16: Um Nozinho Diferente

Notas Iniciais

Oii anjinhos! Como estão? Meu Deus que saudade! 😭😭😭

Vindo aqui essa hora finalmente trazendo uma att toda cheirosa para vocês! Eu demorei e peço desculpas, agora que as coisas aliviaram com o colégio e TCC e estou conseguindo entregar o capítulo, mas ficou do jeitinho que eu queria! 🥺💕

Agora posso anunciar enfim, que voltamos a programação normal hehe com muita baitolice e surpresinhas 🌚 

Sem me enrolar muito, quero avisar que nosso coelhinho terá uma lembrança e ela contém tortura psicológica, então tomem cuidado na hora de ler. Deixando claro que em momento algum estou romantizando isso.

Espero que gostem! Que a demora tenha compensado hihi 💜

Comentem o que forem achando, estou mega insegura, por favor!

Mas antes! A garrafinha de água, cadê? 👀

Boa leitura! 💜

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"Todos os meus problemas parece desaparecer. Todos de quem eu sinto falta quando estou distante. Todos estão aqui. Eu preciso amar, só um pouco, porque o amor é verdadeiro. Eu preciso todo fim de semana sair com você. E meus amigos porque eles são tão lindos. Sim meus amigos, eles são tão lindos. Eles são meus amigos."

Friends - Band of Skulls

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O caminho bonito e nevado ao redor do carro vermelho, familiar para o garoto coelho, seguiu-se em um aconchegante clima protagonizado com as músicas animadas tocando baixinho no rádio. As orelhinhas triangulares e de tom alaranjado, perfuradas pelas argolinhas charmosas, criavam um quase imperceptível barulho com os movimentos alegres, ajudando a compor a expressão no rosto de Jimin, dirigindo com atenção, sem precisar olhar para o garoto admirado com a vista, ao seu lado, para saber que compartilhava dos mesmos feromônios agitados, seus instintos sentiam isso, no cheirinho de torta de limão oscilando a intensidade de minuto em minuto.

Jeongguk mantinha os olhos fixos à janela, respirando tranquilamente mesmo com o peito retumbando a mil assistindo as ruas; as pessoas; as casas; os prédios e as lojas com fascínio, nunca perderia a graça, gostava de procurar cores novas, observar as pessoas. Estava começando a vê-las de uma forma diferente, eram agora somente desconhecidas, não cruéis.

Seus pensamentos então fugiram com o carro parando em um sinal vermelho, mas não virou-se para encarar seu hyung gatinho, lembrou-se do motivo de seu constrangimento antes de saírem, do frio na barriga mesmo quando estava embolado pelos braços quentinhos -até demais- de Tae, em seguida, de seu olfato capturando um cheiro agridoce tentando cobrir os morangos frescos, além das mãos grandes passeando pelo rosto dourado antes de deixá-los partir, em uma expressão menos brilhante, doentinha.

Suspirou o de fios negros, começando a se perguntar se o príncipe melhoraria logo, pois seu coração estranhamente continuava a acelerar, dolorido, por ver o belo homem daquele jeito.

— Então — Levou o olhar -um pouco perdido- para o híbrido mais velho, encolhendo os ombros com os olhos e sorriso, gigantescos, que ele lhe direcionou. — o que gostaria de fazer primeiro lá, Ggukie?

— Eu não sei, com o que devemos começar, hyung? — A verdade era que Jeon estava ansioso para sentir aquele conforto e familiaridade, e só de estar naquele lugar grande e cheio de esperança, apareciam milhares de opções.

— No dia que você e o Tae foram em casa... — Um sorriso genuíno tomou seus lábios com a forma de se expressar do felino. — conheceram por dentro?

— Não, nós ficamos brincando com os filhotes no jardim, só...

— Aquelas crianças são doces demais, Yoonie diz que parecem cubinhos de açúcar — Riram baixinho. — e fica provocando-as até levar uma ou duas mordidas. — O Park tinha boas lembranças desses momentos, soprando um riso para si mesmo levantando a pequena alavanca atrás do volante, indicando com a pequena seta que acendeu, que iria virar na rua que os levaria diretamente até os enormes portões da ONG.

— Elas tentaram encontrar o lado híbrido do Tae hyung, mas como não conseguiram, o chamaram de ursinho por causa dos abraços.

— Tae com todas as certezas demonstra mais carinho que o Yoonie, esse gosta de provocar — Soltaram mais algumas risadas, seus protetores eram diferentes em muitos aspectos, mas não viviam um sem o outro e se davam como irmãos.

O garoto coelho encostou a cabeça no banco, novamente saindo de sua própria gravidade, lembrando-se de toda a inocência dos filhotes em procurarem durante bons minutos as partes animais do hyung, concluindo que era um ursinho por também conseguir carregar dois filhotes nas costas de uma só vez. Riu baixinho consigo mesmo, os pensamentos novamente inundados com imagens do homem de sorriso quadrado, tão lindo e realmente parecido com um ursinho ao agarrar os filhotes, ou, cair de joelhos na neve com o peso sobre si.

— O próximo passo é conhecer tudo por dentro, — Voltando a prestar atenção no mais velho, assentiu rapidamente, estava curioso para saber como aquele lar era por completo. — mas nós temos tempo, pode aproveitar com os outros enquanto eu confiro se está tudo certo com as lutas em andamento para começar a te mostrar.

— Certo, hyung — Um sorriso largo adornou os lábios do coelho. O gatuno retribuiu seu sorriso, tornando a olhar para a senhorita acomodada na cabine em frente aos portões logo que pararam, reconhecendo-o e permitindo suas entradas.

Jimin também estava ansioso, queria mostrar tudo o que aprendeu na ONG, lhe explicar cada movimento nas lutas a caminho para a liberdade de seus semelhantes, para a tão esperada paz. Porém, também sabia que deveria ir devagar, havia muito para seu dongsaeng ver e tinha de ser forte, pois nem sempre tudo saía de acordo com o que planejavam, muitos ainda eram desprotegidos e abusados.

Passando pelos portões gigantescos e bem protegidos, observados cautelosamente pelos mesmos homens de ternos e óculos escuros, que se pareciam com fortes e ferozes ursos -diferentes de seu príncipe- completando com suas expressões sérias demais, Ggukie desceu rapidamente do veículo parado no estacionamento, soltando o ar que prendeu inconscientemente em seus pulmões já podendo ouvir vários sons especiais de seus semelhantes misturados a conversas abafadas pelo longo corredor cheio de carros que se estendia em sua frente, seu coraçãozinho ficando ainda mais apressado conforme os passos ao lado do alaranjado diminuíam a distância entre si e os outros híbridos.

— Nossa luta é grande, mas você vai aprender rapidinho — O sorriso que transformava os olhos quase dourados em dois risquinhos se abriu, encorajando-o ainda mais.

— É tudo o que mais quero.

Adentrando o enorme jardim colorido, inúmeros pares de orelhinhas e olhos os encontraram, e logo, pernas curtas e mãozinhas rechonchudas cercaram os recém chegados.

— Tio Ggukie, você voltou! — Nora pulava soltando gritinhos animados junto de outras crianças, enquanto Sunbae tentava escalá-lo abanando o rabinho comprido, também da cor de chocolate.

— Tio Ggukie, vamos brincar de pega-pega! — Pediu o filhote energético e metade cãozinho.

— Não! Vamos construir bonecos de neve, o inverno está acabando! — A irmã adotiva o contrariou, cruzando os bracinhos.

— Mas e os biscoitos que a tia chamou a gente para ajudar a fazer na cozinha? — Uma pequena híbrido de porquinha perguntou confusa.

— O tio Ggukie vai com a gente, oras!

— Tio Ggukie, cadê o tio ursinho? — O moreninho riu soprado, sem saber a quem responder primeiro.

— E o tio Jiminie ninguém vê, não é? — Um miado falso magoado ecoou em meio às vozes fininhas eufóricas.

— Tio Jiminie, não fica assim... — A coelhinho estendeu os bracinhos em sua direção pedindo colo, sendo erguida prontamente pelo felino outra vez sorridente. — mas agora o senhor gatinho só sabe vir aqui para trabalhar, nem brinca mais com a gente... — A menina formou um enorme bico nos lábios.

— Eu estou cuidando de vocês, dentinho. — Um bufar irritado escapou de Nora, o que arrancou risadinhas dos dois adultos e das outras crianças.

— Não me chama assim, oppa! E eu sei que está cuidando de nós, sempre — Os olhinhos brilhantes o encararam profundamente. — obrigada.

— É meu dever como guardião. — O Park respondeu calmo, desviando o olhar para seu dongsaeng como se lhe dissesse o mesmo. Ggukie suspirou encantado, queria ser parte de tudo aquilo e se tornar um guardião para seus semelhantes também.

— Mas não quer dizer que não precise brincar mais com a gente!

— Está certa, prometo que depois de ensinar tudo para o tio Ggukie, nós aproveitaremos todas as tardes.

— Promete? — Nora estreitou os olhinhos com o assentir de seu tio gato. — De dedinho? — Esticou o mindinho, sorrindo com os dentinhos avantajados quando teve o maior entrelaçando-os com o seu, selando a promessa. — Agora é de dedinho, não pode quebrar a promessa, tio Jiminie.

— Não irei. — A colocando novamente no chão, aproveitou para acariciar os cabelos desgrenhados de Sunbae. — Eu vou entrar para falar com Hyojong hyung sobre um assunto, — O brilho de seus olhos vacilou brevemente, deixando Jeongguk incerto sobre o que poderia se tratar. — e já volto para começar a te mostrar tudo. — Jimin repuxou os lábios suavemente.

— Certo, hyung. — O retribuiu, mesmo com seus sentidos alertando da mudança repentina no cheiro do hyung gatinho.

— Bom, — Assistiu-o voltar em direção aos filhotes. — o tio Ggukie é todinho de vocês! — As crianças gritaram, contagiando o garoto coelho com a alegria e espontaneidade, deixando-se até mesmo ter a cintura e as mãos agarradas por pequeninas e quentinhas, o guiando para o meio do jardim.

— Por que o oppa não fala assim quando o tio Yoonie vem junto? — Perguntou a coelho espoleta, esboçando uma expressão de superioridade que o felino conhecia muito bem e se limitou a rir descrente. Nora era igualzinha à mãe, Hyejin.

— Porque o Yoonie é só meu. — Jimin lhe devolveu a faceta, se inclinando levemente, aproximando seus rostos.

— Tem que aprender a dividir! — Negou prontamente, mesmo que estivesse brincando com a pequena, ou talvez, seu lado um pouquinho ciumento estivesse falando mais alto. — Vem com o tio Yoonie da próxima vez? Nós temos saudades. — A fala baixinha acelerou seu mole coração.

— Viremos juntos em breve, — Apertou uma das bochechas gordinhas. — ele também fala todos os dias da dentinho e dos cubinhos de açúcar dele.

— Vamos estar esperando, não esquece! — Conformada e feliz, Nora virou-se rapidamente encontrando o grupinho que arrastava seu tio Ggukie para longe. — Ei! Esperem aí! — Passou a correr em direção a eles, fazendo o felino rir baixinho, sabia que toda aquela autoridade era pela garotinha não conseguir controlar seu lado dominante ainda, mal sabia como se transformar em sua coelho.

[...]

Depois de algumas brincadeiras, Jeongguk tentava controlar a respiração, sentando-se sobre a neve e a sentindo amortecer os nozinhos de suas mãos nuas apoiadas diretamente nela, enquanto, uma pequena onda fofa de filhotes tentava escalá-lo, ou, apenas se sentavam em seu colo. A sensação era indescritível, as risadinhas, os cheirinhos ainda fracos pela pouca idade que tinham, o ar limpo ao redor, traziam a vida para seus olhos, mente e coração. Nenhuma sensação ruim conseguia lhe atingir, toque algum daqueles filhotes o fazia querer fugir ou recuar, poderia dizer que já estava acostumado com tudo aquilo.

— Tio Ggukie, vamos brincar do que o fedorento do Sunie quer, senão ele vai contar pra mamãe. — Nora se acomodou em seu colo, abraçando o próprio corpo lhe lançando um olhar pidão.

— Preciso descansar um pouquinho, Nora-yah. — Deixou um riso soprado escapar, observando a caretinha que a garotinha esboçou.

— Você está muito fraquinho, precisa de mais vitaminas, tio Ggukie! — Riram juntos. — Eu sempre pego cenourinhas lá na cantina, na hora do lanchinho você vai pegar também!

— Está bem. — Jeongguk sorriu largo, levando uma das mãos para os cabelos castanhos e compridos da mesma, lhe dando um singelo carinho. Passeando com o olhar pelo espaço, encontrou seu hyung gatinho junto de Hyojong hyung e Hyuna noona, deixando o enorme prédio que estava curioso para conhecer. — Vamos chamar o Jimin hyung para brincar com a gente. — A sugestão pareceu chegar nos ouvidos de todos os pequenos filhotes até então distraídos, que buscaram no ar o cheiro do gato adulto, passando a correr em sua direção chamando-o com gritinhos eufóricos.

Ggukie se levantou após a garotinha ter feito o mesmo deixando seu colo, agarrando-o pela mão guiando ambos até o alaranjado em uma curta corrida.

— Tio Jiminie! Vem brincar!

— Eu não posso agora, filhotes. — As palavras mais duras deixaram todos quietos e os olhos de jabuticaba tentando encontrar uma resposta nos rostos sérios dos hyungs, que encaravam um pequeno grupo de homens e mulheres bem vestidos que se aproximavam. Estranhos.

Entretanto, logo passou a compreender, quando um dos homens de terno, que diferente dos ursos ferozes que eram os seguranças, mais se parecia com um coiote traiçoeiro atrás de sua presa, deu um passo à frente, tomando a atenção para si. Seus olhos escuros e fundos sorriam junto aos lábios de forma assustadora, enquanto analisava o belo jardim, com fome.

Jeon sentiu os primeiros tremores passearem por seu corpo e uma de suas mãos ser esmagada por Nora em igual estado de frio e tremor, mesmo que em suas feições tentasse demonstrar linhas sérias e fortes.

— Como disse na ligação e como seu advogado ouviu bem, eu não conseguiria viver sem ele, sabe? — Ele falou primeiro, em meio a um riso, trazendo em mãos uma coleira de couro com a corrente de guia.

— Imagino... — O tom baixo e o rosnado de Jimin fez os filhotes recuarem, sentindo-se mais protegidos atrás do de fios negros, sob seus feromônios cítricos.

— Aqui há tantos de vocês...

O homem fez pouco caso, aproximando-se um pouco mais, exclusivamente do Park, que teve o braço segurado por Hyojong, esse último sussurrando algo para acalmá-lo. Jimin recuou um passo, porém sem medo, com as pupilas retraídas em direção ao de terno.

— Um a menos não fará diferença.

— Então, — Hyojong aumentou o tom de voz. — se meu advogado ouviu bem, o seu também de que agora está marcado por nós, se fizer... — Tentou intimidá-lo, seus olhos fixos no tal dono, mesmo depois de ser interrompido.

— Eu conheço esse discurso, senhor Kim, — O outro, que era tão jovem quanto si, sorriu de canto. — não se preocupe que eu cuidarei bem do que é meu.

Sem dizer algo mais, um grupo de híbridos deixou o prédio e o coelhinho sentiu-se despedaçar quando um deles se desvencilhou dos braços que o apoiavam, caminhando lentamente até o homem. Um belo híbrido de leão.

— E aqui está nosso garoto perdido... — Com um falso carinho no rosto, ele o cumprimentou, logo afivelando a coleira no pescoço cheio de cicatrizes. — vamos para casa, quero cuidar de você pessoalmente... — Afundou uma pasta amarronzada contra o peito de Hyojong. Ali tinha um documento que seu hyung gatinho lhe contou, um que transformava a vida de seu povo em um verdadeiro pesadelo.

Jeongguk sentiu em seu cheiro, desde que havia se aproximado, todas as mentiras, ficando inquieto ao entendê-lo nas entrelinhas. E para seu maior desespero, o homem jovem apenas deu as costas para seus hyungs e noona, junto dos outros que o acompanhavam, puxando a guia fazendo o híbrido trêmulo começar a segui-lo. Porém, antes que os humanos percebessem, ele olhou para trás, deixando Jeongguk confuso ao ver Jimin maneando a cabeça positivamente, lhe devolvendo uma resposta a pergunta que seus olhos fizeram.

Soltando a mãozinha de sua companheirinha coelho, foi recuando enquanto todos assistiam a partida de um, igualmente revoltados, como o próprio híbrido macho de leão sendo obrigado a voltar para a escuridão, para a dor e o medo.

Dando-lhes as costas também, correu, desequilibrando-se com as botas atolando na neve até o último quiosque do jardim, onde não viu nenhum híbrido sair, ou, entrar. Precisava de um esconderijo, onde sua mente pudesse trabalhar em uma resposta à dor que passou a sentir.

Jeongguk se sentou no chão abraçando os próprios joelhos e escondendo o rosto entre eles, respirando fundo tentando acalmar-se. A cena que viu, aqueles sorrisos maldosos, aquela maldita coleira e corrente contornando o pescoço de um de seu povo e ele sendo levado sem que pudessem fazer nada, foi como uma nova manchinha escura e sem vida nas cores que enxergava. Aquilo estava errado, ele tinha um lar, não deveriam ter o direito e a crueldade de tirá-lo de si.

