17: Uma Canção de Ninar
Notas Iniciais
Oii anjinhos! Como vocês estão??
Venho eu essas horas trazendo um capítulo bem cheirosinho hehe
Quero pedir desculpas pela demora! Estava tudo certinho e eu até coloquei uma data para postar esse capítulo aqui, mas eu tive que fazer tcc e foi uma correria! Agora que estou mais tranquila consegui terminar :3
Tem taekook boiola do começo ao fim, compensa? 👉🏻👈🏻
Sem me enrolar muito... peguem suas garrafinhas de água! Se hidratem direitinho!
Obs. a música que o Tete toca no capítulo é a da mídia
Boa leitura! 💜
P.s. novamente a música está no meio do capítulo hihi
───────•••───────
ᘔ|
Ao amanhecer nublado e frio como um cubo de gelo, os olhos de mel foram se abrindo devagar, doloridos, Tae bocejou ainda sentindo o corpo pesado e dor de cabeça, porém, as oscilações vinham em uma intensidade menor de incômodo do que na noite anterior, até porque, a voz suave e o cheirinho cítrico do moreno junto dos remédios o anestesiaram de qualquer dor. Olhando para o lado notando seus braços vazios e a falta do aroma de torta de limão, suspirou ao não encontrar o anjo. O relógio no pequeno móvel de seu lado oposto da cama indicava que os outros dois moradores dali ainda dormiam. Jeongguk não ficou.
Sentando devagar com os lábios trêmulos pelo frio que abraçou todo seu corpo, levou as mãos para os cabelos puxando os fios levemente, punindo a si mesmo pela frustração de acordar sozinho, quando sabia que seu pequeno poderia não ter se sentido confortável daquela forma. Era mesmo um bobo.
Enrolando uma das grossas cobertas ao redor dos ombros, levantou-se com um pouco de dificuldade pelos ossos quase congelados, passando uma das mãos no rosto despertando devidamente e saindo de seu quarto buscando pelo dono do par de orelhinhas brancas e fofas, tentando afastar seus pensamentos. O cômodo de fronte estava claro e melancólico, como a luz de inverno costumava iluminar dias antes da primavera, triste por estar indo embora. Com um sorriso pequeno adornando seus lábios, caminhou até os abajures, apagando-os, o que habitualmente se acostumou a fazer desde a primeira noite cuidando de Jeon. Levando os olhos para o mesmo, automaticamente sentiu-se aquecido, com o biquinho na boca e as bochechas bem rosadas dele, os cabelos desgrenhados e os olhos fechados e pacíficos em um sono profundo. Apaixonado, Taehyung puxou as cobertas as ajeitando sobre o corpo menor, sorrindo de forma boba quando Jeongguk se remexeu quase transformando-se em uma bolinha sob a onda quente que o cobriu. Se afastando até deixar o quarto, fechou a porta lhe enviando a sensação de segurança e deu os últimos passos até seu escritório.
Dentro do espaço que não se importava em dividir com o anjo, notou novamente alguns pontos manchados de tinta, soprando um riso ao se lembrar das caretas de dona Byeol ao constatar que elas não iriam sair tão facilmente do vidro da mesa e do braço da cadeira. Mas ao lembrar-se do que ela havia lhe contado do dia que foram feitas, sentiu seu coração comprimir, desejava mais do que tudo proteger o mais novo de seus nozinhos, mesmo sabendo que não podia, que ao invés disso, devia ajudá-lo a lutar contra eles. Quando deixou-o para trás ainda dormindo, notou a tela afastada, abandonada desleixadamente próxima da cômoda, as cores fortes e os olhos grandes e opacos, tão tristes, lhe acertaram da pior forma possível e queria que imagens como aquela não aparecessem mais, desejava que só cores vibrantes e lindas tocassem os pincéis dele. Era totalmente diferente da tela que pintavam juntos, imaginando o jardim que cultivariam quando a primavera chegasse.
Algum tempo depois, onde não soube decidir quanto, pois decorava cada traço da bela tela sobre a mesa, o empresário saiu de seus devaneios acerca do anjo querubim ao ouvir barulhos característicos de uma senhora desperta e cheia de energia abrindo todas as janelas do andar de baixo, e animado, encaminhou-se para o corredor a fim de ser um bom menino e ajudá-la. O beijinho de cura de Ggukie havia consertado toda sua estrutura doentinha.
— Bom dia, noona. — A cumprimentou ao chegar na sala, rindo baixinho com a aproximação quase desesperada da mais velha, que passou a lhe apalpar o rosto com as mãos quentinhas.
— Bom dia, TaeTae, está se sentindo melhor? Sua febre já baixou, graças a Deus.
— Estou com poucas dores, o longo repouso me ajudou muito, noona.
— O longo repouso, ou, o Ggukie fazendo uma excelente companhia? — Suas bochechas esquentaram com o sorriso sugestivo nos lábios de noona. — Vocês estavam tão bonitinhos dormindo juntos, até tirei uma foto.
— Noona! — O olhar castanho se arregalou, arrancando um riso da mesma. — Aish... isso é constrangedor. — Escondeu o rosto por breves segundos na coberta, envergonhado.
— Constranger você é minha melhor função nessa vida depois da velhice.
— Senhorita Byun... — Apesar de algumas ruguinhas contornando os olhos de um tom mais escuro que os seus, o Kim conseguia vê-los brilhando como na melhor fase da juventude. — está muito bem conservada, velhice é uma palavra muito forte no seu vocabulário. — A abraçou.
— Seu bajuladorzinho de quinta. — Sorrindo grande, noona retribuiu o abraço de seu Kimzinho carente.
— Os pães de queijo parecem tão suculentos, vão para o forno, noona? — Ela lhe deu um fraco tapa no braço, sabia que elogios vindos de seu moleque eram carregados de intenções.
— Só vão, se me ajudar com o café da manhã, seu interesseiro.
— Minha melhor função nessa vida!
Passaram a caminhar para a cozinha, aconchegados um ao outro.
— Qual? A de interesseiro?
— Não, noona! A de ajudante!
Byeol gargalhou triunfante assistindo o bufar de pura birra do acastanhado, esse que logo desfez o enorme bico nos lábios e largou a coberta sobre uma das cadeiras da mesa ao vê-la colocar a forma com sua massa predileta no forno e acionar o timer, seu corpo esquentando aos poucos junto da cozinha, ajudando a colocar os pãezinhos doces em outra forma, sem conter-se em falar inúmeras coisas aleatórias apenas para provocar e distrair sua noona do programa de artesanato recém começado na pequena tv no balcão, fugindo de seus cascudos. Era uma ótima manhã.
Pouco tempo depois, o narizinho do coelho passou a se remexer, deleitando-se com o cheirinho de açúcar de confeiteiro que embalava seus pãezinhos, esticando o corpo com preguiça sentindo sua barriga roncar. Jeongguk abriu os olhos lentamente, estava relaxado e sem medo, logo pulando da cama energizado correndo para o banheiro fazer suas higienes para então procurar pelo príncipe, abandonando o quarto e o desenho levemente amassado sobre a cama, doidinho para conferir se ele estava melhor.
— B-Bom dia, pequeno! — Tae impulsionou-se para cima, levantaria-se em um pulo se o corpo fraco não o forçasse a ficar sentado à mesa.
— Bom dia, TaeTae! — O tom de voz preguiçoso e alegre acalmou o coração desenfreado do Kim, que aconchegou-se ao cobertor novamente soltando a respiração que não percebeu prender. Jeongguk estava relaxado, talvez apenas tivesse precisado de seu próprio espaço, não foi um pateta no final das contas. — Você está melhor?
— Muito melhor depois do seu beijinho. — Respondeu sem pensar, afinal, até mesmo sonhou com aquele curto e quentinho momento, engolindo em seco ao perceber a face surpresa de sua noona, os olhos arregalados lhe questionando como fora capaz de não contar aquilo a ela.
— Fico feliz em ajudar. — O rabinho pomposo enviou eletricidade até as orelhas felpudas, dançando eufóricos mesmo com o garoto tendo o rosto amassado e os olhinhos um pouco inchados.
— Então já pode voltar a trabalhar, TaeTae... — A voz da mais velha lhe acertou cheia de indignação, seu moleque a havia apunhalado pelas costas, passou boa parte da manhã consigo e ele não lhe contou nada.
— Eu tenho um atestado assinado por mim mesmo para repousar durante sete dias, noona... — Rebateu mansinho, sorrindo docemente.
— Você é um abusado, isso sim, sempre foi. — Os mais novos riram baixinho e as estruturas do empresário se aqueceram automaticamente outra vez tendo seu anjo sentando ao seu lado, levando as mãozinhas para a cesta com pãezinhos doces liberando a fumaça cheirosa que adorava.
Em seguida, um silêncio confortável se instalou entre ambos, a cozinha sendo preenchida somente com os estalinhos das xícaras nos pires e a voz da senhora apresentando artesanato na tv roubando toda a atenção de Byeol, enquanto, ela espiava com o cantos dos olhos seu moleque devorando as massas de que tanto gostava, sem conter o sorriso bobo quando uma tigela de cenouras foi parar nas mãos branquinhas de seu caçula. Vê-los assim preenchia seu coração.
Terminando a refeição, Taehyung permaneceu sentado -mesmo que desejasse se levantar e ajudar os outros dois a retirar a mesa-, com seu corpo reclamando com o esforço.
— Tomou seus remédios? — Noona o encarou novamente preocupada, distraindo-se de seu programa.
— Os da manhã sim. — Apesar do desconforto, Tae já não sentia mais frio e a dor de cabeça tinha ido embora.
— Vou fazer um chazinho para você mais tarde, — Ela passou por si para acessar os armários, aproveitando para aferir sua temperatura novamente, suspirando aliviada pela febre não ter retornado. — Também vou preparar uma canja para o almoço.
— Nem mereço tudo isso, noona. — O acastanhado sorriu, fazendo graça.
— Não mesmo, — Encolheu os ombros envergonhado, ouvindo a risadinha do moreno voltando a sentar do seu lado. — é bom para você aprender a se cuidar melhor. — Byeol abriu as sacolas que trouxera do mercado na tarde anterior, virando-se em sua direção com um pote desconhecido em mãos.
— O que é isso, dona Byeol? — Perguntou começando a se preocupar, notando a caretinha que seu pequeno fez.
— Remédio natural, TaeTae... — Quase a ouviu em seu tom de voz mais diabólico, o mesmo que usava em sua infância quando o mandava tomar banho, mesmo sabendo que suas brincadeiras ainda não tinham terminado.
— De onde a senhora tirou que isso é remédio natural?! — Tapou o nariz sensível com o cheiro forte que lhe invadiu, quando noona rompeu o lacre prateado sob a tampa de rosca.
— Você tem sorte de eu não ter feito um chá com cascas de cebola, alho e mel e enfiado em sua goela abaixo.
— E-Eu não preciso de remédio natural esquisito nenhum! Yoongi já me obrigou a ir ao médico e comprar remédios amargos.
— Esse é indicação do Ggukie. — Pegando uma colher no escorredor de louças, a mais velha mergulhou no conteúdo pastoso de cor duvidosa.
— Pequeno... — O olhar melado suplicou ao negresco.
— Minha avó me dava quando ficava com gripe, vai ajudar o hyung a sarar. — Jeongguk lhe explicou sorridente.
— Eu já estou quase novo em folha, um beijinho e a sopa já foram o suficiente! — Grudou as costas no encosto da cadeira com a aproximação de noona e daquela coisa gosmenta.
— Vamos, querido, uma colherzinha. — O cheiro lhe embrulhava o estômago e o sorriso triunfante da mais velha denunciava que perdeu aquela discussão. Virando a cabeça para o lado oposto por alguns segundos, tentando se preparar para o que esperava-o, bufou formando um enorme bico nos lábios.
— Nem deu tempo dos remédios fazerem efeito ainda... — Tornou a olhar para a mulher de meia idade à sua frente, esticando a colher para cada vez mais perto.
— Se ficar enrolando é pior. — Noona deu o aviso, alargando o sorriso ao assisti-lo abocanhar o conteúdo do talher e engolindo de uma só vez.
Jeon juntou as sobrancelhas em uma expressão compreensiva para seu hyung, afinal, lembrava-se vividamente do gosto do gengibre em conserva e do quanto era ruim, amargo. Porém, logo deixou um sorriso escapar, a careta em uma mistura emburrada e desgostosa era engraçada e fofa, somando ao corpo enrolando na coberta como um grande filhote.
— Depois dessa eu nunca mais fico doente.
— Acho bom.
Taehyung cruzou os braços diante da risada maléfica de sua segunda mãe, a observando ir em direção a pia quase saltitando.
Sentindo o chamado dos olhinhos de jabuticaba, levou os seus ao encontro, contendo uma risada com a suave expressão de culpa no rosto alvo e bonito de seu pequeno, logo após descendo-os para as mãos branquinhas, percebendo os pulsos descobertos pelas mangas dobradas até os cotovelos, enxergando as marquinhas roxas que sumiam lentamente, até demais para suportá-las pintando a epiderme tão macia.
Então um click veio à sua mente.
— Eu tenho uma coisa para você, Ggukie! — Se levantou em um pulo ignorando a leve tontura que sentiu. — Espere aí. — Indo diretamente para a escada, subiu os degraus o mais rápido que conseguiu e suas pernas permitiram, caminhando novamente para seu escritório onde abandonara a maleta quando chegou acompanhado do hospital pelo melhor amigo, por sorte não se esqueceu da pomada especial antes de sair da empresa. Vasculhando entre os inúmeros papéis que trouxe para trabalhar em casa, encontrou, segurando-a firmemente entre os dedos, girando nos calcanhares, eufórico, voltando em direção ao anjo com um sorriso de orelha a orelha.
Parando no andar de baixo, esperou um pouco impaciente e ansioso a conversa animada entre os outros dois que deixaram a cozinha, acabar.
— O que tem para mim, hyung? — A pergunta -assim que Byeol seguiu para os fundos através do corredor bem iluminado, fazendo um sinal engraçado de "estou te observando" para si-, soou tímida e adorável. O melhor que Tae poderia receber a troco de entregar um singelo presente, era vê-lo agir daquela forma tão graciosa.
Ah, quem o visse em outras épocas jamais acreditaria que pudesse ter pensamentos bobos e apaixonados.
— B-Bem — Levou a mão livre para os cabelos, soltando o cobertor sem perceber e se atrapalhando para voltar a enrolá-lo contra seu corpo. De repente sentiu-se nervoso com as palavras que ensaiou em seu caminho de volta escapando de sua mente. — É que... beijinhos não funcionam exatamente como curativos... externos. — Deixou um riso soprado sair junto do ar de seus pulmões, ouvindo uma risadinha baixa e suave partir do outro. — E-E pensei muito nas cores que me contou estar vendo em si mesmo, — Viu as bochechas gordinhas corarem, como sentia suas próprias no momento. — então pedi a um velho amigo que fizesse algo para ajudar a tirar as que não... — Se calou, não encontrava outras palavras que pudessem ajudar em seu plano B.
— As que não gosto de ver em mim? — Aqueles olhos redondos e brilhantes estavam fixos aos seus, sem receio algum.
— É... — Uma breve pausa constrangedora se instalou entre ambos. — d-digo, é, exatamente! Ou, se de repente v-você não...
— Como é esse beijinho diferente que cura as feridas externas? — Jeongguk mordeu o interior das bochechas, não sabia o que pensar sobre as atitudes bonitas que seu príncipe tomava consigo, só que eram incrivelmente boas e fofas quando podia ouvi-lo e vê-lo todo atrapalhado em sua frente. Do jeito que secretamente descobriu gostar muito.
— É essa pomadinha muito cheirosa, — Mesmo nervoso, Taehyung abriu um sorriso estendendo a mão quase esmagando o pequeno tubo cilíndrico, em seguida, escondendo ambas sob a camada grossa de lã o envolvendo. — funciona como um hidratante corporal, só que é medicinal, — A palavras atropelavam os lábios apessegados, deixando o acastanhado ainda mais nervoso. — v-vai te ajudar a tirar todas as manchas da sua pele.
