
- Certo, noona!
- E outra coisa, - Os olhos de jabuticaba observaram seu rosto, esperando ansioso pela sua resposta. - não dá para aprender sozinho, então não sinta receio de perguntar para os seus amigos que já conheceram ou conhecem o amor.
O garoto coelho concordou mais uma vez, pensando por bons minutos antes da mais velha retomar a sessão. Não foi difícil falar sobre como passou a gostar de seu corpo, nem de como um dia já veio a sentir tanta dor para ser colorido naqueles tons feios. Ter se livrado daquelas marcas fez com que desse um passo à frente de nozinhos que antes preferia manter escondidos. Porém não queria mais, já estava caminhando muito longe desde quando foi salvo, usaria a força de todos que o ajudaram para não sentir mais dor. E também achava que o amor era a principal fonte de força para isso.
[...]
Durante todo o dia ensolarado restante, Jeongguk pensou sobre sua conversa com a psicóloga, repassando cada momento para tentar entender todas as suas palavras com clareza. E todas levavam a sua vontade de tentar amar e ser amado ao mesmo tempo.
Ser amado.
Seu coraçãozinho deu um salto e não soube identificar por qual emoção. Foi estranho. Não era sábio e tão pouco experimentou o amor além do que recebia de sua avó, porém a decisão era sua de tentar.
- Orelhudo?
Foi puxado de seus pensamentos com o chamado carinhoso de noona. Ela também lhe dava amor, aquele conhecia e achava bonito, mas igualmente diferente do que desejava, e com quem desejava.
- Sim, noona?
- Quer me ajudar a colher algumas folhas da horta? Vou fazer um suco verde para nós - O rosto suave logo se contorceu em uma careta enjoada, arrancando um riso dela. - Você já experimentou? - Ggukie negou. - Então como sabe que não gosta?
- Tem razão, noona - suspirou, vencido pelo argumento da mais velha.
- Você e o Tae precisam se conformar de que eu sempre vou ter razão, assim a vida será mais fácil. - Byeol empinou o nariz, fazendo-o gargalhar.
- Certo! - Se levantou em seguida, acompanhando-a para além das portas de vidro da sala de estar.
- Posso colocar alguns pãezinhos doces no forno também, para ir beliscando antes do jantar, querido.
- Eu quero, noona! - O entusiasmo sendo exibido pelo rabinho pomposo e elétrico, alegrou a mulher de meia idade.
- Com uma condição, vai tomar pelo menos um copo de suco verde - Aquela careta contornava o rosto do moreno outra vez. - Só tem coisas de que você gosta, menino! Couve e limão!
- Parece bom. - Aos poucos, o Jeon foi se acostumando com a ideia.
- E depois, é saudável para um garotinho em crescimento como você. - As mãos levemente enrugadas alcançaram seu rosto para distribuir um singelo carinho.
- Prometo beber tudo, noona!
- Que maravilha!
Logo após, ambos passaram pelo baixo cercado, se agachando para colher as folhas verdes com olhos afiados e seletivos.
- Noona?
- Sim, querido?
- Já conheceu o amor?
A pergunta fez a mais velha encará-lo imediatamente, surpresa.
- Bom... - Soltou uma risadinha. - Uma vez eu conheci sim.
- E como foi?
- Foi mágico como nos doramas que a gente assiste - A mais velha exibiu um brilho diferente no olhar, o que não passou despercebido pelos olhinhos negros e atentos. - Eu e ele nos vimos primeiramente em um festival de primavera na minha cidade natal, ele me deu uma flor e perguntou quantas deveria dar para eu precisar de um jardineiro em casa. - Byeol negou para si mesma, soprando um riso.
- Ele era jardineiro? - Ggukie sorriu largo, não esperava pela resposta, queria apenas confirmar a profissão que achava tão bonita.
- Era sim, o melhor que eu já conheci.
- E o que aconteceu depois, noona?
- Há romances que algumas pessoas podem apenas experimentar, não ter. - O sorriso dela murchou levemente. - Não tive a sorte de conhecer um amor duradouro, mas o pouco que tive foi o suficiente.
O coração do garoto coelho se apertou e sua reação foi apoiar a cabeça no ombro da mais velha e a confortar com um carinho de coelho.
- Está tudo bem, querido, posso te garantir que hoje sou mais feliz do que naquela época. - A mais velha sorriu largo, retribuindo-o.
- A noona quer conhecer o amor de novo?
- Que pergunta difícil, Ggukie! - Riram em sincronia. - Não sei, acho que já estou muito velha para isso, mas em compensação eu tenho um bom lar e dois meninos incríveis para cuidar e amar.
Um sorriso largo tomou os lábios vermelhinhos.
- E os outros hyungs, noona?
- Ah, eles também, eu tenho todos para cuidar e sou muito grata por isso. - Se afastaram apenas para sair do cercadinho, trazendo em mãos as folhas de couve e algumas outras para temperar o jantar.
- Por que a pergunta, querido? - A mais velha alfinetou, curiosa demais.
- Foi sobre conhecer o amor que eu conversei com a Hyubi noona hoje.
- Que assunto mais bonito! E em que conclusão chegou?
- Estou pronto para conhecer o amor, noona!
A mais velha encarou-o com os olhos arregalados, antes de sair saltitando pela grama verde.
- Ah que decisão bonita, orelhudo!
- A noona acha?
- Claro!
Voltaram a andar lado a lado, voltando para o interior da casa.
- E, por algum acaso, já apareceu a pessoa que vai te ajudar a conhecer o amor?
Byeol perguntou sem rodeios, sorrindo sugestivamente enquanto entravam na cozinha, se segurando para não voltar a pular.
- J-Já - As bochechas gordinhas ganharam um tom rubro. - Mas ainda tenho medo de estar confundindo o desejo de conhecer o amor com a amizade.
- Ah, eu tenho certeza que entre vocês dois não há dúvidas desse amor! - A mais velha falou inconscientemente, começando a lavar as folhas de couve, parando estática por alguns segundos ao perceber a língua solta. - D-Digo, é impossível alguém não se apaixonar por você, querido.
Jeongguk sorriu, apesar de envergonhado.
Apaixonar. Era outra palavra bonita.
- Então, a noona acha que eu deveria mesmo tentar?
- Claro! Por que não deveria experimentar algo tão bonito?
- Está bem, eu vou tentar!
- Não se esqueça de me contar como foi, menino! - Gargalhando, Jeongguk assentiu.
Da tarde colorida até à noite serena, Byeol não conseguiu parar de sorrir, observando com olhos carinhosos a reação de seu menininho quando Taehyung chegou.
Sabia muito bem quem era o pretendente dele, só esperava que o homem que criou percebesse também.
Cada dia que passava e podia ver mais, conformava-se de que nada era uma coincidência. O solitário Kim da família mais rica do país doou fundos para uma ONG ser construída e depois encontrou alguém especial quando sua vida já estava caindo na monotonia, poderia e simplesmente aconteceu, não havia uma explicação.