Sua mente passou a rodar e muitas perguntas invadiram de uma só vez, lhe causando pequenas pontadas de dor. Onde levaria aquele documento criado para matá-los por dentro? Onde declaravam sua lealdade a um dono cruel e jamais poderiam ser livres.

Permanecendo imóvel por bons minutos, pensava ignorando a dor de cabeça, mas nenhuma resposta vinha. Por fim, decidiu apenas ficar sozinho, não queria voltar e deixar todos verem que seria um fraco guardião, que ao invés de se proteger e fazer o mesmo com eles, fugiria e os deixaria com as manchas escuras se aproximando até cercá-los por completo.

Entretanto, fugiu de sua mente oscilando entre a luz e escuridão, erguendo a cabeça ao ouvir um barulho próximo, sentindo seu coração disparar ainda mais ao não ver nada além de uma pequena fresta de luz solar que adentrava pela janela. Farejando o ar, não encontrou mais que um aroma de folhas verdes e doces, quase imperceptível.

— T-Tem alguém aqui? — Perguntou em um fio de voz amedrontado.

Longos segundos se passaram e não ouviu mais que sua respiração desregulada. Se levantando, olhou ao redor com cautela, era um quiosque como todos os outros, tinha uma lareira; mesa; cobertores e ninhos confortáveis que pareciam jamais ter sido usados. Deveria ir embora, aquela não era a toca dos coelhos de qualquer forma.

— Você está aqui. — Arregalou os olhos ao ouvir uma voz alta e melodiosa e feminina, escondida ao fundo do quiosque. — Quem é você?

— Um amigo. — Respondeu tentando controlar o medo em seu tom de voz.

— Não perguntei o que você é, e sim, quem...?

— J-Jeon Jeongguk, muito prazer. — Os segundos seguintes foram preenchidos com o silêncio da voz e quebrados pelo pé direito batendo contra o chão, inquieto, do coelhinho. — Onde você está?

— Aqui, atrás dessa parede... — Encarando a divisão do quiosque, Jeongguk encontrou a origem do barulho que ouviu antes.

— Quem é você? — Se ela fosse uma híbrido, confiou em si porque também sentiu seu cheiro.

O barulho estranho então aumentou, raspando pela parede suavemente, até que apareceu em frente aos olhos negrescos, uma mulher, sentada em uma cadeira de rodas.

— Eu sou uma raposa, me chamo Kim Eunbi. — Percorrendo os olhos estupefatos por seu rosto, o garoto coelho notou os cabelos compridos de um tom de castanho claro, mesclando com o alaranjado ao juntar-se com as orelhas triangulares de pontinhas negras.

— D-Desculpe. — Envergonhado, o moreno recuou um passo, não deveria ter invadido sua toca.

— Você não é daqui, o que está fazendo? — O tom de voz dela continuou calmo, e de certa forma, acolhedor.

— Quero lutar por... nós. — A resposta baixinha fez os lábios ressecados da híbrido se repuxarem em um pequeno sorriso.

— Também viu, não é? — Os olhinhos negros a encararam levemente confusos, até se dar conta de que falava sobre o híbrido de leão levado.

— Eles não podiam...

— Todos queremos acreditar que não, mas esses pedaços podres de humanos sempre encontram uma brecha... — A cadeira rangeu quando ela se aproximou um pouco mais.

— Nunca irão parar... — Alguns fios escorridos se moveram junto ao gesto negativo da híbrido.

— Estamos pagando por terem nos criado em um laboratório...

Jeongguk tombou a cabeça levemente, curioso, ela era a primeira a lhe dizer aquelas palavras sérias, realmente sobre como era ver um de seu povo partir, como tudo ao redor de ambos sempre foi escuro e aterrorizante.

— Eu não vi você no jardim... — O moreno tentou iniciar um novo assunto, agarrando a barra da blusa do conjunto azul e quentinho que usava.

— Não saio muito no inverno, — As orelhinhas triangulares se remexeram. — minhas pernas doem.

Então o coelhinho novamente a observou, se demorando no cobertor verde que cobria de sua cintura para baixo, a cadeira ao redor de rodas barulhentas.

— O que... — As palavras morreram em sua garganta, não precisou perguntar para conhecer as histórias dos híbridos que o acolheram ali, mas a história da raposa era diferente e não queria deixá-la cheia de nozinhos ruins que traziam somente a dor.

— O verme que me comprou tentou fugir quando o esquadrão chegou para me tirar daquele lugar, — As mãos ossudas tremelicaram e a raposa forçou-se a parar agarrando os braços de sua cadeira. — no meio da perseguição, o carro bateu e quando eu acordei já estava assim. — Sua voz havia se tornado baixa e angustiada, Ggukie havia percebido que seus nozinhos ainda estavam lá e ela tinha medo deles, precisava de um amigo.

— Eu sinto muito...

— Não sinta, agora aquele verme está queimando no inferno.

A mesma soltou a respiração, tentando manter-se inabalável. Porém, sabia que tudo o que tinha feito desde que chegou na ONG, foi fugir de mãos acolhedoras e sorrisos bondosos, não conseguia permitir a presença deles tão próximos a si.

— Quantos anos você tem? — O coelho mudou de assunto, alarmado, sabia como aquilo doía, mas não como ajudá-la, sendo que não conseguia nem a si mesmo.

— Por que quer saber?

— P-Porque eu quero ser seu amigo. — O pé inquieto arrebatava contra o chão.

— Não sou inclinada a amizades... — Os olhinhos escuros notaram quando a raposa virou o rosto, rosnando baixinho a si própria.

— Eu tenho vinte... você também? — Jeongguk insistiu, amigos ajudavam uns aos outros, compartilhavam as coisas e tinham intimidade. Desejava a ela a mesma chance que estava tendo, de dar muitos passos à frente.

Eunbi não o respondeu com palavras, apenas assentiu, também percebendo a coincidência.

— Eu não sei sobre criar laços. — O avisou, voltando a olhá-lo.

— Criar laços?

— Exatamente, é como cativar, você é só um no meio dos outros coelhos, eu não tenho necessidade de você, assim como sou só uma raposa no meio das outras e você não tem necessidade de mim...

— Certo. — Eunbi franziu o cenho com o sorriso se abrindo no rosto do estranho a sua frente, parecendo determinado a fazê-la ter necessidade dele. Era só uma presa. — Sente necessidade de alguém, Eunbi? — Jeon continuou, como um amigo faria, como o príncipe, por quem sentia tanta necessidade, agia consigo.

— Do meu salvador... — Ela respondeu baixo. — ele vem me ver às vezes, está trabalhando muito com o esquadrão, é um leopardo, sinto necessidade dele.

— Sinto do meu também... — O sorriso aumentou nos lábios vermelhinhos. — e de você.

— Eu não consigo. — Ela tinha medo, o mesmo que tentava o dominar e trazer a escuridão outra vez.

— Amigos compartilham as coisas, começamos a sentir necessidade um do outro! — A Kim tentou negar, porém seguiu somente o encarando.

— Entenda o quanto antes que nem sempre as coisas se resolverão assim.

Antes que o garoto coelho pudesse respondê-la, com uma sensação estranha tomando seu peito, a porta foi aberta revelando o gato alaranjado.

— Eu imaginei que estava aqui. — Jimin sorriu aliviado, seguir o cheiro cítrico em meio a tantos outros não foi uma tarefa fácil.

— Ouvi seus passos. — A raposa deixou suas orelhas dançarem outra vez.

— É um prazer revê-la, Eunbi. — Assim como Jeongguk, Jimin não se aproximou dela, não queria assustá-la.

— Bom, parece que a conversa acabou.

— Eu posso ver você de novo, Eunbi? — Até mesmo o gatuno prendeu a respiração brevemente com a pergunta feita, conhecia a híbrido, sabia que ela não gostava de conviver com muitas pessoas.

— Pode... — Seus olhos se arregalaram com a resposta simples, essa que tentava receber a alguns anos.

— E-Então vamos, Ggukie, quero te mostrar como é a ONG por dentro — O de fios negros prontamente assentiu, seguindo-o até a entrada do quiosque. — até mais tarde Eunbi.

— Tchau Jimin... — Ggukie voltou o olhar para trás, a vendo ter um pouco de dificuldade para girar a cadeira, mas que antes de se voltar completamente, se despediu. — tchau amigo... — O rabinho de pompom se eletrizou.

— Tchau, Eunbi! — Respondeu em um tom mais alegre, acompanhando o hyung gatinho para fora.

— Temos um bom tempo ainda, então vamos começar com... — O Park sugeriu, um pouco distante com o olhar.

— Hyung — Percebendo-o se calar de repente, Ggukie o chamou, esperando alguns segundos por sua resposta, enquanto caminhavam calmamente pela neve.

— Eu também... — O Park recomeçou. — também me senti impotente quando um dos nossos foi levado, é a pior sensação a ser sentida — Seus olhos se encontraram brevemente. — e infelizmente não podemos impedir isso, — Um sorriso triste e desacreditado tomou seus lábios, diferente do que Jeongguk conhecia. — mas não vai durar muito tempo, há um esquadrão que trabalha para as ONGs perseguindo eles, uma brecha e ele voltará para cá a salvo.

O coração desenfreado do coelho disparou um pouco mais, aliviado por saber que aquele leão não estava sozinho, mesmo de longe, ele estava sendo cuidado.

— Queria saber o que fazer nessas situações... — Foi sincero. Não era tão difícil falar quando era para seu hyung gatinho.

— É a minha vontade também... — O encarou surpreso, seu hyung parecia saber de tudo, nunca tinha o visto inseguro. — mas eu garanto que no máximo em dois dias ele já estará de volta — Sorriram um para o outro, um pouco mais esperançosos. — não se preocupe, hoje é só o primeiro dia, tem muito para aprender pela frente, Ggukie.

— Estou pronto para começar, hyung! — E depois compartilhar tudo com o meu príncipe. Pensou exibindo os dentinhos avantajados, um pouco envergonhado. Não compreendia o porquê, mas ficava assim só de pensar no belo homem que o salvou.

— Então vamos. — Subindo na calçada que dava para as duas portas enormes de entrada, fugindo da neve, ambos seguiram silenciosos até adentrar o prédio.

Logo no primeiro piso, os olhinhos negros se esbugalharam, haviam alguns híbridos, que não conhecia, aconchegados em sofás e poltronas, alguns assistindo tv, outros trabalhando em artesanatos como sua noona durante as tardes, olhando seus bebês engatinhando pelos tapetes de e.v.a em seus pés. Tudo era colorido e arrumado, dando todo o conforto que seu povo merecia, em uma sala gigante e bonita.

— Acho que aqui eu não preciso explicar. — Soltou uma risadinha retribuindo o felino. — As noites de filmes são muito boas aqui. — Jeongguk suspirou, concordando, gostava de imaginar aquele lugar cheio e aconchegante, com todos aproveitando sem medo. — Próximo andar. — Chamou o mesmo, guiando-os para a escada, que fazia uma curva antes de chegarem em outro piso bem polido. Um lugar de cheiro esplêndido cheio de mesas, geladeiras, fogões e armários.

— O lugar preferido de todo mundo aqui, — Riram outra vez. — se alguém sentir fome, tem tudo para comer a vontade. — Jimin o puxou para passear pelo cômodo, enroscando os dedinhos em biscoitos crocantes e cheirosos descansando em uma das mesas, compartilhando com o coelhinho. — Esses são os melhores, são as vovós que fazem. — Os olhos quase dourados cintilaram ao que a massa doce passou a derreter no céu de sua boca. Gargalhando com a forma que seu dongsaeng devorava os seus. — Todos também se ajudam por aqui. — Assentindo, Ggukie o seguiu para outro corredor, à direita do eletros, encontrando outra escada.

Subindo-a, outras portas entraram em seu campo de visão, essas brancas com plaquinhas grudadas, indicando banheiros, como haviam na sala. Passando por outro corredor, se encontraram com alguns humanos e híbridos, esses últimos sendo cuidados verdadeiramente, o lugar estava cheio e o coração do garoto coelho se comprimiu. Aqueles eram recém chegados, machucados e com traumas infindáveis, precisando de ajuda. Seus olhos recusaram-se a desgrudar da cama de hospital mais próxima, de todos os equipamentos e preparo do médico para curar seu semelhante. Encantou-se vendo seu lindo trabalho, também sorrindo para o híbrido mesmo que ele não erguesse o olhar para poder ver.

— Essa área foi uma das primeiras a ficar pronta, sempre foram emergências e na época os investidores queriam deixar tudo devidamente preparado, mesmo com primeiramente o básico para receber os resgates. A ala hospitalar foi inaugurada há vinte anos atrás. — O par negresco o encarou cheio de pontinhos estrelados, denunciando o quão impressionado o coelhinho ficou. — Os registros contam assim, mas nossa luta começou um pouco antes.

— É incrível, hyung... — Mesmo voltando a seguir o gatinho sorridente e orgulhoso, o de fios negros não deixou de tentar assistir um pouco mais do trabalho dos humanos bons ali.

— É porque ainda não viu isso. — Terminando de subir mais um lance de escada, Jimin parou defronte para uma enorme janela, seu sorriso se alargando e suas orelhas dançando eufóricas encarando o que tinha ali.

Colocando-se ao seu lado, Ggukie observou o que tanto lhe chamava atenção, sentindo seu coração disparar ainda mais e seu corpo inteirinho se arrepiar com a quantidade de ninhos pequenos e quentinhos, abrigando filhotes recém nascidos.

Eram várias metade espécies, com penas e orelhinhas e rabinhos minúsculos, bem com os pezinhos e mãozinhas. Todos ressonavam em paz, cuidados por híbridos de coala com um pouco mais de idade, que circulavam cuidadosas por entre os ninhos.

— São um milagre. — Comentou baixinho para si mesmo, sem encontrar palavra melhor para descrever como eram lindos e livres.

— São mesmo. — O Park concordou consigo, rindo baixinho com as bochechas mais cheinhas corando fortemente. — Vê aquele? — Apontou para um ninho específico, onde um único pacotinho de tecidos brancos descansava intranquilo, as orelhinhas douradas sobre os fios ruivos remexendo-se a todo momento, chamando a atenção das coalas. — É o filhote do híbrido levado. — Jeongguk ofegou, em uma mistura de surpresa e preocupação, assistindo o filhote de leão começar a chorar e prontamente ser pego no colo por uma das híbridos. — Ele deu a luz alguns dias atrás e hoje pediu que o cuidássemos. — Jimin também encarava a cena preocupado.

— E-E o senhor mau?

— Ele não sabe da existência do filhote e nem saberá, o manteremos seguro até seu pai voltar. — Um sorriso pequeno e encorajador dominou os lábios rechonchudos e róseos.

O pequeno Jeon torcia para que aquilo acontecesse logo, que o híbrido de leão voltasse para finalmente ser livre e criar seu filhote em paz.

— Vamos para o próximo e último com que precisa cuidar. — Tocando suavemente seu braço, o gatuno puxou-o para a escada no final do corredor, longe dos chorinhos e quartos com seus respectivos papais, mamães e bebês, descansando.

O próximo corredor era cheio de portas, que Jimin lhe explicou serem os quartos que se estendiam até o último andar. Eram comuns, onde cada híbrido tinha liberdade para decorar e ajeitar como bem quisesse, enquanto, não recebiam uma resposta do governo sobre suas tão sonhadas liberdades. Aquilo não deveria nem ser pedido, por meio de documentos que Hyojong e Hyuna enviavam aos superiores, deveria nascer com seu povo, como finalmente foi decretado para os recém nascidos.

Sem ter mais para ver, retornaram a ala de maternidade, com o felino lhe explicando como funcionavam os documentos e toda a parte teórica de suas lutas, não esquecendo de nenhum detalhe.

Por fim, decidindo ter ensinado o suficiente por um dia, onde mostrou tudo para seu dongsaeng junto a parte mais difícil de ser um guardião, o Park foi mudando de assunto, tornando algo mais suave que papeladas de híbridos que corriam riscos de serem tirados das ONGs por um documento que os humanos criaram.

— Hyung, posso te perguntar uma coisa?

— Claro, Ggukie. — Ambos passaram um breve momento em silêncio, admirando os bebês.

— Como é a sensação de um beijo? — Jeongguk arrependeu-se no mesmo segundo que perguntou, tentando manter-se focado nos pequenos híbridos, ignorando o som surpreso que escapou dos lábios do felino.

— P-Por que essa pergunta tão de repente, Ggukie?! — Os olhos quase dourados por pouco não saltaram de órbita.

— Eu vi na televisão e fiquei pensando... — Jeongguk não o encarava, mas estava ansioso por uma resposta.

— B-Bem, em uma palavra simples e bonita... é amor. — Uma risadinha descrente escapou dos lábios rosados. Ggukie finalmente o olhou, de cenho franzido. — Quando nós amamos alguém, o beijo se torna a melhor sensação do mundo.

Como? O coelhinho passou a se questionar.

