13: Uma Primeira Tentativa

Notas Iniciais

Oii, anjinhos!! Como estão??

Eu nem tenho mais créditos com vocês para pedir desculpa pela demora :') mas me desculpem! Eu me embanano toda quando preciso descrever os sentimentos do Ggu, e quero entregar a vocês eles da melhor forma possível, então prefiro demorar um pouquinho, a oferecer um mau capítulo. Passa mais dessa vez? 👉👈

Eu tô ansiosa dfkdjfd eu acho que rola uns surtinhos quando uma parte aí chegar hehe

Mas tô insegura também! Comentem o que acham no decorrer do capítulo, por favor!

Óia a garrafinha de água!!! 👀

Sem mais delongas, boa leitura, anjinhos! 💜

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"Sempre que você precisar de um amigo Eu estarei aqui. você nunca estará sozinho novamente, Então não tenha medo. Mesmo se você estiver a milhas de distância, Eu estarei ao seu lado. Então você nunca mais estará sozinho. O amor fará tudo ficar bem."

Anytime You Need a Friend - Mariah Carey

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Os últimos dois dias do ano passaram cheios de bagunça e festa, em uma energia contagiante e nova. É, nova. A pequena palavra passava e repassava pela cabeça de Jeongguk, pela primeira vez em anos conquistaria algo novo, de verdade. Gostava da sensação que aquela palavra lhe trazia.

Mas ela desgastou até mesmo seu lado coelhinho naturalmente eletrizado, que nos momentos que sentia-se cansado, pedia ao seu humano, refletindo o instinto agitando as orelhinhas extensas e sorrindo mole, uma fuga para a escada e corredor e quarto, se infiltrando em sua cama macia, tão boa para cochilar. Ou então, para a área de lazer, quando o príncipe o convidava para fugir consigo até as espreguiçadeiras, porém sequer precisavam, passar quase a madrugada inteira, acordados, os faziam ir se aconchegando um ao outro inconscientemente e cochilar onde estivessem, como no jogo de cartas que estavam jogando sentados sobre algumas almofadas no tapete, durante a tarde fria e preguiçosa do dia trinta e um.

E ao que o céu se cobriu com o manto da noite serena, brilhante de estrelas e floquinhos de neve, todos se agasalharam, preparando-se para sair pela neve do imenso jardim quando o relógio bonito na parede da sala indicasse os últimos dez minutos do ano. Quando por fim saíram, as conversas animadas e brincadeiras desencadearam ondas altas e desalinhadas de suas risadas, era algo incrivelmente doce sendo registrado pelos ouvidos e olhos de jabuticaba.

O tempo, então, pareceu ter se passado muito rápido, logo o moreno se juntou ao coro de vozes fazendo a contagem regressiva -mesmo que em um tom mais baixinho-, e quando um novo ano deu seus primeiros segundos de graça, os hyungs gritaram e se abraçaram, enquanto, fogos de artifício passaram a colorir o céu.

Apesar do som estourando vezes mais alto em seus ouvidos, o pequeno coelho não conseguia se importar, encarava o céu escuro sendo pintado de diversas cores, com fascínio.

Taehyung ao notá-lo quietinho, sorrindo de forma boba com seus lábios entreabertos e a cabeça erguida, se afastou dos outros -que iniciavam uma brincadeira gelada com bolinhas de neve, tentando colocar sob as peças de roupa uns dos outros-, parando ao lado do mais novo sem fazer tanto barulho, Ggukie estava concentrado identificando tantas cores brilhantes.

Sem pensar muito, Jeongguk ergueu o braço direito esticando os dedos em direção àquelas cores, com o desejo de conseguir voar e tocá-las, além de se colorir também.

O Kim mordeu o interior das bochechas, os pés colados ao chão conforme assistia a cena tão encantadora, com medo de que seu coração pudesse estar sendo ouvido por todos ali.

- Ei, Ggukie e Tae! - Jimin os chamou a atenção, e o acastanhado sentiu seu rosto esquentando, seu corpo continuava imóvel, no tempo que, ficou sob o olhar levemente arregalado e surpreso do coelhinho. - Não pensem que vão escapar de uma boa guerra de neve! - Então uma bolinha, lançada por si, acertou as costas do Kim, que pareceu ter sido livrado de uma trava invisível e conseguiu finalmente se mexer.

- Não devia ter feito isso,

Soltou esse depois de uma piscadela cúmplice com o mais baixo, Ggukie sorriu sapeca de volta, compreendendo o que seu hyung lhe disse sem palavras. O príncipe gostava de ganhar em jogos, já havia percebido isso e achava suas reações, principalmente de quando perdia, engraçadas.

- eu sou o melhor nesse jogo! - Taehyung se abaixou pegando um punhado de neve, o moldando rapidamente criando algum objeto parecido com tudo, menos com uma esfera, lançando-a contra o felino.

- Guerra decretada! - Os garotos então iniciaram a bagunça de neve, que voava para lá e pra cá, gargalhando quando um tropeçava pela massa fofinha demais, ou, acabava caindo feito um saco de batatas no chão.

Byeol noona os assistia sorrindo emocionada da calçada, havia se afastado depois de abraçar e beijar e desejar feliz ano novo a seus meninos, não tinha mais tanta energia e força para brincar daquela forma.

E enquanto todos estavam distraídos, Jeon formou uma linha reta com várias bolinhas de neve, tomando coragem de atirar a primeira -era sua primeira vez brincando de guerra de bolinhas de neve-, essa que acabou acertando os fios castanhos de seu príncipe, que se virando em sua direção com o olhar arregalado, exibiu um sorriso descrente nos lábios.

- Muito espertinho... - Tae o elogiou, abrindo um novo sorriso, esse sendo quadradinho e bobo ao notar o narizinho avantajado se mover e as orelhinhas branquelas dançarem adoravelmente, testando seu coração que fazendo um pouco de seu drama, já batia de forma mais fraquinha. - quero ver vencer essa!

Criando outra -quase- bolinha, o Kim a atacou contra o coelhinho, e sendo ágil, o mesmo se esquivou usando a árvore amiga do hyung como proteção. E o mais velho sequer teve tempo de fazer outra, o moreno foi mais esperto e começou a lançar todas que havia feito, atacando o príncipe junto aos outros hyungs, que riam divertidos da cara dele.

- Ei! Isso é um complô! É injusto! - Tae se jogou na neve indicando sua redenção, arrancando gritos comemorativos dos outros três, e a mão pálida esticada em sua direção, do garoto coelho sorrindo pequenininho, tímido, para si. - Uma trégua?