- Viu um fantasma, dona Byeol? - Chacoalhou a cabeça, saindo de seu transe quando uma sombra cobrindo seu olhar vago iluminado pela luz da sala, parou em sua frente.
- Não, estava pensando aqui em uma coisa. - Arqueou apenas uma sobrancelha em direção ao moleque de sorriso quadrado que veio lhe cumprimentar.
- Estava pensando nos seus boys de dorama, é?
Taehyung rapidamente se esquivou de um tapa, rindo alto, junto ao garoto coelho.
- E você, moleque? Não está pensando no seu?!
O acastanhado engasgou com a própria saliva, sorrindo de forma nervosa de repente.
- S-Só estava brincando, senhora Byun!
- Eu também, senhor Kim!
Ggukie tapou os lábios com a mão, deixando seu sorriso desarmá-lo pelo contorno dos olhinhos comprimidos exibindo suas ruguinhas.
Adorava vê-los daquela forma, trazia lembranças boas de quando ainda tinha sua amada avó.
- Vá se lavar, o jantar está pronto.
- Eu tomo banho depois, tô com fome. - Taehyung passou pela mais velha, adentrando a cozinha para lavar as mãos.
- Ggukie não vai querer se sentar do seu lado, porquinho!
Jeongguk por pouco não falou que estava tudo bem, pelo contrário, seu olfato ficou preso no cheirinho de morango e chuva que ainda estava lá, despregando da pele bronzeada como na manhã quando se despediram.
- Pelo cheiro maravilhoso da comida, eu faço esse sacrifício. - Tae dramatizou, sentando-se à mesa e puxando as mangas da camisa social branca até os cotovelos.
"Até porque tenho a noite toda para estar ao lado do Ggukie." Concluiu a frase em pensamentos, sorrindo bobo para o prato vazio em sua frente.
Depois do jantar e banhos tomados, noona despediu-se de seus meninos e foi para seu confortável quarto, sorrindo pelo corredor com a última imagem do dia sendo eles se aconchegando um ao outro no sofá da sala.
- O que vamos assistir hoje, pequeno?
- Pode ser um dorama?
O Kim fez uma careta.
- Daqueles melosos? Ah não, Ggukie...
- Por favor, TaeTae!
Tendo aprendido com os coelhos da ONG certas artimanhas, Ggukie baixou as orelhas juntando as mãos em súplica rente aos lábios.
Taehyung ficou apenas o observando por algum tempo. Nem se deu o trabalho de contar os minutos, encontrando-se nas bolinhas pretas e galácticas dos olhos do anjo.
- Aigoo! - Um bico frustrado se formou nos lábios apessegados. - Tudo bem, Ggukie.
Chegou a conclusão de que realmente estava em perigo, contando todas as vezes que sua paixão resolveu usar a manha para convencê-lo. Não, todas as vezes que ele simplesmente olhou persuasivo para si.
- Pode escolher qual vamos assistir, hyung!
- Sério?!
Jeongguk sorriu, assentindo.
- Já tenho até um em mente.
Sorrindo quadradinho, o acastanhado manuseou os botões do controle, clicando na capa de seu interesse na tela da Netflix.
Há muito tempo queria assistir aquele dorama sobre máfias. Vincenzo.
Daquele jeito, colados um no outro, enquanto degustavam uma barra de chocolate que Tae escondeu sob a coberta até noona ir dormir, assistiram dois episódios. Porém, logo o empresário começou a se arrepender da escolha, sentindo o garoto ao seu lado se remexer a cada minuto, ainda que entre seus braços.
- Está tudo bem, pequeno? Se não estiver confortável, podemos assistir outro. - Virou o rosto em sua direção, preocupado.
- Está tudo bem, hyung, só queria mudar de posição. - Ggukie sorriu para acalmá-lo.
- Oh, certo!
Soltando-o, Tae esperou que se arrumasse sobre o sofá para poder ficar agarrado a ele novamente, mas a cena que aconteceu em seguida o fez congelar.
Jeongguk havia se deitado, podendo esticar as pernas, e por fim, descansou a cabeça em sua coxa direita.
- Posso ficar assim, TaeTae?
- C-Claro! - Respondeu de imediato, os olhos arregalados assistindo-o sorrir na direção da tv.
Nunca tinham estado juntos assim no sofá para assistir e seguido do choque, Taehyung abriu um largo sorriso. Adorou aquilo.
Passados outros dois episódios, o relógio indicou uma hora da manhã, mas o Kim continuava prestando atenção na televisão, fascinado pela história que estava sendo contada. Ainda não tinha sono e tão pouco queria deixar aquela posição, com os dedos longos fazendo um cafuné entre os fios pretinhos e macios.
- Veja só, Ggukie! - Riu com uma cena que se desenrolava no prédio onde o ouro do mafioso estava escondido.
Entretanto, desviou o olhar da tv para o garoto todo largado no sofá. O anjo havia pegado em um sono pesado, ressonando com um braço pendendo para fora e os lábios entreabertos.
O empresário sentiu o coração disparar e entalar em sua garganta tentando fugir outra vez. Jeongguk era tão bonito e parecia dormir tão bem que fez uma tremedeira passear por seu corpo.
Sua paixão estava com a expressão tranquila e corpo confortável. E faria tudo para que fosse o único a ter aquela visão, ninguém iria encostar nele daquela forma, nem o olharia como estava olhando.
Iria oferecer seu coração primeiro.
Porém, ainda precisava de duas opiniões extremamente importantes, para que pudesse continuar procurando pelas flores que falariam o que a falta de coragem o impedia de colocar em palavras.
Yoongi e Byeol eram os candidatos a conselheiros perfeitos para a ocasião.
Deixando de pensar com o mesmo desespero que seu coração, pausou o episódio e desligou a tv, se concentrando em balançar delicadamente o ombro de Ggukie até despertá-lo, chamando-o para irem dormir.
Com a cabeça nas nuvens, Tae passou algum tempo tentando se organizar, e somado à falta de sono, cobriu o corpo menor depositando um casto beijo no topo da cabeça de fios negros, sorrindo quando o anjo sonolento suspirou e relaxou na cama.
Deixando o quarto, caminhou a passos lentos para o último cômodo do corredor. Precisava de alívio dos nós gigantes de seus pensamentos.
Familiarizado outra vez com aquele quarto depois de anos de luto, foi diretamente para a janela, sentando-se no sofá branco sob ela e trazendo para suas mãos o primeiro presente que ganhou de sua mãe. O violino de madeira de ipê.
Na época de criança não entendia o tamanho de sua consideração pelas árvores do mundo, pensava que os violinos brotavam da terra igualmente.
Riu baixinho com a lembrança.
Sentindo o conforto atingir seu corpo e sua mente finalmente se aquietar, tocou o arco na escala, marcando com os dedos as primeiras notas da noite.