— Certo... — Apesar de assentir, Ggukie continuou confuso. A personagem do dorama já amava o goblin quando o beijou? Já tinham amor e calor?

— Mas tem algo que precisa aprender antes de amar e beijar alguém.

— O que? — O narizinho avantajado remexeu-se, bem como as orelhas extensas, em um misto de curiosidade e vergonha.

— Nunca espere que alguém se apaixone por você e seja só ele o responsável pelo amor e calor, — Seus olhos se conectaram, Jeongguk pode ver um brilho diferente nos do hyung gatinho. — apaixone-se profundamente por si mesmo primeiro — Jimin sorriu pequeno, lembrando de quando foi sua vez de perguntar sobre aquilo a seu Yoonie e ele lhe deu aquela resposta. — então deixe alguém se igualar com a sua metade...

— São palavras muito bonitas, hyung... — O moreno suspirou, tocado por elas, compreendendo o gatuno.

— Aprendi depois de ter aceitado que Yoonie lutasse comigo... de ter me conhecido e apaixonado por coisas novas e interessantes. — Ambos Sorriram divertidos com o rumo que a conversa tomou.

— Entendi. — Jeon prosseguiu pensando, porém aliviado, a humana e o goblin estavam apenas se conhecendo e deixando completar. Sorriu grande, constatando que era verdade.

— Já está pensando nesse alguém, Ggukie? — Seus olhos tornaram a encontrar os do felino, arregalados.

— N-Não! Só fiquei curioso... — Seu sorriso murchou até se tornar pequeno e inseguro.

— Não se preocupe, quando chegar a hora certa, você não vai ter medo de deixar acontecer, — O Park lhe acariciou os cabelos. — seu corpo vai tremer e não vai conseguir pensar direito, mas fazem parte das sensações boas que vem com o beijo. — Jeongguk soltou uma risada nervosa, estranhamente com os pensamentos inundados com imagens que não esperava ver.

— O-Obrigado, hyung.

— Estou aqui para tirar todas as suas dúvidas. — Um sorriso largo e sugestivo tomou os lábios rechonchudos.

Os garotos mergulharam novamente em um silêncio confortável, sendo quebrado poucas vezes com chorinhos e bebês agitados.

— Jimin! — Ambos giraram nos calcanhares assustados, levando os olhares para Hyojong, que vinha apressado pelo corredor. — Aconteceu de novo!

Não compreendendo o que as palavras preocupadas e a reação do hyung quiseram dizer, Jeongguk franziu o cenho, assistindo o gatuno se levantar com uma expressão fechada no rosto.

— Vamos ter que recorrer ao grupo Kim. — Com o assentir do loiro, deixando o garoto coelho ainda mais confuso, o Park passou as mãos pelos cabelos, respirando profundamente tentando acalmar-se. — Ggukie, — Se levantou imediatamente. — pode voltar e aproveitar o dia com os outros, preciso ajudar a resolver algumas coisas por aqui...

— Certo, hyung. — Sem querer questioná-lo, mesmo ficando preocupado igualmente, o Jeon respondeu firme, repuxando os lábios minimamente, compreensivo.

— Prometo explicar sobre isso mais tarde. — Concordando outra vez, assistiu os mais velhos se afastarem, até desaparecerem pelos corredores.

Deixando um disfarçado suspiro escapar, voltou-se para onde a luz do sol invadia, indicando o sol não mais no centro do céu, parando alguns passos adiante em frente a enorme janela de vidro, sorrindo para os minúsculos filhotes nos ninhos quentinhos. Eram especiais.

Voltando a pensar no que seu hyung gatinho havia dito, sua mente se inundou com imagens do príncipe azul, mesmo que seus olhos estivessem nos bebês, fazendo seus pensamentos trabalharem em milhões de nozinhos de uma só vez.

Jimin estava certo, antes de amar alguém, deveria amar a si mesmo primeiro. Mas como se fazia isso? Era mais do que simplesmente gostar de se ver no espelho.

— Tio Ggukie!

Nora chamou de forma eufórica correndo até si, há algum tempo procurava pelo novo tio favorito em toda a ONG. Jeongguk riu baixinho, apoiando o indicador nos lábios, lhe pedindo silêncio.

— Desculpa... — As mãozinhas rechonchudas apoiaram-se na meia parede e os olhinhos castanhos passearam curiosos pelos filhotes. — é hora do lanchinho, vamos rápido. — Sussurrou, remexendo o narizinho conforme via um coelhinho recém nascido fazendo o mesmo involuntariamente.

Jeongguk o assistia especialmente, era o único ali, admirando a pele morena, mesclando-se aos poucos fios de cabelo e as orelhinhas tão pequenas que mal dobravam as pontinhas, era tão lindo.

— Vamos. — Rapidamente sendo puxado pela mão, pela pequena ciumenta, riu baixinho permitindo-se ser guiado na mesma direção que seus hyung, descendo a escada encontrando as duas portas brancas do refeitório, animando-se ao ver tantos de seu povo reunidos para comer, principalmente os filhotes.

— Ali, tio Ggukie! — A menina seguiu o puxando até uma mesa extensa de um tom divertido de amarelo, onde só os filhotes estavam, arrancando alguns risos encantados dos adultos ao perceberem o jovem híbrido com as pernas espremidas para encaixar-se entre eles e a altura da mesa. Jeongguk também não conseguia tirar o sorriso do rosto.

Ambos esperaram durante um curto tempo, até uma fila organizada começar a se formar em meio a risos e conversas, em um clima tão confortável que o moreno sentia-se nas nuvens.

Quando chegou sua vez, pegou um copo cheio de um líquido levemente amarelinho, enquanto observava com os olhinhos bem atentos e brilhantes os potes e pratos que eram colocados nas mesas.

Ao tornarem a se sentar, experimentou de seu copo, arregalando os olhos com o gosto extremamente bom que sentiu.

— Nunca tomou leite de banana, tio Ggukie? — Nora perguntou, devolvendo seu copo de plástico à mesa, sorrindo com um bigodinho de espuma ao redor do lábio superior.

Se limitou a negar, virando seu copo tomando todo o conteúdo com gosto, afastando-o com outro bigode de espuma contornando sua boca.

Levantando-se, timidamente voltou em direção às geladeiras, pedindo mais de forma muda às híbridos de meia idade, estendendo o copo lhes encarando com o olhar brilhante, recebendo risadinhas suas, enquanto, uma delas despejava um pouco mais do leite para si.

Depois da refeição, que deixou principalmente os filhotes com as barriguinhas cheias, saíram da mesa deixando seus copos e pratinhos em dois grupos no centro, guiando-se sobre as perninhas curtas indo preguiçosamente até seus progenitores, se agarrando para um soninho. Ggukie devolveu os plásticos e ajudou os híbridos responsáveis por aquela área com a organização, sorrindo grande mesmo sendo atrapalhado por bocejos longos, lembrando-se de sua noona e de como gostava de ajudá-la também, pegando algumas cenourinhas pequenas e molinhas para comer com Nora.

Depois de terminar o serviço, voltou a adentrar o quiosque aquecido pela lareira, sentindo os olhos pesarem como um filhote, não recusando o convite de se aconchegar próximos aos outros coelhos para um cochilo. Deitando-se em um ninho vago, passou a observar ao redor, repuxando os lábios com o filhote de cãozinho se enroscando na coelho velhinha que lhe afofava as orelhas triangulares; em uma coelha que guardava o ninho para a companheira e os dois filhotes de ambas; os mais jovens esparramados uns sobre os outros, deixando ninhos para os mais velhos, enquanto si, sentia mãozinhas escalando suas costas, e logo fios castanhos e compridos se esparramando em seu tronco.

— Vou ficar com você, tio Ggukie. — A voz infantil e suave anunciou de forma preguiçosa, seu toque não lhe trazia angústia, pelo contrário, em nada incomodava o pequeno peso ali. Curiosamente os olhinhos negros foram se fechando, caindo em um sono profundo e colorido, onde um jardim nevado ganhava vida da tela que pintava em seu sonho e um príncipe azul junto de uma corajosa coelhinha vinham ao seu encontro.

[...]

Assim que o elevador se abriu, no último andar do prédio da famosa marca de cosméticos, Taehyung saltou apressado em direção às portas negras de seu escritório, chamando a atenção de seus curiosos funcionários para as sacolas coloridas que carregava. Porém, pouco se importava, deixando seu coração acelerado, antes por ter sido guiado entre tantas prateleiras cheias de materiais e cores e texturas, agora por estar preocupado, e talvez com medo, do melhor amigo. Já esperava uma enorme bronca de Yoongi, sobre ter saído para almoçar e retornado apenas pela metade da tarde.

Mas também sabia que ele entenderia seus motivos especiais por ter voltado somente naquele horário.

Descansando as sacolas sobre o sofá camurça decorando sua sala, respirou um pouco aliviado, mesmo tendo certeza de que o Min deveria ter sido informado de sua chegada.

Sem nem mesmo pensar em tirar o casaco grosso que não sentia esquentá-lo de jeito algum, abraçou o próprio corpo com a nova onda fria que passeou por si, seus dentes rangeram e engoliu a saliva com dificuldade, sentindo dor na garganta. Fora de sua empresa, os últimos dias de frio intenso estavam impiedosos, como se quisessem deixar em suas lembranças e floquinhos brancos, uma marca de seu poder de inverno, reforçando um: até breve.

Caminhando devagar até a mesa de vidro no centro, formou um biquinho inconscientemente observando a bagunça que abandonou ali, só para chegar em casa o mais rápido possível e ligar para Jimin a fim de saber sobre seu pequeno. Negando, com os lábios rapidamente cedendo lugar a um sorriso bobo, sentou-se, coçando o nariz tentando conter os espirros que queriam escapar, afinal, não poderia deixar de trabalhar e voltar para casa com um atestado médico, estava atrasado o suficiente para o cargo que ocupava.

Cerca de quinze minutos depois de ter retomado de onde havia parado, ouviu batidas na porta e virou o rosto espirrando outra vez antes que conseguisse responder, porém, sorriu educado quando a figura feminina de Hua adentrou.

— Deseja algo, senhorita?

— Nada demais, senhor — A mesma o analisou preocupada, enquanto bebia goles de água da garrafa que trazia de casa, contendo uma tosse seca. — percebi que não está se sentindo muito bem e trouxe um remédio — Sua palma se estendeu, revelando um comprimido razoavelmente grande recortado de sua cartela. — ele tem rápido efeito, vai ajudar.

— Ah... — O Kim estava sem graça, e talvez um pouco lento pela gripe. — obrigado, senhorita. — Aceitando o remédio, pressionou o dedo sobre até tirá-lo da embalagem, jogando-o na boca e engolindo com a água.

— Espero que melhore logo, senhor. — A mulher mordeu o lábio inferior, com o rosto flamejante.

— Tenho certeza que com esse remédio irei, obrigado. — Tae deixou a garrafa sobre a mesa, ajeitando-se sobre a cadeira, mesmo que não estivesse com vontade de voltar a trabalhar.

— Se permitir, cuidarei pessoalmente de você... — Erguendo os olhos dos papéis espalhados, que estavam o confundindo com seus variados conteúdos misturados por seu descuido, o acastanhado suspirou, pensando em uma maneira educada de mandá-la embora.

— Se não me engano, já tivemos essa conversa, senhorita Hua — Um sorriso de canto surgiu em seus lábios ressecados. — Esse será o último aviso. — Terminou em um tom sério e rouco.

— A-Ah sim, o senhor tem toda razão, eu não deveria agir dessa forma — Hua se curvou rapidamente. — me perdoe, mas eu só — Foi interrompida por duas vozes bem conhecidas que invadiram o escritório e alegraram os ouvidos do empresário. Taehyung até mesmo se esqueceu de sentir medo da bronca de Yoongi, estava mais o agradecendo. — com licença. — A mesma deu meia volta, passando pelos outros dois homens de cabeça baixa, deixando o cômodo.

— Ela não se cansa, não? — Hoseok perguntou, apoiando as mãos na cintura o encarando incrédulo. — Já faz mais de um ano.

— Hua deve estar esperando o dia que ele não for educado — O Min deu os passos restantes se jogando no sofá, quase sobre as sacolas coloridas. Os olhos de mel se comprimiram brevemente, quase conformados e tristonhos, porém soltou o ar aliviado por vê-las permanecerem intactas e o corpo menor se esparramar para o lado contrário. — esse fora tem que sair logo, viu Tae?

— Eu lhe dei um último aviso... — Suspirou, sentindo-se extremamente cansado, aceitando a ajuda do amigo de sorriso em forma de coração, que ria baixinho e negava, ajeitando os papéis antes perdidos entre suas mãos.

— Tome cuidado, eu ouço dizer por aí que ela dá em cima de todo mundo, mas é completamente obcecada por você. — O segundo mais velho falou calmo, continuando seu simples trabalho, sem perceber o quanto alarmou o caçula.

— Não é para tanto hyung. — Por fim, riu desacreditado.

— Quem avisa, amigo é. — Taehyung engoliu em seco, culpando a garganta dolorida, observando o melhor amigo concordar com o outro moreno.

— Jiminie odeia ela, — Negou outra vez, assistindo o mais velho dizer no mesmo tom que Hoseok, passeando os olhos pelos presentes de seu pequeno, as mãos pálidas tocando as bordas, curioso. — nunca entendi o porque, mas confio nos sentidos do meu gatão, também nunca fui com a cara dela.

— As gerentes Eunha e Sowon também detestam ela.

— Vocês não estão sendo um pouco cruéis?

— Sempre ouvi coisas ruins sobre Hua. — Yoongi deu de ombros, trazendo de uma vez as sacolas para seu colo, abrindo-as para ver o que tinha dentro.

— Dizem que ela faz até amarração... — Hoseok falou de uma forma tão séria que realmente acertou o Kim.

— Por isso tenha muito cuidado, Tae. — Os mais velhos começaram a rir, deixando-o emburrado.

— Tá bom, já chega desse assunto. — Tentou interromper a sessão de risadas, conseguindo chamar atenção somente quando uma nova onda de tosse seca o atingiu.

— Precisa ir ao médico, Tae. — Yoongi mudou da água para o vinho, ficando preocupado com o melhor amigo.

— É só uma gripe, hyung, vai passar logo — Se encolheu dentro do casaco grosso, diferente dos outros que estavam confortáveis vestindo apenas os ternos. — e pare de mexer nessas sacolas!

— Por que? — O Min abriu um sorriso sugestivo, enfiando as mãos dentro, soltando um resmungo surpreso com os pincéis e bisnagas de tintas que pegou. — Uh, são legais! Para quem são? — Perguntou mesmo já sabendo a resposta, queria ouvir da boca do mais novo apaixonado dentre o grupo.

— São para o Ggukie, claro — Um sorriso grande e totalmente sem graça adornou os lábios de Tae, que passou a encarar o nada, imaginando a reação do coelhinho quando lhe entregasse os presentes cheios de cor.

— Ele gosta de pinturas?

— Muito — Voltou o olhar para o mesmo, encantado apenas em lembrar de seu retrato nos traços precisos e perfeitos para si, principalmente pelo biquinho e concentração do mais novo. — Ggukie tem talento, quero deixá-lo explorar a si mesmo enquanto ficamos longe.

— Ficam longe por metade do dia só, quanto drama TaeTae... — Revirou os olhos, quando seu apelido se prolongava, sabia que o melhor amigo estava debochando. — mas todo mundo aqui, mesmo sem conhecer o Ggukie, apesar do Jiminie ter falado dele para todos, já sabem que você está apaixonado.

— E-Eu. — Tentou argumentar algo, mas era impossível, Yoongi sempre estava certo.

— E quando se está apaixonado, não dá para aguentar um minuto sequer separados... — O Jung disse em meio a um drama bem ensaiado, o fazendo ficar ainda mais constrangido.

— Agora já sabemos até porque ele está doente. — Voltaram a rir.

— Aigoo, parem com isso! — De braços cruzados, inflou as bochechas. — E guarde tudo direitinho dentro da sacola, do jeito que você encontrou. — Estreitou os olhos para o melhor amigo.

— Tá bem, pombinho apaixonado. — Bufou, ouvindo suas risadas.

— Ficou bravinho por que? Não é verdade, TaeTae? — O Jung se juntou ao outro para provocá-lo.

— É! Confessa, Tae... — Yoongi se levantou, caminhando em sua direção ficando tão próximo quanto o segundo mais velho, ambos o encarando com sorrisos exagerados, deixando-o ainda mais envergonhado.

— Ham?

Ficaram repetindo a pequena palavra, até quase afundar na cadeira sentindo o rosto pegando fogo e o coração subindo por sua garganta.

— Eu estou! — Esbravejou. — Satisfeitos?! — Tentou controlar, mas um novo sorriso grande surgiu em meio ao seu constrangimento.

— Está o que? — O branquelo fingiu não saber, sorrindo até mesmo com os olhos, lhe fazendo revirar os seus.

— Você sabe.

— Não sei, — Com a mão no peito, ele fez a mesma expressão dramática que havia em seu roteiro. — você sabe Hoseokie?

— Eu não sei também, Yoonie. — Ficaram com as expressões caídas por alguns segundos.