- Uma trégua, hyung. - Jeongguk confirmou, o ajudando a se levantar como pôde.

E como logo deveriam entrar, a comando da mais velha que ameaçou fazer um chá de sabor amargo e ruim para aquele que ficasse doente, ambos os cinco garotos aproveitaram os últimos minutos ali fora correndo pelo jardim, caindo e criando anjinhos na neve mexendo os braços e pernas.

Jeon ria preso a seu próprio mundinho, sem perceber o olhar de mel sobre si, e do dono desse parando seus movimentos com os braços e pernas abertas apenas para continuar o assistindo. Mas o coelho não conseguia evitar, a sensação de saber que o frio não conseguia o alcançar era boa; a de que a neve poderia ser gelada, mas não iria o machucar, também.

Essas sensações começavam a abraçar seu corpo de forma permanente, e não queria perdê-las outra vez.

Ainda soltando baixas risadinhas, olhou para o lado, flagrando o olhar do príncipe em si, continuou sorrindo.

- Feliz ano novo, Ggukie. - Tae soltou depois de alguns segundos apenas encarando seu pequeno de volta, com vontade de afundar e se esconder no meio de toda aquela neve, envergonhado por ter sido tão indiscreto, de novo.

- Feliz ano novo, Tae hyung.

Soltou o ar aliviado, seu coração acelerando um pouco mais, Jeongguk já deveria ter se acostumado com seu jeito bobo. E ainda que constrangido, exibiu seu sorriso quadradinho, recebendo o lindo de dentinhos avantajados em troca.

E depois de entrarem para descansar, com cada um em seu respectivo quarto, o empresário suspirou se jogando em sua cama, encarando o teto pensativo.

Há anos não fazia nenhum pedido em datas especiais como a que passaram a poucas horas atrás, porém desejava que o recém ano iniciado, trouxesse muitas vitórias, não para si, mas sim, para o belo garoto.

A si, só desejava que a entrada dele em sua vida continuasse trazendo aquelas mudanças e sensações indescritíveis, que o impediam de dormir e colocavam sua mente para trabalhar acerca de alguns nozinhos especiais.

[...]

Taehyung mal viu o tempo passar, quando realmente prestou atenção no visor de seu celular, já haviam se passado duas semanas desde o ano novo.

Duas semanas que mal dormia a noite, mas que ainda sim não o deixavam cansado, pois cochilava no ombro do coelhinho e parecia descansar mais do que em sua própria cama; duas semanas que sentia suas bochechas doerem por não conseguir parar de sorrir com cada gesto e palavra do mais novo; duas semanas que estava saboreando uma paz inabalável, acompanhando cada exibir dos dentinhos avantajados, e cada batida falha de seu coração, quando agia feito um bobo na frente de Ggukie; duas semanas que aproximaram o dia de saírem para que o moreninho pudesse fazer documentos novos, e conseguia estar mais radiante e ansioso que o próprio.

Depois do café da manhã do dia quatorze, foi logo para a porta, calçando seus sapatos e dando um pulinho sobre o tapete direto para fora, não se importando com sua ação infantil sob os olhos redondinhos carregando as estrelas, do ser de fios negros rindo baixinho se curvando para calçar os seus, passando pela porta igualmente.

- Animado? - Perguntou em seu último fio de calma, estava literalmente saltitando.

- Muito! - A voz doce saiu um pouquinho mais alta, junto ao sorriso espontâneo cheio de brotinhos.

O Kim não se sentia preparado para ver a primavera chegando nos lábios pequenos, volumosos e vermelhinhos.

- Então vamos nessa! - O chamou indo em direção ao carro, soltando um resmungo manhoso quando destravou e abriu a porta, sentindo o ar congelante aderindo aos bancos de couro branco quando se sentou.

Assim que o moreno entrou, apertando os lábios ao chocar as costas com o couro gélido -mesmo estando agasalhado-, soltou um suspiro esfumaçado que logo se dissipou no ar, abraçando o próprio corpo.

- Já vamos ficar quentinhos. - Anunciou Tae, ligando o motor para em seguida, o ar condicionado no painel ao lado do volante, sob o rádio, deixando-o aquecer o carro aos pouquinhos, enquanto, partiam da garagem e da propriedade calmamente.

Já no Instituto de Identificação, não conseguia parar de sorrir, mesmo que o ambiente sério lhe pedisse um perfil reservado.

Era uma tarefa impossível para si devolver os olhares neutros dos funcionários, no tempo que, assistia o coelhinho sentado e um pouco encolhidinho na cadeira estofada, respondendo de forma acanhada as informações que a mulher de idade e óculos fundos, pedia.

Para híbridos, tirar documentos era mais fácil, especialmente se os papéis fossem para recorrer à justiça e requerer sua liberdade. E como um banco de dados, poderiam voltar e atualizar suas informações sem mais problemas depois.

E isso era o mínimo que a sociedade poderia fazer por eles, pois as ONGs que os protegiam exigiam mais, o essencial para que todos pudessem sair de lá e reconstruir suas vidas sem medo, longe de qualquer ameaça, por menor que fosse.

Porém o governo tornava tudo um processo tão lento. Taehyung, em principal, se via desesperado por medidas rápidas, há anos o tráfico humano era proibido, há anos os híbridos lutavam pelos seus direitos, e há anos morrem mais do que os que conseguem se tornar livres.

Era tão injusto.

Os livros de história contam que híbridos foram criados anos antes, com o objetivo de serem usados para servir em coisas grandes, como na guerra, mas depois de quase noventa anos, o que os submeteram como "companheiros de lar" tornou-se cruel e desumano. E já estava na hora de acabar com aquilo.

Mesmo disposto, como milhares de outros humanos que se importam e defendem as causas que acreditam, espalhados pelo mundo, deveriam acompanhar o ritmo de seus governos, infelizmente não tinham um poder maior.

- Tae hyung? - Chacoalhou a cabeça, voltando o olhar para o moreno, que agora estava em pé ao seu lado, lhe encarando com a cabeça levemente tombada para a esquerda.

Jeongguk estava curioso em relação ao que o príncipe tanto pensava, já que havia o chamado três vezes antes de finalmente conseguir sua atenção.

- Desculpe Ggukie, eu me distraí, - Taehyung soltou um risinho nervoso, coçando a nuca aproveitando para bagunçar os cabelos. - está tudo certo com a sua documentação? - O mais novo concordou de forma muda, o movimento da cabeça balançando os fios negros caindo em seus olhos. Tae sentiu seu coração palpitar acelerado.

- A senhora mandou esperar um pouquinho. - Apenas manejou a cabeça, impossibilitado de falar sem soltar algo bobo junto.