O garoto coelho suspirou, observando a embalagem em suas mãos, curioso, o belo herói pensava em tudo. Apesar de estar sentindo-se envergonhado, lhe deu um grande sorriso, tornando a olhar para mais uma coisa que o livraria de toda a sujeira que encontrava por seu corpo, nas noites que parava para realizar a atividade da amiga psicóloga e acabava por ver as cores que o levavam a seus nozinhos mais pesados e doloridos pintando sua pele. Sem saber, o hyung havia o ajudado em mais um passo para se amar.
— Obrigado, Tae hyung, de verdade. — Seus olhinhos brilhando apenas de imaginar todas aquelas marcas sumindo de seu corpo, mesmo que de forma lenta, o eletrizou dos pés à cabeça.
— Não é nada, pequeno — Os cabelos castanhos soltos e rebeldes caindo sobre os olhos sorridentes e tímidos, prenderam os olhos negros em si. O garoto coelho não conseguia desviá-los por um momento sequer quando estavam juntos. — o meu amigo também deu um nome para ela, se chama beijinho de limão. — A surpresa na expressão de lábios entreabertos arrancou uma risadinha do mais velho.
Ah, se pudesse Tae criaria linhas inteiras de produtos com nomes que tivessem ligação com sua paixão.
Agitado, Jeon rompeu o lacre preso a ponta do pequeno tubo, aproximando-o do nariz farejando o cheirinho da fruta, levemente cítrica e viciante, seus feromônios, encantando-se pela sensação de poder ter aquele cheirinho definindo ainda mais o seu natural.
— É muito cheirosa mesmo, hyung! — O Kim soltou outra risadinha, entorpecido pela cena que assistia.
— Então você gostou.
— Gostei muito! — As orelhas extensas seguiram dançando eufóricas.
— Já eu não... do gengibre em conserva. — Começaram a rir, parados ali mesmo, no meio da sala. O riso de um era importante para o outro.
Depois da pomada cheia de desenhos -da flor que carregava o nome da marca que seu príncipe criou-, ganhar um lugarzinho especial em sua cômoda, o de fios negros retornou a pulos rápidos e precisos para ele, descobrindo que dividir uma grande coberta enquanto decidiam o que pintar numa manhã preguiçosa e fria de final de inverno, sentados sobre o tapete macio e rodeados de telas e tintas, se tornaria uma das coisas que adoraria fazer todos os dias facilmente, podendo ouvir o coração desenfreado e a voz rouquinha tão perto de si.
[...]
Não demorou muito para que o acastanhado se sentisse completamente bem outra vez, menos ainda para dar um jeito de se livrar do pote de gengibre em conserva, que considerou a pior coisa que já provou na vida depois do quiabo refogado que sua noona o obrigou a comer durante um mês inteiro, anos atrás, alegando ser bom para os ossos, quando fraturou o braço brincando com Yoongi de escalar sua velha amiga árvore. Nunca viu seu melhor amigo chorar tanto, preocupado, como naquele dia. Porém, sendo o bom desastrado que era, já estava acostumado a sentir aquele choque e dor. Era bobo desde a infância. Como seu pai sempre disse.
Agora, seu jeito atrapalhado era por outro motivo, um grande e fofo, que tinha características especiais, era um garoto coelho. Encantador. Segurando firmemente sua mão no momento os guiava para além do estacionamento da ONG, em direção ao jardim repleto de híbridos com histórias especiais, lutando pelos seus direitos com garras e presas. O lugar que ajudou a desenvolver e a acolher inúmeras vidas.
— Ah! — Hoseok foi o primeiro a exclamar, erguendo os braços chamando atenção de algumas pessoas ao redor. — Eu senti tanta saudade desse lugar.
— Eu também. — Yoongi sorriu, um pouco contido, não gostava de se mostrar tão emocionado, achava que tal gesto o fazia parecer vulnerável dependendo do momento. — Onde estão os... — Foi interrompido por um conjunto de vozes fininhas, vindo do enorme prédio no centro. Logo, perninhas curtas e mãozinhas gordinhas o agarraram, derrubando-o na neve fofa.
— Tio Yoonie! Tio Yoonie!
Chamavam aos berros os filhotes eufóricos, enrolando mechas de seu cabelo nos dedinhos e lhe distribuindo beijinhos pelo rosto.
— Meus cubinhos de açúcar! — Sem conseguir esconder mais o sorriso largo exibindo suas gengivas, o moreno foi derrubando suavemente as pequenas criaturas na neve, se sentando apenas para senti-las abraçando-o desesperadamente. — Ah meu Deus, como eu senti saudade de vocês! — Foi retribuindo todo aquele carinho conforme conseguia abraçar a quantidade de filhotes que seus braços alcançavam em cada vez.
— Não sei se é mesmo verdade. — Uma menina, de aproximadamente nove anos, miou em falsa descrença, ajeitando a armação do óculos piscando os olhinhos para o adulto ainda sentado, coberto de neve e agito. — O tio Yoonie nunca mais veio ver a gente. — Um biquinho se fez em seus lábios.
— É claro que é verdade! — Alarmado, o Min a puxou para seu abraço, rindo baixinho com seu jeito felino de ser, tentando escapar do gesto apertado, miando desesperadamente. — Eu estive trabalhando muito, mas juro de dedinho que virei toda semana. — Ergueu o mindinho para a mesma, que sorriu fofo ao ser solta antes de entrelaçar o seu pequenininho no dele. — Como estão os seus olhinhos, huh?
— O doutor que dá docinhos disse que vou ter uma longa vida com os meus olhos, só vou precisar usar esse óculos, para melhor a vista desse, — Ela apontou com cuidado para o olho direito, com mínimas manchas esbranquiçadas. — esse não teve jeito. — O esquerdo era completamente branco.
Yoongi sorriu um pouco murchinho. A pessoa cruel, que para se livrar da polícia ateou fogo no lugar onde deixava híbridos inocentes presos, como aquela gatinha que era tão especial para si, estava pagando na cadeia, mas gostaria de ter feito justiça com suas próprias mãos.
— E a mamãe voltou a enxergar o meu rosto! — Uma enorme alegria tomou conta de seu peito.
— Eu fico muito feliz, meu cubinho de açúcar número um. — A gatinha o agarrou pelo pescoço, ignorando os miados dos amiguinhos gatos que também queriam abraçar seu tio. Agora não queria deixar o colo dele.
— Acho bom que o tio Jiminie cumpriu a promessa de dedinho dele. — Nora, que permanecia sentada sobre os ombros de Tae, rindo de seu irmão por não alcançá-la mesmo que tentasse escalar o herói de seu tio Ggukie, disse entusiasmada, sendo uma das primeiras a pular em seu outro tio quase gatinho, dando espaço para seus amiguinhos enquanto sorrateiramente buscava se grudar nos seus outros tios.
— Que promessa de dedinho? — O Min perguntou, fingindo não saber.
— De trazer o tio Yoonie e dividir a sua atenção com a gente. — Sorriu orgulhoso, a garotinha de oito anos era muito esperta.
— É isso mesmo, não quero saber de você descomprindo as promessas para a minha dentinho, Jimin. — Soou falso ameaçador para seu gatão.
— Não sou maluco de deixar de realizar os desejos desses pestinhas. — Os filhotes riram divertidos, dividindo-se para trocar abraços com seus tios humanos e não humanos.
— Vocês cresceram tão rápido...
Os olhinhos coloridos grandes e curiosos correram para o homem grandão escondido atrás de Taehyung. Logo o reconhecendo e sendo tomados por outra onda de felicidade e saudade, foram correndo para o tio Jung, que costumava lhes dar aulas de dança antes de precisar viajar.
A animação era tanta que alguns arranhões foram inevitáveis, porém não eram nada comparado a saudade que Hoseok também sentia dos pequenos espoletas.
— Tio Hoseokie! Você voltou pra sempre? — Um pequeno garotinho coala conseguiu seu colo.
— Voltei! E agora nossas aulas voltam também! — Vários sons, em uma mistura animalesca fofa e agudos infantis, ecoaram pelo jardim.
— A professora vai fazer uma peça de teatro no final do mês! — A animação do cãozinho arrancou gargalhadas dos adultos. — Estamos ensaiando a semana inteira!
— Vão dançar também?
— Sim! — A pequena gatinha exclamou animada.
— Eu quero vê-los ensaiar, quem vai me mostrar a coreografia?
Uma pequena discussão começou entre os filhotes, até um pequeno grupo sair puxando o Jung com um enorme sorriso de coração contornando a boca, em direção a um dos quiosques abertos, no meio do jardim, com mesas de piquenique, mas também com um generoso espaço vazio de assoalho.
— Está perto! Que tal nós ajudarmos a professora com os figurinos? — Yoongi arqueou as sobrancelhas fazendo graça, recebendo respostas altas e positivas. — Então vamos! — Se levantando com dois gatinhos nas costas, demorou a se equilibrar, carregando-os lentamente, com a gatinha segurando na barra de seu paletó.
— Eu vou ficar com o tio Ggukie e o herói TaeTae. — Nora cruzou os bracinhos, tentando conter a enorme vontade que sentia de mexer mais um pouco com seu vestido rosa de princesa, guardado para a apresentação.
— Então se segure, pequena! — Apoiando as mãos nos pequenos e magros joelhos, Tae saiu correndo pelo jardim, com a coelhinha gargalhando, contagiando Jeongguk, que mantinha nos braços um agitado Sunbae, controlando a vontade de mordê-lo nas bochechas.
— Vamos alcançar eles, tio Ggukie!
— Segure-se firme, Sun! — Ajeitando firmemente as mãos ao seu redor, quando o cãozinho escalou para suas costas, o moreninho desatou a correr na mesma direção que seu príncipe.
— Cuidado! Argh! Eu sou um gato furioso e vou pegar vocês!
Entrando na brincadeira, Jimin fez uma cara engraçada, correndo atrás das duas duplas até fazê-las cair na neve, atacando-as com cócegas.
Com a coreografia repassada pelos filhotes animados com a apresentação, o Jung tentou acalmá-los e distraí-los. Porém, já maiores, se tornaram furacões e rapidamente saíram de seu campo de visão, alarmando-o fazendo com que saísse atrás de cada filhote.
Agarrando um por um em seus adoráveis esconderijos, castigando-os com cócegas, conseguiu convencê-los a irem até o refeitório para a hora do lanchinho, contando se todos do pequeno grupo de dez criaturinhas estava completo, suspirando ao perceber que faltava um mini coala.
Passando a procurar por cada quiosque, conferindo se ele não poderia estar com sua família, começou a sentir certo desespero tomar conta de seu peito. Ali, era certo que ele estava seguro, mas estava consigo e tinha entrado na brincadeira de se esconder.
Caminhando até o último quiosque que faltava conferir, tentou observar pelas janelas, entretanto as cortinas estavam fechadas, com a pulguinha atrás de orelha, começou a se questionar se espertinho do jeito que era, o coala poderia ter fechado-as, afinal, não estava em nenhum outro lugar.
Dando a volta, encontrou a entrada e se aproximou a fim de conferir o interior do local, mas ao tocar na maçaneta, arregalou os olhos com o movimento antecipado ao seu e a porta se abrindo, revelando uma moça com orelhinhas triangulares alaranjadas em sua cadeira de rodas.
— Me desculpe, senhorita! Eu não estava invadindo seu quiosque, é que... — Falava esbaforido, enquanto tentava bisbilhotar o lado de dentro.
— Não há outra pessoa aqui, só eu.
— Ah sim, eu peço perdão mais uma vez, — Chacoalhando a cabeça, Hoseok se conformou, sorrindo para ela. — um pequeno coala não poderia se esconder tão bem assim.
— Ele gosta de subir em árvores. — Assim que a raposa terminou de falar, uma risadinha alta ecoou dos galhos de uma árvore logo atrás, e o filhote espoleta desceu rapidamente correndo até seu tio Jung, sendo pego no colo.
— Você não é bom brincando de esconde-esconde tio Hoseokie!
— Como pode dizer isso?! — Fingindo estar indignado, as mãos grandes cutucaram a barriguinha fofa do híbrido, que soltou gargalhadas divertidas. — Ok, agora nós vamos para o refeitório, chega de bagunça por hoje.
— Eu ganhei no esconde-esconde?
— Ganhou sim.
— Oba! Vou contar pra todo mundo lá! — O coalinha sorriu exibindo os dentinhos de leite, faltando o primeiro da frente que já havia caído. — Vamos, tio Hoseokie! — Se remexendo, o filhote foi posto no chão e com as pernas curtas, passou a correr em direção ao enorme prédio.
— Vamos-vamos! — Contagiado, Hoseok riu, cruzando os braços negando para si mesmo, imaginando quanto mais energia aquele filhote poderia ter.
Voltando o olhar para onde estava a raposa, franziu o cenho vendo o espaço ao seu redor vazio, encontrando-a um pouco à frente, tentando alcançar a calçada.
— Senhorita! Espere um momento! — Acelerou os passos, colocando as mãos no apoio da cadeira de rodas.
— Eu não preciso de ajuda. — Sem tanta força, Eunbi não conseguiu elevar as rodas no mínimo degrau que conectava o caminho de pedra à calçada.
— Você precisa sim. — Com o sorriso acolhedor de coração nos lábios, Hoseok lhe deu um empurrãozinho, voltando a estar do lado dela quando subiram na calçada. — Então... — Iniciou uma lenta caminhada. — eu não me lembro de você, chegou faz pouco tempo?
— Sim.
— Entendi, — Sua mente de repente vagou para algumas coisas que ouviu em vídeos chamadas com seus amigos. Recordou. — soube um pouco sobre você, na verdade, não deveria desistir do tratamento de fisioterapia.
— Por que está interessado nesse assunto?
— Porque me preocupo com as pessoas, mais do que comigo mesmo.
A raposa seguiu quieta, pensando em suas palavras.
— Não tem nada que possa me fazer voltar a andar.
— Terá se você dar uma chance para quem está tentando te ajudar.
— Um amigo já está me ajudando... — Jeongguk. Pensou Eunbi.
— Isso é muito bacana!
Um longo silêncio se fez presente entre ambos, até atravessarem as portas de vidro e se aproximarem do elevador.
— Não desista. — Erguendo as mãos, o Jung fechou-as em punhos fazendo um gesto encorajador para a moça.
Sem dizer mais nada, Eunbi apenas assentiu, entrando na caixa metálica com agilidade, fugindo daquele humano.
Já Hoseok ficou para trás, deixando que seu sorriso se tornasse inseguro, enquanto, repassava em sua mente, inesperadamente, imagens de sua curta caminhada ao lado da híbrido.
Misturados entre os adultos e as crianças no refeitório, o grupo de amigos se comunicava apenas com o olhar, sorrindo abertamente concordando um com o outro de que aquele estava sendo o melhor dia de suas vidas agitadas. Mal trocaram palavras desde que chegaram, sempre sendo puxados pelos filhotes dengosos de um lado para o outro e que agora, estavam sentadinhos nos bancos coloridos esperando pelo lanchinho. Pelas carinhas, logo o sono viria e seus pais os colocariam nos ninhos para descansar, dando um tempo para certos adultos com cheirinhos especiais, fazerem o mesmo.
Após a refeição, todos foram se retirando aos poucos, trazendo seus filhotes para os colos e caminhando em direção a saída, onde os quiosques quentinhos os esperavam. Os garotos que decidiram ficar, ajudaram as híbridos de idade a retirar as mesas e limpar tudo, sendo recompensados com doces afagos nos cabelos.
— Tio Ggukie... — O chamado manhoso de Nora roubou a atenção do outro coelho. Ela não havia ido para seu ninho ainda. — você vem junto tirar um soninho? — Coçou os olhinhos.
— Preciso ajudar o hyung com algumas coisas, — A desculpa fez um enorme bico tomar os lábios da criança. — mas prometo te encontrar depois.
— Tá bom — concordando, Nora agarrou a mão do irmão, que abanava levemente o rabo comprido piscando com preguiça, e saiu puxando-o para o elevador. Iriam para o último andar fazer um pouco de manha para a mãe adotiva, Hyejin.