Tendo os pensamentos em paz tomados pelas imagens de sua paixão enquanto tocava uma música de amor, estes o fizeram abrir um enorme sorriso. A primeira parte de seu plano para entregar seu coração a Jeongguk, seria tocando aquela música para ele.
Esteve ensaiando durante tempo o suficiente para sentir que poderia tocar na frente das pessoas outra vez, essas que eram tão especiais em sua vida, que tornava o medo inexistente.
Depois de um bom tempo tocando, acabaram as notas, mas o coração e a mente do acastanhado ainda estavam ouvindo a música.
Guardando seu instrumento amigo voltou a se levantar, mas antes que pudesse deixar o quarto, se pegou preso observando o enorme quadro na parede oposta da janela, da bailarina perfeita sorrindo com um quadrado nos lábios, enquanto, tinha os braços erguidos e se mantinha nas pontas dos pés.
Tae não conseguia ver seus olhos, o sorriso da Kim era tão grande que transformava-os em dois risquinhos sobre o palco bem iluminado.
Uma fisgada dolorosa no peito o fez chacoalhar a cabeça e fugir do cômodo, abandonando a porta aberta. Voltando para seu quarto e se infiltrando nas cobertas já aquecidas, buscou o calor do belo garoto coelho, que rapidamente se enroscou em seu corpo como se tivesse entendido em meio a seu sono a vontade de abraçá-lo para que sua dor fosse embora.
O desespero e o medo de seu coração foram passando.
Taehyung sentia-se seguro quando tinha o corpo enroscado no de Jeongguk. E não poderia imaginar que trazia a mesma sensação para ele.
Quando o sol raiou, Taehyung novamente foi o primeiro a acordar e sorriu. Seu coração não palpitava forte e não sentia mais dor.
Procurando pelo dono do calor que acolheu seus sentimentos ruins e o ninou a noite toda, -apesar dele não saber que o fizera-, vislumbrou a face coradinha em sua direção, os olhinhos fechados e uma das mãos por baixo da bochecha correspondente, deixando-a ainda mais gordinha. Taehyung se ocupou em decorar o rosto do Jeon pela enésima vez, contornando com o dedo indicador no ar, os traços que achava perfeitos.
Recolhendo a mão, voltou a pensar no retrato de sua mãe e em como culpava-se por não conseguir olhar para ela. A amava tanto que os anos só aumentavam a sua dor. Porém, se fosse a mesma noite alguns meses atrás, um olhar para a Kim se transformaria em um pesadelo, agora, acordou sentindo-se diferente, ver o sorriso que herdou não o fez ter vontade de chorar, apenas a saudade o invadiu junto de lembranças boas, e antes que pudesse se permitir cair no escuro, estava nos braços de seu pequeno herói.
Desde que o encontrou e ajudou, algo em seu interior tinha mudado, não compreendia como o anjo tinha feito aquilo, mas o fez desejar ser uma parte dele e isso lhe deu forças. Eram dois garotos perdidos e machucados salvando um ao outro.
O sentimento antes estranho se tornou tão grande em seu peito, que quando prometeu entregar o mundo a ele, seu coração estava incluso no pacote sem nem se dar conta.
Negou para si mesmo rindo de forma muda, se fosse o Taehyung de algum tempo atrás, jamais permitiria algo como aquilo. Porém, não queria mais ter medo. Queria amar e ser amado.
Só precisava saber como faria aquilo.
De repente um nozinho despertou em sua mente, pois já sabia a quem perguntar.
Se levantando rapidamente, passou as mãos pelo rosto e pelos fios bagunçados, ajeitando a coberta sobre Jeongguk antes de deixar o quarto a passos rápidos. Estava ansioso.
Descendo os degraus de dois em dois com os pés descalços e atrapalhados, entrou na cozinha, abrindo um sorriso nervoso ao encontrar a pessoa que procurava.
- Noona! - A mais velha deu um sobressalto, virando em sua direção com uma faca pequena na mão e metade de uma cenoura na outra.
- Bom dia, Taehyung?! - Suas sobrancelhas franziram, realçando a feição chocada pelo susto.
- A senhora precisa me ajudar!
- O que aconteceu? Você fez xixi na cama de novo? - Com o coração voltando ao normal, debochou, rindo da carinha brava de seu moleque.
- Estou falando sério, dona Byeol!
- Eu também. - Ela deu de ombros, voltando a sua tarefa de cortar o legume laranja para seu orelhudo.
- É sobre eu e o Ggukie.
Tae soltou de uma vez, prendendo a respiração ao assistir a Byun congelar seus movimentos.
- Você e o Ggukie?! - Perguntou cética, abandonando os utensílios sobre a pia, lavando e secando as mãos ligeiramente apenas para puxar uma cadeira e se sentar. - Sente-se querido, vamos, me conte tudo!
O Kim soltou uma gargalhada desacreditada, obedecendo seu pedido.
- B-Bem, é só que... - Travou com as palavras. Eram tantos pensamentos que acabou se perdendo entre o nervosismo e a timidez.
- Que vocês estão dormindo juntos todas as noites, eu já sei.
- Não é só isso.
- Tem mais? - A mulher de meia idade arqueou as sobrancelhas. Estava ansiosa para ouvi-lo desembuchar, claro que, disfarçando.
- Tem... - Se arrependendo de ter saído da cama, o acastanhado engoliu em seco.
Não. Não posso ter mais medo. Repetiu para si próprio em pensamentos.
- Noona, você se lembra da nossa última conversa séria? - Byeol riu soprado com sua pergunta, por fim assentindo. - Eu achava que não... que simplesmente não era a resposta para todas as minhas dúvidas e desejos.
- Mas...?
- Mas eu não quero ficar preso no passado, e sim, quero fazer parte do mundo do Ggukie. Eu não consegui fazer aquele sentimento ir embora, na verdade, nem tentei, e não quero.
A reação da governanta foi esconder a boca com as mãos e comprimir os olhos tentando não gritar.
- É tão bom saber disso, TaeTae! Finalmente descobriu que merece essa felicidade! - Falou abafada, totalmente emocionada. - Então quer dizer que aceita que está apaixonado? - Com as bochechas flamejantes, o acastanhado assentiu freneticamente.
- E-Eu só não sei como fazer isso. - Encolheu os ombros, sentindo a blusa do pijama grudar em suas costas devido o suor, tamanho era seu nervosismo.
- Qualquer coisa que fizer sendo você mesmo, já basta, meu querido. - Byeol respondeu novamente calma, capturando uma de suas mãos e apertando-a firmemente com um largo sorriso no rosto.
- Disse que tenho chances infinitas para entregar eu e o mundo para o Ggukie... - A grisalha concordou, sorrindo até mesmo com os olhos. - o que me deixa com medo é não saber se sou o suficiente para ser essa pessoa especial na vida dele.
Recebeu um peteleco na testa.
- Ai, noona!
- Repita isso e eu te coloco de castigo, moleque!