Ambos passaram os próximos minutos em um silêncio confortável, observando o local cinzento e reluzente com alguns detalhes de vidro, distraídos, até que a voz mais desgastada chamou o pequeno coelho outra vez.

O Kim não pôde se conter e soltou uma risadinha, encantado com o jeitinho tímido, mas com as orelhinhas e olhar bem atentos presos à mulher mal humorada -aquela forma de agir do moreno o lembrava os primeiros dias depois de se conhecerem-, no tempo que ela o ajudava a posicionar o polegar destro para registrar sua identidade no computador.

Em seguida, mordeu a pontinha do dedo ignorando os olhares questionadores e ao mesmo tempo curiosos dos outros funcionários, o rabinho felpudo e branco, elétrico, denunciava o quanto Jeon estava ansioso para ter seus próprios documentos, e ficava feliz só de vê-lo assim.

Feita sua digital, foram guiados até a sala ao lado, onde uma mulher aparentemente mais jovem, indicou a cadeira do outro lado de sua mesa ao orelhudo, que se sentou mordendo o interior das bochechas.

Ggukie sentiu uma sensação nova. Era estranho sentir suas mãos ficarem gélidas e seu coração ainda mais apressado por não saber o que viria a seguir, e o único som sendo o das mãos de unhas pintadas digitando, não o acalmavam.

Pouco depois, a mesma ergueu um pequeno aparelho preto encaixando-o na tela do computador mirando no garoto coelho, indicando que deveria olhar para a câmera e que seria algo rápido.

Nervoso, Ggukie passou as mãos pelos cabelos, escondendo as mechas da franjinha ainda torta que atrapalhava um pouco de sua visão atrás da orelha esquerda, encarando aquele aparelho fixamente, e confirmando à voz calma de estar tudo certo, esperou alguns segundos para piscar, suspirando discretamente e aliviado, quando ela disse que já tinha acabado. Era tão simples assim?

Já o Kim apertava a barra do casaco grosso que usava, com força desmedida mais ao longe. Assistir aquela cena tão fofa do orelhudo tirando uma foto três por quatro, foi mais um teste para seu pobre e calejado coração.

Depois da mesma funcionária ranzinza reaparecer na sala afirmando terem projetado todos os documentos pedidos, lhe entregou um papel com data e hora marcada, para que viessem buscar os impressos, e os chamou para fora dali de forma educada, afinal, já haviam terminado os procedimentos com as informações do garoto coelho.

- Agora é só esperar alguns dias, - O acastanhado comentou assim que saíram do prédio em tom de cinza chumbo. - o que achou? - Sorriu encarando o ser brilhante andando ao seu lado, com um sorrisinho pequeno, demorando alguns segundos para lhe devolver o olhar. Suspirou.

Jeon estava sorrindo com seu pensamento, e algo jamais valeria mais para si do que perceber que nada está o atormentando.

- Foi diferente,

O moreno sentia algo estranho, um frio na barriga, mas só conseguia continuar sorrindo. Teria documentos novos, somente seus e ninguém poderia arrancá-los de si.

- fazia algum tempo que eu não tirava uma foto. - Terminou baixinho.

Taehyung prendeu o ar por alguns segundos, o soltando em uma lufada discreta. O garoto coelho era tão belo observando a rua sem movimento, de forma leve e distraída, retornando para seus pensamentos risonhos. Ele deveria estar em todas as fotos em exposição do mundo, em quadros perfeitamente pintados com as melhores tintas e a melhor qualidade, no lugar de todos os de seu pintor favorito, espalhados pelas paredes de sua casa.

Chacoalhou a cabeça, afastando aquele turbilhão de pensamentos que haviam o tomado.

- Vamos mudar isso. - Sugeriu, em seguida sorrindo, observando as orelhinhas felpudas, extensas e branquinhas, dançarem.

Seu pequeno tinha um lado mais desbocado e exibido, e estava mais que ansioso para vê-lo conseguir se soltar a esse ponto.

- Vamos?

- Uhum.

Então caminharam pela calçada adentrando o estacionamento do edifício, rapidamente entrando no carro morninho para escapar do frio. Ao menos ali não correriam riscos dos pneus ficarem atolados na neve, como alguns estacionados no meio fio da rua no final do dia, e como sempre acontecia consigo quando deixava a empresa à noite de inverno.

Após colocarem os cintos, continuaram em silêncio, aconchegante para o moreno, e de pura tensão e nervosismo para o empresário, que respirou fundo tomando coragem, antes de sacar seu celular do bolso, desbloquear, clicar no ícone da câmera e mirar no mais novo, esse permanecendo distraído, observando os raios do sol fraquinho tentando passar pelas nuvens carregadas.

- Ggukie... - Chamou em um tom de voz trêmulo, automaticamente recebendo o olhar brilhante para si. Perfeito.

Apertou o botão redondo no centro inferior da tela, observando a imagem do coelhinho escondido em roupas grossas e quentinhas, feito uma bolinha no banco do passageiro, congelar e ir para o cantinho direito.

- Por que está assim, hyung? - Finalmente se dando conta de seu maior ato de coragem dos últimos anos, Tae arregalou os olhos o mirando, nervoso, enquanto, abaixava o aparelho entre seus dedos congelados.

- U-Uma foto sua t-tirei, não! F-Foto tirei, e-eu... - Engoliu em seco, sentindo seu rosto esquentar sob o olhar estrelado, que parecia o analisar profunda e calmamente, seu pequeno estava curioso.

- Eu posso ver? Sabe... a foto? - Assentiu freneticamente a descoberta doce e tímida, entregando o celular desbloqueado nas mãos pálidas, tão gélidas quanto às suas.

E ao que os olhos atentos desviaram do seu, focando na tela, sentiu o ar fugir de seus pulmões com o sorrisinho que adornou os lábios vermelhinhos.

- É... - Ggukie não sabia o que comentar, vendo a si mesmo naquela foto, não sabia dizer o que sentia, só que era estranho, muito estranho.

E afastando esses nozinhos de sua mente, tocou a tela acesa, arregalando levemente os olhos quando a foto sumiu e voltou para a câmera. Com vontade de fazer o hyung, que ficou quietinho de repente, provavelmente pensando estar sendo um bobo, mirou a câmera em sua direção, apertando o maior botão sem tanta certeza, logo aumentando o sorriso percebendo ter tirado uma foto de seu príncipe, sem nunca ter tido a oportunidade de tocar em um aparelho como aquele antes.

- Ficou bonito, hyung. - Lhe mostrou a tela, se animando com o rubor nas bochechas do mais velho sumindo, e ele devolvendo seu gesto exibindo um sorriso quadrado.