— O hyung já viu tudo o que tem aqui dentro? — Os olhos de jabuticaba encontraram os castanhos, ansiosos por uma resposta.
— Na verdade não, pequeno, — Tae coçou a nuca, rindo um pouco nervoso. — eu só ajudei com as melhorias, mas nunca vim aqui de fato. — Aquele olhar continuou em si, sorrindo junto dos lábios. — Quer me mostrar?
— Sim! — As orelhas extensas dançaram. — Também quero mostrar para o Jimin hyung que eu aprendi tudo.
— Estou pronto para ver tudo então, Ggukie — O sorriso quadrado acelerou ainda mais o coração do moreno.
— Vem. — Como se fosse um segredo, Ggukie puxou seu príncipe para fora da cozinha, sem que os outros hyungs percebessem.
De dedos entrelaçados, passearam por todos os andares, com o mais velho prestando atenção em cada palavra que saía da boca do anjo, encantado, sorrindo orgulhoso por vê-lo tão eufórico lhe mostrando tudo e contando suas pequenas experiências já vividas em cada ambiente.
Deixando seu lugar preferido por último, Jeongguk suspirou ao parar em frente a enorme janela do berçário, apertando a mão conectada a sua até sem perceber, assistindo cada um dos filhotinhos dormir tranquilamente, sorrindo pequeno para o leãozinho que ressonava mais calmo durante os últimos dias.
— Não é lindo? — Perguntou, com o olhar ainda fixo nos bebês.
— É muito lindo. — Tae intercalava o olhar entre as duas coisas mais belas que já viu.
— Jimin hyung me contou que conseguiram uma prova para libertar o pai do bebê leão, ele vai voltar e ficar junto com o filho dele. — O brilho pareceu triplicar nos olhos negros.
— Isso é incrível, pequeno! — Mesmo que já soubesse, o Kim não poderia deixar de admirar o coração de seu anjo, quase conseguia tocar em seu esforço e determinação para ajudar e aprender tudo.
— É sim. — Trocando largos sorrisos e olhares, ambos passaram bons segundos observando um ao outro, rodeados da sensação boa de estarem juntos.
— Tá sujo aqui... — Taehyung ergueu o dedo indicador livre para o próprio rosto, mostrando o lugar sobre o lábio superior, onde no mais novo, tinha resquícios da geléia de pão.
Deixou um riso escapar, qualquer tipo de pãozinho doce atraía Jeongguk.
Engolindo em seco quando ele apenas continuou o encarando com aqueles olhinhos galáticos, indecifráveis, levou a mão canhota calmamente até o rosto bonito, limpando com o polegar aquela pequena parte de pele macia, sentindo seu corpo se arrepiar com o mínimo contato. Aquilo era estranho, a sensação de estar apaixonado, dos pequenos toques que dava e recebia, davam um nó em seu cérebro, aqueciam seu coração e amoleciam suas pernas.
Perdendo-se em seus olhares conectados, não conseguia afastar a mão, e tão pouco era o que Jeon desejava.
— Com licença...
Com um leve sobressalto ao ouvir a voz do Park, o acastanhado recuou um passo, soltando suas mãos e as escondendo nos bolsos da calça. Ggukie entrelaçou os próprios dedos em frente ao corpo, já sentindo falta do contato anterior.
— Não querendo atrapalhar vocês, — A voz felina soou carregada e um sorriso estranhamente largo contornou a boca cheinha. — mas eu preciso de você lá em cima, Tae, vai ser rápido. — Juntando as mãos em uma súplica, dramatizou.
— Tudo bem, hyung. — Mesmo envergonhado, Taehyung voltou-se para o moreno. — Eu volto já, pequeno.
— Certo... — Ele foi o primeiro a desviar o olhar, tornando a prestar atenção nos bebês recém nascidos.
Ambos estavam confusos e envergonhados.
— Eu estraguei o clima? — Jimin perguntou baixinho, assim que se afastaram até a escada daquele andar.
— De que clima está falando, hyung? — O mais novo fingiu não saber.
— Não seja bobo! Eu vi!
— Não tinha clima nenhum ali! Eu só... — Permaneceram se encarando por breves segundos. — aish! — O Kim bufou, começando a subir os degraus deixando o gatuno rindo para trás.
— Todo apaixonadinho... — Sussurrou o alaranjado para si mesmo, negando desacreditado, seguindo o amigo.
Voltando a olhar, Jeongguk os assistiu partir com um biquinho nos lábios, sabia que iriam resolver o assunto importante que o hyung gatinho ainda não tinha explicado, mas se aquele não era o momento para essa conversa, então deveria esperar. Mas por que seu lado homem estava frustrado?
Tendo sua atenção chamada, suas orelhas viraram em direção ao vidro quando um chorinho melodioso surgiu, porém, seus olhos correram para as portas do elevador se abrindo, trazendo dois híbridos de onça. Tombando a cabeça levemente, deixou de prestar atenção aos sons atrás de si quando o homem de cabelos castanhos e mais alto, encostou o queixo sobre a cabeça do outro e trocaram um afago, quase ronronando, em seguida, seus olhos se arregalaram com um beijo depositado nos lábios dele deixando o elevador. Conhecia ambos, eram respectivamente médicos, um pediátrico e o outro clínico geral.
— Boa tarde, senhor. — O grande homem onça passou ao seu lado, com o sorriso exibindo afiados caninos, adentrando pela porta do berçário.
— Você estava aqui outro dia, — O mais baixo segurou a porta metálica, sorrindo igualmente para si. Curioso. — e também em outro quando chegaram novos resgatados. — Ggukie o respondeu com um assentir tímido, não esperava que ele estivesse o observando. — Você gosta de ajudar, não é? — Fez o gesto outra vez. — Quer me ajudar hoje? — A pergunta o fez ofegar surpreso.
— C-Certo. — Conseguiu falar, caminhando para o elevador um pouco incerto, mesmo que de qualquer forma não fosse ficar ali esperando pelo seu herói.
Parando ao lado do híbrido poucos centímetros maior que si, mordeu o Interior das bochechas, envergonhado com o olhar grande e dourado analisando-o, enquanto as portas se fechavam.
— Qual é o seu nome? — O felino aproximou-se um pouco mais, parecendo interessado em seu rosto.
— Jeongguk.
— É um nome bonito, Jeongguk. — Aquele sorriso também exibiu o par de caninos afiados.
Seu lado coelho começou a sentir medo, refletindo em suas ações inquietas. Afinal, eram presa e predador.
— Desculpe se estou te assustando, não é minha intenção. — O médico penteou os cabelos castanhos com os próprios dedos, tornando a se afastar. — É que como médico, estou sempre observando a saúde das pessoas. — O nariz do moreno remexeu curioso, arrancando uma risadinha da onça. — Você é um jovem saudável. — Constatou observando as bochechas coradas e maçãs do rosto sem clara evidência.
— O meu hyung cuidou de mim... — Um sorrisinho envergonhado brotou nos lábios gordinhos.
— Fico muito feliz. — O mais alto alargou o sorriso, demonstrando bonitas covinhas. — Eu fui cuidado pelo meu marido, também. — Então Ggukie se lembrou da despedida dos felinos. — Fiquei curioso sobre você, parece ter grandes objetivos, eu também, então me formei um médico para ajudar os meus semelhantes.
Os olhos negros brilharam, agora sem mais nenhum resquício de medo, enquanto o médico saía do elevador e o seguiu admirado para a ala hospitalar.
— Seria muito bom se você me ajudasse a acalmar alguns pacientes, para que eu possa trocar os remédios no acesso. — Retirando o casaco que usava, o garoto coelho pode notar vários desenhos cobrindo a pele dos braços dele.
— São bonitos. — Comentou até sem perceber, desviando o olhar quando o dourado caiu sobre si outra vez.
— As tatuagens? — Suas orelhas dançantes denunciaram a curiosidade. — Eu escolhi as que tinham significados especiais.
— Por que? — Voltou a olhá-lo.
— Porque eu queria cobrir as minhas cicatrizes...
Jeon suspirou, não dava para ver o que vinha primeiramente colorindo a pele, agora tão bonita, do médico.
— Eu queria poder pintar o meu corpo com cores bonitas também.
— Quando quiser, posso te indicar um ótimo estúdio de tatuagens. — A onça lançou uma piscadela, vestindo seu jaleco branco.
— Hyung, você conseguiu dar um passo à frente dos seus nozinhos? — De cenho franzido, o híbrido mais alto passou a pensar na pergunta.
— Nozinhos?
— É, o que machuca aqui. — O moreno apontou com o indicador para a cabeça.
— Ah! — Compreendendo, o híbrido de onça riu baixinho, achando a pergunta feita, adorável. — Ainda tenho alguns para lidar, é difícil e nem todos os dias eu consigo. — A resposta sincera acelerou o coração do coelhinho, ele sentia igual.
— Sente como se seu corpo ainda fosse sujo? — Perguntando sem pensar, Ggukie abaixou o rosto envergonhado, diminuindo a voz.
— Por que fala assim do seu corpo? — O médico perguntou, preocupado. — Nada do passado foi culpa nossa... — continuou quando não recebeu uma resposta. — Não tem porquê se sentir assim.
— Certo, hyung. — Mesmo com vontade de fugir, Ggukie sorriu.
— Se te conforta saber, eu já me senti assim também e fiz muitas tatuagens para cobrir o que eu achava sujo, mas no fim, elas não conseguiram apagar a sujeira da minha mente.
— O que fez apagar?
— A minha luta. — Os olhos dourados tinham um brilho acolhedor. — O apoio e força daquele que se tornou o meu marido e daqueles que vieram para ser meus verdadeiros amigos. — Jeongguk assentiu, compreendia o médico. — Deve ser por isso que eu vi coisas tão semelhantes entre nós, — O rabinho em forma de pompom se eletrizou. — Nunca mais chame seu corpo de sujo, pois o que fizeram no passado nunca foi consentido por você. Foi uma das coisas que precisei aprender também quando voltei a viver. — Ele roubou um grande sorriso seu. Estonteante e encorajado. — Vamos?
— Vamos, hyung!
A caminho dos leitos, a cabeça do garoto coelho seguia turbinada de nozinhos novos e eufóricos, porém não pesavam seus pensamentos, sentia que estava dando mais um passo em direção ao seu amor próprio. Precisava ter escutado tudo aquilo de seu novo amigo.
— Aliás, eu me chamo Junseo. — Trocaram singelos sorrisos.
Passando por cada leito, o garoto coelho tinha uma simples tarefa, distrair os pacientes, enquanto o médico mexia com cuidado em seus curativos e aplicava os remédios necessários, soltando seus feromônios suaves que lembravam Jeongguk o jardim, especificamente a grama verde e nova.
Tentando chamar atenção dos híbridos, sendo amigo deles como a amiga panda ensinou, rapidamente Ggukie conseguiu olhares tristes e opacos, mas tinha certeza que o tempo iria ajudá-los a recuperar suas cores. Como aconteceu comigo e que agora precisava dar mais brilho às suas, começando por tudo o que queria contar ao seu príncipe quando ele o encontrasse novamente. Secretamente estava descobrindo algo novo que gostaria de fazer para sempre.
[...]
As horas se tornaram inexistentes na ala hospitalar, Jeongguk não percebeu que o sol estava indo embora vagarosamente, pois auxiliar o hyung médico treinando a intensificação de seus feromônios para acalmar e sem se cansar de sorrir para seus semelhantes, dizendo as palavras bonitas que eles mais do que qualquer pessoa mereciam ouvir, era a tarefa que mais gostou de realizar, distraído até mesmo quando o cheiro de morango e chuva invadiu o ambiente e durante todos os longos minutos em que o príncipe azul ficou o assistindo.
Tae permaneceu escorado na parede próxima do elevador, longe o suficiente para não chamar atenção. Seu sorriso bobo demonstrava o orgulho que estava sentindo, o anjo sequer precisava se esforçar para receber um mínimo sorriso dos outros híbridos, sorrisos esses que já viu nele e que tocava em seu coração a memória dele crescendo. Estava conseguindo ver algo além de seu pequeno ajudando alguém, ele estava se desenvolvendo e descobrindo, acima de tudo, estava feliz. Suas expressões adoráveis mostravam isso. Suspirando, apertou o botão solicitando o elevador, decidindo deixar o anjo fazendo seu trabalho, revendo imagens de todo seu cuidado em escolher boas palavras para seus semelhantes, em sua mente.
Quando todos os pacientes ficaram confortáveis e medicados em seus leitos, Junseo agradeceu seu ajudante, convidando-o a voltar e rindo baixinho quando uma resposta positiva veio eufórica, enquanto terminava seu convite. O Kim havia lhe feito uma ótima recomendação.
Separando-se do híbrido de onça, o Jeon desceu as escadas em pulos ágeis, remoendo a culpa de ter se esquecido de ver a coelhinha, de ter procurado pelo príncipe e de mostrar para o hyung gatinho que havia aprendido coisas novas.
Ao passar pelas enormes portas de vidro, seus pensamentos tortuosos foram embora, a calçada estava recheada de filhotes e hyungs brincando de fazer bolhas de sabão. Com o coraçãozinho naturalmente acelerado, buscou pelo seu herói, sorrindo grande quando o avistou ao longe, fazendo bolhas com Nora e rindo quando Sunbae pulava e as estourava. Ele era tão lindo...
Arregalou os olhos.
Sua mente se encheu de nozinhos que apertaram o dando um pouco de dor de cabeça. Estava pensando em seu hyung de uma forma diferente da que sempre pensou, ele não era lindo porque dizia palavras bonitas e ajudava as pessoas, era lindo porque seu sorriso em forma de quadrado brilhava no pôr do sol, porque sua pele reluzia aquecida e sua risada acelerava ainda mais seu coração.
Seu lado coelhinho energizou-se, batendo o pé direito rapidamente no chão, junto de suas orelhinhas e rabinho dançantes. Que sensação estranha e maravilhosa ao mesmo tempo.
Desejava correr até ele e contar o que estava acontecendo, perguntar se Taehyung sabia o que significava, mas tinha medo de saber, precisava aprender mais coisas antes de entender. Entretanto, por que não poderia continuar aprendendo e recebendo respostas, mesmo antes de pensar em quais perguntas?
Chacoalhando a cabeça, afastou aqueles nozinhos, decidindo pensar neles mais tarde, caminhando em direção ao príncipe sentindo novamente a vontade de fugir quando o sorriso e os olhos de mel o encontraram.
― Ggukie! Venha brincar conosco! ― Assentindo sem pensar duas vezes, se juntou a eles.
― Finalmente, Tio Ggukie! ― Nora deu um pulinho, estourando a própria bolha. ― O senhor virou médico? ― A pergunta inocente lhe arrancou uma risadinha.
― Só fiquei ajudando, Nora-yah ― respondeu um pouco tímido, sentando-se ao lado de seu príncipe.
― TaeTae herói disse que você nasceu para fazer isso.
Taehyung engasgou-se com a própria saliva, tossindo enquanto seu rosto coloria-se de vermelho.
― É verdade, hyung? ― O rosto de Jeongguk estava igual ao seu.
― Bem, sim, é. ― Riu de forma nervosa, coçando a nuca. ― Eu assisti um pouco do que estava fazendo, pequeno, ― Desviou o olhar do de jabuticaba, envergonhado. ― e parecia completamente certo você estar ali.
Um sorriso tímido tomou os lábios vermelhinhos, Jeon não soube o que dizer, mas começou a pensar naquela ideia. Poderia aprender muito mais.
― Faz mais bolhas, tio ursinho! ― Sunbae tirou-os daquele silêncio de pura timidez.
― Eu posso brincar também?
― Sim! ― Os filhotes responderam em uníssono e o híbrido de cãozinho entregou o pequeno objeto com água e sabão para o coelho.
― Ggukie! ― Jimin miou contente, caminhando até ambos com os dedos entrelaçados aos de Yoongi. Jeongguk sorriu grande observando o gesto carinhoso. ― Fiquei sabendo que a minha pupila deu um grande passo hoje. ― O sorriso que escondia os olhos alaranjados se abriu.
― Junseo hyung me convidou para ajudar ele mais vezes, hyung!