— V-Vocês dois não colaboram — sentenciou o Kim, suas mãos de repente se tornando duas pedras de gelo, seu nervosismo fazendo a garganta doer um pouco mais.

— Então fale, meu amigo. — Os mais velhos inclinaram os troncos em sua direção, curiosos demais, colocando certa pressão, sobre si.

— Aigoo... — Usou a expressão que não saía dos lábios vermelhinhos, novamente. — e-eu estou apaixonado por ele — Aqueles olhares também sorridentes, grandes e exagerados, continuaram fixos em seu rosto. — m-muito apaixonado mesmo.

— Ah, ele falou! — Yoongi e Hoseok deram as mãos, pulando em círculos atrás da mesa grande do patrão, comemorando.

— Quando foi que finalmente percebeu que estava gostando do Ggukie?

As perguntas só pioravam e mesmo com o rosto e peito flamejantes, continuava sentindo muito frio.

— Não quer um documento com todas as regras de dissertação, contando? — Nervoso, o Kim perguntou a primeira bobagem que apareceu em sua mente.

— Por favor! — Afundou-se mais na cadeira giratória, praguejando-se por ter de falar algo tão... grandioso e até complicado, para os dois amigos.

— Nós fomos visitar o aquário — Começou, relembrando cada segundo daquela tarde magnífica ao lado do moreninho. — e ele voltou a ser tão bonito aos meus olhos por causa do Ggukie. — Sorriu exageradamente, esquecendo-se dos mais velhos, como se tivesse contando aquele dia para si mesmo em voz alta. — Foi incrível cada segundo lá e no final, ele sorriu, foi um sorriso tão grande e só dele... foi aí que eu percebi que estava apaixonado por cada traço e gesto, ele não fez nada, apenas sorriu pra mim e meu coração foi parar nas mãos dele.

Os próximos segundos se passaram silenciosos, Tae já esperava mais risadas de sua cara.

— Meu Deus... — O Min começou. — eu nunca ouvi tanta boiolagem.

Deixou um riso soprado escapar, mas ele não mentiu, precisava expor como se sentiu quando viu aquela expressão tão linda.

— Isso foi tão romântico, que nojo. — Hoseok chacoalhou a cabeça, demonstrando o arrepio que passeou por si.

— Eu não posso julgar, com o meu gatão foi igual. — Yoongi negou desacreditado de que tinha feito o mesmo quando se apaixonou, arrancando risinhos dos amigos.

— Quando éramos namorados também? — O Jung perguntou, com os olhos também comprimidos em um sorriso, na mente, inúmeras lembranças.

— Claro! — O Min lhe retribuiu, um pouco nervoso. — Mas você vai falar isso tudo para o Ggukie, Tae? — Mudou de assunto, tombando a cabeça quando o mais novo ali negou, deixando a dúvida nas faces de cenhos franzidos. — Por que?

— Ggukie está melhorando cada dia mais — Taehyung sorriu orgulhoso, por poder estar acompanhando e ajudando na luta de seu pequeno anjo. — mas não posso cobrar esse sentimento dele, não quero estragar tudo o que ele está construindo.

— Ei amigo, — Yoongi deu a volta na mesa, apoiando as mãos em seus ombros. — dê tempo ao tempo, as coisas vão melhorar ainda mais, você vai ver.

Taehyung se limitou a sorrir para o branquelo.

— Logo ele vai estar caidinho de amor por você também. — Riram baixinho da fala de Hoseok.

— Bom, então vamos deixar você trabalhar, precisa se apressar se quiser voltar para casa cedo e ver sua paixão. — Suas bochechas ficaram doloridas, pelo tamanho sorriso.

— Vou focar aqui e já mando tudo para vocês. — Os mais velhos assentiram, saindo de seu escritório sorridentes, ainda que um pouco preocupados com a saúde de seu não mais caçula.

— Vou descontar esse atraso do seu salário, viu? — Gargalhou com a fala de Yoongi antes deles saírem de fato.

Realmente se concentrando no que devia fazer, o acastanhado passou a se sentir melhor com o remédio fazendo efeito em seu organismo, tentando fazer tudo o mais rápido possível a fim de ir para casa, ou talvez, para a ONG terminar o dia com seu anjo e os doces filhotes de lá. Ah, era o programa perfeito.

Pensando nisso, poucos minutos depois, uma mensagem do felino de sardas chegou em seu celular, junto de uma foto que ao abrir, acelerou seu coração doidinho por aquele garoto de orelhas compridas brancas e peludinhas. A foto focava no rostinho apagado, a bochecha direita mais gordinha por estar descansando sobre o dorso da mão e o tronco confortavelmente sobre um estofado, porém, o que encantou-o ainda mais, era a presença de orelhinhas cor de chocolate e cabelos compridos descansando ali, da filhote ressonando igualmente sobre seu corpo. Automaticamente passou a não sentir mais nenhuma dor. Na legenda dizia que no pouco tempo que Jimin havia se afastado para resolver um simples problema, Ggukie havia se juntado com os outros coelhos para tirar um cochilo e o encontrou ainda dormindo.

Sorrindo de forma extremamente exagerada e boba, ficou observando aquela imagem tão bonita, esquecendo-se até mesmo de responder Jimin, estava vidrado nos olhinhos fechados e na expressão tranquila de Jeongguk, nos lábios entreabertos e nas bochechas gordinhas, mal havia reparado, mas sua felicidade era imensa por vê-lo mais gordinho e saudável, noona tinha a maior responsabilidade quanto a isso.

Mordendo a pontinha da língua, deixando um riso soprado escapar para si mesmo e para o vento ao redor, lembrou-se outra vez de sua maior missão e algo a mais que estava demorando para chegar, mas que ajudaria o anjo a livrar de sua visão marcas que poderiam lhe trazer memórias ruins. E como se adivinhasse, logo três batidas na porta se fizeram presente e Hua entrou com uma caixinha comprida em mãos, saindo rapidamente ainda envergonhada. Taehyung sorriu largo abrindo-a, revelando uma espécie de pomada com uma composição forte e cheirosa, feita pelo cientista e quase pai de sua empresa, que garantiu a eficácia da retirada de quase todas as marcas físicas que jamais voltariam a tocar a pele do anjo, todo o brilho alvo seria do moreninho outra vez e somente dele.

Suspirando, guardou-a novamente com todo o cuidado que possuía, recostando na cadeira retornando a seu trabalho com alegria. Dariam juntos mais um passo à frente e nada poderia desviá-los do lindo caminho que os aguardava.

[...]

O gatuno reapareceu em outra parte protegida do imenso jardim, essa sugerida por alguns híbridos adultos quando perguntou sobre Jeongguk e os filhotes depois de uma longa conversa com os donos da ONG sobre o mesmo fazer parte da luta que travavam a anos, claro, quando estivesse mais preparado, e o ajudaria quanto a isso também. Sorrindo e apertando os olhinhos de forma fofa, passou a assistir os filhotes de orelhinhas e rabinhos, longos e pequenos de todas as cores, eufóricos e curiosos ao redor do moreno.

— Noona me ensinou a plantar assim. — Se aproximando do grupo, notou todas as mãozinhas sujas de terra e muitas folhinhas plantadas na hortinha, Ggukie terminava de cobrir as raízes do que futuramente seriam alfaces roxas.

— A professora vai ficar muito orgulhosa da gente! — Uma pequena híbrido de esquilo soltou animada, recebendo vários gritinhos em concordância.

— Nós vamos contar a ela que nos ajudou, tio Ggukie! — Nora, a pequena coelho que criou uma afeição tão grande pelo outro que era incapaz de deixá-lo por um momento sequer, bateu palminhas saltitante por sobre os próprios joelhos na terra fofa da estufa.

— A senhora noona vai nos visitar algum dia, tio Ggukie? — Um híbrido de gatinho perguntou em meio ao som característico de seu lado animal, coçando o narizinho arrebitado com a pontinha do dedo rechonchudo.

— Ela é uma híbrido de ursinho igual ao TaeTae herói? — Foi a vez de Sunbae perguntar, esse que não parava quieto em momento algum, com o rabinho longo e peludo acertando qualquer coisa ao seu redor.

— Noona é uma humana também, mas é muito boa e inteligente e carinhosa, ela vai adorar conhecer vocês — O moreno respondeu sorridente, atritando uma mão na outra retirando o excesso de terra. — mas não pode de jeito algum quebrar as regras da casa, ela puxa nossas orelhinhas. — Automaticamente todos gargalharam, pareciam não ter receio, cobrindo com as mãozinhas suas partes mais sensíveis e instintivas, protegendo-as.

— Podemos combinar algum dia para noona ensinar vocês a cuidar da hortinha. — Jimin sugeriu, rindo baixinho com a surpresa dos filhotes ao ouvirem sua voz e rapidamente foi agarrado por mãozinhas cheias de terra, gargalhando com as vozes fininhas lhe pedindo colo.

— Quando a senhora noona vai vir? Pode ser amanhã, tio Jimin? — O pequeno gato tentou escalá-lo, ganhando o suporte de suas mãos até se sentar em seus ombros.

— Pode não ser logo amanhã, mas em breve, crianças, — Apesar de alguns resmungos frustrados, todos os filhotes concordaram. — agora eu e o tio Ggukie precisamos ir também.

— Mas já? — Nora e Sunbae perguntaram ao mesmo tempo, abraçando a cintura do coelho mais velho.

— Nós ainda não brincamos de pique-esconde! — Jeongguk riu baixinho junto de seu hyung gatinho, os filhotes pareciam ter energia infinita.

Poucos minutos depois, enquanto, tentavam se despedir dos filhotes manhosos, alguns híbridos adultos passaram pelo corredor dos enormes portões, atraindo a atenção dos olhos negros. Eles estavam cansados, sentia em seus cheiros, porém também felizes por mais um dia de trabalho, livres. Em seguida, o jardim inundou-se de sons característicos e logo os pequenos correram em diferentes direções, para seus pais, se despedindo brevemente dos visitantes.

— Chegou a hora de sossegar — O Park comentou, trocando risadinhas com seu dongsaeng. — Vamos? — Recebendo como resposta um assentir leve e cansado, o gatuno sorriu largo passando a guiá-los para o estacionamento outra vez.

O caminho de volta deixou o coelho confuso, mesmo que admirado com a paisagem em volta, nunca havia visto aquela parte da avenida e se perguntava para onde o hyung estava os levando.

— Ggukie? — Jimin fez um teste lhe chamando, o menor estava tão quietinho que achou estar cochilando, e entenderia, os filhotes mal paravam para se alimentar direito, quem dera com um visitante que gostavam tanto, próximo.

Deixou um riso soprado escapar com o rosto de bochechas coradas e olhos molinhos virando em sua direção.

— Só queria dizer que estamos indo para a empresa, o Tae ligou avisando que precisaria ficar até mais tarde, assim você pode fazer companhia a ele e conhecer o prédio também.

Se tinha algum resquício de sono nas orbes recusando-se a se render a um cochilo, sumiu rapidamente com o novo passeio e o que poderia ver e conhecer onde seus hyungs trabalhavam. O Jeon sorriu exibindo os dentes avantajados, permitindo suas orelhas dançantes de o entregarem.

— Muitos híbridos trabalham lá, há pessoas boas e uma máquina que faz café! — Poderiam ter se passado anos e Jimin ter visto infinitas máquinas de café, mas sempre ficava com os olhinhos quase dourados cintilando, no tempo que esperava seu café ficar pronto.

— O hyung gosta de café também?

— A melhor bebida que eu já provei, — Sorriram grandiosamente um para o outro. — você vai adorar aquela máquina, Ggukie.

— Noona diz que não posso tomar muito café de manhã, — O felino riu baixinho, já imaginando o porquê. — que não é saudável jovens ficarem tão agitados. — O narizinho avantajado remexeu-se, recordando do cheiro tão bom da bebida.

— Ela está certa, mas depende do jovem, Yoonie não reage antes do almoço nem se tomar a máquina inteira. — Gargalharam, aproveitando o momento aconchegante, totalmente protegidos do frio pelo ar condicionado do carro.

Para Jeongguk, o dia estava até mesmo quentinho por conta própria, teria muito a contar para sua amiga panda e também para seu príncipe, tudo o que havia aprendido e que teve liberdade para fazer e explorar. Para Jimin, não houve na semana inteira uma sensação que fosse melhor que a do dia cuidando do garoto coelho, o ajudando como o ajudaram, ensinando-o como lhe ensinaram e como quis voltar a viver, se apaixonar e lutar pelos seus.

Passando por um portão automático feito de vidro escuro, escondendo da visão de quem passasse na rua o amplo estacionamento recheado de carros bonitos, Jeongguk saltou do banco do passageiro erguendo o rosto acompanhando o prédio cinzento, porém que também tinha sua beleza, remexendo-se agitado, curioso para conhecer o lugar que seu príncipe comandava.

Ao pararem na entrada do primeiro andar, o felino encostou um cartão com sua foto em uma máquina, essa que fez um barulho engraçado e o permitiu girar a catraca passando para o outro lado, o moreno repetiu o processo quando liberado por aquele pequeno objeto, que voltou a contornar o pescoço do hyung junto de uma cordinha preta, e antes que pudesse explorar, seus olhos encontraram a primeira máquina de café do edifício, o que arrancou uma risadinha do Park ao perceber o alvo de tanta atenção do dongsaeng.

— Você quer um café, Ggukie? — Esfregou uma mão na outra, insinuando que era uma boa sugestão contra o frio.

— Quero, hyung — O de orelhas compridas seguiu em direção a máquina, sendo seguido pelo gato risonho. Com o dinheiro posto, junto de copos térmicos, os dois híbridos inclinaram os troncos levemente, assistindo o líquido escuro ser despejado e o cheiro tomar todo o ar ao redor, com os olhos de pupilas dilatadas e orelhinhas dançantes.

Após beberem, dando a volta pelo piso bem decorado e iluminado, atraindo alguns olhares curiosos e admirados sobre o Jeon, Jimin os guiou até o elevador, apertando o décimo primeiro andar.

— Você vai gostar do nosso departamento, é a cabeça de todo o prédio. — falou ele orgulhoso, arrancando uma risadinha do mais novo.

Quando as portas se abriram, muitos pares de olhos correram até o novo visitante, e alarmando Jeongguk, os donos desses também. O felino deixou um riso soprado escapar, notando-o se esconder atrás de si aos poucos e de forma discreta, fugindo de tantas pessoas ansiosas querendo lhe cumprimentar.

— Eles são bons, Ggukie. — Sorriu terno, trazendo-o para seu lado novamente.

Porém, a maior preocupação de Jeongguk não era as pessoas, nem tantas vozes diferentes para identificar, e sim, seu estado, esteve brincando com filhotes espoletas a tarde toda, se sujou e sequer pensou na possibilidade de visitar seu protetor no trabalho.

A verdade era que não pensava em mais nada quando estava em casa. Sua segunda casa.

Chacoalhando a cabeça tentando afastar os nozinhos que surgiram, repuxou os lábios para os outros híbridos e humanos próximos, ouvindo-os mesmo que tímido o suficiente para não responder com muitas palavras.

— Olha só... o coelhinho do patrão já está famoso. — Aquela voz carregada de deboche fez o gato estrangular um miado feroz.

Voltando em direção a ela, Jeongguk encontrou dois híbridos da mesma espécie, eram tão bonitos como todos que encontrou na empresa de seu príncipe. Híbridos de veado. Ambos tinham por pele um bronzeado natural; maçãs dos rostos cobertas de sardas, como seu hyung gatinho; cabelos compridos, um pintado de carmesim e o outro escuro como o seu; seus olhos beiravam o dourado e sobre suas cabeças, galhadas pequenas de orelhas caídas, mas que ainda sim eram belas.

Alguns funcionários, que antes brigavam para decidir quem iria acariciar as orelhas felpudas do fofo recém chegado primeiro, reviraram os olhos ao vê-los chegando, atraindo a atenção do moreninho. Eles não pareciam bons meninos.

— É bom tomar cuidado com as amizades que escolhe aqui dentro, coelhinho... — Disse o mais alto, cruzando os braços com um sorriso estranho adornando os lábios.

— Então pode deixar que nessa parte eu ajudo ele! — O rosnado escapou do gato irritado. — Desculpe Ggukie, eu me esqueci que aqui também tem pessoas insuportáveis. — Sussurrou para o mais novo e puxando-o pelo braço, o livrou da onda de funcionários que passaram dias curiosos depois que contou sobre o mais novo, guiando ambos para a sala do patrão, entrando sem nem mesmo bater na porta, no entanto, não achava necessário, não com o amigo tão próximo que cuidava igualmente e que estava louco para ver o garoto coelho.

Assim que adentrou completamente o cômodo gigante, o olhar de Jeon buscou imediatamente pelo príncipe e seu cheirinho espetacular, sorrindo animado e com o pompom que tinha por rabinho eletrizado ao vê-lo atrás da mesa, chamando o olhar de mel com o seu.

— Ggukie, você chegou!

O gatuno conseguiu apenas rir do jeito atrapalhado de seu outro dongsaeng, que automaticamente se levantou ao percebê-los ali, batendo levemente o joelho no vidro, mas sem se importar, dando a volta na mesa aproximando-se.