- Não tanto quanto você.

Taehyung soltou sem pensar, mas não se sentiu um bobo, não por falar a verdade.

O pequeno coelho encolheu os ombros, tocando na tela outra vez, voltando a ver a câmera, a guiando para a parede do prédio em frente ao veículo parado, gostando de observar através dela.

- Você gostou de fotografar?

- Gostei, Tae! - Respondeu um segundinho depois, abrindo um sorriso sapeca, levando o olhar para o mais velho outra vez.

- Então se sinta à vontade para fotografar o que desejar pelo caminho. - O Kim lhe lançou uma piscadinha, e por pouco quase não encontrou a chave que ligava o carro, suas mãos ficaram bobas e sua mente produziu novos nozinhos, no tempo que, pôde assistir as orelhinhas felpudas dançarem junto as pontinhas dobrando animadas.

Forçando a se concentrar, o acastanhado trocou as marchas para fora do estacionamento, em direção a sua casa.

Enquanto olhava fixamente para as ruas, pensava. Jamais tinha ficado tão feliz em ter que voltar para casa, do que nos últimos meses.

O caminho seguiu silencioso, não completamente pela presença do rádio ligado e das músicas que tocavam, todas calminhas como se quisessem completar o clima gostoso entre ambos. Tae encarava o orelhudo vez ou outra pelo cantinho dos olhos, sentindo suas bochechas voltarem a doer com o ser elétrico mirando a câmera para todos os cantinhos das ruas que achava bonito, e não se importaria se Ggukie acabasse com a memória de seu celular, era simplesmente adorável vê-lo tão animado.

Já esse, se divertia assistindo as lojinhas coloridas passando pela tela do aparelho do príncipe, fotografando vez ou outra o que lhe chamava mais atenção. Era divertido e bonito, poderia ver as fotos outra vez, relembrando mais um momento com o hyung que não iria esquecer.

Ao que o carro parou em um sinal vermelho, teve que movimentar a câmera para ver mais no tempo que esperava, e seus olhos se arregalaram ao parar em uma lojinha que vendia café, observando um híbrido com um avental amarrado na cintura, trabalhando. Ele era magro e deveria ser mais alto que si, tinha os cabelos pretos como os seus, porém suas orelhas eram pequenas e douradinhas, assim como o rabo longo serpenteando para cima, ambas as partes peludinhas pintadas com bolinhas pretas, um leopardo.

Nunca conviveu com muitos híbridos em sua vida, mas quando os senhores maus tinham vontade, traziam um pequeno grupo de diferentes espécies, para aqueles quartos escuros dentro de suas casas.

Híbridos que durante as noites se embolavam e protegiam um ao outro, Jeongguk suspirou, já fez parte daqueles grupos, e apesar de como temiam mesmo juntos, ganhou um amigo leopardo que o protegeu durante bons dias, lhe trazendo para seu abraço e o fazendo dormir, assim como também lhe abraçava e zelava seu sono a noite toda. Se tornaram inseparáveis.

A diferença do outro naquela lojinha, era que ele tinha cabelos da cor de chocolate e era mais baixinho também, e tinha adquirido a mania de contornar sua cintura com o rabo, que sempre o causava cócegas, se lembrava de chamá-lo de...

Baek hyung!

Sorriu pequeno, passou dois longos meses sob o calor do leopardo que se tornou um amigo tão especial. Mas então, seu peito doeu, não tinham somente essas lembranças boas juntos, as que gostava de se lembrar, tinham muitas ruins e assustadoras, que vinham sem sua permissão, atrapalhando os momentos de ronronar e o sono chegando, enquanto, ia perdendo os sentidos devagar, assistindo o hyung sorrindo pequeno para si até apagar.

Chacoalhando a cabeça levemente, quando o carro voltou a andar e o híbrido saiu de sua visão, Ggukie apoiou o celular em seu colo, voltando a apenas aproveitar o pequeno passeio. Com a saudade dominando seus pensamentos, se pegou perguntando como o mais velho deveria estar, se tinha sido salvo por um príncipe também, ou, se havia conseguido se livrar daquela vida, como há três anos atrás lhe contou.

Sabia que seu hyung tinha forças para lutar, mas a cada locação cruel saía mais ferido e enfraquecido, sensível e abalado com tudo o que os senhores maus faziam, mas não desejava que Baek hyung tivesse desistido, não como si próprio tinha feito.

- Está tudo bem, Ggukie? - Ouviu a voz de seu príncipe lhe puxar de sua mente.

- Tudo bem, Tae. - Sorriu para o mesmo, abraçando somente as lembranças bonitas com o leopardo, de quando ele cantava e era embalado com seu cheirinho de flores.

[...]

Naquela tarde em especial, ambos os moradores da propriedade Kim passaram aconchegados na grande sala quentinha, aproveitando a lareira, a preguiça e um bom filme.

Claro, os garotos compartilhavam um cochilo com curtos suspirinhos, enquanto, Byeol noona se levantava indo para a cozinha e secando mais um pouco da louça, em seguida, passando pelo seu quarto pegando seus novelos de lã e agulhas coloridas, voltando à sala e se sentando, tricotando por algum tempo, depois se levantando para dar água às plantinhas na área de lazer, voltando e tricotando um pouco mais, para então, se levantar outra vez, talvez os armários da cozinha precisassem que passasse um paninho sobre. Não conseguia ficar quieta e se praguejava por ter caçoado de sua mãe alguns anos atrás por isso.

Ao voltar para a sala, suspirando por não ter mais o que fazer e se entreter, se sentou, passando a zelar pelo sono de seus meninos, principalmente o do coelhinho. Sorriu grande sentindo seu peito aquecido, o rostinho sereno demonstrava como Ggukie estava confortável e tranquilo, tirando um cochilinho gostoso e sonhando, sem que precisasse ter medo de nada, ou, abrir os olhos para conferir se estava seguro.

Se sentia tão feliz pelo seu orelhudo.

Sabia que ainda tinham um caminho longo pela frente, mas o protegeria e ajudaria, com tudo o que pudesse oferecer.

Mais tarde, quando acordou os dorminhocos para um lanchinho, assistiu a brincadeira de palavras que os faziam soltar risadinhas; seu TaeTae lhe pedindo uns beliscões, para logo em seguida, ficar vermelhinho feito um tomate quando realmente revelou seu segredo -que havia usado como artimanha para fazê-lo tomar banho no natal-, de que fez xixi na cama até os quinze anos, apenas para que ele parasse de tirá-la a paciência.