― Isso significa que você fez um ótimo trabalho, parabéns, dongsaeng! ― As orelhas extensas se agitaram ao ponto de ficarem arrepiadas.
― Obrigado, hyung.
— Você cresceu muito rápido, Ggukie, por favor, pare. — Yoongi fingiu secar uma lágrima com a mão livre, depois de esconder no bolso da calça seu potinho de água e sabão. Jeon riu junto dos outros hyungs.
— Viu? — Tae sussurrou próximo ao ouvido do moreno, inclinando o tronco em sua direção. — Até o Lula Molusco se emocionou.
Uma gargalhada alta e divertida ecoou pelo jardim, partindo do garoto coelho banhado da luz do sol.
— O que você falou para ele, Taehyung? — O Min perguntou emburrado.
— Nada, hyung. — O acastanhado sorriu de forma sugestiva, provocando seu hyung.
— Sei... — Estreitou os olhos para o mesmo, mas perdendo a seriedade com a expressão divertida no rosto do coelho. Lembrava-se de como foi difícil ver o mesmo esboço no rosto bonito do namorado.
— Tio Yoonie!
Os gatinhos correram em sua direção, miando e agarrando suas pernas.
— Você é mau! — Sua gatinha preferida cruzou os braços depois de soltá-lo.
— Por que?
— Não fez mais bolhas de sabão e ainda fugiu da gente! — Um gatinho albino apoiou as mãos na cintura, encarando o adulto, desafiador.
— Vocês acham que eu sou uma máquina de fazer bolhas?
— Estava lá em cima até agora, brinca com a gente! — As carinhas persuasivas e pequenas presinhas de fora o fizeram rir.
— Você se tornou refém deles. — Jimin comentou divertido, farejando os cabelos cheirosos do namorado em um carinho.
— É, a culpa é minha. — Yoongi suspirou, havia mimado demais aquelas pequenas criaturas. — Tudo bem! Vamos brincar todos juntos dessa vez. — Se sentando ao lado de Jeongguk puxando o gato laranja consigo, abriu o potinho que retirou do bolso e passou a fazer mais bolinhas, sorrindo grande observando-os agitar os rabinhos antes de pular e capturar as bolhas com as mãos sujas de tanto brincar.
— Vai, tio Ggukie, eu quero dar um pulo de coelhinha! — Nora agitou o narizinho, em reflexo, o adulto fez o mesmo.
— Lá vai. — Sorrindo grande, Ggukie abriu seu potinho, soprando o arco do palito que estava dentro, fazendo várias bolhinhas. Nora esperou alguns segundos antes de pular, estourando a mais alta delas.
— Que grande salto, Nora-yah! — Tae a elogiou, rindo baixinho de seu jeitinho petulante ao empinar o nariz.
— Obrigada, tio ursinho.
— Tios! Cadê o tio Hoseok? — O pequeno coala chegou esbaforido, acompanhado dos outro filhotes.
— Ele estava na sala com a gente, não estava? — Tae perguntou, afinal, não tinha mais visto o amigo.
— Eu vi o tio com a tia Eunbi mais cedo. — Sunbae contou, coçando os cabelos desgrenhados arrancando uma carretinha da irmã. O coala observou em volta, procurando pelo humano e a raposa.
— Vou subir em uma árvore para encontrá-los! — disse animado, indo para o tronco mais próximo escalando com agilidade. Os adultos riram com os outros filhotes tentando imitá-lo.
Ao longe, o Jung seguia a raposa até seu quiosque, queria conseguir convencê-la a ficar um pouco mais, o dia era frio, mas estava lindo. Sendo impossível, pelas poucas palavras que recebia, desistiu e apenas se ofereceu para acompanhá-la e ajudar com a cadeira de rodas. Era um guardião também, um que sequer conseguia mostrar que poderia ajudar.
— Você precisa de alguma coisa? — Perguntou em meio a um riso sem graça.
— Ajuda para passar pelo degrau da porta, por favor. — As palavras mais frias que a neve sob seus pés o fizeram encolher os ombros.
— Tem certeza que não quer aproveitar um pouquinho do sol?
— Tenho.
— Ou então, ficar um pouco com seus amigos e... — Foi interrompido
— Eu não tenho necessidade de amigos...
— Tio Hoseokie!
O pequeno coala, que fora passando pelos galhos conectados das árvores do pomar, desceu rapidamente com os cabelos repletos de folhas, correndo na frente dos outros filhotes que olhavam para cima procurando-o, e gritaram eufóricos quando encontraram, junto do tio dançarino.
Ao se aproximarem o suficiente, pararam quietinhos com o olhar castanho pigmentado de dourado, analisando-os.
— Tia, — Um menino porquinho se aproximou. — Você também quer brincar com a gente?
— Eu... — Seu olhar intercalou entre cada rostinho.
— Por favor! Por favorzinho!
As crianças juntaram as mãos em súplica, com os olhinhos brilhantes tentando persuadi-la.
— Bem, talvez... — Sua resposta arrancou gritinhos animados.
— Chamem os outros, precisamos aproveitar antes dos tios irem embora!
Com todos juntos, inúmeras bolhas tomaram o jardim, as crianças juntas dos adultos rodeavam Eunbi, trazendo-lhe as cores da tarde refletidas nas bolhas. Ggukie recebeu um olhar fosco cheio de significado e ficou feliz por ela.
O tempo passou tão rápido que os filhotes mal perceberam a chegada de seus pais, indo um a um de forma lenta e dramática, queriam poder brincar mais. Por outro lado, os adultos quase se debruçaram uns nos outros, cansados demais, apesar de felizes pelo dia naquele lar.
Indo para o estacionamento antes dos outros, que voltaram a usar o elevador para se despedirem da equipe que zelava pela ONG, Taehyung abriu a porta detrás de seu carro e trouxe para suas mãos uma coberta, sorrindo doce antes de contorná-la pelos ombros magros do moreno. Estava anoitecendo e tinha notado as orelhinhas arrepiadas, talvez agora por causa do frio.
— Obrigado, hyung.
— Não há de quê, pequeno.
— Você acha mesmo que eu posso ajudar o Junseo hyung? — Relembrando a fala do príncipe, Jeon perguntou, apesar de voltar a sentir aquelas estranhas sensações e um frio na barriga.
— É claro que pode! — Enfiando as mãos nos bolsos da calça, o Kim sorriu sem graça. — Você foi... — Os olhos de mel se arregalaram, revendo as imagens tão lindas gravadas em sua mente. — extraordinário. — Voltando a encontrar os olhinhos negros, suspirou observando-se refletido no brilho estonteante deles. — Está pensando na ideia?
— Uhum... — A resposta veio doce e envergonhada. — eu gosto de ajudar e de cuidar das pessoas que precisam. — Como havia se tornado um fácil hábito, poderia realizar a tarefa da amiga psicóloga em qualquer momento e em voz alta.
— Eu sou uma forte testemunha. — Taehyung fez graça, rindo junto do anjo.
— Então pense em uma boa recompensa pelo meu trabalho, hyung. — Aqueles olhos escuros piscavam lentamente, enfeitiçando o empresário.
— Já sei qual.
A expressão no rosto do mais novo se tornou divertida, pedindo que demonstrasse. Dando um passo à frente, sendo guiado pelas emoções em seu coração, Taehyung depositou um beijinho na testa gélida pelo vento os cercando, sorrindo grande ao recompor sua postura.
— Obrigado por ter cuidado tão bem de mim, pequeno.
Jeon não o respondeu dessa vez, estava inerte na confusão quentinha que o príncipe causou em si. Como poderia agradecer por tê-lo cuidado? Aconteceu ao contrário, ele foi o responsável por lhe devolver a vida! E aquele gesto dos lábios quentes tocando sua pele fria... era mágico.
— D-De nada, hyung. — Só estou retribuindo o bem que me faz. Pensou em dizer, mas não teve coragem.
Com vontade de fugir, sentiu-se atraído para se despedir de seu hyung onça, que chegava no estacionamento junto do marido.
— Eu quero me despedir, hyung, volto já. — Deu-lhe as costas ao príncipe antes mesmo de ouvir sua resposta.
— Estarei te esperando.
— Certo, hyung! — O coelhinho respondeu já ao longe.
Tae ficou rindo sozinho para trás, assistindo o anjo correr até o híbrido de onça, que passou a sorrir para si também, em seguida, uma boa conversa começou.
— Cara, eu tô feliz.
O acastanhado sobressaltou-se com o susto, virando o corpo em direção à voz familiar e erguendo o olhar para o rosto iluminado do melhor amigo se aproximando.
— Eu tô vendo — Riu baixinho, contagiado pela luz que via ao analisá-lo de cima a baixo.
— Não, cara, eu tô feliz por você... — Sentiu suas bochechas esquentarem, não imaginava que Yoongi estivesse o observando. — não, tipo, não só por você, eu tô feliz por mim também, não! Por todos nós, é. — O Min assentiu para si mesmo, concluindo o pensamento.
— Ah, hyung... — Agora foi a vez dos olhos castanhos mais escuros encontrarem os seus.
— Não, pode parar! Sem ficar emocionado, por favor! — Um biquinho adornou os lábios rosinhas enquanto o mais baixo falava.
— Falou para a pessoa errada, meu amigo — Riram em sincronia.
— Não, é que... há muito tempo eu te via só no escritório, — Yoongi desviou o olhar para o estacionamento, fingindo observar algo em específico. — você não sabia fazer outra coisa a não ser trabalhar e eu me preocupava com a sua saúde.
— Desculpa te dar essa preocupação, hyung. — Recebeu como resposta um leve soco no braço.
— Não seja ridículo! Eu me preocupava porque você é meu melhor amigo, — Taehyung prendeu o riso na garganta, observando o ser de braços cruzados e a mesma expressão emburrada no rosto. Anos poderiam se passar, mas seu hyung preservava o mesmo jeitinho de quando eram apenas crianças. — quando a tia Kim... bem, — Engoliu em seco, bem como o homem em sua frente, entendendo sua mensagem. — você se afastou e não deixou que chegássemos mais perto, eu confesso que fiquei muito magoado, mas sabia que você precisava de espaço e tempo, então foi aí que eu comecei a entender que algumas coisas mudaram e era preciso respeitar isso, aprendi a ser um amigo melhor. — Os olhos de mel marejaram. — Hoje em dia eu sou muito grato por te ver todo boiola e feliz. — Yoongi deixou um riso soprado escapar.
— Por que o hyung nunca me falou nada?
— Insegurança. — O moreno deu de ombros.
— Você é péssimo.
— Você é pior. — Mostraram a língua um para o outro, com o mesmo pensamento nas cabeças, rindo em seguida.
— Mas, sabe? — Tae recomeçou o assunto. — Eu não estaria aqui hoje se não fosse cuidado por você.
— O pai sempre esteve on, não é? — Apesar de revirar os olhos inundados, um riso escapou do Kim.
— Percebendo agora, eu nunca te agradeci, pai — Riram um pouco mais alto, divertidos.
— Nunca precisou, você sempre estava lá por mim também, — Yoongi piscou várias vezes, fazendo graça. — quando eu fiz a primeira apresentação tocando piano, estava muito nervoso e mesmo assim você me fez subir no palco, quando as coisas apertaram e eu quase larguei a faculdade, quando sofri o acidente, quando fiz a cirurgia no ombro, você sempre estava lá, nem que fosse pra me dizer que não tinha comprado um burger king pra mim, sendo podre de rico!
— Você não podia comer essas coisas! Eram ordens do médico! — Taehyung rebateu exaltado, buscando o apoio de Jimin que chegou no meio da conversa, crispando os lábios sem entender o que falavam.
— Agora ele dá desculpas...
— Estragou todo o clima, Min Yoongi. — Ficaram ambos os melhores amigos, com bicões nos lábios e braços cruzados. O Park levou os olhos de um para o outro, negando os pensamentos que rondaram sua mente.
— Agora você não precisa que eu te proteja mais. — Seus olhos se encontraram outra vez. — Posso voltar a ficar com a parte mais fácil que é só te tirar a paciência. — O Min falou suave, sentindo-se vulnerável ao buscar o olhar apaixonado do namorado, tentando não soar tão emocionado com o melhor amigo.
— Eu jamais teria um amigo como você antes, hyung. — Ao contrário de si e totalmente emocionado, Tae o agarrou pelo pescoço, lhe dando um forte abraço.
— Tá bom, tá bom, eu sei que sou um anjo na terra, não precisa de melação.
— Tá bom, então vou lá com o Ggukie. — Tentou se afastar, gargalhando ao pé do ouvido do outro quando não conseguiu pelos braços o prendendo ali.
— Bobo. — Yoongi lhe retribuiu fortemente.
— Vocês são dois boiolas emocionados. — Jimin riu divertido, registrando com seus olhos e coração aquele momento.
[...]
Com o dia inteiro de sensações que lhe causavam divertidas cócegas na barriga, Jeongguk passou um longo tempo no banho, sorrindo enquanto a água quentinha caía sobre sua cabeça e deslizava por todo seu corpo. Estava exausto, porém contagiado pelo sentimento bom que arrepiava-o dos pés as orelhinhas desde que chegou na ONG naquele dia. Sabia que não podia demorar ali, mas era como se o tempo tivesse parado para assisti-lo em seu mundo feliz.
Quando saiu do banheiro liberando todo o vapor contido durante seu tempo ali, admirou a sensação de arrepio ao entrar em contato com o quarto frio, diretamente jogando-se em sua cama rolando pelos lençóis. Ah, gostava muito de tudo aquilo. De estar em sua cama, podendo ver seu quarto bem iluminado e frio, da sensação de preguiça e sono, a certeza da segurança e conforto.
Entretanto, não queria dormir ainda, desejava estar junto de seu herói só mais um pouquinho, se pudesse descansar a cabeça em seu ombro e ouvi-lo comentar sobre o dia que passaram em sua nova casa, enquanto conseguia imaginá-lo dando vários passos a frente, também enfrentando seus nozinhos, o dariam uma bela noite de sono.
Apesar de lembrar-se de resolver os seus, passou bons minutos na cama, com preguiça, até levantar-se e parar na frente do grande espelho sobre a pia do banheiro outra vez.
Trazendo consigo a pomada, observou a si próprio por um breve tempo, há dias conseguia fazer isso, alegrando-se com seu rosto menos pálido e doente. Ao contrário de como foi olhar-se pela primeira vez, agora era difícil não ver seu sorriso todas as noites. Com as orelhinhas agitadas, ergueu as mangas de seu pijama, desrosqueando a tampa do creme cheiroso que noona disse transformá-lo em um limãozinho, despejando um pouco sobre a mão e aplicando primeiramente nas manchinhas que se estendiam até seus cotovelos. Elas poderiam demorar um pouco para desaparecer, mas a pomada deixava sua pele macia e brilhante. Ainda não era completamente colorido com uma cor diferente, mas sentia como se passasse um pincel por seu corpo todas as noites, cobrindo as cores feias.
Ao final, desistiu de procurar pelo hyung, pois com a lembrança do beijinho que ele lhe deu, toda a coragem que tinha foi embora e envergonhado, escondeu-se sob as cobertas, ainda sem conseguir dormir, sentindo um formigamento no local do beijinho e certa eletricidade passear por seu corpo.
Virando para lá e para cá, passou a tentar decifrar todas aquelas sensações, resmungando com os nozinhos que apertaram, culpados pela falta de sono.
Talvez não só eles, seu príncipe também, por ser a causa deles.
[...]
Os últimos dias de inverno haviam se passado como o vento cortante de adeus correndo ao redor da casa, mas que se instalavam no peito do empresário, transformando-se em uma brisa forte e quente de verão. Ela era tão intensa que quase podia tirá-lo do chão. O homem perdido em pensamentos apaixonados era incapaz de tirar o sorriso do rosto.
Em uma doce controvérsia, ele não poderia saber que um confuso e tímido garoto coelho caminhava em sua mesma sintonia, porque esse descontava as ondas de frio dançantes em sua barriga e os arrepios pelo resto de seu corpo -por causa de certos nozinhos especiais-, em tintas e telas.