— Boa tarde para você também, TaeTae. — Jimin riu baixinho, recebendo até mesmo o olhar sorridente do mais novo.

— Obrigado por cuidar do Ggukie, Jimin-ah! — O mesmo agradeceu em um tom rouco desgastado. Ficou preocupado.

— Foi um prazer — Negando, ainda que sorrindo levemente, bagunçou os cabelos desgrenhados. — meu Deus o que passou nesse cabelo hoje?

— Estava ficando louco com alguns documentos, mas enfim terminei. — Riram baixinho, mesmo que os olhos do Kim tivessem voltados para os de jabuticaba, como se ele estivesse justificando para Jeongguk e não a si.

— Entendo, logo eu vou te trazer mais então, não se preocupe — Finalmente recebendo atenção outra vez, gargalhou com a expressão sofrida que Tae lhe lançou. — bom, está entregue — Sorriu grande junto dos olhos na direção do Jeon, lhe acariciando os cabelos igualmente. — quando quiser ir de novo, é só me chamar Ggukie. — Soltando uma piscadela, deixou-os sozinhos.

— E então, como foi lá? — Taehyung perguntou animado.

— Foi incrível! A ONG é tão grande e bonita, hyung — Suspirando ao mesmo tempo, por motivos diferentes. O moreno por rever em suas memórias cada cantinho que conheceu, e o acastanhado por vê-lo brilhando falando sobre.

— Eu não imaginava que ela se tornaria tão grande e forte, — Os olhos de mel analisaram os incrivelmente brilhantes, a noite enfeitada com os mais bonitos astros dentro das formas redondinhas. — graças à força de vocês.

O Kim especificou com o tom firme na voz, o dinheiro não foi tudo para erguer um lar, construir novas vidas. Nunca esteve tão orgulhoso de poder ter feito parte de tudo aquilo, era uma sensação surreal, lhe fazendo acreditar que era um bom homem, um bom herói.

— Mas eu não fiz nada lá. — Seu pequeno repuxou os lábios de forma acanhada.

— Você já começou, Ggukie — Dando um passo à frente, deixando a mínima distância que conseguia entre seus corpos, Tae pode admirar mais de perto a beleza daquele ser. — só não consegue ver ainda.

— Obrigado, Tae — De surpresa, seu tronco foi enlaçado pelos braços do moreninho, que sem hesitar, agora encostava a cabeça em seu peitoral, confiante e tranquilo, aumentando as dimensões de seu sorriso, podendo ouvir as batidas aceleradas do coração do príncipe.

— Não é nada, — Retribuindo-o, Taehyung apoiou o queixo no topo de sua cabeça. — a ONG traz uma energia muito boa e me faz acreditar que estamos cada vez mais perto de vencer essa luta.

— Depois de tudo o que vi lá, eu acredito também. — A declaração baixinha derreteu ainda mais o acastanhado.

— Estou ansioso para que me conte tudo o que descobriu hoje, pequeno — Se afastando calmamente, continuaram com os olhares conectados, sorrindo junto a seus lábios. Ambos sentindo-se renovados depois de uma tarde inteira sem se ver.

— Foram tantas coisas... — Jeongguk sorriu envergonhado, não tinha certeza de que seu príncipe tivesse disposição para ouvir tudo o que havia acontecido durante o dia.

— Então por favor, não se esqueça de nenhum detalhe. — O pedido rouquinho fez seu coraçãozinho já apressado, disparar ainda mais e um frio dançante percorrer sua barriga.

Agitado, Taehyung o segurou pela mão, o toque contra a epiderme gelada, automático e delicado, talvez porque também estivesse com saudade... muita saudade do anjo, trouxe ao mesmo o primeiro arrepio bom, e sem pensar muito, culparia a gripe por seu gesto tão inesperado.

Permitindo-se ser guiado até o sofá camurça, parecido com o que o hyung tinha em casa, Jeongguk se sentou ao seu lado, novamente sentindo aquele cheiro agridoce e a temperatura elevada emanando do corpo maior. Decidido a distraí-lo das dores, tomou coragem tocando a mão grande e quentinha, juntando-as como na visita ao aquário.

— Jimin hyung me mostrou tudo por dentro, — Começou em um tom suave. — lá tem uma sala gigante; uma ala hospitalar para primeiros socorros; um refeitório que tem comida infinita; — Um sorriso largo e totalmente bobo dominou a faceta do Kim, que tinha as pernas bambas sob suas mãos unidas. — tem quartos quentinhos para todos e também... — Os olhos de jabuticaba se esbugalharam, como se estivesse vendo outra vez o que mais o encantou. — tem um berçário e muitos bebês livres nos ninhos — O pequeno Jeon não poderia estar mais deslumbrado com aquele lugar de cores claras e muros altos, quente e protetor, um lugar para se viver em paz.

O acastanhado não disse nenhuma palavra, não conseguiria mesmo se quisesse, seguia vidrado nas expressões engrandecidas e nas palavras doces deixando a boca vermelhinha do anjo, onde contava cada segundo com muitos detalhes, revivendo o dia como no aquário que visitaram. Jeongguk viu e ouviu tudo como se sentisse um sopro quente de verão surgir de dentro para fora em seu corpo, reunindo as vozes e imagens que jamais se esqueceria, e mesmo com medo de saber quantos híbridos passavam diariamente pelo terror de serem obrigados a retornar para os antigos donos, seu olhar negresco cintilava e seu interior revirava, inspirado a lutar pelos seus também.

— Você gostaria de registrar algum momento sobre hoje, Ggukie? — Tae perguntou de forma doce, ajeitando a postura que o ajudava a esconder as sacolas coloridas. Um de seus primeiros presentes, da generosa lista que fez mentalmente para o anjo.

Jeongguk tombou a cabeça levemente, curioso para saber onde o príncipe desejava chegar com aquela pergunta.

— É como se fosse um diário, mas em forma de desenho.

Seus olhos se arregalaram e os lábios entreabriram.

— São tantos momentos que não caberiam em uma folha de papel, hyung! — A euforia e jeito fofo do mais novo em tentar se conter, palpitaram ainda mais o coração do acastanhado.

— E se for em muitas telas? — Um biquinho adornou os lábios vermelhos e volumosos, o olhar negresco ponderando uma resposta, entregando-se com o brilho intenso que os dominava. — Eu tenho um presente para você... — Levando as mãos para trás, agarrou as alças das sacolas, rindo baixinho com o menor se remexendo no sofá, tentando ver o que tinha ali.

Calmamente, retirou de trás das costas os embrulhos, sorrindo grande os oferecendo ao mesmo.

— Hyung...

Surpreso, o garoto coelho trouxe as sacolas para seu colo, abrindo-as devagar, com as mãos de repente gélidas. Seu coração naturalmente acelerado quis escapar por sua boca quando viu tantas cores e pincéis de diferentes tamanhos e texturas e paletas de plástico, suspirou encantado, encontrando na outra telas de tamanhos menores. Eram tantas coisas juntas em um presente incrível e bonito.

— São muito lindos, — disse depois de curtos minutos observando tudo com imenso carinho. — obrigado, Tae hyung! Eu não sei nem como agradecer.

— Apenas pinte, Ggukie, — Seus olhos voltaram a se chocar, bem como seus corações acelerados. — conheça a si mesmo outra vez e pinte o que quiser, é tudo o que desejo. — As bochechas mais gordinhas se tornaram intensamente rubras, o príncipe não poderia saber o quanto fazia-o ficar cheio de nozinhos quando lhe dizia palavras tão bonitas e sinceras.

— Então pinte uma tela comigo, — O mais velho prontamente negou, rindo abafado desviando o olhar para o chão. — é tudo o que desejo. — Repetiu, mordendo o interior das bochechas contendo uma risadinha, ficando sob o olhar de mel novamente descontraído.

— Você é muito espertinho, mas não sei pintar. — Taehyung sentia-se envergonhado, levando as mãos pinicando para os cabelos, descontando seu nervosismo puxando os fios levemente de forma disfarçada.

— Não diga isso, hyung, por favor! — O Jeon insistiu, lhe oferecendo um pincel pequeno, convencendo-o rapidamente ao somente exibir os dentinhos avantajados para si.

— Então vamos começar! — Batendo as palmas em um high-five, trocando singelas risadas, ambos se acomodaram no chão morno pelo aquecedor, Jeongguk escolheu uma tela de tamanho médio e passou a tirar as bisnagas de tinta da sacola menor, sorrindo grandiosamente organizando-as por seus tons, chamando toda a atenção do empresário, que tinha as mãos bobas, enquanto, tentava tirar o plástico envolvendo o material branco.

Logo ambos estavam rindo e conversando baixo, pensando juntos em um desenho e dando cor e vida sobre a tela, esbarrando os pincéis vez ou outra e derrubando gotinhas de tinta no piso bem polido. Esquecendo-se de tudo ao redor.

[...]

Alguns dias se passaram e o clima na casa, imensa para os três moradores, era calmo e feliz. Noona foi a primeira a despertar, como há anos estava habituada, saindo de seu quarto extremamente organizado ajeitando o coque mesclado de fios castanhos e brancos, caminhando diretamente para a cozinha abrindo a janela, sorrindo animada para as massas descongeladas sobre tábuas pequenas e lisas de madeira no mármore na pia, essas que seus meninos adoravam. Erguendo as mangas da blusa salmão que vestia, desembalou os pães doces e de queijo, descansando-os em formas e guiando uma delas para o forno elétrico, acionando o timer, em seguida, colocando água na chaleira a pondo sobre uma das bocas acesas do fogão, deixando seu cômodo preferido na casa pra ir regar suas plantinhas, enquanto esperava o sinal da chaleira pela água fervida.

Jeongguk abriu os olhos bem descansados piscando lentamente, pouco tempo depois, desejando bom dia de forma muda para o pequeno boneco articulado do homem de ferro ao lado de sua cama, levantando-se com preguiça caminhando para o banheiro, saindo pronto e mais desperto começando a organizar o quarto como rapidamente se acostumou a fazer, sua rotina era boa e gostava de poder realizar aqueles hábitos todos os dias.

Com as orelhinhas dançantes, observou todas as tintas e pincéis sobre a cômoda, sorrindo grande, sentindo o peito aquecido ao se lembrar de todas as coisas boas que aquele presente do príncipe lhe trouxe, pensando no que poderia pintar para presenteá-lo também.

Além do quarto sentiu o fraco cheirinho de morango e chuva, decidindo deixar o príncipe doentinho descansar mais, descendo a escada indo diretamente para a cozinha, onde o cheiro mudava para pãezinhos doces e baunilha.

— Bom dia, noona!

A mais velha, já acostumada com o jeitinho ligeiro e silencioso de seu orelhudo, nem mesmo se assustou, virando-se em sua direção sorrindo, segurando a garrafa de café fresquinho.

— Bom dia, Ggukie! — Ao vê-la com a garrafa, os dentinhos avantajados se exibiram e o garoto virou para os armários, pegando as toalhas que compunham a arrumação da mesa. — Seus pãezinhos já vão ficar prontos, pode beliscar enquanto não termino nosso café da manhã.

— Eu quero ajudar. — O garoto eletrizado dos pés as orelhinhas, foi colocando os objetos de cima do balcão sobre a mesa quase pronta.

— Eu percebi. — Com uma risadinha, a mesma colocou a garrafa no centro do móvel, voltando para o fogão cuidar do chá borbulhando, para seu moleque, enquanto, o coelhinho intercalava o olhar, parecendo pensativo tentando resolver uma grande questão, entre o forno elétrico com os pãezinhos açucarados e o pote com cenouras picadas descansando na pia. Com a televisão ligada, começaram a discutir sobre o novo artesanato apresentado no programa.

Após o preparo do café divertido cheio de conversas e risadas, a mesa ficou pronta e o coelhinho ainda mais inquieto, parecendo esperar ansiosamente por apenas uma frase de noona.

— Querido po... — Ggukie sequer foi capaz de deixá-la terminar a frase.

— Devo acordar o hyung? — Seu coraçãozinho retumbou nas orelhinhas compridas.

— Por favor — Byeol riu anasalado, assistindo-o concordar e lhe dar as costas, subindo as escadas apressado. — esse menino... — Negou para si mesma, sorrindo atoa.

No alto da escada, o moreno passou alguns segundos apreciando os feromônios tão bons de morango e chuva, ainda se questionando do porquê admirava tanto o cheirinho do príncipe. Era incomum humanos terem um cheiro característico, Yoongi e Hoseok hyungs também tinham bons feromônios, mas não se comparavam aos de Taehyung, que o puxavam enfeitiçado a seu encontro e sabia que seguiriam o puxando mesmo que estivesse a milhas de distância.

Jeongguk sorriu, não compreendia o que era aquilo e apesar de desejar tanto saber, tinha paciência e vontade de aprender tudo o que deveria antes de encontrar uma resposta.

Chacoalhando a cabeça, continuou seguindo os morangos frescos, estranhando não virem do quarto novamente bagunçado, e sim, da única porta no corredor que seu hyung jamais abriu desde que o salvou, mas que confiou a si a informação de que era de sua falecida mãe.

Devagar, foi se aproximando da porta aberta, revelando uma cama de casal coberta por tecidos brancos, bem como em quase todos os móveis ali presentes. Dois em específico tiveram os tecidos arrastados que descansavam no chão, um piano e um violino.

Jeon jamais viu instrumentos mais belos do que aqueles, observados pelos olhos de repente tão escuros e pesados de Taehyung, perdidos em memórias do passado.

Permanecendo em silêncio, acompanhou os dedos delgados dedilharem a madeira do violino, o olhar preso nas teclas do piano negresco ainda brilhante e nas sapatilhas de balé gastas sobre ele. Seu príncipe queria chorar, mas a dor se mantinha presa em sua garganta, como si, também não havia conseguido logo em seu primeiro passo.

— Bom dia, pequeno. — A voz rouquinha soprou calma, encontrando o moreno tentando observá-lo de forma disfarçada ao longe.

— Bom dia, hyung. — Ggukie o cumprimentou baixinho, adentrando o quarto com poucos passos sem aproximar-se completamente do príncipe.

— Eu estava só matando a saudade, hoje é o aniversário dela... — O acastanhado lhe explicou sem que precisasse perguntar, e de fato, Jeongguk não iria, sabia como era difícil falar sobre a saudade de alguém.

Tae tocava no violino com devoção, talvez tentando sentir mais do que a madeira bem polida e brilhante, revivendo os momentos à sua maneira. Era tão intenso que o garoto coelho quase pode sentir o mesmo que ele.

— São lindos, — Jeon foi se aproximando calmamente, observando o piano e as sapatilhas. Aquele pertencia a mulher que gerou seu príncipe. — Vocês... tocavam juntos, hyung?

— Sim... — Um sorriso pequeno contornou os lábios apessegados. — quando eu tinha sete anos, minha mãe me colocou nas aulas de violino e nunca mais paramos de tocar juntos. — O moreno sentou-se ao lado do mais velho no sofá coberto pelo tecido branco, com as orelhas extensas dançando, adorando ouvi-lo falar. — A casa nunca tinha sido silenciosa... — Seu peito se comprimiu ao vê-lo perder o sorriso.

— Não toca mais? — Repuxando os lábios sem conseguir se conter à pergunta inocente, Tae suspirou, apoiando a cabeça no ombro do anjo.

— Não consigo há dez anos.

— Nem sempre conseguimos na primeira tentativa... — Uma lufada de ar escapou de forma divertida pelos lábios apessegados.

— Tem toda razão, pequeno. — Foi sincero, recordando de quando lhe disse a mesma coisas encorajando-o em sua tarefa de autoconhecimento.

— E acho que só por estar aqui, no meio das lembranças, deu um passo à frente, hyung. — Jeongguk tomou coragem, acariciando os cabelos do príncipe.

— É que me sinto mais forte desde que segurou a minha mão... — O Kim confessou, sem coragem de se afastar, estava envergonhado demais para encarar sua doce paixão.

— Então vamos continuar tentando juntos, TaeTae.

— É uma ideia maravilhosa, Ggukie.

Os garotos permaneceram daquela forma por mais um longo tempo, e o silêncio naquele quarto nunca foi tão reconfortante para Taehyung, abraçado em seu violino, movendo a cabeça minimamente com o solavanco suave do ombro pela respiração do moreninho. Os olhos fixos na lembrança da mulher magra de longos e brilhantes cabelos castanhos tocando piano, com um pequeno TaeTae e Yoonie correndo ao redor.

Noona quebrou o silêncio os chamando para o café da manhã, afinal, havia estranhado a demora dos garotos, suspirando incerta pela sensação de entrar naquele quarto outra vez, mas aliviada por não ver seu moleque quebrado outra vez. Sabia que deviam ser os efeitos de seu orelhudo sobre ele, os viam juntos e quase conseguia ver algo além da força e amizade nascendo.

Após a refeição e o corpo esbelto vestido no terno cinza chumbo, Tae sorria abertamente sentindo-se melhor, não recusando poucos minutos na presença do coelhinho para um pouco de pintura, esquecendo-se da sensação sufocante da data de aniversário de sua mãe que o acordou pela manhã.

[...]