Claro, em algumas vezes que aquilo acontecia, seu menino ficava preso em sonhos, principalmente quando as imagens ilusórias envolviam sua mãe, mas outras, também eram por ser sem vergonha demais. Sempre lhe disse isso.

Jeongguk sentiu até mesmo algumas pontadinhas de dor em sua barriga, efeito das risadas que não conseguiu segurar observando seus humanos brigando e ao mesmo tempo brincando um com o outro.

E depois, quando assistiram devidamente um filme, que particularmente arrancou diversos suspiros do coelhinho, por ser o último da trilogia de: Homem de Ferro; e outros divididos em encanto e ciúme de Tae, que se aconchegava melhor com a cabeça apoiada no ombro do mais novo vez ou outra, talvez tentando lhe chamar a atenção, chegou a hora de ir dormir.

Parados entre as portas de seus quartos, se encaravam com sorrisinhos tímidos nos rostos, pois as horas se passavam muito rápido quando assistiam e trocavam opiniões sobre tal filme, e secretamente desejavam passar mais tempo juntos.

O pequeno Jeon só não conseguia dizer nada, além de desejar boa noite a seu príncipe, que sorria esperando que entrasse em seu quarto e fechasse a porta primeiro.

Então se afastavam assim, todas as noites.

De higiene feita e se aconchegando na cama quentinha, Jeongguk virou-se de lado, sorrindo pequeno para o boneco articulado, sentadinho do lado do relógio tic-tac pequeno.Tinha vontade de pegá-lo e mexer seus bracinhos e perninhas com bem quisesse, afinal, o cochilo sob o calor do hyung havia o tirado completamente o sono.

Riu baixinho, mesmo depois do cochilo, sentiu o cheiro de morango e chuva mais forte, do hyung em sua cama provavelmente apagado outra vez.

E por preguiça, não se moveu, embolou seu corpo ainda mais contra os cobertores grossos, permitindo o mini Tony Stark de ficar quietinho, deixando apenas a cabeça descoberta, e aquilo era bom, estava confortável e quentinho.

Sua mente mais desperta, então, voltou a trabalhar com as lembranças boas com seu outro hyung, de como também se sentia quentinho daquela forma quando ele o embalava para dormir. Ou, como quando eram um pequeno grupo e cuidavam uns dos outros a noite inteira, mesmo que algumas vezes não conseguissem escapar das risadas medonhas e palavras maldosas e toques que machucavam.

Afastando aquilo de sua mente, focou no calor que compartilhavam, fazendo os trapos velhos que usavam como roupas, se tornarem ainda mais inúteis em vista que dormiam todos quentinhos, aconchegados um ao outro.

Sem que percebesse, o orelhudo foi fechando os olhinhos, curtindo as imagens sendo exibidas em suas pálpebras fechadas, de algumas brincadeiras com os outros híbridos quando os senhores maus os davam paz por muitas horas, das mordidas de brincadeira e do ninho que criavam, como uma família. Dormiu assistindo aquelas lembranças, feliz por ter sido todas boas, por ter algo para contar de seu passado a amiga psicóloga que viria no outro dia, sem sentir medo, sem sua mente lhe pregar uma peça como se estivesse revivendo tais momentos.

[...]

- Ggukie! Já faz um tempo que não nos vemos. - A panda o cumprimentou animada, assim que o viu descer a escada, pulando o último degrau se aproximando rapidamente, da mesma forma elétrica.

Cada vez que o via parecia estar melhor, seu rosto iluminado; suas expressões suaves; gestos tranquilos; e isso a deixava muito feliz, mesmo que escondesse esse sentimento por debaixo da pose profissional.

Agora também, estava mais preparada para ditar o ritmo que iriam seguir com as sessões, um ritmo que se encaixasse com o tempo que o pequeno Jeon precisava.

- Oi, Hyubi noona! - Sorriu grande, sem dúvidas muitas coisas tinham acontecido naquele final de ano.

Jeongguk brilhava. Como um anjinho querubim.

E sabia que aqueles humanos tinham sido parte dessa causa, dando o empurrãozinho que faltava ao orelhudo.

- Senti falta das nossas conversas. - O coelho comentou, em um tom mais baixinho do que gostaria, tímido.

- Eu também. - Trocaram sorrisos amigáveis. - Vamos nos sentar sim? Há muita conversa para colocarmos em dia, suponho. - O sorrisinho aberto e os movimentos adoráveis das orelhinhas extensas, denunciaram a animação de Ggukie, que balançou a cabeça freneticamente. - Como você está?

- Eu me sinto muito bem, - Sua fala saiu firme e confiante, era um ótimo sinal e foi logo para o caderninho colorido que a acompanhava e que tirou de sua bolsa assim que se sentou, no sofá em frente ao moreno. - e você, noona? - As orelhinhas negras meia lua da panda dançaram, junto a um risinho que escapou de seus lábios finos.

- Eu estou bem igualmente. - Lhe respondeu doce. - Tenho um ótimo assunto para começarmos a nossa conversa de amigos. - As orelhas felpudas e branquinhas dobraram as pontinhas, demonstrando a curiosidade do coelhinho. - Como foi seu natal e ano novo?

E só pelo sorriso exibindo os dentinhos avantajados, Hyubi já sabia a resposta.

- Foram muito bons, - Ggukie respondeu exatamente o que pensou, abanando as mãos discretamente, ansioso. - eu conheci novos hyungs, eles são humanos bons também e confio neles, tem o Jimin hyung que é um híbrido de gato, e ele disse que pode me ensinar muitas coisas se eu quiser, teve bastante festa e bagunça também... - O garoto coelho deu uma breve pausa para respirar profundamente, sentindo seu coração retumbar em seus ouvidos humanos, com a estranha sensação de energia que o tomava.

- Isso é muito bom, e como você se sentiu com eles durante esse tempo?

- Quando eu conheci eles foi um pouco estranho, mas essa sensação passou quando eles me trataram como um igual...

- E por que achou que seria tratado de uma forma diferente? - Jeongguk encolheu os ombros, ficando em silêncio por um momento, não sabia ao certo como lhe responder.

- Era algo que estava acostumado, mas não penso mais assim, igual com os nozinhos que o Jimin e Tae hyungs me ajudaram a dar um passo maior.

- Você está cumprindo a tarefa direitinho, bom. - A mesma sorria enquanto falava, anotando todas as informações do garoto de fronte, nas folhas de linhas douradas. - Como se sentiu quando deu passos à frente deles?

- Leve e... feliz, - Um sorriso contido contornou os lábios vermelhinhos. - eu ganhei coisas novas...