Ambos mal conseguiam conter todas aquelas sensações, apesar de compartilharem o medo delas. Jeongguk por não compreendê-las, Taehyung por entender até demais. De um lado, o moreno começando a receber suas preciosas respostas, do outro, o acastanhado nutrindo secretas e doces esperanças para o futuro.
Jeon e Kim eram polos opostos, o mais novo se esforçava para manter seus nozinhos sob controle, focado em suas tarefas e aprendizados na ONG procurando compreender a si mesmo, já o mais velho se esforçava para entender sua posição na luta de ambos e não assustar o pequeno anjo, sabia que poderia explodir se não contasse a alguém sobre as palavras mais belas do mundo que compunham Jeongguk. Estava apaixonado afinal.
Aproveitando seu último dia de atestado e a ausência de seu pequeno que estava novamente na ONG com o hyung gatinho, aprendendo a ser um bom guardião como sempre lhe falava, Taehyung desceu a escada de mansinho, parando atrás do enorme sofá branco em forma de um "L", ao avistar a cabeleira mesclada presa em um coque.
— Noona querida?
Riu baixinho com o leve sobressalto da mais velha.
— Ai seu moleque! — Byeol o olhou por cima dos ombros, bufando. — Treine mais um pouco, estou me acostumando com os sustos que você e principalmente o orelhudo me dão... — Quando assustada, dona Byun começava a resmungar. — esse não foi o suficiente.
— Vou aprimorar minhas técnicas. — O Kim respondeu risonho, de sobrancelhas arqueadas diante do pouco caso da mais velha para com seu chamado manhoso.
E estaria realmente empenhado em assustá-la se não conseguisse uma solução que chamasse sua atenção da tv e de seus novelos de lã e agulhas.
— Está muito ocupada? — Deu a volta no móvel, acomodando-se ao seu lado.
— Estou, TaeTae, — As mãos ágeis tricotavam o que parecia querer dar forma a uma nova blusa. — e nem pense em trocar o canal por um daqueles filmes cheios de violência. — Outra risadinha escapou dos lábios apessegados.
— A senhora sempre dorme na metade mesmo. — Deu de ombros, espiando o balde de pipoca sobre a mesinha de centro. Byeol ainda se lembrava de como convencê-lo a ficar e assistir um daqueles doramas melosos com ela.
— Eu claro... e você que mal começa um episódio e já está babando no sofá?
— Então também não conto o que queria contar para a noona... — Cruzando os braços, o acastanhado virou o rosto fingindo estar emburrado. Porém, o que realmente lhe ocorrera, foi o medo e arrependimento de ter iniciado aquela conversa com um objetivo, pois de repente seu nervosismo se tornou maior.
— Ah não, TaeTae, agora você vai me contar! — No mesmo segundo a mais velha largou as lãs e agulhas, o encarando pasma. — Já não basta o beijinho do orelhudo.
— M-Me convença. — Enrolando, o acastanhado deu impulso fingindo se levantar.
— Eu faço hambúrguer para você mais tarde. — Aqueles olhos com frações juvenis acenderam junto às mãos levemente enrugadinhas segurando as suas, arrancando um riso seu.
— Na verdade era só sobre o beijinho do Ggukie mesmo, mas eu aceito o hambúrguer. — Byeol continuou com a expressão persuasiva no rosto.
— Então desembucha!
— É que foi m-muito bom. — Seus lábios se comprimiram, tentando disfarçar o tremular nervoso.
— E?
— E o que?
— Só isso?! — Seus ombros se encolheram diante da mulher disposta a arrancar tudo de si. Mas arcaria com as consequências, afinal, chegou puxando o assunto primeiro.
— O que mais a noona gostaria de saber?
— Onde foi?
— Mas que senhora fofoqueira...
— Eu não sou fofoqueira, sou receptora de informações... — A Byun lhe devolveu a provocação. — e depois, quem veio querendo fofocar foi você.
— Detesto quando a noona tem razão.
— Eu sempre tenho razão! — Ela exclamou ofendida, não conseguindo se conter e rindo junto a si. — Mas vai, me conta tudo.
— B-Bom, — Entrelaçando os dedos, nervoso, começou a se atrapalhar outra vez. — foi na testa, — Byeol suspirou repuxando os lábios em um grande sorriso. — eu tinha dito que beijinhos curavam as feridas, quando nos livramos da coleira no pescoço dele, e fui retribuído na primeira noite de atestado... — As pernas compridas se tornaram inquietas, a sensação de formigamento domando o local do beijinho na pele dourada.
— Esse menino é especial. — A mais velha negou para si mesma, refletindo a atitude tão carinhosa de seu orelhudo.
— Ele é um anjo. — Tae respondeu, com os pensamentos ao longe, naquele momento em que sentiu-o perto o suficiente para que seu coração ficasse doidinho sem esforço algum.
— É sim. — Byun riu baixinho, assistindo seu moleque sorrindo abobalhado para algum canto vago da sala. — E como você se sentiu?
— Eu quase desmaiei!
— Que exagero, Tae! — Apesar de descrente, uma gargalhada alta escapou da governanta.
— Estou falando sério, noona!
— Por que tudo isso?
— Porque me dei conta de que não deveria ter deixado isso acontecer. — Um riso soprado deixou os lábios apessegados e secos.
— Não estou te entendendo, querido, — O sorriso sumiu do rosto da mulher de meia idade. Por que seu menino mudou de ideia tão de repente? — não deveria?
— Tem acontecido coisas que eu tentei expulsar da minha mente, m-mas não consigo ser mais forte, e quando Ggukie está perto, eu simplesmente derrubo todas as minhas barreiras e fico à mercê do que vier dele e...
— Tá apaixonado, — Arregalou os olhos voltando na direção da voz doce. — não me enrole, Tae, está com a mesma carinha de quando contou que gostava de garotos. — Byeol sorriu pequeno com a lembrança.
— Eu tô com medo, noona. — Se aproximando o suficiente para abraçar seu Kimzinho, Byun passou a lhe acariciar os cabelos.
— Tá tudo bem, meu querido, — Sentiu-o a apertar entre seus braços igualmente. — você se lembra do que eu disse na primeira vez?
— Q-Que gostando de garotos ou não, eu teria sempre seu colo e apoio.
— E que eu jamais deixaria de amar você por suas escolhas do coração, quero que seja feliz, TaeTae.
Ambos passaram alguns minutos em silêncio, Tae controlando as lágrimas formadas em seus olhos, e Byeol recordando do garotinho que não tinha medo do mundo, que era o herói de todos os vizinhos, mas que quando o mundo pareceu assustador com sua escolha, refugiou-se em seus braços, como fazia agora.
— A-Agora é diferente. — Não estava apenas interessado, havia muito mais no que sentia pelo Jeon. Ali, Taehyung quis voltar a ser pequeno, onde conseguia se esconder completamente no abraço de sua segunda mãe. — Noona, — Sua voz se tornou embargada. — Me ajuda a tirar isso do meu coração?
— Por que, Tae?! É um sentimento tão bonito!
— É muito grande. — Sem se aguentar, Byun soltou uma risada contra o ombro do garoto bobo.
— Isso tudo é o amor.
— O Ggukie merece muito mais que isso, eu não quero assustá-lo.
— Tae...
— Ele está melhor a cada dia, conquistando um mundo só para ele, um dia, vai seguir sua própria vida, noona.
— E por que ele não pode fazer isso com você? — Tae se calou, não tinha certeza da resposta. — Não sinta medo de demonstrar o que você sente, eu sei que entende em qual ritmo seguir com ele.
— Eu deveria apenas lutar ao lado dele, não cobrar um sentimento que pode aprisioná-lo de novo.
— E quem não gostaria de estar aprisionado com você, huh? — Taehyung soltou uma risadinha, sentindo as bochechas queimarem.
— Não é o momento, estou confuso, meu corpo age completamente diferente do que penso.
— Então tenho certeza de que vão descobrir o momento certo juntos. As suas ações são um bônus.
— Tem chances? — Se afastando, Byun secou as lágrimas inseguras de seu menininho.
— Infinitas.
— Mesmo?
— Mesmo-mesmo.
Tornando a deitar a cabeça no ombro de quem sempre o cuidou, Taehyung encarou a televisão.
— Acho que podemos assistir um episódio do dorama juntos.
— Gostei da ideia!
Rindo pela animação da mais velha em rapidamente manusear os botões no controle e trazer para seu colo o balde de pipoca, se aconchegaram um ao outro para assistir. Como nos velhos tempos.
— Sabe, Tae? — A mais velha recomeçou, depois de dois episódios seguidos cheios de melodrama. — E se voltar a tocar violino?
— Eu não consigo mais, noona.
— Você nunca mais tentou. — Lhe corrigiu ela.
— Não sei mais nem como segurá-lo. — Tinha medo em sua voz, muito medo.
— Tenho certeza de que se tentar, o que aprendeu vai voltar para sua mente, é que durante esse tempo ficou tudo guardado numa caixa bem no fundo da sua memória.
— Vou pensar... — Um sorriso pequeno e ansioso se abriu nos lábios de pêssego. As mãos delgadas formigaram, seu corpo também sentia falta do instrumento.
— Eu sei que tocava com a senhora Kim... eram uma dupla e tanto, — Um suspiro longo escapou em sincronia dos dois. — mas precisa seguir em frente e viver de verdade, Tae, deixar o passado para trás.
— A senhora tem toda razão... de novo. — Os olhos de mel travessos a encararam brilhantes.
— Eu vou adorar ouvi-lo tocar de novo.
— Farei um show especial para a noona. — Riram, voltando ao clima agradável de outrora.
[...]
Ao cair da noite, com o garoto coelho em casa, uma coberta, chocolates e uma grande televisão, Taehyung permitiu-se esquecer de todos os pensamentos tão claros e confusos ao mesmo tempo, aproveitando o resto do tempo que tinha com o anjo, ouvindo-o de forma atenta e encantada comentar sobre o filme que assistiam, ou, o que tinha feito na ONG durante o dia. Adorava aqueles momentos incluídos naturalmente em suas rotinas, lhe deixavam submerso em sensações aconchegantes e singelas, longe de qualquer insegurança.
Quando a hora de dormir chegou, os dois garotos subiram a escada lentamente, adiando o máximo que conseguiam a separação que duraria toda a noite, estarem juntos era uma necessidade, mas ambos tinham medo de onde ela poderia levá-los. Com uma breve e indesejável despedida, as portas opostas se fecharam e ficaram apenas os suspiros tomando conta de seus quartos.
Depois de fazer suas higienes, um preguiçoso coelho se aconchegou entre as cobertas frias de sua cama, passeando os olhinhos pelo quarto conferindo com uma preocupação quase nula se estava seguro, pois sabia que estava, e a sensação da certeza o fazia ter ainda mais preguiça e vontade de se embolar até ficar quentinho em meio as cobertas cheirosas e travesseiros macios. Desejando boa noite de forma muda para seu mini Homem de Ferro, esquecendo-se da imagem triste no quadro ali perto que notou por breves segundos, seus olhos pesados pelo cansaço de um dia inteiro correndo atrás de filhotes espoletas e lendo inúmeros documentos com seu hyung gatinho, foram se fechando lentamente, mesmo que seu lado coelhinho ainda quisesse ficar acordado, o seu humano estava exausto.
No cômodo de fronte, a situação era outra, apesar de tudo em ordem, o corpo grande rolava pela cama sem sentir nenhuma onda de calor. Taehyung também estava cansado, mas ter ficado sozinho trouxe muitas lembranças e pensamentos, e que quando conseguiu colocar um fim naquela onda angustiante, caiu em um sono intranquilo.
Não dormiu por muito tempo, ouvindo dentro de um sonho estranho a voz de sua mãe ao longe chamando-o, seu pequeno pedindo por socorro e seu corpo pesado como uma rocha o impedindo de tentar fazer qualquer coisa para ir até eles. Se sentando rapidamente, passou as mãos pelo rosto piscando várias vezes se habituando a fraca luz no quarto, tentando controlar a respiração, sentindo o suor escorrer por sua testa e a camisa do pijama grudar em suas costas. Com a visão turva, se levantou, suas pernas não tinham forças e os passos restantes até a porta foram incertos, então não soube mais se estava realmente acordado ou se ainda dormia.
Deixando o quarto, caminhou pelo corredor realizando os exercícios de respiração que ainda se lembrava, de quando noites assim ocorreram com frequência anos atrás e sua psicóloga lhe ensinou o que fazer para se acalmar. Escorando-se na parede próxima a porta de seu escritório, pode finalmente fechar os olhos notando seu organismo voltar ao normal, sua cabeça não mais latejava e seu coração não espancava o peito, o ar circulava gelado ao redor, mas parecendo fresco e relaxante para o corpo febril.
Perdendo completamente o sono e ignorando o cansaço, observou a última porta daquela passagem, suas mãos voltaram a formigar, implorando como seu coração por aquele algo que sentia tanta falta.
Tomado por um momento de coragem, deu os passos restantes até o aposento de sua mãe, adentrando lentamente o espaço coberto por lençóis brancos, observando os únicos dois instrumentos livres posicionados próximos à janela. Suspirando, atravessou o quarto com o olhar fixo ali, não era forte o suficiente para olhar mais, abrindo as cortinas e o vidro para que o ar quase congelado entrasse, passando por seu corpo o fazendo tremer.
Levando o olhar para seu antigo amigo, trouxe para suas mãos primeiramente o arco, em seguida, o violino segurando firmemente pela escala. Virando-se para a luz azul brilhante da lua que invadia a janela escancarada, posicionou o instrumento devidamente no ombro e queixo, travando ao resvalar o arco pelas cordas e um som saudoso encontrar seus ouvidos, querendo fazê-lo desmoronar.
Entretanto, faria isso pela sua noona, pelo seu pequeno garoto, pelo que sentia e gostaria de colocar para fora. Dez anos de luto era muito tempo para que permitisse se perder daquele jeito.
Respirando fundo, fechou os olhos depois de posicionar os dedos na escala, sentindo algo preencher dentro de si quando os primeiros segundos de som o invadiram. Então entendeu, não poderia ter deixado algo que o fazia sorrir tanto morrer em seu coração.
Firmando as mãos, deslizou o arco alcançando um tom mais alto e afinado, o ar se tornando quente como uma suave brisa outra vez, palavras doces ecoaram por sua mente aos poucos ficando leve novamente.
"Um sorriso pequeno contornou seus lábios, aquele era só um pouco do poder que seu pequeno exalava apenas com sua presença. Então respondeu:
— Quando eu tinha sete anos, minha mãe me colocou nas aulas de violino e nunca mais paramos de tocar juntos. — O moreno sentou-se ao seu lado no sofá coberto pelo tecido branco, com as orelhas extensas dançando. — A casa nunca tinha sido silenciosa...
— Não toca mais? — O sorriso aumentou, sem conseguir se conter à pergunta inocente, suspirou, apoiando a cabeça no ombro do anjo.
— Não consigo há dez anos.
— Nem sempre conseguimos na primeira tentativa... — Uma lufada de ar escapou de forma divertida de si.
— Tem toda razão, pequeno. — Foi sincero, recordando de quando lhe disse a mesma coisa encorajando-o em sua tarefa de autoconhecimento.
— E acho que só por estar aqui, no meio das lembranças, deu um passo à frente, hyung. — Seu coração deu um salto dentro do peito, com a carícia que recebeu nos cabelos pelo moreno.
— É que me sinto mais forte desde que segurou a minha mão... — Confessou, sem coragem de se afastar, estava envergonhado demais para encarar sua doce paixão.
— Então vamos continuar tentando juntos, TaeTae.
— É uma ideia maravilhosa, Ggukie."
Sorrindo grande e emocionado, deixou as lágrimas contendo todo o alívio que durante anos negou para seu corpo, escorresem. O consolo e conforto chegaram e mandaram embora todos os sentimentos ruins, tocando nota após nota de uma musiquinha de criança, a primeira que aprendeu, não mais sentindo seus pés descalços tocando o chão. Flutuou.