- Mas... - Foi interrompido pelo olhar arregalado e nublado dela.
- Por que tem que se colocar tão para baixo, Tae?
- Não lembro de muitas coisas bonitas no relacionamento do papai e da mamãe. E ser gay nesse país não é seguro, eles dão um jeito de impedir a nossa liberdade.
- Que tipo de garoto lindo e gay é você?! - Tae franziu o cenho para a mais velha. - Olha, se eu gostasse de outra mulher, com certeza mostraria para todo mundo que quem anda do meu lado é o meu amor.
- Não é tão fácil na prática, noona.
- Bobagem! Você já tentou? - Negou. - Então pronto, não tente argumentar. - Byeol cruzou os braços rente ao peito. - Nunca vi o Yoongi e o Jimin escondendo que são o amor um do outro.
- A senhora tem razão... de novo.
- Não vou nem te responder essa.
Riram em sincronia.
- Se você está apaixonado, vá atrás do seu amor, menino! Deixe os obstáculos que vierem a aparecer para depois, tenho certeza que uma força maior vai crescer quando estiverem juntos. - Os olhos castanhos brilharam emocionados.
- Então agora só me resta saber o que fazer para conquistar o Ggukie!
- Quando vai chamá-lo para sair? - Levantando as sobrancelhas sugestivamente, a Byun lhe fez sorrir.
- Em breve... estou tentando devagar, noona.
Achava que estava. Guardou o pensamento.
Um silêncio se instalou na cozinha, Taehyung folheava o catálogo de sua mente tentando decidir qual flor daria para seu pequeno no final do dia, e Byeol olhava para todos os cantos do cômodo, ansiosa, sem saber se deveria falar algo mais, ou, não.
- Quanto a isso, acho que Yoongi vai saber te dar algumas opções. - Retribuiu o sorriso quadrado. - Acho que não vai ser tão difícil entregar seus sentimentos, Ggukie veio com uma conversa parecida ontem... - Comentou vagamente.
- O que? - Tae perguntou surpreso.
- Vá acordá-lo, logo Jimin estará aqui e vocês precisam trabalhar! - Se levantando, a mulher de meia idade se calou, tornando a cortar as rodelas de cenoura para o garoto coelho tão especial para seu menino.
Porém, não impediu um largo sorriso de se abrir quando ouviu a cadeira arrastando levemente no chão e o moleque que criou correndo escada acima.
[...]
Na rede de apartamentos sofisticados no centro, os inquilinos despertavam lentamente sob os fracos raios de sol. O trio de amigos dos mais novos do grupo foram os primeiros a criar barulho pelo corredor.
- Quer carona, gatinho?
Jimin perguntou carinhosamente, como todas as manhãs. A diferença agora era que seus olhos não estavam no acastanhado terminando de ajeitar a gravata no espelho do banheiro, e sim, no celular apitando a todo segundo.
- Não precisa. - Yoongi suspirou. Detestava acordar cedo.
- Tem certeza?
- Sim - Fez uma careta para o namorado vidrado na tela acesa do aparelho. - Posso chegar mais tarde hoje, o Tae quer falar comigo e vai me render uma manhã sem fazer absolutamente nada. - Riu baixinho, em seguida, formando um enorme bico nos lábios quando o mais novo sequer pareceu ouvir.
- O que disse, Yoonie?
Em resposta, o Min bufou, batendo os pés dentro de confortáveis pantufas pelo corredor, parando na porta de entrada e trocando-as pelos sapatos sociais. Decidiu não falar nada, estava com raiva.
- Vai se encontrar com o Tae, não é? - O Park perguntou imitando seu gesto, abandonando o celular brevemente.
- Sim. - Yoongi manteve-se de costas para ele.
- Eu vou buscar o Ggukie, tem certeza de que não quer uma carona para a casa do Tae, gatinho? - O felino ronronou, amolecendo o coração do namorado que nem percebeu abrir um sorriso.
- Eu quero!
Entretanto, ao se virar para encará-lo, assistiu-o ronronar olhando para o maldito celular outra vez.
Começando o dia emburrado, o mais baixo deixou o apartamento e o namorado para trás, seguindo para o elevador e descendo primeiro.
Ao chegar no estacionamento, encontrou Hoseok entrando rapidamente em seu carro depois de conferir algo em volta, saindo discretamente do limite residencial. Negou abrindo um sorriso debochado. Seu amigo era péssimo em disfarçar as coisas e certamente estava indo para a ONG.
Caminhando despreocupado até o carro na vaga de seu apartamento, destravou-o e entrou, distraindo-se com o próprio celular enquanto esperava pelo gato que estava lhe dando dor de cabeça e no coração apaixonado.
Quando Jimin chegou, prosseguiu concentrado em um jogo aleatório que baixou apenas para conseguir ignorá-lo. O caminho para a propriedade Kim foi silencioso demais para o gatinho suportar sem ficar preocupado.
Ao estacionar na garagem da casa, o garoto gato se virou para o namorado.
- Você está bem, gatinho?
- Estou ótimo. - Abrindo a porta, Yoongi saiu do carro fechando-a atrás de si com um suave baque, mas foi o suficiente para o mais novo engolir em seco.
Deixando o carro, foi sorrateiramente para o lado do namorado, porém antes que pudesse falar algo, as orelhas extensas e o sorriso de Jeongguk surgiram.
- Yoonie hyung!
- Ggukiezinho!
Ambos trocaram um caloroso abraço.
- Que bom que o hyung veio hoje.
- Eu não iria perder a oportunidade de te dar um abraço.
- Yoongi! Que prazer te ver meu amigo! - O sorriso quadrado do Kim brilhou anunciando sua chegada.
- Vi sua mensagem e resolvi pegar carona. - Respondeu enquanto cumprimentava o melhor amigo com um beijo na bochecha.
- Temos um tempinho antes de sair de novo. - O Kim bagunçou os cabelos, descontando o nervosismo que novamente o abalou.
- Confesso que estou animado, mal vejo a hora de te ver surtando. - Um sorriso gengival decorou os lábios finos.
- Surtando com o quê? - Jimin perguntou observando-os, tão curioso quanto o Jeon.
- Não é do seu interesse! - Encolheu os ombros e suas orelhas triangulares caíram sobre os cabelos também alaranjados. - É-É um assunto de melhores amigos, só isso. - O Min tentou consertar suas palavras.
- Pois então, eu e o Ggukie vamos ter assuntos de melhores amigos também! - Retrucou Jimin, fingindo estar bravo. - Vamos, Ggukie!
Apesar de criar uma cena, o Park abraçou o Kim brevemente e depositou um selinho nos lábios do namorado.
- Vamos, melhor amigo!
Jeongguk entrou na brincadeira, trocando um longo abraço com o príncipe e um estalado beijinho na bochecha, em seguida, fez o mesmo com o hyung pálido, que tinha uma expressão murchinha, diferente dos outros dias, deixando-o preocupado, mas que sorriu bonito ao receber um beijinho seu.