Jeon não se referiu somente a seu boneco do Homem de Ferro, ou, a blusa de lã laranja, ou, moletom especial para híbridos. O que ganhou o dinheiro não poderia comprar.

- vou levá-las comigo para sempre.

- Quer me contar que coisas são essas?

Então o moreno quase deu um pulinho se ajeitando no sofá, contando à sua amiga panda, cada detalhe, desde a véspera do natal.

Contou como conheceu seus outros hyungs; da ceia; do felino o ajudando com alguns nozinhos; da dança com TaeTae; dos filmes que duravam quase a noite toda; dos cochilos com o príncipe; de ajudar noona na cozinha e ter feito um bolo com o acastanhado, o que rendeu muitas risadas e bagunça; da festa surpresa de aniversário desse; por último, da guerra de bolinhas de neve no ano novo, junto do tal anjinho de neve no chão coberto, e no quão divertido foi.

A híbrido o ouvia com muita atenção, perguntando como ele se sentia a cada pausa que dava, para se lembrar corretamente de cada segundo para contar, a mesma estava contente com os resultados positivos que cercavam o pequeno coelho.

- Trabalhar suas próprias emoções é muito importante, Ggukie, continue assim, está indo muito bem. - Houve uma nova dança das orelhas de coelho. - E pelos últimos dias? Algo que queira me contar?

- Eu tenho documentos novos agora, documentos de verdade. - A mesma soltou uma risadinha.

- É maravilhoso. - Os olhos negros cintilavam, ainda mais do que quando começaram a conversar há quase duas horas atrás. - E sobre seus nozinhos, Ggukie? Algo do passado que queira contar? - O moreno passou alguns segundos pensando, surpreendendo a mais velha ao assentir devagar. - Quando quiser...

- Alguns senhores maus locavam mais que um híbrido... - Jeongguk respirou fundo outra vez, pensando nas palavras certas para usar. - em algumas noites, éramos um grupo e protegíamos um ao outro, compartilhávamos calor e por algum tempo o medo ia embora. - Hyubi assentiu, concentrada em ouvi-lo. - Ontem quando o hyung nos trazia para casa, eu vi um híbrido de leopardo na rua, e ele me lembrou um amigo especial, o Baek hyung... ele cuidou de mim e eu cuidei dele também, eu sinto falta dele, mas tive muitas lembranças boas, mesmo que do passado.

- Você já conseguiu entrar em contato com seu hyung? - Ggukie negou, a expressão murchando por breves momentos.

- Nós nos separamos e nunca mais soube dele.

- Entendo, mas fomos bem por hoje, - A mesma mudou de assunto, o distraindo. - falar do seu passado é importante para que consiga enterrá-lo de vez, claro, deixando apenas as lembranças boas, você conseguiu me falar um pouquinho hoje, compreende a evolução que teve, Ggukie? - Um sorriso pequeno se abriu nos lábios do coelho. - E não se preocupe, quando menos esperar encontrará seu hyung. - O incentivou, perdendo um pouco sua pose profissional.

- Obrigado, doutora Hyubi noona. - A panda retribuiu seu sorriso.

- Antes que eu vá, tenho uma nova tarefa para você, está lidando muito bem com os nozinhos, agora é um desafio maior. - O orelhudo tombou um pouco a cabeça para o lado, curioso. - Para evoluir cada vez mais, precisa se conhecer Ggukie, aprender sobre si mesmo, julgar as coisas que gosta e não gosta, o que machuca e o que não, vai trabalhar junto com suas emoções, - O cenho coberto pela franjinha negra, franziu escondido. - Descubra sobre você, vamos trabalhar autoestima, ansiedade, controle... toque em si mesmo, conheça seu corpo, veja suas cores e continue enfrentando nozinhos, - O mesmo acenou com a cabeça, demonstrando que compreendeu sua nova tarefa. - isso vai ir te fortificando, lhe dando mais segurança e escudos para que consiga controlar os nozinhos do passado, para quando quiser me contar, não sentir dor. - Os lábios secos se partiram em surpresa, era uma tarefa grande e complicada, mas Ggukie iria se esforçar para conseguir.

Não queria mais sentir dor. E também, depois que descobriu algumas cores, passou a desejar mais e mais poder tocá-las, e conseguir controlar o que acontecia em sua mente, lhe dar luz, era algo que o ajudaria a ver mais delas.

Ambos conversaram sobre a tarefa que a panda chamou de auto-conhecimento por mais alguns minutos, antes da mesma se despedir conferindo quando viria outra vez, lhe dando um sorriso gentil de boa sorte e partindo.

Entretanto, cerca de trinta minutos depois que a híbrido de panda foi embora, deixando o pequeno coelho um pouco perdido em pensamentos e perguntas que não conseguia responder, para trás, esse havia se agasalhado e ido em direção à horta para colher alguns temperos, com um biquinho formado nos lábios por todo o tempo que passou ali, parecia que sua mente agora tinha ainda mais nozinhos. Não conseguia parar de pensar na tarefa da amiga psicóloga.

Ggukie retornou para a cozinha com o cestinho cheio de folhinhas verdes em mãos, sorrindo contido para noona, que lhe acariciou a bochecha com a mão quentinha em agradecimento.

Após ser dispensado da ajuda que ofereceu, pela mais velha que insistia em dizer que não precisava se preocupar, entrou na sala retirando o casaco grosso, pendurando-o no cabideiro perto das portas de vidro, outra vez.

Se sentando no sofá sem mais nada a fazer, encarou a televisão que já não exibia o programa de artesanato de noona, e sim, o jornal do meio dia, onde mostrava uma feira gastronômica em uma praça no centro. Jeongguk lambeu os lábios, a câmera filmando os quiosques e os pratos esfumaçando, lhe davam água na boca.

Logo a reportagem havia terminado e a que veio a seguir, foi o motivo de seus olhos arregalados e expressão surpresa.

Um dos poucos híbridos de tigre do país, apareceu na tela, vestido de terno azul marinho e com um microfone em mãos, anunciando o início de sua matéria, onde mais uma investigação estava sendo feita em uma ONG suspeita de estar vendendo filhotes.

O pequeno Jeon tinha medo do que pudessem descobrir, sabia que aquilo poderia acontecer, mas não saberia lidar com mais aquela crueldade por parte dos humanos, mesmo que ainda estivesse fascinado com um semelhante em um cargo como aquele dentro da sociedade.

"- Como vocês podem ver, os policiais agora levam dois suspeitos, com os mesmos nomes e características da denúncia anônima."

Aquele tigre parecia ser alto, forte e tinha o tom de voz firme e grave.