As orelhas felpudas ficaram atentas, abandonando o quentinho das cobertas, bem como o rostinho amassado. Jeongguk despertou ouvindo um som tão bonito quanto o príncipe que sabia estar tocando, a melodia invadiu seu quarto singela e graciosa, o fazendo se sentar para ouvir e cantar em seus pensamentos "brilha brilha estrelinha", era sua música de ninar favorita na infância.
Aconchegado aos cobertores, permaneceu quietinho ouvindo seu hyung tocar. Ele era muito talentoso e dedilhou várias musiquinhas de ninar até que durante um bom tempo o silêncio voltou a se fazer presente, a porta se fechou e passos calmos dançaram pelo corredor, até que a outra porta se fechou e a casa voltou ao breu de antes.
Suspirando, Jeon abraçou os próprios joelhos, sentindo algo estranho dominar seu peito enquanto seus nozinhos rodavam e apertavam, trazendo de infinitas maneiras, com todos os detalhes e luz, imagens do seu herói. Não tendo uma resposta para eles, chacoalhou a cabeça voltando a se deitar, abrindo um sorriso grande cheio de preguiça amolecendo sob as cobertas, imaginando o príncipe tocando com o coração outra vez, o fazendo sentir aquelas coisas estranhas que deixavam tudo confuso, mas que eram indescritivelmente boas.
Poucos minutos depois, os dois garotos ressonavam outra vez, serenos com os corpos leves em seus ninhos de cobertores, Jeongguk sonhando com as estrelinhas da música, Taehyung descansando verdadeiramente, sonhando com suas mãos dedilhando o violino para o anjo, que o ajudou a ter coragem e força para dar um passo à frente também. Ele era seu pequeno herói.
[...]
Durante toda a manhã seguinte, o rabinho felpudo junto das orelhinhas extensas, permaneceram elétricos, demonstrando a agitação do moreno. Ggukie tinha os pensamentos embaralhados pelos nozinhos novos que surgiram de madrugada, aumentando a intensidade enquanto observava seu príncipe sorridente e espontâneo, com o cheirinho de morango e chuva exalando por cada cômodo outra vez. Ele estava completamente bem e uma energia boa dominava-o por ter essa certeza.
Secretamente desejava perguntar se ouviria de novo seu toque tão bonito, se poderia assisti-lo em uma próxima oportunidade, queria dizer que tê-lo escutado trouxe sensações incrivelmente boas, mas não conseguia sequer pensar em ser corajoso, as palavras não saíam de sua boca, ficavam presas em seu peito refletindo em seus reflexos sem que percebesse.
Estar perto do príncipe era estranho, pois sentia como se um ímã o puxasse até que alguma parte de seu corpo encostasse nele, dependia de um mísero toque desde o dia na ONG, desde o beijinho em sua testa, desde seus rostos tão perto daquela forma.
Perdendo-se no ritmo que sua mão deslizava o lápis pela folha, totalmente distraído recordando da respiração serena batendo contra seu rosto, desconheceu o desenho que estava tentando fazer, a imagem sumiu de sua mente e agora somente traços desordenados e firmes demais estavam espalhados pelo papel.
Soltando o ar que prendeu inconscientemente em seus pulmões, chacoalhou a cabeça espantando aqueles nozinhos confusos, amassando a folha, abandonando-a pela mesa de centro, trazendo uma nova em branco para sua frente.
— O que está desenhando, pequeno? — A voz rouquinha inundou seus ouvidos e Jeongguk praguejou em pensamentos seu rabinho, por ter voltado a se remexer de maneira eufórica.
— Nada ainda, hyung. — Respondeu sem encará-lo, desconhecendo a si mesmo por suas reações espontâneas até demais.
— Posso me juntar a você? Temos algum tempo antes do trabalho chamar. — O homem grande sentou-se ao seu lado, com um sorriso começando a se tornar nervoso, como o seu.
— O que vamos desenhar? — Tentou esconder o pingo de desânimo em sua voz, afinal, adoraria passar o dia inteiro com seu herói, porque nem todas as horas do dia e os filmes a noite os satisfaziam mais.
Era uma estranha fase nova em suas vidas.
— Que tal se tentarmos desenhar um ao outro? — O mais velho arqueou as sobrancelhas diversas vezes, fazendo graça.
— É uma boa ideia, hyung!
Mergulhando em um confortável e preguiçoso silêncio pós almoço, os garotos aproveitaram seus corpos automaticamente coladinhos, deslizando os lápis pelas folhas animados, dando destaque aos traços que mais gostavam um do outro.
Passado um bom tempo, o garoto coelho seguia concentrado, com um biquinho nos lábios, enquanto, traçava com cuidado o nariz acentuado com uma charmosa pintinha na ponta. O dono deste, já não desenhava mais, apoiava o queixo na mão assistindo de forma atenta e boba seu talentoso anjo, que ora soprava a franja comprida, ora afastava com as pontas dos dedos de seus olhos. Era uma cena fofa de se ver, mas sabia que poderia estar atrapalhando-o.
— Ggukie, — Chamou, aumentando o sorriso quando o olhar de jabuticaba encontrou logo o seu. — sua franjinha já está te atrapalhando, — Levou a mão na direção dos fios negros, que novamente recaíam sobre os olhos brilhantes, guiando-os para detrás da orelha direita, rindo baixinho quando tornaram a escapar e esparramar na visão do mais novo. — espere um pouco. — Se levantando, foi até o raque abrindo a gaveta, remexendo em algumas caixinhas pequenas até encontrar um prendedor de cabelo, sabia que sempre haveria um ali, pois sempre perdia-os pela casa, voltando os passos restantes até novamente se sentar, dessa vez, de frente para o coelhinho. — Posso? — Ergueu o elástico, sorrindo grande com o assentir fofo que recebeu como resposta. Com delicadeza, entrelaçou os dedos na faixa de cabelo que atrapalhava seu pequeno a desenhar, penteando-a algumas vezes, ajeitando a separação do cabelo, passando o prendedor finalizando suavemente o improvisado penteado. — Prontinho.
— Obrigado, hyung. — Jeongguk lhe agradeceu com um sorriso genuíno de dentinhos avantajados, aumentando a expressão graciosa com a pequena amarra que deixou alguns fios espetadinhos para o alto.
— Não foi nada, pequeno, — Olhando de relance para o relógio preso à parede, o Kim suspirou desgostoso. — esteja sempre com um desse por perto. — Lhe deu uma piscadela, fazendo graça.
— Certo.
Trocaram indecifráveis sorrisos, diante dos pensamentos que surgiram nos poucos segundos de silêncio.
— B-Bem, — Atrapalhado, Tae se levantou novamente. — eu poderia me dar o resto do dia de folga, mas o hyung me mataria. — Jeongguk riu de sua falsa expressão medrosa, assentindo mesmo que não fosse sua vontade deixar o hyung ir.
— Tem que ser um bom menino, TaeTae.
— Eu serei. — Ainda ficaram parados sorrindo feito bobos por um tempo, prolongando a despedida.
Quando a porta da frente se fechou, o coelhinho rapidamente girou nos calcanhares, voltando para o cantinho que se tornou seu preferido na sala, onde tinha visão da cozinha e de sua noona, podendo ir ajudá-la sem que ela precisasse pedir, do outro lado, a neve fofa e um generoso pedaço da horta coberta e um canteirinho, ansiando por suas tocas outra vez, por último, em frente, a imensa televisão onde conseguia assistir cada um dos doramas na enorme lista da mais velha. O único ponto que deixava de ser seu preferido, era a coberta macia que iria contornar apenas seu corpo, passaria todo o dia sem o príncipe outra vez.
Relembrando da brincadeira que faziam, levou o olhar para o desenho ao lado do seu, encontrando traços mais firmes e geométricos, sorrindo quando reconheceu o contorno de seu rosto e olhos. Admirando a arte do hyung, próximo aos fios que dariam início ao seu cabelo, encontrou pétalas, franziu o cenho.
Para si, era difícil decifrar flores, elas tinham uma beleza incomum, com histórias e significados que só o príncipe, tão apaixonado por elas, conseguiria dizer. Os rascunhos das seis pétalas que contou eram extensos e curvados para baixo, no miolo, saltavam espécies de fiozinhos com pompons nas pontas.
Ficou curioso, era uma linda flor, mas não sabia sua cor, nem sua história. Seu pé direito passou a se mover inquieto, queria conhecer aquela flor e só conseguiria quando o acastanhado retornasse para o almoço.
Formando um biquinho nos lábios, suspirou voltando-se para seu desenho, o esboço do rosto bonito ganhando vida em sua folha, tentando se distrair da flor que enfeitava seu cabelo, deixando de lado os nozinhos que o faziam imaginar o motivo dela estar no desenho do príncipe.
[...]
Depois do almoço e de uma indesejada despedida, algo que se tornou rotineiro para os garotos necessitados do contato que fazia seus nozinhos irem embora, Jeongguk subiu a escada um pouco cabisbaixo, levando consigo uma tela e a pequena cesta de pincéis e tintas que dona Byeol lhe deu para facilitar o transporte de um lado para o outro, indo diretamente para o escritório com o cheirinho do príncipe, esse que passava pelo portão do casarão com um enorme bico nos lábios, guiando o carro para a rua. Entre eles, tudo o que Byun fazia era soltar baixas risadas, observando com cautela seus meninos, descobrindo por si mesmos o sentimento que havia notado ali há algum tempo atrás, evoluindo e cedendo a ele, apesar de não poderem parar com suas obrigações e realizar seus desejos juntos.
Com a louça lavada destacando a cozinha brilhando pela sua rápida organização, noona desfez o nó do avental circulando seu corpo e o pendurou em seu lugar no canto do cômodo, sorrindo satisfeita para seu trabalho terminado. Estalando as costas caminhando para a sala, encontrou algumas bisnagas de tintas sobre o tapete e negando para si mesma, os coletou subindo a escada atrás de seu orelhudo.
Parando diretamente no escritório, agora transformado em um estúdio de artes, encostou no batente da porta assistindo o moreninho ajustando com cuidado o cavalete sobre a mesa de vidro, um biquinho na boca e olhos concentrados. Era uma cena adorável de se ver, mais ainda com um prendedor nos fios negros, que começavam a escorregar.
— Querido? — Chamou calmamente, recebendo um sorriso instantaneamente.
— Noona, — Achava uma graça o bico que o coelho usava para chamá-la. — precisa de ajuda?
— Não-não, por hora acabamos todo o serviço — Adentrando o espaço de seu menino, caminhou até a mesa no centro, observando a organização por cores e cerdas dos pincéis, lado a lado. Riu doce. — Encontrei mais bisnagas de tinta pelo caminho.
— Devo ter me esquecido, obrigado, noona. — Assentiu, retribuindo o sorriso dele. Uma das coisas que não conseguiria cobrar de seu menino, era a pequena bagunça com sua arte, pois ele cuidava de suas coisas com carinho e dedicação, mesmo que esquecesse que tinha tantas bisnagas do material colorido.
— Pretende passar a tarde pintando hoje?
— Uhum, Jimin hyung disse que essa semana está uma loucura na empresa do Tae hyung. — O moreno riu baixinho, reproduzindo exatamente o que o gatinho laranja falou por mensagens, lembrando também do príncipe ensinando como fazia para respondê-lo e até mandar carinhas engraçadas.
— É uma pena, — A mais velha se sentou no sofá de couro. — mas podemos por nosso novo dorama em dia mais tarde, o que acha?
— Eu quero, noona!
— Então está bem. — Byeol riu anasalado, assistindo as mãos branquelas apertando algumas bisnagas, aplicando gotinhas de tinta na tela, soprando fios da franja que caíram na visão novamente.
— Noona, pode amarrar meu cabelo de novo? — Manhoso. Estava mimando seu orelhudo como mimava seu moleque. Em breve estaria em uma enrascada com dois mimados e dengosos em casa.
— Claro, querido, — Negando para si mesma, sorrindo atoa, esperou-o vir a seu encontro quase saltitando, sentando-se ao seu lado e inclinando a cabeça em sua direção. As mãos ocupadas com mais bisnagas. — seu cabelo está tão comprido...
— Acho que sim. — Jeongguk sorriu docemente, sentia os cabelos repicados alcançarem além de sua nuca.
— O que acha de cortarmos um pouquinho? — Arregalou os olhos, encarando os da mais velha, que sustentava-os nas mãos mexendo em uma mecha. — Digo, apenas as pontinhas, tirar o que está ressecado e fazer uma boa hidratação, você quer?
— Vai ser só as pontinhas? — Byeol comprimiu os lábios segurando um riso.
— Se você quiser cortar mais, tudo certo também.
— Não! Só as pontinhas já está bom, noona!
— Está bem-está bem! — Gargalhando, Byun ergueu os braços em rendição, com os olhinhos estreitos em sua direção. — A propósito, Tae deixou o cartão dele em casa, quase que numa bandeja de cortesia para nós... — Dando de ombros, um sorriso triunfante dominou seus lábios. — O que acha de tirarmos um dia para um programa de beleza, huh?
Encolhendo um pouco os ombros, Jeongguk pensou por breves segundos, talvez pudesse cortar o cabelo e voltar para casa diferente, algo bom que poderia admirar todos os dias no espelho.
— O hyung deixa?
— Que pergunta boba, Ggukie! — A mais velha bateu as palmas contra as próprias coxas. Exaltada. — Tae jamais negaria algo a nós.
— Ele disse que ia ser um bom menino. — Concordando, Ggukie soltou uma risadinha sapeca, apesar de ter em mente que no futuro pagaria por tudo o que o príncipe estava dando a si.
— Ele tem sido um bom menino para nós. — Cutucando levemente o braço do jovem com seu cotovelo, Byeol influenciou-o a rir também, mas ela também gostaria de dizer mais, de como seu moleque era bom e gentil para tantas coisas. — Vamos?
— Agora?
— Nada melhor que sair para passear sem ter planejado nada.
Sem sequer lembrar-se das gotinhas de tinta escorrendo pela tela, Jeongguk rapidamente abandonou as bisnagas e acompanhou sua noona para além da porta, ansiando pela nova aventura.
Quando a dupla chegou no destino anunciado pelo painel automático, desceram rapidamente, abraçando os próprios corpos em reflexo da rajada fria que os atingiu ao deixarem o carro aquecido. Jeongguk ergueu o rosto observando a fachada colorida de azul, roxo e verde, de tons claros, exibindo o nome do salão de beleza com caligrafia caprichada. Sorriu, parecia um lugar caloroso e animado.
— Vamos sair do frio, querido. — Entrelaçando o braço ao seu, noona o puxou em direção às portas de vidro escuras, empurrando-as com cuidado revelando o interior do salão.
Com os olhos arregalados, percorreu todo o ambiente cheio de cor, todos os instrumentos específicos, poltronas e panfletos que estavam espalhados por toda parte, junto de quatro mulheres que riam alto, cessando a conversa quando os viram.
— Byeol! — A mais velha delas se levantou, vindo a cumprimentar de braços abertos. — Quanto tempo minha querida amiga!
— Eu planejava vir antes, mas muitas coisas aconteceram em casa. — A Byun riu baixinho, soltando-se de seu menino para apertar a outra mulher.
Jeongguk as observava com atenção, tentando encontrar o cheirinho de baunilha de sua noona outra vez, esse que se perdeu no ar com o da mulher de fios grisalhos o sobrepondo. Ela tinha olhos enrugadinhos e usava óculos, suas mãos eram livres de qualquer adorno, usava brincos de argola e roupas coloridas, dos mesmos tons do salão de beleza, e seu cheiro era curioso, uma mistura de agridoce e shampoo.
— Então vamos se sentar, porque todas nós queremos nos atualizar! — Então aqueles olhos atrás das lentes de armação vermelha, encontraram os de jabuticaba, subindo para as orelhinhas que tinha sobre a cabeça. — Você comprou um híbrido, Byun Byeol?! — Exclamou horrorizada.
— Não! — Desvencilhando da amiga, a mais velha contornou suas costas, -estava querendo se esconder atrás dela-, fazendo-o ficar ao seu lado. — Não pense que sou louca, Areum! — De ombros encolhidos, continuou apenas as observando. — Jeongguk é parte da nossa família agora...