Sentiu-se orgulhoso e totalmente energético para começar o dia.
Depois que o carro com os híbridos deixou a propriedade, Taehyung agarrou o pulso do mais baixo puxando-o para dentro.
- Preciso de um conselho seu!
- Já sei até qual vou te dar. - Um sorriso gengival e sugestivo se abriu, dessa vez não abalando o olhar arregalado e coração pulsante do Kim.
[...]
Para concluir o plano que formou com o melhor amigo, Tae teve de esperar a semana inteira pelo sábado, e nunca esteve tão feliz quando acordou mais tarde naquele dia, enroscado no anjo.
Claro, tudo o que conversaram incluía chegadas inesperadas na ONG e buquês de flores coloridas, além de petiscos doces no caminho para casa.
Yoongi era romântico e tinha as melhores ideias que o acastanhado já viu, ele só não gostava de demonstrar. Assim, dizia que ao menos se distraía da vontade de arranhar o namorado, que não lhe dava a devida atenção desde o fatídico jantar.
Tendo um café da manhã e almoço divertidos, recheados de risadas, os garotos tiraram algum tempo da tarde para concluir as missões pelo jardim e descansar sob a sombra da árvore amiga, conversando sobre seus dias de forma leve, sentindo preguiça pelo mormaço de primavera.
- Ggukie? - Tae chamou, apenas para ter certeza de que o mais novo não estava cochilando com a cabeça apoiada em seu ombro. E não se importaria se estivesse.
- Sim, hyung? - A voz carregada de preguiça lhe arrancou uma risada.
- Estava pensando, - Sua mente deu um nó gigante e as palavras se embraralharam. - v-você não gostaria de dar uma volta comigo?
Martelou aquele nozinho com raiva. Aquele não era um jeito romântico de convidá-lo para sair..
- Eu quero, TaeTae! - O sono se dissipou do mais novo e de um momento para outro, Ggukie estava de pé, observando seu príncipe ainda sentado na grama.
O mais velho suspirou assistindo-o quase pulando em sua frente, com as orelhinhas agitadas e os olhos brilhantes.
- Você quer mesmo? - Sentiu-se completamente patético deixando sua voz surpresa escapar de seus pensamentos. - D-Digo, é! Vamos!
- E onde nós vamos?
- Eu queria te mostrar um tipo de cinema.
- Igual o do shopping?! - Jeongguk perguntou animado. Depois que o outro coelho lhe contou que havia um lugar como aquele, foi pesquisar e se encantou pela televisão gigante, desejando poder conhecer o cinema algum dia.
- O do shopping é grande, mas o que eu quero te mostrar é maior. - O sorriso travesso do hyung fez suas partes de coelhinhos balançarem eufóricas, ainda mais curioso.
- Então vamos, hyung! - Estendendo a mão, exibiu os dentinhos avantajados, esperando a mão grande e quentinha tocar a sua para puxá-la e ajudar o príncipe a se levantar.
- Acho que você vai gostar, pequeno. - Tae comentou em meio a uma risadinha, sendo guiado por seu pequeno apressado.
- Tenho certeza de que vou gostar, hyung!
O garoto coelho mantinha o grande sorriso nos lábios. Seu príncipe sempre mostrava as coisas mais bonitas do mundo para si.
Depois de devidamente limpos e arrumados, se despediram de noona e entraram no carro do empresário. Jeongguk foi o primeiro a colocar o cinto de segurança, apoiando os dedos nos botões do rádio assim que ouviu o barulho do motor ligado. Tae riu soprado, achava-o uma graça.
Antes de deixar a garagem, olhou pelo retrovisor a cesta de piquenique, a toalha e o pequeno ramo de rosas descansando no banco de trás, respirando profundamente, tentou tomar coragem para seguir seu plano até o final. Só de imaginar o momento que teria com sua paixão, sua barriga se encheu de borboletas.
Durante metade do caminho seguiram com uma conversa alta mesclada ao ritmo agitado das músicas escolhidas pelo coelho, no entanto, após passarem pelo centro, a voz do acastanhado foi se tornando mais baixa e melancólica, o que não passou despercebido pelo mais novo.
- Onde fica o cinema, hyung? - Perguntou, tentando chamar sua atenção e voltar a vê-lo sorrir.
- Não é muito longe daqui, pequeno, - A resposta veio suave, ainda que a expressão do príncipe dissesse o contrário. - é que antes precisamos ir a um lugar que não vou há muito tempo.
- Certo.
Então voltaram a ficar em completo silêncio, esse não sendo desconfortável pelos singelos sorrisos que trocavam enquanto ouviam música.
Quando chegaram, Jeongguk entendeu o porquê do comportamento estranho do acastanhado, lendo a placa do cemitério nacional de Seul.
Descendo do carro e indo parar rapidamente ao lado dele, observou a imensa e bela estrutura, era semelhante a um castelo e brilhava sendo iluminada pelos raios de sol, por fim, através dos portões abertos, enxergou as primeiras lápides.
- A minha mãe está enterrada aqui. - A voz rouquinha soou triste e olhando para o rosto bonito, o moreno ficou triste também. - Nunca mais tive coragem de vir visitar ela - Os olhos castanhos encontraram os seus. - Pode segurar a minha mão como aquele dia no aquário e não permitir que eu me perca, pequeno?
O coraçãozinho naturalmente acelerado bateu mais forte e dolorido.
- Prometo que não vou soltar a sua mão, príncipe.
Entrelaçando os dedos gélidos aos quentes e delgados do maior, o de fios negros deu um suave aperto, puxando-o em direção à entrada, incentivando-o a ir em frente. Só então notou o pequeno buquê em sua mão livre.
Caminharam em completo silêncio pela grama separando os corredores de lápides, até pararem em frente a uma área maior e um pouco isolada, com uma única lápide fincada na terra.
"Kim Sohui".
O garoto coelho leu de forma muda, assistindo sem soltar suas mãos, o hyung inclinar o tronco para descansar o buquê em frente a estrutura de pedra.
- O-Oi, òmoni.
Taehyung sentia suas forças se esvaindo, mas não queria ser fraco, conseguir visitá-la talvez viesse a ajudá-lo a encarar o passado, traria mais força e segurança para seu coração.
- Oi, noona.
Virou o rosto para encarar o moreninho e seu peito se anestesiou da dor quando o viu sorrindo para sua mãe.
- Òmoni - Chamou, usando toda a sua fé para acreditar que ela estava o ouvindo de onde quer que estivesse. - E-Eu precisei de um tempo para conseguir ver você novo, mas hoje estou aqui para recomeçar com você... e queria te apresentar alguém especial. - Tornou a olhar para o garoto tão lindo ao seu lado. - Esse é Jeon Jeongguk, não sabe como ele é forte e corajoso, está ajudando a libertar os híbridos e eu estou do lado dele sentindo muito orgulho. - Seus olhos marejaram e um nó se formou em sua garganta. Já não tinha mais certeza se estava pronto para voltar naquele lugar.