Jeongguk acompanhou a câmera desviar-se do felino, filmando os fardados guiando dois homens algemados para a viatura.

"- A denúncia afirma a presença de um grupo com aproximadamente dez híbridos gestantes e cinco filhotes em situações precárias, além de uma gravação das câmeras de segurança local que registra o momento em que um dos filhotes, sendo um híbrido de urso pardo, é arrancado de sua mãe e entregue a uma outra mulher pela madrugada. Segue as imagens."

O coelhinho virou o rosto, não suportaria ver uma cena como aquela. Seu estômago embrulhou. Era verdade... e tão desumana.

"- A nossa equipe convenceu o dono da ONG a vir falar conosco. - O tigre deu uma breve pausa, assistindo o homem carrancudo se aproximar. - Bom dia, senhor Uh.

- Boa dia, senhor...

- O que diz em sua defesa em relação a denúncia que está movendo três delegacias com programas de proteção aos híbridos, para com a sua até então ONG?

- Essa denúncia é totalmente falsa e inescrupulosa! Há anos trabalho com o movimento de liberdade aos híbridos! Jamais faria uma coisa dessas!"

O moreninho não acreditou em suas palavras, assim como percebeu que o híbrido felino também não, em vista aos movimentos ligeiros de suas orelhas alaranjadas e rabo de mesmo tom de cor, quando voltou a olhar para a tv.

"- Mas então como o senhor explica a gravação que recebemos? Mostra claramente seu rosto no momento que entrega a criança.

- Veja bem senhor... - O homem o analisou de cima a baixo com desdém. - eu montei uma ONG para ajudar as crianças a encontrarem um bom lar, nada além disso, as imagens da câmera foram um mal entendido.

- Você a arrancou de sua mãe biológica, como explica isso? - O repórter perguntou em um tom baixo, contendo um rosnado.

- Aquela híbrido é minha funcionária e estava cuidando do pequeno, por curiosidade, eram da mesma espécie, - O humano soltou uma risadinha, divertido com a situação. - ainda mantenho o mercado funcionando, mas deixo claro, é uma parte da loja dedicada a tudo o que um híbrido precisa, tudo está legalizado e politicamente correto, assim como a ONG que tem todos os recursos para abrigar órfãos, estão perdendo tempo aqui.

- Se tudo está politicamente correto, não se importaria se mostrássemos o interior da loja, não é? - O humano passou alguns segundos em silêncio, apenas encarando o tigre.

- Claro que não, fiquem à vontade. - Ditou entredentes.

Assentindo, o imponente tigre passou a andar na frente, sendo acompanhado pela câmera, além das portas de vidro automáticas.

Dentro do enorme mercado, nada parecia fora do lugar, hviam araras de roupas; prateleiras de sapatos; brinquedos; mercearia com alimentos anti-toxicantes e até uma pequena farmácia, ao fundo; mas o espaço dedicado às crianças estava faltando algumas coisas, parecendo ter sido arrumado às pressas.

- Pode ver? As crianças têm tudo o que precisam até encontrarem uma boa família.

- E onde estão as crianças agora?

- Na creche. - Os pelos alaranjados da nuca do felino eriçaram, identificando o tom de voz vacilante do homem.

- Não se importaria se também fizermos uma análise do local, certo? - A câmera então focou em outro homem, com um casaco de couro e distintivo como pingente. Um delegado."

Ggukie percebeu o homem o tempo todo durante aquela entrevista, silencioso e observador, calculando cada inspiração e expiração do dono da tal ONG.

Sabia que ele mentia, todos que tinham a oportunidade faziam isso. E era muito doloroso saber como seus semelhantes sofriam daquela forma, vender filhotes lhes davam tanto dinheiro quanto as locações imundas que os submetiam.

Sentiu um bolo se formar em sua garganta.

"- Como eu disse, fiquem à vontade. - Respondeu o senhor e uma equipe junto do homem entrou naquela sala com janelas de vidro.

A câmera ficou do lado de fora, junto ao repórter e o dono do mercado, não era possível ouvir o que o delegado falava, enquanto mexia e observava cada coisa ali.

- O local não é devidamente higienizado, isso já é um motivo para tirarmos todos os híbridos daqui. - Decretou o homem ao retornar.

- É claro que limpamos devidamente, mas eles ainda são metade bichos...

- Somos seres humanos como você! - O tigre rosnou, seu temperamento o deixando irritado com aquele humano facilmente.

- Ah, é mesmo? Pois está se comportando como um animal selvagem. - Provocou o homem, querendo um deslize do repórter.

E quando esse deu um passo à frente rosnando, o delegado ficou entre ambos.

- Você o desrespeitou, me faz acreditar menos de sua participação no movimento e liberdade dos híbridos, deveria começar pedindo desculpas.

Mas no segundo seguinte, os únicos dois híbridos ali, além do tigre, sendo duas onças, moveram as orelhas, escutando algo tão baixinho que a câmera não capturou. As orelhinhas de coelho moveram-se em reflexo.

- Vasculhem o local! - Ordenou o homem vestido de couro, observando os seis de sua equipe irem em direção a uma porta nos fundos. - Oficiais, - Outros dois fardados se aproximaram. - levem ele como suspeito também.

- Vocês não podem invadir minha propriedade assim! - Esbravejou o homem, ao que teve os pulsos segurados e foi algemado.

- Eu tenho um mandado de busca e apreensão, você é obrigado a se calar e aceitar. - Então o mesmo saiu para acompanhar seus companheiros armados.

- E como vocês puderam ver, a denúncia anônima teve mais um indício de ser verdade, - O tigre começou, respirando fundo tentando se acalmar. - assim como as locações que a pouco se tornaram ilegais, todos devem tomar consciência de nossas vidas, pessoas, e lutar ao nosso lado, chega de nos tratar como inferiores, chega de nos ver morrer por seus caprichos. Os humanos têm privilégios, mas híbridos também tem esse direito, se você estiver em qualquer lugar e desconfie de algo acontecendo a um híbrido, disque cem para os direitos humanos. Enquanto a informação não chegar a todos, nossa realidade não vai mudar. - Concluiu o repórter de forma séria, as pupilas dos olhos de repente verde esmeralda, retraídas, até quase formar dois risquinhos. - Voltaremos para mais informações sobre a investigação ao vivo a qualquer momento.

- Selvagem!

A câmera capturou a voz do homem sendo arrastado pelos policiais, antes do híbrido de feições cansadas, principalmente de ser desrespeitado, abaixar o microfone e então o jornal voltar para os repórteres no estúdio."