Aquelas palavras, somadas ao gigantesco sorriso que a mais velha lhe deu, fez com que seu olhar negresco marejasse e abaixasse a cabeça para impedi-las de ver. Seu coração palpitou alegre e ao mesmo tempo desesperado, era indescritivelmente bom ouvir aquilo, como se pudesse se aconchegar e sonhar com aquele lar.
— Ah! Quanto amor! — Ouviu a mesma voz aguda, em seguida, a mulher se aproximando de si agarrando suas bochechas. — Estou torcendo por você e sua nova família, querido! — Concordou devagar, com os lábios comprimidos em um bico.
— O-Obrigado, noona. — Conseguiu agradecer em um fio de voz, levando os olhinhos na direção da Byun, que o olhava de volta ainda com um enorme sorriso no rosto.
— E a partir de hoje eu não venho mais sozinha. — Byeol falou calorosa.
— É uma alegria atender vocês! — As outras mulheres se juntaram à mais velha do grupo, curiosas com as orelhas dançantes do único garoto ali.
— Nós vamos fazer um bom trabalho.
Igual eu e meu príncipe. Pensou Ggukie ao ouvir a mais jovem entre elas.
— O seu é o de sempre, não é, minha querida? — Com o assentir da Byun, que soltou-o para ir em direção a uma das poltronas de couro, com uma espécie de caixa atrás, dona Areum se virou para seu novo cliente, antes que esse pudesse seguir a governanta, como um filhote que segue seu progenitor. — E você, querido? Talvez queira um corte curto e platinado? Raspado dos lados? Um corte estilo samurai? Ou um... — Ela foi interrompida pela voz baixinha e tímida.
— Eu quero cortar só as pontinhas... — As quatro mulheres se obrigaram a permanecer em seus lugares, porém por dentro gritavam eufóricas, com vontade de apertar o garoto adorável.
— Bom, — Pigarreando, Areum voltou a postura neutra. — se é o que você quer, então é o que vamos fazer. Venha, querido.
Seguindo-a, corando com os comentários que ouvia das outras três noonas, Ggukie se sentou ao lado da sua noona preferida, observando-a pelo cantinho do olho, confirmando que ela estava bem ali, do seu lado, assim como as palavras que ainda ecoavam em sua mente.
— Eu vou lavar seu cabelo, tudo bem? — Chacoalhando a cabeça, voltando a prestar atenção em dona Areum, concordou, imitando a mais velha que se inclinou encaixando o pescoço na poltrona, jogando os cabelos dentro da caixa.
— Tome cuidado com as orelhas do meu menino, Areum. — Byeol deu o aviso e um novo solavanco feliz tomou o peito do coelhinho.
— Eu vou cuidar bem dele, Byeol.
Num primeiro momento depois das curtas risadinhas, Jeongguk fechou os olhos com força, suavizando a expressão conforme sentia a água quentinha molhando seus fios, aquilo era relaxante e seu corpo foi cedendo ao conforto e às mãos suaves amassando suas mechas.
Com o passar dos minutos e o cheirinho doce do shampoo inundando o ar, ficava mais molinho e entregue a sua nova noona, que ria baixinho massageando seu couro cabeludo, tomando todo o cuidado com as orelhas que ameaçavam baixar preguiçosas a qualquer momento.
— Você se sente bem, querido? — Byeol perguntou atenciosa, parando em sua frente com uma toalha enrolada em seu cabelo e outra contornando os ombros.
— Uhum... — Resmungou ainda de olhos fechados, arrancando alguns risos das mulheres ao seu redor.
— Que menino dengoso você criou, senhora.
As bochechas mais gordinhas tornaram-se vermelhas e Ggukie impediu-se de abrir os olhos, envergonhado, mesmo que gostasse de ver sua noona rindo.
— Ggukie e TaeTae são os meus bens mais preciosos.
Abriu um sorriso largo e emocionado, ainda de olhos fechados. Estava confortável, relaxado e com o coração quentinho. Noona fazia tanto por si e não tinha se esquecido do presente que daria a ela, ansiando pela primavera para enfim poder retribuir todo o seu cuidado e carinho. Seu rabinho esforçou-se para dançar, animado com a ideia, bem como suas orelhinhas.
— Dois sem vergonha. — Mordeu o interior das bochechas, contendo uma risada.
— Eu lembro de como era o TaeTae na infância, um furacãozinho. Agora deve ter se acalmado. — Areum riu nostálgica, adorava fazer o famoso corte tigelinha no acastanhado.
— Que nada! Ele continua testando meus limites. — Byun negou para si mesma, sentando-se em uma cadeira em frente ao espelho, à esquerda de seu menino, observando-o abrir os olhos apenas para conferir onde estava. Um dengoso fofo.
— Você que o criou assim.
— o pior é que criei quatro homens assim e agora estou fazendo o mesmo com o Ggukie.
Todas riram divertidas, revezando-se para fazer os cabelos e unhas das mãos da governanta vaidosa.
— Eu gosto, noona. — Sorriu fofo para a mesma assim que dona Areum pediu para se sentar, deixando suas orelhas caírem quando sentiu a maciez da toalha.
— Espertinho. — Noona estreitou os olhos para si, rindo logo em seguida. — Meu menino mais calmo é o Ggukie.
— E o mais bonito também!
Encolhendo os ombros, se sentou novamente ao lado de sua noona, com o rabinho inquieto chamando a atenção das mulheres de idade curiosas, que achavam fascinante cada detalhe nele.
Após procurar pelas gavetas da mesa, observou a mais velha tirar um plástico preto da última, jogando-a por cima de seu tronco, prendendo o velcro atrás de seu pescoço.
— Para não grudar fios de cabelo na sua roupa, — Concordou. — querido, eu vou usar essa tesoura e tirar só as pontinhas quebradas, como me pediu, veja... — Dona Areum lhe mostrou o instrumento afiado, procurando por um pente adequado enquanto deixava-o observar a tesoura. — posso começar? — Assentindo devagar, obrigou-se a focar em sua própria imagem no espelho, assistindo-a pentear seus cabelos cuidadosamente, para logo após, passar o pente demarcando o final de uma de suas mechas, cortando.
A cada barulhinho emitido pela tesoura, uma de suas orelhinhas dobrava a ponta, não conseguia controlar o movimento, por mais que tentasse deixá-la rígida. Voltando para sua imagem, aproveitou aqueles infindáveis minutos para realizar a tarefa de sua amiga panda e se distrair, falando dentro de seus pensamentos o que gostava e não gostava.
Eu gostei de vir ao salão de beleza.
Não gostava muito de como meu cabelo estava antes.
Gosto de sair para passear com noona.
Ainda não gosto muito de andar em carros, mas a voz da noona e do príncipe me acalmam... me fazem conseguir respirar aliviado.
Erguendo os olhos, interrompeu a si próprio ao que Areum parou em sua frente, penteando a franja para então cortá-la. Tentando não mover a cabeça, seus olhinhos percorriam o caminho que os fios cortados faziam, parecia mais do que apenas as pontinhas e seu pé direito passou a bater contra o chão.
— Eu juro que não estou tirando muita coisa, confie em mim que o resultado vai ser o que espera. — A mais velha sorriu calorosa, fazendo os últimos cortes. — E prontinho!
Virando a cabeça para um lado e para outro, Ggukie começou a avaliar os fios, agora pareciam estar do mesmo jeito de antes, piscou confuso.
— É depois de seco que você verá a diferença... — A cabeleireira riu baixinho, mexendo nos fios sedosos e hidratados com seus melhores produtos, pegando com a mão livre o secador de cabelo rosa que descansava na mesa. — vou por em uma potência menor, para não incomodar as orelhinhas, tudo bem?
— Certo, noona. — Sorriu pequeno, sentindo o ar quente tocar seu cabelo e bagunçá-lo, logo, sendo ajeitado pelos dedos da mais velha.
Com o ar um pouco mais frio em um dia congelante, demorou algum tempo para secar todo o cabelo negro e incrivelmente brilhante, terminando com a franjinha sendo jogada para o lado, repartindo o cabelo escorrido e um sorriso orgulhoso na face de Areum.
— Terminei, querido! — Bagunçou os fios apenas para vê-los se ajeitarem naturalmente. — O que achou?
Jeongguk não a respondeu de imediato, inclinando o corpo para ficar mais perto do espelho, olhando para seu cabelo liso e cortado, estava diferente com aquele leve corte e seus fios não cobriam mais seus olhos e mostravam suas sobrancelhas, a repartição, um pouco de sua testa. Seu rosto pareceu estar diferente também, era um Jeongguk diferente e pela primeira vez... bonito. Estava se sentindo bonito, como desejava ver sua imagem a muito tempo.
— Ggukie? — Afastou seus nozinhos com a voz serena de noona o chamando.
— Eu achei bonito, — Sorriu largo, erguendo as mãos tocando seu cabelo tão macio e cheiroso. — muito bonito. — Queria conseguir dizer mais coisas, estava fascinado com sua nova imagem, porém nada mais saiu de seus lábios pelos breves segundos seguintes. — Obrigado, noona! Eu gostei muito!
— Que bom que gostou, meu querido! — A mulher com cheirinho de shampoo sorriu de volta. — Esse corte mais despojado combina com você.
Ggukie sabia apenas sorrir e se admirar. Com certeza, aquela nova aventura o levou a dar mais um passo na direção de seu amor próprio.
— Você está tão lindo, meu menino! — Beyol arfava emocionada, também com os cabelos secos e escovados, levantando-se para bagunçar o cabelo do mais novo, arrancando risadinhas suas.
— Obrigado, noona. — Chamou o olhar dela com o seu, transmitindo a sua gratidão não apenas pelo novo corte de cabelo, mas por muitas outras coisas que ela tinha feito por si.
— Não precisa me agradecer, querido. — No tempo que ela lhe dava um afago na bochecha, Ggukie assistiu os fios mesclados brilhosos escorregarem caindo sobre seus ombros e busto.
— Está muito linda também...
— Modéstia a sua, menino! — Fazendo graça, a Byun levou uma mecha para trás da orelha. — Vamos? — Assentindo, prontamente estava de pé ao lado da governanta.
— Mas já vão? — Areum largou seus instrumentos, voltando-se para eles tristonha. — Você nem nos contou a história desde o início, Byeol!
— Viremos outro dia com mais tempo, há coisas que preciso comprar e a história dessa família é longa.
— Não demorem!
— É uma promessa. — As amigas de longa data se abraçaram, seguindo juntas para o caixa acompanhadas do garoto coelho, que virava vez ou outra para trás observando-se no espelho, enquanto, sua noona pagava conta.
Saindo do salão de beleza, ao invés de atravessar a rua recheada de neve e adentrar o carro branco, a governanta passou a guiar seu menino pelas ruas.
— O que precisa comprar, noona?
— Nada, — Seu olhar curioso caiu sobre a mais velha, que deixou um riso soprado escapar. — na verdade... estou com muita preguiça de preparar nosso lanche da tarde hoje, então vamos comer por aqui.
— Mas e o nosso dorama? — A Byun quase saltitou com a pergunta, adorava vê-lo falante daquele jeito.
— Assistimos quando voltarmos, em casa deve ter alguma guloseima para nós. — A risadinha suave agraciou seus ouvidos. — Aqui, chegamos. — Parou em frente a uma vitrine exibindo tortas e bolos de diversos sabores.
Os olhinhos de jabuticaba rapidamente percorreram por todos eles, Jeongguk farejava o ar encontrando os aromas docinhos que vinham das portas ao lado e seu estômago roncou.
— Vamos virar formiguinhas de tanto comer doce hoje. — Gargalhando, Ggukie permitiu-se ser guiado para dentro da confeitaria colorida e cheirosa, acompanhando sua noona sem se lembrar de que antes teria medo, agora sentia que poderia aproveitar cada segundo.
Com um novo anoitecer, as orelhas extensas e felpudas se alertaram, dançando conforme o som familiar do carro escuro encostando na garagem surgiu, fazendo o dengoso coelho saltitar do escritório para a sala em poucos segundos. Sua noona estava em seu quarto e não viria receber o príncipe, então viria ele.
Quando a porta se abriu, revelou o homem grandão com feições cansadas e corpo tensionado, tirando os sapatos com preguiça após fechar a entrada impedindo o frio de continuar entrando.
— Meu pequeno! — Ao encontrá-lo m, Tae pareceu despertar e recarregar as energias, exibindo um sorriso quadrado, largando o casaco grosso no cabideiro e a maleta sobre o balcão de mármore. — Cheguei. — Ergueu os ombros, um pouco tímido, arrancando uma risadinha do moreno.
— Você chegou, hyung...
Com a aproximação de Jeongguk, o acastanhado pode notar algo diferente nele, nos fios não mais ondulados e nem caindo sobre seus olhos, na franjinha extremamente lisa repartindo-se de maneira adorável, e de absolutamente tudo brilhando dando realce ao rosto bonito. Ficou imóvel, apenas o admirando.
— Nossa... — Conseguiu proferir depois de um bom tempo, contendo a vontade de tocar o cabelo tão lindo e macio.
— Noona me levou para cortar só as pontinhas. — O sorriso de dentinhos avantajados que o apunhalava diretamente no coração, se abriu.
— Está lindo, meu pequeno...
Agora foi a vez de Tae se aproximar um pouco mais, e Ggukie inconscientemente prendeu a respiração. Em frente ao espelho, gostou de ver e se sentir bonito, mas com o elogio vindo do príncipe, se sentia estranho, afinal, tudo o que vinha dele era diferente, trazendo sensações indescritíveis. Não controlou o rubor de suas bochechas e o arrepio que passeou por todo seu corpo, enquanto, ele não parava de olhar para si, buscando seu olhar também, porém estava envergonhado demais, observando a sala ao redor sentindo vontade de sair pulando. Até seus bigodinhos se agitaram.
— O-O hyung gostou?
— Eu adorei... — O Kim sentiu que poderia passar a noite inteira o observando com seu novo corte de cabelo. — mas e você, gostou? — Perguntou atencioso, rindo baixinho com o assentir frenético que recebeu como resposta. — Então tudo certo.
Ambos passaram por um curto momento de silêncio, apenas sorrindo de forma singela um para o outro. Tae não queria deixá-lo mais envergonhado, e Ggukie ainda pensava em como seu corpo e nozinhos reagiram ao elogio do príncipe.
— Estou preparado para planejarmos o que vamos fazer hoje. — O mais velho sorria até mesmo com os olhos, em uma mistura de desespero e timidez para com o garoto especial.
— Noona disse que a primavera está chegando, — Um brilho diferente tomou o olhar de jabuticaba. — temos que pensar nas flores que vamos plantar, TaeTae.
— É uma ótima ideia! — A animação na voz rouca acelerou um pouco mais o coração do coelho. — Podemos planejar nosso jardim assistindo um episódio daquele dorama, o que acha?
— Acho maravilhoso, hyung! — O rabinho elétrico e as orelhinhas dançantes não permitiam o de fios negros de esconder sua enorme vontade de ficar junto do seu herói, dividindo uma coberta podendo ouvi-lo falar sobre flores.
Separados por uma pequena quebra de tempo, em que Tae sentiu-se relaxar com um bom banho quente e sua maleta longe o suficiente até a manhã seguinte, retornou ansioso para a cozinha vestindo seu pijama mais confortável sob o roupão, devorando o jantar depois de um dia inteiro tomando xícaras de café, ouvindo o que os outros dois tinham feito durante o dia e elogiando a mais velha apenas para poder reclamar por não ter sido chamado para tratar seus fios também.
Entre os risos e conversas, passou a esquecer-se do mundo fora de sua casa, desejando boa noite a dona Byeol e se aconchegando em sua paixão, compartilhando tudo o que tinha pensado para o novo jardim, sorrindo grande com as sugestões vindas na voz suave e dos olhinhos vasculhando seu rosto, enquanto falava, trazendo uma sensação incrivelmente boa, onde estava falando de algo que amava para a pessoa que era completamente apaixonado.
A madrugada brilhava em cores sombrias e extremamente gélidas outra vez, porém os garotos não a sentiam, seus olhos estavam vidrados na tela da televisão, enquanto, suas mãos seguiam entrelaçadas e suas pernas dividiam o calor da coberta compartilhada.