- Muito prazer, noona. - Comprimiu as pálpebras não conseguindo esconder um pequeno sorriso ao ouvir a linda voz do anjo. - Sei que pode ver tudo aí de cima e está muito orgulhosa do seu filho, TaeTae é meu herói, isso você já sabe, não é, noona? Ele é mais forte que o homem de ferro, estou muito orgulhoso dele também.
Cedendo sobre a grama, Taehyung caiu de joelhos, soltando suas mãos e abraçando o próprio tronco com força, enquanto a vista embaçada vazava intensas gotinhas que pingavam no chão. Seu corpo tremia e os soluços não tinham pausa. Sentia tanta saudade da Kim que a dor rasgava-o de dentro para fora.
Seu choro era audível e qualquer um conseguia escutar o que estava sentindo.
Com os olhos úmidos arregalados tentando decidir o que fazer, Jeongguk assistia o príncipe mostrando um lado que nunca viu antes. Um lado vulnerável e sensível que não gostava que alguém de fora tocasse, mas estava deixando-o tocar.
Se movendo sem até mesmo sentir seus movimentos, se ajoelhou ao lado de seu herói e o puxou para um caloroso e acolhedor abraço, passando a acariciar seus fios compridos e macios quando ele encostou a cabeça em seu ombro e continuou a chorar.
O entendia, aquela dor presa a tantos anos precisava ir embora.
Jeongguk não se importou com o tempo que estavam ali, não parou de abraçá-lo e nem de acariciar seu cabelo, escutando tudo até sobrar apenas curtos e pesados suspiros.
Assim que Tae se afastou, apenas para encontrar seu rosto, ergueu as mãos tocando a derme de suas bochechas rosadas, passando os polegares delicadamente pelos olhos inchados, secando suas lágrimas.
- Obrigado, meu pequeno.
- O hyung também foi muito forte e corajoso. - Um sorriso mais largo tomou conta dos lábios apessegados.
- Foi porque você me salvou também.
Ficaram durante bons minutos apenas encarando um ao outro, com olhares indecifráveis que refletiam suas imagens e decoravam ao seu redor com o universo.
- Desculpe ter desviado do nosso caminho, eu queria seguir em frente, mas parei aqui com você. - Sua voz baixa sacudiu o peito do coelho.
- Está tudo bem, hyung, eu luto ao seu lado também.
Sorrisos maiores tomaram conta de suas faces.
- Acho que dei um passo na frente dos meus nozinhos.
- Deu sim, está se saindo bem na sua tarefa, TaeTae!
- Eu posso te perguntar uma coisa? - Tae perguntou com um sussurro, risonho outra vez.
- Pode. - Jeon respondeu no mesmo tom.
- Eu sou mesmo mais forte que o homem de ferro?
O narizinho avantajado remexeu levemente antes do garoto coelho rir um pouco mais alto.
- É sim, Tae, você é mais forte que o Tony hyung.
- Então só preciso de uma armadura agora.
- Você fica bem de vermelho.
- Vou ficar melhor e mais legal do que ele.
Sussurravam em meio a risadinhas divertidas, da forma como se acostumaram e gostavam de conversar. Como se os segredos do universo estivessem em suas palavras e quisessem mantê-los apenas entre eles.
Respirando fundo, acalmando seu coração, Taehyung olhou para a lápide, não sentindo mais nada de ruim, passando bons minutos observando-a ao lado do moreninho, antes de mudar de posição ficando de frente para a estrutura e inclinando o tronco até encostar a testa no chão, reverenciando a pessoa que mais amou em toda a sua vida.
Calmamente foi se levantando, puxando sua paixão consigo.
- Eu vou te visitar de novo, òmoni. - Se despediu de forma simples, sentindo que já havia dito o suficiente por um dia, guiando-os de volta para o portão.
- Vamos nos apressar para não perder o cinema, Ggukie.
Tae estava animado outra vez, a morte de sua mãe não era mais algo que não pudesse falar ou pensar, em vez de trazer dor, agora trazia paz. E jamais imaginou que sairia sorrindo daquele lugar tão silencioso.
Voltando para o caminho que os levaria até o lugar prometido, ficaram em silêncio, antes melancólico que agora tinha dado lugar a um bem vindo e confortável, deixando os garotos relaxados em seus assentos pela outra metade do percurso, até pararem em frente a um prédio antigo e fechado.
- A sua atitude foi muito bonita, hyung, - Jeongguk foi o primeiro a quebrar a quietude dentro do carro, virando o rosto para encarar o mais velho. - eu também gostaria de levar flores para a minha avó e conversar com ela como você fez, mesmo que tivesse doendo.
Tae abriu um sorriso emocionado.
- Obrigado. Vou fazer isso até parar de doer, não quero me lembrar da òmoni e sentir dor, quero ficar feliz quando pensar nela. - Permaneceram apenas se encarando, sorrindo um para o outro. - E quanto a sua avó, vou encontrar onde ela está enterrada e vai poder entregar flores a ela, pequeno, eu prometo.
- Obrigado, TaeTae! - Os olhinhos negros faiscaram, entorpecidos com a determinação nos de mel do príncipe.
- Vamos?
Assentindo, saltou do carro acompanhando-o, encarando aquele prédio de baixo a cima, suspirando com a altura que somente olhando não conseguia identificar. Achava que ele tocava o céu.
- O cinema é aqui?
Tae soprou um riso, se afastando para pegar a cesta e a toalha quadriculada no banco de trás do veículo.
- É lá em cima, Ggukie. - Apontou com a mão livre, em seguida, a oferecendo para ele. - Vamos?
- Sim! - Jeongguk entrelaçou seus dedos, sentindo seu rabinho abanar freneticamente, denunciando sua animação.
Assim que passaram pelas duas portas de aparência antiga, foram direto para o elevador e os olhos negros buscavam tudo ao redor espantados, pois, o interior do prédio fosco, era bem iluminado e bonito, cheio de cores diferentes em decoração e móveis impecáveis.
Taehyung, percebendo seu encanto, sorriu grande.
- Eles não fazem nada do lado de fora, porque diziam que neste prédio já se hospedou um Rei, então foi transformado em um monumento histórico.
- Nossa, isso é fascinante, TaeTae! - Um sorriso de orelha a orelha se abriu no rosto do garoto coelho.
- É mesmo. - Concordou embasbacado, observando-o da mesma forma que ele olhava para todo o resto. - As pessoas gostam de tirar fotos lá em cima, aqui até funciona um estúdio de fotografia... e eu meio que percebi que gosta de tirar fotos, - Viu as bochechas do anjo corarem e aquele olhar de repente tímido encontrar o seu. - então acho que vai gostar de tirar fotos aqui.