Ao que o Kim percebeu sua segunda mãe de braços cruzados, mas de expressão leve e sorridente ao longe, sentiu o rosto esquentar, mesmo que entendesse que não poderia ficar por mais alguns minutos, o trabalho o chamava e ela não o deixaria esquecer esse compromisso.

— Pequeno, — Tae chamou enquanto colocava o pincel no copo com água. — eu vou ter que ir trabalhar agora... — Seu tom de voz se tornou amuado, era tão bom passar o tempo com o anjo, não queria sair dali.

— Já? — Os olhinhos brilhantes foram de encontro aos seus, redondinhos e persuasivos.

— Infelizmente, mas eu voltarei daqui a pouco para o almoço e poderemos terminar a tela, o que acha? — Um carinho singelo foi depositado sobre o topo da cabeça de fios negros.

— Tudo bem, eu espero — Um sorriso largo de dentinhos expostos tomou os lábios vermelhinhos.

— Então até mais tarde — Se levantando do tapete grosso mesmo contra sua vontade, o acastanhado vestiu o paletó após limpar as mãos no pano que noona havia lhes dado e pegou sua maleta esquecida no sofá de couro.

— Até mais tarde, hyung — Um disfarçado suspiro escapou do garoto coelho, assistindo seu príncipe saindo do cômodo. Conformado, voltou a prestar atenção no que fazia, adiantando sua parte na tela, tentando não pensar em como queria que ele ficasse.

— Deixe o Ggukie fazer a bagunça que quiser, noona — A voz manhosa do sem vergonha de bochechas coradas e manchadas suavemente em alguns pontos com tinta, amoleceram a de fios mesclados, que os assistia do batente da porta.

— Você que vai limpar depois — sentenciou após um beijinho de despedida no que deveria ser um sério empresário, mas que agradecia por continuar doce daquele jeito.

— Limparei até sorrindo e cantando.

— Eu imagino — Ambos riram baixinho e Byeol assistiu ainda risonha, seu menino sumir pela escada, ouvindo o baque baixo da porta minutos depois. — esse menino... orelhudo — Chamou-o da porta, não queria atrapalhar a diversão com tintas do mais novo.

— Sim, noona? — Os olhinhos de jabuticaba se conectaram com os seus, somando ao narizinho remexendo e os lábios repuxados em uma expressão adorável.

— A psicóloga Hyubi virá mais tarde, podem conversar aqui para terem mais privacidade, tudo bem? — O assentir frenético fofo lhe arrancou outro risinho. — Então tudo certo.

— A noona quer ajuda? — Perguntou animado. — Vou esperar o Tae hyung voltar para continuarmos pintando a tela. — Byeol negou, seu menino já havia a ajudado bastante pela manhã.

— Quando for a hora de começar o almoço, querido. — Jeongguk concordou, pegando uma nova cor da sacola colorida que achou tão bonita quanto o resto. — O que vocês estão pintando?

— Vem ver, noona!

Contagiada pela agitação do híbrido, adentrou o cômodo, prevendo a bagunça que ficaria até o final da tarde, parando ao lado do mais novo. Só não se sentaria ali consigo porque suas cadeiras não permitiriam que levantasse depois.

— É o jardim que nós queremos na primavera! — Nós. Byeol sorriu emocionada, somente eles, os moradores daquela enorme casa, saberiam como era a sensação de ouvi-lo se expressando daquela forma tão açucarada.

— Está ficando uma obra prima, Ggukie! — Elogiou batendo palmas de forma fraca, encantada com a quantidade de detalhes e cores espalhadas pelos canteiros e flores, o brilho da grama verdinha, das folhas das árvores, a intensidade do banco e dos troncos, até sua horta repleta de folhinhas e o carrinho de mão azul que usava para transportar as mudas, em um dos cantos. — Vocês trabalharam bem! Podemos pendurar lá na sala! — Riu com o olhar negro se arregalando após sua fala.

— A noona quer pendurar a tela?

— Mas é claro, está ficando tão lindo, meu menino! — O coração desenfreado deu um novo solavanco, Ggukie não tentou se conter, sorrindo grandemente com a forma que foi chamado. — A gente tira um daqueles quadros feios do Tae e colocamos esse, vai deixar a sala mais bonita.

Mesmo gargalhando, divertido pelo tom da mais velha, o Jeon sentia-se orgulhoso, do príncipe e de si, por poder ter reencontrado outro talento.

[...]

Assim que a porta foi aberta, o familiar cheirinho de bambu chamou a atenção do moreno, acomodado na enorme cadeira giratória no escritório do Kim, pintando o jardim como se lembrava antes do inverno levar todas as flores, ocasionando em uma dancinha das orelhas extensas.

— Olá, Jeongguk! — Sorriu grandiosamente ao ouvir a doce voz da amiga panda, levantando-se em um pulo.

— Hyubi noona! — Um riso soprado escapou da mulher citada, em poucos dias sem sessões, percebeu uma enorme mudança no garoto à sua frente, quase completamente colorido, parecendo ter encontrado uma fonte de energia infinita. E aquilo era muito bom de se ver.

— Como você está?

— Estou bem — Se aproximando alguns passos, Ggukie se curvou, como seu hyung gatinho havia ensinado. — e você, noona? — Hyubi permitiu um sorriso adornar os lábios, o jeitinho meigo do outro híbrido aflorava a cada conversa.

— Estou bem também, obrigada por perguntar. — Trocaram singelos sorrisos.

— Eu fiquei esperando por você. — O Jeon foi sincero, afinal, ainda se lembrava de sua primeira lição: amigos compartilhavam as coisas.

— Desculpe passar alguns dias sem vir ver você, filhotes doentes tomam todo o nosso tempo. — A mesma disse ainda com os lábios repuxados, soltando um som divertido com a expressão surpresa que recebeu como resposta do moreninho.

— Você tem filhotes, noona?

— Tenho uma pandinha de cinco anos com gripe em casa.

Ggukie suspirou, abrindo um largo sorriso em seguida, os filhotes eram encantadores em seu ver.

— Eu tenho o Tae hyung com gripe em casa.

Acabou por falar o segundo pensamento que lhe ocorreu, resultando em uma risadinha entre ambos.

— Aproveitando que citou o seu hyung, — A mesma se sentou no sofá de couro preto, não sem antes analisar a tela demasiada colorida, exalando felicidade, sobre a mesa de vidro manchada de tinta. — quais são as novidades que talvez queira me contar?

E sem precisar perguntar duas vezes, o moreno se aconchegou ao seu lado, como nunca fez, desatando a falar sobre tudo o que aprendeu na ONG para poder começar a ajudar seus semelhantes, dos hyungs lhe ajudando e do príncipe principalmente, por todo o seu apoio e incentivo, pela sua simples existência em sua vida.

— E como você se sente em relação a tudo o que aconteceu nos últimos dias?

— Foram tantas coisas que às vezes os nozinhos se acumulam quando penso nelas, — O garoto coelho mal parava quieto sobre o sofá, com um largo sorriso no rosto. Hyubi sorriu pequeno, anotando tudo em seu caderno. — mas eles não dão dor de cabeça, são nozinhos bons.

— Ótimo, eu fico muito feliz, Ggukie. — A mesma não conseguiu se conter, deixando o lado profissional um pouquinho de lado. — Qual é o nozinho que está maior agora? — Assistiu o de fios negros tombar a cabeça levemente para o lado, pensativo.

— Acho que penso muito no que Jimin hyung me falou, sobre amar a mim mesmo para depois entregar meu amor a outra pessoa. — A panda arregalou os olhos por breves segundos, logo pigarreando escondendo um sorriso de canto.

— Já está nesse passo? — Jeongguk assentiu, mesmo que um pouco confuso e indeciso. — Bem, então vamos falar um pouco mais dele depois, primeiro me diga, como está indo na atividade de autoconhecimento? Quantos passos deu a frente dos nozinhos que machucam? — O garoto coelho encolheu os ombros desviando o olhar, a fazendo arquear as sobrancelhas. — E então...?

— Estive indo vários dias na ONG... em casa, — As orelhas extensas dançaram alegres. — queria aprender tudo para poder ser um guardião, acabei me esquecendo da atividade, noona... — Os olhos negros voltaram a encarará-la, brilhantes como os de um filhote travesso.

— Se aprender foi um passo importante para você, então não tem com o que se preocupar. — Hyubi suspirou discretamente, seu paciente havia começado uma nova atividade sem que tivesse a sugerido ainda, estava a um passo em sua frente também. — Mas peço que não se esqueça todos os dias de fazer a atividade. — Por fim sorriu, logo o mais novo não precisaria fazê-la mais.

— Eu prometo, noona. — Jeongguk juntou as palmas das mãos, curvando a cabeça em sua direção.

— Muito bem, agora sobre o que seu hyung falou, você se sente pronto para começar a se relacionar assim com outra pessoa?

— Não... — Ggukie respondeu com sinceridade após alguns segundos de silêncio. Ver um dorama na tv era diferente de fazer e falar por si mesmo, por mais que sentisse vontade de tentar.

— Não se sente bem pensando nisso?

— É estranho, mas não ruim.

— E o que acha que te impede?

— Medo... — As respostas começando a encurtar alertaram a psicóloga, que ajeitou o óculos de grau redondo que escorregava pelo delicado nariz.

— Do que tem medo? — Perguntou em um tom calmo e acolhedor, para ajudá-lo precisaria investigar a fundo.

— De perder... — Seus olhos se encontraram outra vez, e os negros já não tinham mais todo o brilho de quando chegou para a sessão. A expressão da panda amiga denunciou que deveria continuar, mas respeitou os segundos, e talvez minutos, de seu silêncio. Um nozinho vindo atrapalhar todas as coisas boas que havia lhe contado. — de perder todas as cores, e-eu sei quem sou agora, mas ainda tenho um corpo sujo...

— Por que diz isso sobre você mesmo, Ggukie? — O coração de Hyubi se estrangulou, sabia que não deveria sair de seu profissionalismo, porém antes de ser uma psicóloga, era uma híbrido de panda, parte de um povo, de seu pequeno paciente.

— M-Me fizeram acreditar nisso desde que entendi quem eu era, — Jeon engoliu o bolo formado em sua garganta, piscando algumas vezes espantando as lágrimas recém formadas dos olhos. — é difícil pensar nesse nozinho.

— Eu sei como dói, acredite, — A mais velha deu uma breve pausa, terminando de fazer suas anotações. — e também sei que pode dar esse passo e se amar, Jeongguk. — Disse de forma doce. — Só precisa tentar.

Com os minutos seguintes passando de forma silenciosa, a panda prosseguia escrevendo nas folhas exclusivas para o coelhinho, deixando-o se acalmar. E quando depois de um suspiro ele começou a falar, parou para ouvi-lo.

O moreno não tinha certeza, ficava com medo de tantas coisas quando se lembrava daquilo, que mal encontrava palavras para falar.

"O inverno estava rigoroso naquele ano, o garoto magro de dezessete anos lutava para permanecer em pé, assistindo pela janela da sala, o que só pode porque o Jeon queria que visse, o carro grande e branco deixar o acostamento da casa de sua amada avó, escutando a sirene alta até o final da rua.

Extremamente abalado, deixou de sentir qualquer coisa ao redor, a si próprio, ficando imóvel ali até a noite chegar.

Foi naquele dia, onde a velhinha terminou um casaco de lã quentinho que não teve oportunidade de entregar, que o jovem Jeongguk decidiu desistir. A comemoração nojenta do Jeon o fez reagir, ainda que tivesse dado lentos passos até o lugar gelado e imundo de paredes cinzentas, onde se obrigava a dormir em um fino colchão no chão. Sentando-se, abraçou os joelhos ossudos, a cena que viu assim que adentrou a casa de sua avó, até o momento que o Jeon o arrastou dali e o obrigou a assistir, de longe, aquele carro chegar e partir com ela sem vida, deixaram-o completamente no escuro, nenhuma lágrima; nenhum pensamento sóbrio lhe ocorriam, seu corpo tremia e mal respirava.

— Jeongguk! — Não se sobressaltou e pela primeira vez não sentiu medo dele. O Jeon se aproximou de forma lenta, odiava quando os olhos negros não o olhavam apavorados. Se sentou ao lado do mesmo. — Oh Jeongguk, o que foi que você fez?

O garoto nada lhe respondeu, permanecendo com o olhar fixo e vago na parede suja.

— Todas as vezes que você tentou fugir, eu te avisei, — O homem falava como se estivesse repreendendo-o de forma doce. Torturando-o. — alguém sempre paga pelo seu erro... primeiro que ninguém vai querer você, nem sua mãe quis. — Soltou uma gargalhada. — Por causa do seu trabalhinho, é impossível que queiram olhar para você e agora a velha... morreu. — Enquanto os olhos opacos enchiam-se de lágrimas, o Jeon ria e se esperneava divertido. — Você é tão sujo, entende agora o porquê de tudo isso? — A mão grande tocou o queixo do mais novo, virando o rosto vermelho pelo esforço em segurar as lágrimas, para si. — Entende como merece que sua vida seja assim? — Os olhos castanhos o perfuraram de dentro para fora, apodrecendo sua alma um pouco mais.

Aquela foi a noite mais fria de sua vida."

— Você me disse que confia em seus humanos, — O mais novo, assentiu, secando as lágrimas que escorreram desesperadas por seu rosto assim que terminou de contar sua lembrança. — aprendeu coisas novas e está conhecendo a si mesmo, sabe quem é agora... — Jeongguk ficou quietinho, apenas a ouvindo. — veja quantos passos você deu, ainda acha que isso é verdade? — Sem conseguir se acalmar, porém compreendendo-a, o coelho negou. — Está sendo mais forte que o nozinho, Ggukie, você já conseguiu, agora respire fundo. — Fazendo o que ela pediu, Jeon inspirou profundamente, soltando o ar de forma pesada, mas levando com ele a escuridão que inundou sua mente. — Dê o passo.

— E-Eu nunca mereci a-aquela vida. — O menor continuou repetindo aquela frase em sua mente, acreditando nela com todas as suas forças.

— Isso, — Hyubi sorriu, vendo o rostinho perdendo a coloração avermelhada. — hoje não foi nem um passo, e sim, um pulinho. — Jeongguk soltou uma risadinha. — Agora é você continuar pulando para se amar, se olhe no espelho mais vezes, veja com os olhos do Jeongguk, não com outros. — Concordando, o moreninho começou a sentir seu corpo leve outra vez sob a voz calma da panda.

Ambos conversaram por mais longos minutos, onde a panda lhe reforçava a atividade sobre autoconhecimento e outra para ajudá-lo a passar por nozinhos maiores, adiantando-o que algumas vezes não dariam certo nas primeiras tentativas, como havia dado alguns minutos atrás, mas que não deveria desistir e ser forte para encará-las. Ggukie estava sendo seu próprio guardião, e tinha de lembrar mais vezes das palavras carinhosas de seus humanos. Do amor e calor que recebia.

[...]

Quando a amiga psicóloga se foi, Jeongguk continuou sentado no sofá de couro, pensando em tudo o que ela havia lhe falado, no que lembrou e viu tão nítido como se estivesse acontecendo outra vez e de como se acalmou ouvindo sua voz, não havia ficado preso em sua memória, pelo contrário, deu um passo à frente dela.

Encorajado com a nova atividade para fazer e se acalmar, levantou-se caminhando até a mesa bagunçada do escritório, pegando uma tela em branco a trocando de lugar com a colorida que pintava com o príncipe antes da sessão, no cavalete sobre o vidro, encarando-a por bons minutos, sem saber o que pintar, não vinham imagens em sua mente, nada que pudesse fazê-lo descontar os pensamentos acerca daqueles nozinhos maiores e tirar o peso de seu coração.

Olhando para os potinhos das mais variadas cores de tinta, completando o presente do príncipe, suspirou pegando o de cor preta junto de um pincel grande e largo nas cerdas. Despejando um pouco sobre a paleta, tocou a tela criando uma manchinha, mas aquela não era, nem de longe, o tamanho da que via em seu peito.

Com as mãos novamente trêmulas, começou a pincelar para diversas direções, cobrindo um pequeno pedaço da tela com a cor escura, aplicando certa força. Quando percebeu, tinha criado uma mandíbula e o contorno dos lábios sem um sorriso e o nariz, com o pulso acelerado, ergueu o pincel esboçando olhos tristes com sombras densas sobre eles, que encaravam-o fixamente. Retornando para baixo, passou a tinta, um pouco desleixado, demarcando o pescoço e ombros.

Fechando os olhos brevemente, tentou respirar fundo, pensando se aquilo que sentia significava que a dor poderia estar aliviando, que estaria saindo de dentro de si. Ao reabri-los, seu peito se comprimiu e as vistas inundaram-se de lágrimas, havia usado uma camada tão generosa de tinta, que debaixo dos olhos opacos escorreram gotas fortes e negras, pingando na mesa causando um melancólico tilintar. Em seguida, outras escorreram pelos ombros e começando a desesperar-se, largou o pincel remexendo os potes de tinta, a pintura estava triste, aquele olhar lhe pedia socorro. Atrapalhando-se com os dedos gélidos, derrubou alguns, capturando o vermelho, azul, verde e amarelo, abrindo todos de uma vez despejando nos cantinhos da paleta.