"— Senhor..."
Jeongguk mal piscava, depois de todas aquelas últimas cenas do dorama do Goblin, sequer teria palavras para explicar seu corpo todo arrepiado e as inúmeras sensações que ainda sentia.
"— você sabe quem eu sou, não sabe?"
O aperto entre suas mãos aumentou, não saberia dizer quem fez o gesto primeiro, finalmente os dois personagens tiveram seus caminhos cruzados novamente. Seus olhares eram expressivos e Ggukie poderia jurar que sentia o que estava refletindo nos peitos deles também.
"— Minha primeira e única... noiva do Goblin."
No tempo em que a música ao fundo se tornava alta e intensa, afastando-os do homem e da mulher encerrando o dorama, os corpos lado a lado no sofá não moveram um músculo durante bons minutos. Jeon não assimilava o término, tinha assistido todos os episódios tão rápido assim? Queria mais, mais da história, mais dos personagens os quais se apegou, desejava a certeza de ter entendido cada detalhe, e se tivesse deixado algo passar? Por que acabou daquele jeito? Estava fascinado pela história do Goblin e sua noiva, entretanto, queria mais. O que aconteceu depois?
— Finalmente acabou! — Tae soltou suas mãos, erguendo os braços e esticando também as pernas, se seu pequeno lhe perguntasse sobre as lágrimas em seus olhos, diria que eram devido ao sono que sentia.
— Foi tudo muito bonito... — Jeongguk suspirou, prestando atenção nos créditos que subiam pela tela, decorando os nomes dos atores que tanto gostou.
— Foi mesmo. — Os olhinhos negros brilhantes encontraram os castanhos, depois de uma fungada de Tae.
— Não fique triste, hyung, nós podemos começar um novo dorama juntos! — Aquele grande e bonito sorriso era o ponto fraco do Kim. Como o anjo agora vivia de sorrisos, cedia qualquer coisa a ele.
— Tudo bem, mas eu escolho o próximo. — Lhe retribuiu o sorriso, tendo em mente um com mais ação e armas e máfia.
— Certo. — O garoto coelho assentiu, voltando-se para a televisão, no momento com a logo pausada no último episódio. — Noona disse que é apaixonada pelo Goblin. — Soltou uma risadinha se lembrando dos suspiros da mais velha pelo humano sorrindo ali.
— É... Ele até que é bonito.
Taehyung controlou a vontade de cruzar os braços e um bico ciumento contornar seus lábios. Os únicos homens bonitos na vida de sua noona eram eles, ela não precisava de mais.
— E você? Também é apaixonado por ele?
Perguntou em parte de uma brincadeira, apenas para não terem de se despedir e ir dormir, porém, o sorriso, o silêncio e o narizinho juntos das orelhas fofinhas se agitando, somando a Ggukie sem o olhar, acertaram diretamente seu coração.
— Ele é bonito...
Taehyung controlou o som despedaçado que quis escapar, mas estava tudo certo. Tentou não demonstrar nenhuma reação. Se seu pequeno trocava até o homem de ferro por si, e tinha a cartinha de natal como prova, ele trocaria o Goblin também.
E afinal, ele era só um personagem! O que estava se agitando em seu interior desejando intensamente que Jeongguk olhasse apenas para si, sendo que o Goblin sequer existia?!
Não, não poderia ser assim, porque também tinha um fraco pelo Capitão América e um maior pelo Pantera Negra. Ainda sim, não um comparado com o que tinha pelo garoto coelho. Ah, o anjo o deixava com as pernas bambas.
Soltou o ar devagar. Era um pateta, apesar de não conseguir controlar o coração desesperado tentando chamar a atenção do olhar de jabuticaba.
— Hora de ir dormir. — Se levantou primeiro, deixando a coberta com o outro, desligando a tv e abandonando o controle no raque.
Rindo baixinho por entender que seu hyung sentia ciúmes de noona, Jeongguk imitou seus gestos, seguindo-o para a escada.
— Hyung?
— Sim?
— Amanhã, antes do novo dorama, nós podemos assistir Homem de Ferro de novo?
— Claro que sim, pequeno. — O acastanhado respondeu abrindo um sorriso bobo, retribuindo o fofo de dentinhos avantajados que era direcionado para si. Jeon era um manipulador adorável e isso se tornaria um perigo.
No corredor, se despediram com o maior distribuindo um beijinho na testa coberta pelos fios negros escorridos, tímidos "boa noite" ecoaram e o mais novo entrou primeiro, envergonhado demais para continuar encarando o príncipe.
Por último, esse desviou o caminho para o fim do corredor, onde seu amigo de madeira especial já o esperava. Desde que voltou a tocar pequenas melodias, o Kim se acostumou rapidamente com a posição de seus dedos, com o instrumento entre seu ombro e queixo, com os sons incrivelmente belos que desde criança gostava muito de ouvir, mais ainda quando ganhou o poder de fazê-los também.
Ficando de frente para a janela, sem precisar encarar o quarto de sua falecida mãe, trouxe o violino para seu encaixe, começando a ensaiar as primeiras notas, logo, músicas tristes para o final do inverno, pois nenhum floquinho caía mais do lado de fora e a noite estava brilhando.
Não precisava de partituras, apenas de sua mente e coração, cheios de lembranças, as músicas que tocava pareciam nunca ter o abandonado, não errou nenhuma nota, mesmo quando virou-se para o resto do enorme cômodo, para o retrato da mulher com o rosto idêntico ao seu na parede. Ao contrário da emoção que esperou sentir, foi tomado por uma doce e cheia de saudade. Estava conseguindo olhar para sua mãe outra vez, sem cair em um buraco profundo de dor.
Seguindo o conselho de sua segunda mãe, soltou a respiração pensando no que vivia agora e no que desejava viver no futuro. Não tinha mais medo de que algum dia pudesse se levantar e simplesmente ter esquecido da Kim, nem de que seu pai voltaria com a cara lavada pedindo dinheiro. O casarão então voltou a ser um lugar confortável, que não sentia apenas a necessidade de passar a noite para voltar a trabalhar no dia seguinte. Agora, quanto mais tempo pudesse ficar com o anjo, mais a casa se coloria.
Parando de tocar por um tempo, imaginou as paredes enfeitadas com quadros de Jeongguk, antes não imaginava que seus sentimentos poderiam tomar aquela proporção, que o moreno se tornaria alguém tão especial para si ao ponto de sonhar com ele todas as noites e em cada um desses sonhos, entregar a ele um pedaço do mundo ideal que sabia que desejava e continuaria trabalhando duro para isso.
Deixando de lado todos os pensamentos, até mesmo as músicas clássicas, se desafiou, sorrindo para sua mãe, enquanto se lembrava de músicas mais agitadas, com significados grandes e românticos. Encontrando uma que parecia perfeita aos seus ouvidos, tentou imaginá-la ao suave toque do violino, transformando a melodia eletrônica em uma suave e acústica. Errou várias notas, mas pegando o jeito de como se lembrava da transformação das cifras que o ajudavam a tocar qualquer música, passou a alcançar notas altas e doces, até que seu coração estivesse sincronizado com o instrumento sob seus domínio.
Paz. Tae sentia-se leve e finalmente descansava toda vez que tocava, voltando a descobrir-se de onde havia desistido no passado. Não sem se lembrar a cada segundo de onde toda aquela força partia, ou melhor, de quem vinha a onda gigantesca que lhe dava a sensação de ter o mundo nas mãos e o poder para fazer o que quisesse.
Ao terminar a canção, sentou-se no sofá embaixo da janela, com o peito vibrante e o corpo leve, deixando que o sono e a preguiça começassem a invadi-lo lentamente.
Ainda refletindo sobre a música que apareceu de repente e logo indo para as cordas e arco do violino, um sorriso grande se apossou de seus lábios enquanto se lembrava do que ela dizia e para quem gostaria de dedicá-la.
Se levantando a fim de conferir se esse alguém estava confortável dormindo tranquilamente, posicionou seu amigo no devido lugar outra vez, despedindo-se mentalmente esperando ansioso pela próxima noite. Ainda não tinha coragem de permitir-se ser visto tocando.
Abandonando o quarto após uma última olhada para os olhos castanhos brilhantes que herdou, Tae encaminhou-se devagar pelo corredor até a porta do quarto do garoto coelho, anestesiado pela música rondando seus pensamentos, cantando baixinho como uma prece.
"Oh, angel sent from up above
You know you make my world light up
When I was down, when I was hurt
You came to lift me up
Life is a drink and love's a drug
Oh, now, I think I must be miles up
When I was a river dried up
You came to rain a flood
Oh, angel sent from up above
I feel you coursing through my blood
Life is a drink and your love's about
To make the stars come out
Put your wings on me, wings on me
When I was so heavy
Poured on symphony
When I'm low, I'm low, I'm low, I'm low"¹
Respirando profundamente, foi levado quase inconscientemente a abrir a porta do cômodo iluminado de dourado pelas luzes dos abajures, no entanto, de cenho franzido, observou a cama vazia, a porta aberta, mas a luz apagada do banheiro também.
Voltando, tranquilizou-se, afinal, o moreninho poderia ter descido para beber água, e deixando-o à vontade, entrou em seu próprio quarto fechando a porta com um baque suave.
Porém, ao que seus olhos repousaram na cama de casal, seu queixo foi de encontro ao chão com a onda formada por algo debaixo das cobertas, no lado direito do leito.
Se aproximando devagar, com seus olhos duas vezes maiores reluzindo a luz dourada que contornava seu corpo, inclinou o tronco, soprando o ar em um riso desacreditado ao encontrar um par de orelhas brancas e os olhinhos fechados na expressão de bochechas coradas, demonstrando o garoto quentinho.
O que estava acontecendo?
Sua mente se tornou um nó gigante e seu coração disparou como pipocas estourando.
Um movimento preguiçoso se fez sob as cobertas.
Todo bobo e atrapalhado, decidiu falar algo.
— Suponho que tenha errado a porta do quarto, Ggukie...
Riu baixinho, ainda embasbacado, agradecendo por não ter gaguejado.
Sem que soubesse, seu sussurro preencheu o lugar arrepiando as orelhas branquinhas. O sorriso quadrado exagerado nos lábios de pêssego demonstravam todo o seu nervosismo.
— Não errei, hyung... — A voz mansinha e sonolenta o desmontou. — posso ficar com você?
— Claro, pode, claro!
Sem saber direito o que estava fazendo, ou, o que a temperatura elevada em seu rosto queria dizer, ou ainda, fingindo não saber, Taehyung correu para o banheiro, se enrolou em suas últimas necessidades e tropeçou no tapete felpudo antes de chegar na cama outra vez.
Apesar de estar todo desconsertado, sorriu grandiosamente, puxando as cobertas para se deitar ao lado do dono dos olhos mais lindos que já viu. Respeitando-o totalmente, se acomodou bem na ponta do colchão, permitindo um generoso espaço apenas para ele.
— Durma bem, TaeTae.
Tentou respondê-lo, mas em sua voz soltou um resmungo indecifrável, o anjo queria matá-lo de vez, só podia! Logo quando teve certeza do que sentia.
— D-Durma bem, pequeno.
Fechando os olhos, tentou dormir, mesmo que o sono tivesse desaparecido e as vibrações da respiração do outro o amolecessem dos pés aos fios de cabelo. Como se contasse uma melodia em sincronia com a sua.
Pelos nozinhos que apertaram o distraindo, o acastanhado foi caindo em sonhos lentamente, demorando para desvendá-los, recusando-se a abrir os olhos outra vez. Não notou quando as rugas desapareceram de sua testa e olhos negros bem atentos perceberam, ocasionando no corpo menor se aproximando aos poucos, buscando calor.
Só então os garotos relaxaram e dormiram de vez.
Com os primeiros raios de sol o cumprimentando, refletidos na tela da televisão na parede oposta, Taehyung abriu os olhos lentamente, sentindo o nariz coçar com a cabeleira negra espalhando-se na região e causando cócegas. Remexendo-se, sentiu o corpo menor encaixado ao seu, seus braços estavam preenchidos e um pedaço de pele quentinha resvalava por seu pescoço. Ah, aquela sensação era indescritível, nem houve tempo para que pudesse raciocinar, o calor vindo de Jeongguk junto da respiração calma, pesou seus olhos outra vez e só pode se aninhar ainda mais a ele e voltar a dormir, sem se importar com a hora...
— Tae! — Se remexeu, um bom tempo depois, abraçando o ar, franzindo o cenho por não encontrar o que desejava. — TaeTae!
— Hum? — Se arrastando para o meio da cama, conseguiu abraçar o antebraço apoiado no colchão, do garoto bem desperto e cheio de energia.
— Acorda, hyung! A neve está indo embora! — Abrindo os olhos inchados pela noite inteira apenas de sonhos bons e descanso de verdade, Taehyung piscou um pouco atordoado, observando seu pequeno ajoelhar-se sobre o colchão, apoiando as mãos na cabeceira, sorrindo para a luz quase laranja que banhou seu rosto, do sol ainda fraquinho tomando seu lugar.
Se erguendo preguiçosamente, imitou o gesto do moreninho, sorrindo para o vidro embaçado escorrendo gotinhas geladas do lado de fora. Com a própria mão, afastou o mormaço que suou a janela, conseguindo observar nitidamente agora através dela, suas amigas árvores com os galhos livres de qualquer floquinho de neve, iluminadas pelo sol majestoso.
— A primavera chegou, Ggukie. — Anunciou sorrindo, despertando devidamente com o novo ataque em seu peito, dos dentinhos avançados se exibindo, juntando a expressão encantada observando a manhã mais quentinha.
— A primavera chegou...
Ggukie nunca conseguiu ver com seus olhos inocentes a troca de estações, e agora, se desejasse, poderia passar o dia todo na janela, seguro e quente, assistindo o fenômeno natural agir lentamente no jardim de galhos secos das árvores e canteirinhos vazios. Poderia passar o tempo que quisesse do lado de fora, ajudando a terra a expulsar a neve, escolhendo a cor das flores que ganhariam um espacinho nas circunferências de cimento, sentindo o sol aquecendo-o um pouco mais.
A sensação da estrela, do vento, da chuva fresca, era boa e linda, trazendo novos sonhos, trazendo a primavera, uma nova fase para partilhar com seus hyung, com noona e principalmente com seu príncipe.
───────•••───────
Notas Finais
Então, o que acharam??
As coisas entre eles estão evoluindo, devagar mas estão indo hehe
Esses dias fiquei pensando no ritmo da fanfic e subiu algumas paranóias, mas confiem, tá tudo programado ;)
Eles na ONG me deixa animada para mostrar mais, porque é um lugar que vai contar muita história ainda aaaah
O Hoseokie com a Eunbi, será que ele convence ela a ceder? 👉🏻👈🏻
Ggu e Tete tão criando intimidade, até para plantar flores juntinhos nessa primavera 🥺
Quero ver se consigo montar um cronograma que de fato eu siga :'), porque agora terão mais personagens e o ritmo acelera até o final do segundo arco. Quem vcs acham que vai aparecer?
Também tem a tradução da parte que o Tete cantou:"Oh, anjo enviado lá de cimaVocê sabe que você ilumina o meu mundoQuando eu estava triste, quando eu estava machucadoVocê veio me levantarA vida é uma bebida e o amor uma drogaOh, agora acho que devo estar milhas acimaQuando eu era como um rio secoVocê veio para chover uma inundaçãoOh, anjo enviado lá de cimaTe sinto correndo pelo meu sangueA vida é uma bebida e o seu amor está prestes a fazer as estrelas apareceremVocê colocou suas asas em mim, asas em mimQuando eu estava tão pesadoDerramou uma sinfoniaQuando eu estava baixo, baixo, baixo, baixo"
Se vcs quiserem, me sigam no twitter, @MissMinie_, assim poderemos interagir mais do que só uma vez no mês :3, estou tentando trazer conteúdos exclusivos da fic lá hehe
Espero que tenham gostado e me perdoem os errinhos!
Até a próxima att, anjinhos! Se cuidem! 💜
Bom diatardenoite!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top