Caminhando até um balcão extenso e recheado de fotos impressas, o acastanhado pagou a taxa de visita e assinou seu nome junto ao de sua paixão, registrando suas presenças no grosso livro aberto sobre o mármore. Em seguida, voltaram os passos até o elevador, esperando as portas de metal se abrirem, correspondendo seu chamado ao apertar o botão.
Taehyung ficou inquieto. Aproveitava a distração do anjo olhando tudo ao redor, para tomar coragem e tirar suas dúvidas quanto ao que fazer a fim de demonstrar o que sentia por ele, mas dentro da caixa metálica os levando para o último andar em um silêncio tímido, começou a ter grandes nós aparecendo em seus pensamentos.
Ao chegarem no último andar, ainda silenciosos, as portas se abriram revelando um curto corredor branco, decorado com quadros de diversos artistas, incluindo o preferido de Taehyung. O Jeon que tentava controlar seus movimentos ansiosos, foi o primeiro a se mover, puxando o hyung para fora da caixa de metal e guiando-os para o final do da extensão de parede, encontrando uma escada.
- Eu vinha bastante aqui antes, é um lugar especial e queria mostrar para você, pequeno. - Tae conseguiu dizer, sentindo o coração palpitando em sua garganta.
Porém, o medo tinha ido embora, há muitos anos se manteve preso ao passado que tirou sua felicidade, agora, recebeu uma ajuda especial para ser mais forte que o medo e dar passos em direção a sua própria felicidade, algo que precisava conquistar para si mesmo antes de compartilhar com ele.
Iria apostar todas as suas fichas naquele momento que ficaria gravado em sua memória para sempre, conhecido como o dia que deu um passo à frente de seus nozinhos dolorosos, tendo sua mão segurada pelo dono de seu coração.
Se estava finalmente pronto, ainda não sabia, mas não iria desperdiçar nem mais um segundo dos sentimentos tão bonitos que estava conhecendo.
- Estou curioso para saber mais sobre o meu novo lugar favorito. - Fazendo graça, o moreno soltou uma piscadela, arrancando um suspiro bobo do mais velho.
- Eu aceito dividir com você. - Retribuiu seu gesto adorável, sendo sua vez de puxá-lo escada acima, até encontrarem um lugar aberto, o topo do prédio.
Jeongguk sentiu suas pernas começarem a tremer, não por medo, mas pela intensidade do vento que atingiu seu rosto e abraçou tudo ao seu redor. Era como se estivesse aprendendo a voar.
O lugar era gigante, com uma cerca segura de tijolos que batiam um pouco abaixo de seu tórax. Algumas pessoas, incluindo híbridos, estavam acomodadas sobre toalhas coloridas, com cestas como a que trouxeram e câmeras em mãos, conversando animados. Outras, apenas relaxavam sobre o tecido grosso. E sobre suas cabeças, pilares fortes e altos levavam fios de lamparinas sobre todos, mas que ainda estavam apagados dando vez à luz natural.
- Vamos nos sentar, ainda não é a hora exata para ver a sessão. - Brincou o acastanhado, apontando para um pedaço vazio no chão, próximo da estrutura de tijolos.
- Esse cinema é diferente, TaeTae.
Ggukie o seguiu, ainda que desviando o olhar para todos os cantinhos, encantado com a beleza e simplicidade daquele lugar, tombando a cabeça assistindo outros híbridos e humanos aparecerem, trazendo em mãos bandejas com comida e bebidas coloridas.
- Você gostou? - O Kim perguntou, de repente, deixando a insegurança vencer.
- Eu adorei! - O sorriso de dentinhos avantajados se abriu em sua direção, derretendo um pouco mais da estrutura frágil que tinha. - Aqui é muito bonito, hyung!
Aquele não era o cinema que viu em fotos na internet, mas era tão bonito quanto, e estar ali com seu príncipe o tornou seu lugar preferido também.
Tudo o que ele lhe mostrava não era apenas comum, era extraordinário.
Sentados sobre a toalha que o Kim estendeu, iniciaram uma conversa baixinha listando novos passeios e beliscando os petiscos que noona havia enviado na cesta.
Ambos não perceberam o tempo passar, menos ainda seus corpos se aproximando vagarosamente até o vento não ter o poder de causar frio a eles, somando com a conversa expandida para seus dias separados pelos trabalhos e como estavam se saindo. Taehyung não falou muito, seus dias na empresa eram sempre os mesmos, também jamais revelaria suas conversas com Yoongi sobre como conquistar o garoto com a cabeça deitada em seu ombro. Gostava de ouvi-lo contar tudo sobre seu dia, era sua parte preferida das conversas.
Ouvir tudo sobre Jeongguk era sua parte preferida do dia.
Depois de algum tempo, algumas pessoas começaram a se levantar e apontar as câmeras para algo além do muro de tijolos, chamando a atenção dos olhinhos negros atentos a seus movimentos.
Olhando para o relógio de pulso, o empresário notou que o momento certo se aproximava.
- Aqui tem uma das vistas mais bonitas da cidade. - Comentou, chamando o olhar galáctico com o seu. - As pessoas têm estado tão focadas em seus trabalhos e problemas pessoais, que esquecem de parar até para respirar.
- Por isso vinha aqui, hyung? - Jeon o olhava de volta, preocupado.
- Sim, - Concordou, abrindo um sorriso pequeno. - eu vinha para poder respirar e assistir a obra de arte natural e perfeita que ninguém se dá um tempo para ver.
- Sempre que olhava para o céu, eu enxergava ele cinza, - Suas mãos se entrelaçaram automaticamente. - Também não conseguia respirar.
- Hoje é o dia em que vamos mudar isso juntos então.
Seus sorrisos cresceram, enquanto, levantavam-se recebendo a cobertura dourada e fosca da luz do sol indo embora.
Dando os passos restantes até o muro que os mantinham seguros, encontraram na linha do horizonte a gigantesca esfera se escondendo, misturando seus raios dourados com rosa, roxo e azul, sendo aos poucos tomados pelo negro da noite estrelada que vinha do lado oposto.
Jeongguk suspirou. Nunca tinha visto aquelas cores como deveria ver, e agora elas mostravam sua beleza refletindo em seus olhos brilhantes, colorindo seu corpo com a pureza da sua despedida.
De onde estavam, era possível ver o astro banhando, os rios, os bosques, as casas e os prédios. Grande e majestoso. O garoto coelho pensava que se talvez esticasse o braço, conseguiria tocá-lo. Era como se já estivesse flutuando em sua direção.
Seu coraçãozinho acelerado por natureza batia forte contra seu peito o fazendo sentir em suas orelhas extensas e dançantes, mas o sentimento que ele trazia era de paz. Tudo dentro de si estava em harmonia, completamente bem, desde seu rosto banhado de luz, até o coração gritando que estava vivo, que era um ser humano em paz.