— N-Não... não chore.

Com as próprias gotinhas salgadas escorrendo quentes por suas bochechas, ouvindo em sua mente as risadas nojentas do Jeon, borrou as linhas de tinta preta, usando as outras cores até mesmo com os dedos, tentando colorir aquele rosto de traços apagados, espalhando o vermelho, amarelo e azul por seus lábios e bochechas, terminando com uma manchinha embaixo do olho, falhando em apagar a origem da lágrima. Determinado a alegrá-lo, pegou o pincel novamente, usando as cores para pintar seu cabelo, contornando-o com preto, deixando tudo borrado outra vez, não via direito o que estava fazendo, tentando conter o próprio choro.

Misturando as tintas pela própria paleta com a tamanha força que usava para aplicá-la na tela, prendeu a respiração ao vê-las escurecendo também, onde tentava colorir no ombro, descendo para o coração.

— S-Seu coração...

Abrindo os potinhos de tinta, agitado, derrubando um pouco de vermelho sobre a mesa, tentou consertá-lo, ouvindo aquilo de novo...

"— Se tentar fugir mais uma vez, eu vou ter que te caçar e quando te encontrar... — A risada sinistra do homem ecoou pela dispensa. — vou te ensinar direitinho e vai se arrepender de ter nascido, ninguém se importa com um imundo como você. — Então o Jeon saiu cantarolando a morte de sua amada avó, tão feliz por ter tirado algo mais de si, batendo a porta para em seguida trancá-la, tirando-o toda a luz, o prendendo no escuro."

— P-Pare! Pare! — Puxou os próprios cabelos, soluçando enquanto se sentava na cadeira, balançando-se para frente e para trás levemente, até que a voz sumiu de uma vez.

Erguendo o olhar úmido bons minutos depois, soltou os fios de cabelos, calmo outra vez ao olhar para a tela borrada, o olhar opaco ainda lhe pedindo socorro e seu coração manchada do tom mais escuro. Sua atividade tinha funcionado, ao menos havia posto aquela dor para fora, parando de pensar e ouvir, quase desfazendo aquele nozinho.

No entanto, ainda tinha muito medo. Algumas pessoas eram perigosas, como o Jeon.

Se erguendo, deixou o cômodo apressado, sendo acompanhado pelo vento frio invadindo a pequena fresta da janela, desejando que não estivesse sozinho, não poderia estar.

Descendo as escadas, soltou o ar preso em seus pulmões ao avistar os cabelos mesclados de noona, sentada no sofá com suas agulhas e lãs, o encarando preocupada quando um soluço o denunciou.

— Querido? O que aconteceu? — Byeol tentou manter o tom de voz calmo, mesmo que com o coração estrangulando-se instantaneamente, dolorido por ver seu doce garoto parar defronte a si com o rostinho vermelho banhado por tristes lágrimas. A pouco havia se despedido da psicóloga e decidido deixar Ggukie com seu espaço, pensando que talvez ele tivesse voltado a pintar o jardim.

— E-Eu tô com medo, noona — Jeongguk disse em meio a um soluço que escapou junto de seus lábios volumosos, as mãos gélidas e manchadas de tinta falhando em conter as gotinhas salgadas.

— De que, Ggukie? — A mulher de meia idade começou a desesperar-se. — Vamos, venha aqui com a sua noona. — Chamou, dando leves tapinhas ao seu lado no sofá, assistindo preocupada o mais novo juntar-se a si, trêmulo. — Respire fundo, querido, tente se acalmar... — Ergueu a mão destra devagar, tocando-lhe os cabelos com carinho. — quer um copo de água? — Suspirou ao vê-lo negar.

— E-Ele disse. — Jeongguk arrastou-se um pouco mais, colando seus braços e pernas correspondentes. Queria contato para conseguir sentir-se protegido outra vez.

— Quem disse? — A mesma perguntou em uma mistura de confusão e preocupação, ainda que querendo uma resposta, para que pudesse acabar com quem havia dito algo ruim a seu caçula.

Sem que pudesse saber, as memórias outra vez cercaram o garoto sentindo frio, atacado pelas sombras e o medo, nozinhos que ainda não havia conseguido dar um passo à frente.

— O Jeon... — Noona prendeu a respiração com o sopro fraco da voz de Jeongguk, analisando as feições iluminadas querendo se apagar e os olhos que esperou tanto para ver brilharem, vagos, direcionados em algum canto da sala. — E-Ele ficou tão perto e d-disse que se eu não fosse um bom menino, — Um novo nó se formou em sua garganta. — i-iria atrás de mim, p-prometeu me machucar até que aprendesse. — Cobrindo o rosto com as mãos, Jeongguk permitiu-se desabar, colocando para fora o medo que sentia e a certeza que sabia sobre contar os dias de liberdade, de calor e amor.

Byeol, com os olhos marejados, continuou com os carinhos nos fios começando a se tornar incrivelmente sedosos e brilhantes, deixando o coelhinho chorar à vontade, desejando com o passar dos torturantes minutos, que começasse a aliviá-lo.

Com o corpo oscilando em tremores, Ggukie foi se aconchegando cada vez mais perto, até estar grudadinho à mulher que lhe tratava como seu filhote, e que no momento, o protegia em seu colo, lhe dando abrigo e calor.

— Nada mais vai te machucar, meu querido, eu não irei permitir — Ajeitando uma almofada sobre o colo, um leve repuxar de lábios a acertou por observá-lo se deitar, encolhendo as pernas, quase transformando-se em uma bolinha, soluçando algumas vezes, sentido, porém parecendo mais calmo. — é uma promessa. — Disse de forma firme e aveludada, começando o cafuné que o mais novo adorava.

Jeongguk confiava, noona e seu príncipe o cuidavam e protegiam, assim como queria estar forte para se proteger sozinho, lutar pela sua nova vida.

Fechando os olhos, conseguiu ver em suas pálpebras a imagem de sua avó, que tentou salvá-lo até não aguentar mais, ela sorria, porque também sabia e confiava.

Aconchegando-se, começou a prestar atenção nos sons da televisão, esses ficando ao longe vagarosamente quando o sono profundo lhe atingiu e pode descansar.

Byeol secou algumas gotinhas que escorreram de seu rosto, um pouco aliviada e orgulhosa de seu menino, ele acreditava em si, confiava para lhe dizer o que estava doendo, fazendo a atividade da psicóloga sem nem perceber, deixando que entrassem em sua vida e descobrissem mais de si, para ajudá-lo e apoiá-lo. Por outro lado, também sentia medo, um dos maiores que já teve na vida, de não poder cuidar de seu garotinho como ele precisava. Só tinha a certeza de que não iria perdê-lo, protegeria-o com sua vida.

Assistindo o ressonar intranquilo, suspirou, acariciando os cabelos até vê-lo relaxar, afastando o medo e as sombras.

Inesperadamente, a mãozinha gélida capturou a sua, levando-a próxima de seu rosto. A mulher não sabia, mas o cheiro de baunilha deixava Ggukie calmo. Sorrindo pequeno, aumentou suavemente o aperto entre seus dedos entrelaçados, demonstrando-o que estava ali para ele, que sempre teria um ninho para descansar.

Acalmando-se tanto quanto o outro, a mais velha voltou a ver as imagens na TV, observando seu menino vez ou outra, certificando-se que dormia serenamente.

[...]

Alguns dias se passaram desde a última conversa com a panda psicóloga, desde que a escuridão quis o levar novamente e o medo tomou posse de seu corpo como se tivesse voltado ao passado, mas também, desde que foi protegido por Byeol noona e tão rápido quanto chegou o escuro foi embora e não retornou. A mais velha tinha um colo materno quentinho e acolhedor, acostumou-se rapidamente com aquilo. Jeongguk se sentia leve e cada vez mais perto da sensação de liberdade que por anos acreditou não ser destinada a si.

As tardes que se seguiram foram mais quentes e coloridas, principalmente de azul, ah, Ggukie adorava o tom de azul que contornava os detalhes do príncipe que não saía de sua mente, deixando tudo tão confuso e claro ao mesmo tempo.

Para se distrair de seus nozinhos, visitava a ONG com seu hyung gatinho quase todos os dias, mesmo que ele não pudesse ficar toda a tarde; brincava com os filhotes espoletas que ficavam mais espertinhos a cada dia e se aproximava de outros híbridos adultos, conhecendo suas histórias, dando passos à frente junto com eles; aprendeu coisas novas e até instintos que ainda eram um mistério para suas duas metades.

No comecinho daquela noite, o garoto coelho entrou saltitante pela porta da frente, preocupado quando o Park lhe informou que seu hyung estava doente e de cama, mesmo que eletrizado pelas inúmeras coisas que fez e aprendeu durante o dia. Como um furacãozinho, Ggukie foi para a escada, ansiando chegar logo até o quarto do príncipe, sendo puxado de forma preocupada principalmente pelo cheiro fraquinho de morango, quase substituído pelo agridoce que vinha percebendo com o passar dos dias e que em nada combinava com o dono da pele que emanava-o.

— Ei-Ei, mocinho! — Parando no quinto degrau, olhou para baixo, encontrando a mulher de meia idade que o cuidava.

— Cheguei, noona! — Anunciou sorrindo, arrancando um risinho da mais velha que o analisou de cima a baixo, terminando nos fios escuros desgrenhados.

— Eu percebi, querido e parece que se divertiu lá. — O assentir frenético e animado lhe respondeu sem palavras. — Mas volte agora mesmo e tire os sapatos! — Encarando os pés cobertos pelo tênis all star preto, soltou uma risadinha nervosa, descendo novamente os degraus sem encarar a mais velha, retirando-os no pequeno tapete ao lado da porta fechada, retornando para perto da mulher com um pano pendurado nos ombros e as mãos na cintura. — Vê se eu aguento com isso...

— Desculpa, noona — Deu seu melhor sorriso, tentando convencê-la com fofura.

— Eu tô de olho no senhorzinho — Byeol noona fez um gesto que achou engraçado, mirando os dedos indicador e médio na direção de seus próprios olhos e depois para si. — onde vai com tanta pressa que até esqueceu a regra mais importante dessa casa? — Sem se aguentar, a mulher soltou uma risadinha, percebendo o moreninho encolher levemente os ombros, envergonhado.

— Jimin hyung falou que o hyung está de cama. — Suas orelhas extensas caídas e o tom de voz, expressaram a preocupação que veio consigo desde que deixaram a ONG após a ligação de noona pela tarde.

— Esse moleque sempre se descuida no inverno — Byeol negou levemente, não escondendo o suspiro também preocupado. — não aceitou nem mesmo uma sopinha bem reforçada, mas vai ficar bom logo, — A afirmação fez as orelhas branquinhas se mexerem animadas automaticamente. — estava esperando você chegar, querido — Passando pelo mesmo e pegando sua bolsa sobre o braço do sofá, a mulher de meia idade voltou a encará-lo. — fique de olho no TaeTae enquanto vou ao mercado comprar algumas coisas? — Jeongguk assentiu freneticamente, arrancando um riso soprado seu. — Obrigada, vai querer alguma coisinha de lá?

— Não noona, obrigado — Trocando sorrisos gentis de despedida, ambos foram se afastando, Byeol para a porta e o coelhinho inquieto para a escada outra vez, virando-se em sua direção com os olhinhos redondos arregalados. — Noona, traz gengibre em conserva!

— Bem lembrado, querido! — A mesma soltou um risinho. — Vou me lembrar de trazer um pote. — E também chocolate para meus meninos. Pensou.

— Vá com cuidado, noona — A frase tímida alargou seu sorriso.

— Pode deixar, cuide do nosso bebezão, Ggukie — O garoto coelho por pouco não terminou de ouvi-la, pulando os degraus de forma ligeira, almejando chegar logo até o príncipe.

Jeongguk abriu a porta do quarto de fronte com o seu, devagar, observando pela primeira vez desde que foi salvo, seu hyung completamente coberto, encolhido e soltando sons baixinhos que sua audição aguçada conseguiu capturar facilmente.

Entristecendo-se pelo cheirinho que amava e demonstrava toda a saúde do príncipe pairando tão fraquinho pelo ar, adentrou o cômodo caminhando até a cama de casal, encontrando o rosto suavemente suado apagado e de bochechas coradas pelo grande calor que vinha de si.

— TaeTae? — Chamou baixinho, esquecendo-se de toda a animação para contar como foi a tarde na ONG, queria cuidá-lo. Seu príncipe também precisava de carinho e cuidado.

— Ggukie, você voltou — Os olhos de mel se abriram lentamente, um pouco mais escuros que o habitual. O garoto coelho não conseguiu retribuir o fraco sorriso, farejava o ar envolvendo o acastanhado com cuidado, ainda mais preocupado com o timbre rouco e falho.

— O que está sentindo, hyung? — Calmamente, sentou-se na beirada do colchão, percorrendo os olhos minuciosamente pelo dono da pele amorenada.

— Um pouquinho de dor de garganta e cabeça, — O Jeon sabia a intensidade que suas palavras realmente gostariam de ter dito. — mas é só uma gripe comum, tomei alguns remédios, já me sinto bem melhor, pequeno — Os olhos de Tae se fecharam quase sozinhos por um momento, em meio a um suspiro longo e dolorido.

— Precisa comer a sopa quentinha da noona, senão os remédios não vão fazer efeito direito — Taehyung deixou um riso soprado escapar, abrindo os olhos novamente encontrando um par redondinho e brilhante diretamente conectado a si.

— Não tô com fome, pequeno... — Falou de forma arrastada e manhosa, mas também era a verdade, sua garganta parecia trancada e sentia que nada mais passaria por ali, sendo o chá com mel que tomou mais cedo a única exceção.

— Mas é um remédio natural! — Fechou os olhos com a pontada de dor que atingiu sua cabeça pelo tom mais alto e desesperado do coelhinho ao seu lado, movendo as orelhas peludinhas e o observando de cenho franzido. — Desculpa, hyung.

— Não-não, tá tudo bem — Aquela dorzinha, só por ter sido ocasionada pela voz de Jeongguk, o acastanhado poderia sentir pelo resto da vida. Repuxou os lábios grandiosamente com o pensamento, era mesmo um bobo.

— Eu vou buscar um pouco da sopa, para o hyung ficar mais forte, enquanto a noona não volta do mercado. — sentenciou o mais novo, já se levantando.

Tae suspirou, cada dia ficava mais encantado com as mudanças que percebia no garoto coelho por quem era secretamente apaixonado, esse que interagia e tomava iniciativa com mais frequência, deixando seu lado eletrizado e fofo ser mais forte em ocasiões que lhe chamavam atenção, bem como a calmaria e preguiça em outras, confiando no lugar que estava, fosse em seus braços; cochilando no colo de noona; nas espreguiçadeiras, ou, até mesmo em uma toca; explorando o jardim; e nos seus momentos pessoais, onde sabia que gostava de pensar e desfazer nozinhos, no meio de tintas e telas e pincéis. Ah, seu pequeno realmente não sabia como o atingia diretamente no peito com seus olhinhos enxergando a liberdade que merecia mais do que tudo no mundo, com seus sorrisos e palavras demonstrando que estava a encontrando.

— Por favor, fique... — Pediu baixinho, queria olhá-lo por mais tempo, decifrar o que aquele olhar de jabuticaba queria dizer.

— Eu fico o tempo que o hyung quiser, se comer um pouco de sopa.

Rindo baixinho, sendo atrapalhado por uma nova onda de tosse seca, Taehyung concordou, remexendo-se na cama tentando cobrir-se ainda mais, assistindo Jeongguk sair do quarto. Sozinho, pensou, mesmo que tivesse passado boa parte da tarde dormindo, sentiu falta da presença incrivelmente doce do anjo.

Quando o mesmo retornou, andando cautelosamente sobre os pés cobertos por meias vermelhas grossas e quentinhas, carregando um prato fundo quase transbordando, com atenção, Tae se esforçou para sentar-se no colchão, passando as camadas de cobertas pelas costas as enroscando em seu corpo tremelicando de frio.

— Aqui hyung, tá uma delícia — Com um riso soprado, o moreno o ajudou a apoiar a porcelana no colo, voltando a se sentar a uma certa distância, o que alfinetou o acastanhado amuado.

— Obrigado, Ggukie — Repuxando os lábios e sendo prontamente retribuído, passou a comer de forma lenta, animando-se aos poucos percebendo que realmente estava com fome, essa que havia ficado escondida em meio às dores.

— Não é nada, TaeTae

Os longos minutos seguintes se passaram em um silêncio confortável, sendo quebrado apenas pelo leve tilintar da colher no prato já quase vazio.

Taehyung sorria nos intervalos entre cada colherada, lembrando-se do primeiro dia do anjo em sua casa, das cenouras mantidas nas arestas para serem degustadas exclusivamente ao final e dos rápidos olhares que recebeu, além da mordida que a pouco a marquinha tinha sumido de seu dorso.

— Eu lembro que nos primeiros dias aqui em casa, você também estava doentinho. — Comentou e um novo filme se passou por sua cabeça, do garoto coelho fazendo algumas caretinhas e acostumando a comer devagar, dos olhinhos agradecendo ao invés das palavras e dos seus se negando a desviar dele por um momento sequer.