Tae sentia-se totalmente ao contrário do moreno. Durante todo o tempo que visitava aquele lugar sozinho, era dominado pela paz, porém, estando ao lado de quem realmente lhe trazia esse sentimento, ficou eufórico. Segurar a mão quentinha e ser banhado por tantas cores, enquanto, podia intercalar seu olhar entre o pôr do sol e o garoto mais lindo que já viu na vida, fazia-o se sentir abençoado. O homem mais sortudo do mundo inteiro.
E aquele sentimento estava deixando um desejo louco de sair pulando, gritando a todos os pulmões que as cores passeando por seu corpo foram pintadas pela sua paixão.
- TaeTae! - Foi tirado de seus pensamentos doidinhos pelo anjo, encarando-o.
- Sim, meu pequeno?
- O que está pensando? - Jeongguk perguntou em meio a uma risadinha, puxando-o para caminhar e observar o pôr de sol de outro ângulo.
- Estava pensando em como nós mudamos. - Os olhinhos de jabuticaba voltaram para si, curiosos. - Em como durante todo esse tempo nós lutamos e conseguimos vencer as batalhas internas que nos mantinham presos aos nozinhos ruins e como estamos agora.
- Eu também. Você ajudou um garoto desconhecido a acreditar que conseguia ser mais forte do que a dor que assombrava ele - Um sorriso nostálgico tomou os lábios vermelhinhos. - Mas não se esqueceu que heróis também se machucam e lutou por si próprio. Minha mudança aconteceu porque um príncipe lutou do meu lado desde o começo.
Riram em sincronia, baixinho para que fossem os únicos a escutar os sons preferidos um do outro. Se aproximaram um pouco mais, distraídos do show de luzes iluminando-os.
- E você ajudou outro garoto desconhecido a acreditar que a dor dele não podia ficar presa e que lutar era difícil, mas a felicidade vinha como uma recompensa que o dinheiro não pode comprar. - Tae olhou para baixo, para seus dedos entrelaçados com carinho. Precisava pensar nas palavras certas para completar seu plano e começar a entregar seu coração -um pedaço de cada vez-, o mundo e seus sentimentos. - Mas tem certas coisas que não deixam eu acreditar em mim, não posso, e você, Ggukie, já disse mesmo sem palavras que eu posso sim, milhares de vezes, e eu vou lutar por isso - O moreno sorriu de forma acolhedora, dando um aperto firme em sua mão. - E-Então, mesmo quando seus desejos se tornarem maiores e você conhecer o mundo todo - Seus olhos tornaram a se encontrar. - Promete que não vai me abandonar?
- Você prometeu que eu iria ouvir só coisas bonitas, esse foi o pedido mais bonito do mundo - Apesar das bochechas coradas, o mais novo não deixou de sorrir. - Eu prometo, príncipe.
O coelhinho respondeu doce, procurando sua imagem no brilho do olhar castanho. Jamais pensou que iria fazer uma promessa tão linda, e a cumpriria com todo o seu coração.
- Foi o único que viu o meu lado escuro, e agora que ele foi embora - O Kim disse baixinho, emocionado. - Você tem o melhor de mim, pequeno. Obrigado por trazer o lado bom de volta.
- Eu não lutei ao seu lado só para agradecer por ter salvado a minha vida, hyung, conquistou isso antes que eu mesmo percebesse, eu confio em você de olhos fechados e coração aberto.
Jeongguk sentiu seus olhos marejarem, lembrava-se de sua avó lhe ensinando sobre as mesmas palavras. Finalmente encontrou a hora de usá-las.
Não sabia onde aquela conversa os levaria, mas era tão diferente e cheia de sentimentos ainda desconhecidos, que seus instintos reagiram com novas palpitações em seu coração, estava curioso para descobrir tudo o que significava.
- Eu também confio em você de olhos fechados e coração aberto.
Taehyung sorriu quadradinho, tentando disfarçar as lágrimas formadas nos cantinhos de seus olhos. Aquela conversa foi reveladora, e ficou pensando se aquela frase havia se tornado uma nova e discreta forma de poder dizer que estava o amando.
- O que você acha de eternizar esse momento com uma foto? - Encolheu os ombros, tímido.
- Eu adorei a ideia, Tae!
Retirando o celular do bolso com as mãos atrapalhadas, Taehyung o desbloqueou rapidamente, clicando no ícone de câmera frontal e erguendo o braço capturando suas imagens, iluminados pelo pôr do sol.
Não soube o que aconteceu com seu corpo, mas estava todo trêmulo e vários cliques saíram borrados até conseguir uma foto nítida. Num primeiro momento, a mandaria para o melhor amigo, agradecendo sua ajuda por encontrar um bom lugar para levar o anjo, depois para noona que havia prometido arrancar sua orelha se não lhe mandasse uma foto. E no segundo momento, passaria horas admirando a beleza natural e perfeita de Jeongguk.
Tendo uma ideia para ajudá-lo a concluir seu plano, respirou fundo tomando coragem, antes de virar o rosto e selar a bochecha gordinha do garoto colado em si.
Ao erguer os olhos para encontrar os dele outra vez, soltou uma risadinha com as bolinhas negras arregaladas e lábios entreabertos.
- Eu te avisei que sou muito beijoqueiro.
Soltando uma piscadela, se afastou dele com uma curta corrida, observando-o negar e abrir um largo sorriso, também tirando o celular do bolso, em seguida, direcionando-o a si. Fez uma pose engraçada.
Assim, aproveitaram os últimos minutos de pôr do sol, tirando fotos um do outro e do céu mudando de cor, separados para conseguirem pensar em seus próprios nozinhos depois de todas as palavras novas que foram reveladas entre ambos.
Taehyung não se importou de ficar só, esquecendo-se de fotografar para se apoiar no muro e observar sua paixão de longe. Tão lindo com um biquinho nos lábios, concentrado em tirar uma foto dos melhores ângulos do início da noite.
Ao final, voltaram a se encontrar sobre a toalha, passando a degustar dos lanches da cesta sob as luzes douradas das lamparinas, seus corações em paz por pouco não batiam em sincronia, em meio aos sorrisos e conversas. Os garotos se esqueceram da hora, compartilhando as fotos que tiraram enquanto podiam sentir o calor um do outro.
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Notas Finais
E então, o que acharam??
Foi uma montanha russa de sentimentos, mas necessária, o que acham que vem agora?? 👀
Quis apresentar todos os lados e sentimentos para poder prosseguir evoluindo o relacionamento dos nenês, e Ggu demonstrou que está lá para o Tete também, mesmo em momentos difíceis 🥺
Será que agora vai? 🌚 Só noona investigando para nos dizer hehe
Esses yoonmin aí que estão meio bicudos só ;)
E o Hoseok? Quais as chances dele huh? 🌚
Eu espero que tenham gostado, anjinhos, e me perdoem os erros!
Não esqueçam que agora podem sempre interagir com os meninos! Só uma vez por mês nunca mais hehe
Bom diatardenoite! 💜
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