— Eu estava doente de várias formas... — Seu coração disparou apertado.

— D-Desculpa, Ggukie, eu não. — Começou a se desesperar, não deveria ter comentado sobre aquilo, era mesmo um grande idiota, deveria aprender a controlar a língua.

— Está tudo bem, hyung, esses nozinhos não me machucam mais, não tenho medo de falar sobre alguns — Foi interrompido pelo risinho que escapou dos lábios vermelhinhos. Aquela resposta fez uma onda boa de calor passear por seu corpo. — e agora eu me curei.

— É muito bom ouvir isso. — O Kim soltou sem pensar, novamente, encolhendo os ombros com o olhar forte e sorridente que ficou sobre si.

— Tenho feito mais vezes a atividade que a Hyubi noona pediu, ela disse que estou me saindo bem. — Um sorriso pequeno e orgulhoso se abriu em ambos os lábios.

— Claro que está — Jeongguk sentiu seu coração bater de forma incerta, como sempre fazia quando um sorriso grande e diferente se apossava da boca apessegada, seus nozinhos de pensamento se agitaram, afinal, também não estava conseguindo sozinho, tinha a força que vinha de cada gesto do príncipe. — é meu pequeno corajoso...

Tae bocejou tornando a se deitar, escondendo toda sua vergonha cobrindo até a cabeça.

— Quer dormir mais um pouquinho? — Negou a pergunta, remexendo-se o mínimo possível, sentindo muito frio.

— Na verdade, eu adoraria saber como foi seu dia na ONG hoje. — Passou a controlar a vontade de fechar os olhos e dormir, descobrindo o rosto ficando completamente extasiado quando o moreninho se jogou ao seu lado puxando um pouco das cobertas, encarando-o com aquele olhar brilhante e tão magnífico. Ele estava à vontade e seu coração pulava no peito por vê-lo assim.

— Hoje... Jimin hyung me mostrou todas as papeladas e como é investigado tudo quando há suspeita de um híbrido sendo machucado, — O menor deu um suspiro, longo e pesado. — eu não conseguia ler tudo, cada história naquelas folhas doía muito, mas estou feliz porque todos estão seguros lá agora, — Um sorrisinho adornou os lábios pequenos e gordinhos. — também estou esperando para conhecer a equipe de investigação, sei que o nome do líder é Park Chanyeol, ele retornou do exército a pouco tempo, protege o nosso povo...

— Isso é maravilhoso, pequeno — A conexão que Jeongguk havia criado com os outros híbridos, com aquele lar, era grande e bonita.

— Depois disso, eu fiquei com outros adultos que me ensinaram alguns truques do meu lado coelhinho, cozinhamos e limpamos o refeitório, fizemos Eunji sair de sua toca e os filhotes perguntaram sobre o hyung a todo momento, — O coração do Kim disparou e um sorriso alegre e bobo tomou conta de sua face. Adorava crianças. — eu contei que estava gripado, mas quando melhorasse ia vê-los.

— Eu vou. — Falou convicto, podendo imaginar várias crianças fofas ao seu redor, lhe pedindo para brincar, ou, simplesmente, um colo.

— Então precisa descansar mais, para ficar bom logo.

Falante e cheio de energia, era daquele jeitinho que Tae gostava de vê-lo todos os dias.

— Não estou com sono, pequeno, — Deixou um riso soprado escapar. — quero te ouvir mais um pouco.

Mesmo sentindo suas bochechas esquentarem, Jeon respirou fundo contendo sua constante timidez, que vinha quando o príncipe soltava palavras estranhas e mágicas em tempo igualado, como naquele momento, passando a contar cada detalhe desde que chegou com seu hyung gatinho no estacionamento de sua segunda casa.

Com o passar do tempo, a voz suave e melodiosa se tornou um remédio para suas dores, porém o acastanhado começou a se esforçar para permanecer acordado, seus olhos pesavam contra sua vontade, queria continuar observando o rosto do anjo. Ao ser derrotado, permitiu-se ficar com os olhos fechados, com o plano inicial de ser por breves segundos, mas suas pálpebras se recusaram a abrir novamente, estava com muito sono.

Jeongguk, percebendo o que estava acontecendo com seu protetor, ficou quietinho, apenas o observando dormir. Seu nariz capturou o ar, o mesmo aroma agridoce descolava da pele morena e muito calor emanava dali, mesmo que Tae tremesse e tivesse espasmos de minuto em minuto.

O coelho suspirou, não sabia o que fazer para cuidá-lo, queria retribuí-lo da mesma forma que foi cuidado, como seu hyung merecia e precisava.

Redecorando cada detalhe de seu rosto, foi se aproximando devagar e instintivamente, repuxando os lábios para as imagens que sua mente reproduzia, de suas novas e boas lembranças.

"— Ainda machuca? — Negou voltando a encarar o hyung.

— Arde um pouco. — Tae sorriu assentindo.

— Já te disseram alguma vez, que beijinhos curam as feridas? — Soltou sem pensar.

E ambos passaram alguns minutinhos apenas observando um ao outro. O orelhudo, sem saber como reagir às palavras bonitas, e o empresário, quase fugindo martelando-se por ter agido como um pateta de novo.

— A minha avó me disse uma vez — Um sorriso um pouquinho maior e inocente adornou os lábios vermelhinhos.

Sem conseguir responder, o acastanhado apenas sorriu exageradamente, nervoso, vendo aquele sorriso tão doce e crescido. Encorajado por isso, deu um selar em seus dedos indicador e médio da mão livre, encostando-os devagar sobre algumas marcas na epiderme branquinha.

— Prontinho — Se afastou enfiando as mãos nos bolsos da calça, como se assim as prendesse impedindo de fazer outra bobagem.

— Obrigado, Tae — Os dentinhos salientes se mostraram minimamente no sorriso tímido."

Mordendo o interior das bochechas, levou os dedos até o pescoço livre daquele pedaço de couro que um dia o machucou, pensando no que havia acontecido no dia em que o príncipe o livrou daquela coleira.

De repente... se fizesse o mesmo, se tivesse coragem para retribuí-lo, poderia mostrar que desejava e que estava o cuidando.

Lembrando-se da conversa de alguns dias atrás com seu hyung gatinho, também pensou em talvez estar errado sobre alguns nozinhos acerca do príncipe, Jimin o ajudava, mas também deixava-o com pensamentos e desejos confusos.

Sem que percebesse, ergueu-se tendo apoio dos cotovelos, deixando seu rosto cada vez mais perto do amorenado e lindo. Se fizesse o que seus instintos mandavam, aquele desejo incerto, poderia encontrar alguma resposta, queria acreditar que sim, pois, se não o fizesse, aqueles nozinhos continuariam a perturbá-lo.

Voltando a prestar atenção na face adormecida, admirou mais uma vez a expressão serena, em descanso profundo, conseguindo ouvir a respiração calma, o peito ruidoso.

Em seguida, suspirou virando o rosto para o lado, por que não estava conseguindo ter coragem? Porque não fazia como os doramas mostravam? Ou como os outros híbridos lhe relatavam?

— Aigoo... — Sussurrou para si mesmo, mordendo o interior das bochechas. Tudo relacionado ao príncipe era complicado e não obtinha uma resposta que o fizesse entender o porquê, apenas sentia coisas estranhas, que o deixavam tímido e sem coragem.

No entanto, se um beijo quase quebrava a maldição de um goblin, e um único lhe libertou de uma imunda coleira, também haveria de curar príncipes gripados.

Decidido, assentiu para si mesmo, encontrando a testa de seu hyung, seu alvo, aproximando-se cautelosamente, respirando fundo ao poder sentir a temperatura elevada tão perto de seus lábios.

Coragem, Jeongguk. Pensava, encostando levemente na pele bronzeada.

Em um ímpeto de seu desejo, soltou o ar que prendeu inconscientemente, sentindo seu corpo arrepiar com o contato efervescente, de seus lábios tocando a epiderme macia, dos segundos aproveitando aquele contato, antes de se afastar vagarosamente com o coração palpitando em sua garganta, as mãos suadas contra os cobertores e sua cabeça rodando em mil pensamentos diferentes, que sumiram depois de uma explosão ao senti-lo assim.

Um beijo, sorriu voltando a apenas observá-lo, um beijo sarava as feridas e gripados.

— Por favor, não me deixe iludido, pequeno...

Suas bochechas queimaram ao ouvir a voz arrastada e rouca do mais velho.

— O-O hyung disse que beijinhos curam... — Ggukie respondeu baixinho, desviando o olhar quando o de mel voltou a encontrá-lo. — que quer dizer com iludir?

Taehyung praguejou-se, flutuou em outra gravidade por aquele curto momento, jamais pode imaginar que sentiria um singelo toque com a intensidade do mais caloroso verão, seu corpo inteiro se arrepiou e suas pernas pareceram ter sido feitas de gelatina, mas acabou falando o que não devia, como todas às vezes, foi sem pensar, ocorrido porque simplesmente sentiu aquela explosão dentro de si.

— N-Nada foi, eu só bobagem falei!

Chacoalhando a cabeça, sentiu-a latejar pela dor instalada ali, porém nada poderia ter ficado pior do que ter agido como um pateta, novamente.

— E-Eu — Acalmou-se com a risadinha confusa que seu pequeno deu. — é bobagem. — Sorriu de forma fraca, negando a se conformar. — O beijinho funcionou, estou me sentindo um pouco melhor, mas acho que preciso de mais um para ficar bom mesmo.

Fechando os olhos, expressando dor de uma forma dramática, Tae encolheu-se, um pouco mais preocupado com as coisas que falava, o anjo deveria achá-lo bobo.

— O hyung é muito espertinho, — Soltou uma risadinha nervosa. — o que está sentindo agora?

— Muito frio, Ggukie. — Rangendo os dentes, o maior tentou se esconder um pouco mais entre as cobertas.

— Também me disse que abraços quentinhos resolvem tudo — O coração do acastanhado faltou pular para fora de sua boca.

— Vai me dar um abraço quentinho, pequeno? — O assentir calmo de lábios e olhar sorridentes, o desestabilizaram.

A verdade era que Ggukie sentia falta de seus abraços quentinhos, gostava tanto de ficar contra o corpo maior, sob o calor e cheiro bom, lhe traziam a doce paz e calmaria.

Tae pensava, mesmo que todo desconcertado, sobre a situação em que estavam, ela era diferente e não queria que seu anjo tivesse uma lembrança ruim, temia fazer algo que pudesse deixá-lo desconfortável, apesar de na maioria das vezes agir por impulso.

— Eu posso? — Perguntou calmamente, olhando profundamente para a imensidão dos olhos de jabuticaba.

— O que, hyung?

— Tocar você assim?

O corpo menor travou por breves segundos, logo recompondo-se, um silêncio pouco constrangedor se instalou entre ambos, que mantinham os olhos um no outro. Então o coelhinho sorriu.

— Pode.

Com o pé direito inquieto sob a coberta, esperou o príncipe se aproximar, relaxando seus pensamentos como a amiga panda ensinou, permitindo-se sentir como desejava, sem medo.

Devagar, Tae se aproximou, sendo analisado pelo olhar redondinho colorido de universo, ah... Tae adorava essa cor, quase juntando seus corpos, esperando alguma reação do moreninho, que apenas continuava sorrindo, demonstrando que poderia continuar. Delicado, suas mãos tocaram as costas cobertas pelo tecido da lã, os olhares não desgrudaram um do outro. Jeongguk controlava o tremor de seu corpo, sentindo-se a cada segundo, mais relaxado com o toque em si, percebendo seus pensamentos se tornarem mais leves que uma pena, a mesma sensação de lhe dar um beijinho de cura. Então, já não sabia mais de que jeito estava retribuindo-o.

Os corpos foram se juntando e aconchegando, a sensação quentinha os tomou e as palavras não foram necessárias, Tae tinha o garoto apaixonante entre seus braços, seguro, mesmo que lhe cuidando, e Ggukie tinha novamente a oportunidade de escutar o coração acelerado, de sentir o cheiro de morango e chuva, fraquinho pela gripe, do toque das mãos grandes em si, do calor e da proteção que o dominava.

Sua mente então apagou, por alguns momentos não pensou em mais nada, nem mesmo conseguia, estava tão concentrado naquelas sensações que mal percebeu seus olhos fechando-se junto dos de mel, de suas mãos retribuindo aquele abraço. Tae sentia-se flutuando, descansando verdadeiramente, como se aquele fosse o encaixe perfeito para levá-lo.

Quando Byeol retornou do mercado, foi diretamente para o quarto de seu menino, arregalando os olhos ao entrar no cômodo e perceber a cabeleira negra mesclando-se à castanha, dos garotos próximos o suficiente para lhe dar a resposta que queria. E como estava feliz com ela.

Suspirando encantada, tornou a deixar o quarto encostando a porta, deixando-os descansar. Não sem antes tirar uma foto e enviá-la para seu gatinho laranja.

[...]

Quando Jeongguk começou a se remexer, a noite já estava tomando a tarde, sua respiração levemente desregulada demonstrava a inquietude do sono, o calor em excesso trazia o suor e em suas pálpebras fechadas as imagens da lembrança que vinha o atormentando dançavam confusas. Abrindo os olhos de repente, encontrou o pescoço dourado e efervescente, mas não conseguia admirá-lo, estava ouvindo as vozes dentro de sua cabeça, ficando assustado.

Sem aguentar mais, remexeu-se passando a cabeça por entre os braços fortes e quentes, tentando olhar ao redor vendo apenas o escuro. Não tinha a luz dourada que o assistia dormir todas as noites, os abajures não estavam ligados, não via seu boneco do homem de ferro, nem a porta fechada demonstrando que estava sozinho e seguro. Não queria ficar ali.

Desesperado, fugiu do leito diretamente para seu quarto, onde as cortinas abertas o ajudaram no caminho para os abajures, em seguida, para as cobertas gélidas, o fazendo lembrar de onde estava, mas não o acalmava. A tela escura estava lá, próxima da cômoda, pintada pelo seu medo.

Abraçando o próprio corpo, repetia para si mesmo, dentro de sua cabeça, tentando se sobressair a voz que odiava, que estava tudo bem, estava em seu ninho e nada poderia machucá-lo ali, que seu príncipe viria para salvá-lo de mais um pesadelo. Olhando ao redor, um pouco agoniado, encontrou as sacolas coloridas, o presente cheio de vida de seu hyung, então começou a pensar em tudo o que havia conquistado, realizando a tarefa da psicóloga sobre o que gostava e o que não, distraindo-se vagarosamente.

Após acalmar-se, Ggukie esticou o braço, pegando o desenho do belo rosto do empresário, o primeiro que havia feito, sobre o móvel ao lado da cama, observando-o por longos minutos, revendo cada detalhe do seu salvador, por fim, sorrindo para si mesmo, calmo, lembrando-se do final da tarde e de todos os cuidados que depositou sobre ele, da sensação de cuidá-lo até mesmo em seu mais profundo sono, o príncipe era como um grande filhote, achava-o fofo. Mas aquela de o sentir apertá-lo firmemente contra si, não desejando que se afastasse, o deixaram confuso e novos nozinhos se formavam quando começou a pensar naquelas atitudes carinhosas refletindo diretamente em seu coração de naturais batidas apressadas.

Se ajeitando, infiltrou-se nas cobertas sentindo o sono começar a querer tomá-lo novamente, apertando o desenho contra o peito relaxou até não ver nada além das luzes douradas dos abajures e cores bonitas se formando em suas pálpebras, passando a descansar para voltar a cuidar do príncipe -assim que noona os chamasse para jantar-, esse que era o personagem principal desde que havia sonhado com coisas lindas pela primeira vez.

Os nozinhos de pensamento logo foram embora, decidiu deixá-los para desembolar quando estivesse amando a si próprio completamente, conselho que havia vindo com belas palavras do hyung gatinho, mesmo que em nada o impedisse de permitir todas aquelas confusas e engraçadas sensações, trazidas por Tae e seu lindo sorriso, nem de fugir dos novos que perguntavam quantos beijinhos poderia dar na pele macia e quentinha e ver tão de perto os olhos de mel cintilando, os quais adoraria pintar em uma tela.

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Notas Finais

E então? O que acharam?

Pelos meus cálculos estamos caminhando pelo meio do segundo arco hehe e algumas coisinhas vão começar a mudar, teorias? 🌚

Ggu na ONG era meu sonho de consumo desde que planejei aaah será que vai ser um guardião?

Tete cheio dos presentinhos, mimando o mino ✊🏻😔

Nosso coelhinho também está conseguindo devagar, alguns personagens estão chegando pra ajudar ele hihi, quais vocês acham que são?

Tete gripado sendo cuidadinho para fechar com chave de ouro hehe e agora teremos mais ações uiui 🌚

Estou perdoada pela demora? 👉🏻👈🏻

Obrigada por todo o apoio e por estarem aqui comigo! 💜

Agora é (espero) oficial hehe próxima att dia 23/10

Se vcs quiserem, podemos interagir mais que apenas uma vez no mês! Meu user no twitter é @MissMinie_, tanto com spoilerzinhos, quanto com as fotos deles no celular da noona hehe

Bom diatardenoite, anjinhos! Se cuidem! 💜

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