Jeongguk sequer tinha reparado nas gotinhas que escorreram por suas bochechas, achava que tinha se tornado normal a crueldade dos humanos, mas acabava cada vez mais assustado, eles eram piores do que conhecia.

Eles maltratavam seus semelhantes, não os respeitavam, vendiam seus filhotes e os submetiam a dias e noites desumanos, pelo que? Dinheiro fácil e sujo. Jeongguk sabia, via quantos maços verdes seu pai recebia em mãos toda vez que voltava para casa.

Agora tinha um herói, um quarto aconchegante e abraços quentinhos, comida e muito carinho, era livre para escolher como queria viver cada dia, não precisava ter medo. Porém, naquele momento, enquanto estava confortável no sofá, protegido dentro de casa, outros híbridos e filhotes pequenos e indefesos estavam nas mãos daquele homem horrível.

- Ggukie!

Tae pulou o último degrau da escada, com algumas folhas e canetas em mãos, o sorriso quadrado demonstrando sua animação por ter terminado a papelada urgente que Yoongi lhe mandou, e mais ainda com o jogo que estava prestes a sugerir, mas seu sorriso partiu-se com o olhar brilhante de lágrimas que encontrou o seu.

- O que aconteceu, pequeno? - Perguntou preocupado, se sentando ao lado do mesmo no estofado, observando na televisão nada demais, apenas a previsão do tempo.

- H-Humanos são cruéis. - Um soluço escapou do coelho.

- E tem toda razão, Ggukie, eu concordo. - O empresário se aproximou um pouco mais de si, devagar, com medo de assustá-lo. - Você viu alguma notícia na tv? - Apoiou as canetas na mesinha de centro, erguendo a mão destra a guiando pelos fios negros, em um carinho singelo.

- Vi. O senhor mau vendia filhotes, hyung... - Inconscientemente, Ggukie passou a se aconchegar contra o calor do príncipe. - eu estou aqui, protegido com o hyung e a noona, mas os outros, aquelas crianças, estão nas mãos dele, desprotegidos! - Outro soluço escapou.

- Esses monstros se acham no direito de fazer isso, - Cuidadosamente, o Kim segurou uma das mãos pálidas, apertando de forma firme e apoiadora. - mas as crianças e seus pais vão ser salvos ainda hoje, não só eles como muitos outros, - O moreninho arregalou levemente os olhos, o encarando. - é um processo que não conseguimos acelerar, mas cada vez mais, híbridos são salvos e levados para a maior ONG de Seul, onde podem finalmente ser livres.

Ambos passaram alguns minutos em silêncio, noona, parada na porta vazada da cozinha, mantinha a mão próxima ao coração, sentindo-o apertado. Já o acastanhado, pela primeira vez sentia-se completamente seguro, sem se atrapalhar em suas palavras.

- O hyung... está nessa luta também?

Aqueles olhos de jabuticaba suplicaram por uma resposta, e sentiu seu coração pular e apertar angustiado de diversas formas.

- É claro que estou, - Então sorriu pequeno, acariciando o dorso branquinho. - mas o mundo é ruim, e é muito difícil colocar as coisas nas cabeças das pessoas. - Suspirou, resvalando o polegar com cuidado pela bochecha corada do menor, secando uma pequena lágrima que escorria. - As coisas estão acontecendo devagar e não há muito o que podemos fazer, mas acredite Ggukie, já fecharam as portas de muitas pessoas cruéis, muitos híbridos estão conseguindo reconstruir suas vidas, é uma luta em que ninguém vai desistir.

- Eu luto por ela também? - Tae comprimiu o sorriso, bagunçando outra vez os cabelos negros do coelhinho, lhe dizendo de forma muda que estava tudo bem.

- Luta. - Respondeu calmamente. - Mas antes, assim como todos, precisa vencer a sua própria luta, Ggukie. - O moreno assentiu, pensando cada vez menos naquela crueldade, se concentrando em vencer sua mente para que pudesse ajudar outros humanos com características únicas e especiais, também.

- Pelo menos, as locações são ilegais agora. - O empresário arregalou os olhos brevemente.

- É muito bom que acabem com mais isso, ninguém é merecedor de passar por algo assim, - Trocaram sorrisos contidos. - os leilões e muitos mercados também foram fechados, só precisamos continuar firmes e em pé, certo? - Incentivou, conseguindo um brotinho de sorriso maior do orelhudo, junto a afirmação calma de sua cabeça. - Bom menino.

O Kim se aproximou um pouco mais, como se quisesse se aconchegar em seu ombro, Jeon gostava de quando ele ficava bem perto de si.

- Sabe, pequeno? - Taehyung soprou um risinho, gostava do novo apelido -antes só em seus pensamentos- do coelhinho. - Se quiser, pode conversar comigo sobre a sua luta também, sempre,

Tomando coragem, largou as folhas, levando ambas as mãos para o rosto bonito, contornando com as palmas as bochechas quentinhas. Jeongguk não se afastou, pelo contrário, gostou daquele toque, tudo o que vinha do príncipe era bom e gostava de sentir aquele choquinho estranho passeando por seu corpo todas as vezes.

- eu vou lutar com você, até que não tenha mais medo e vença, Ggukie...

Perderam-se no brilho um do outro, enquanto, conseguiam observar suas imagens refletidas entre suas estrelas.

- Obrigado, hyung. - Jeongguk respondeu mais baixo do que desejava, seus olhos se fechando, sentindo as batidas incertas de seu coração serelepe refletirem aquele algo estranho, que o belo homem de fronte, trazia.

Não estava mais sozinho, e nunca mais voltaria a estar.

- Não precisa me agradecer, - Reabriu os olhos no momento exato de receber uma piscadinha do mais velho. Soltou uma risadinha. - vamos deixar a televisão ligada e almoçar, - O acastanhado olhou brevemente para trás, recebendo a confirmação muda de Byeol, de que a refeição estava pronta. - assim, escutaremos a boa notícia que vai vir, das crianças indo para um lugar seguro e que vai ajudá-las. - Jeon concordou, se levantando e segurando a mão grande e quentinha, sentindo seu rosto frio depois que o príncipe afastou seu calor.

- A maior ONG de Seul fica muito longe? - Perguntou, curioso, passeando a manga da blusa do braço livre, pelos olhos.

- Não fica, não... - Se sentaram à mesa acompanhados da mulher, que mantinha um novo sorriso nos lábios. - se quiser, no dia que formos pegar seus documentos, podemos dar uma passadinha lá, Ggukie.

- Eu quero, Tae hyung!

- Então nós vamos. - Sorriram um para o outro antes de começarem a se servir.

- É uma ótima ideia! - Comentou noona. Faria muito bem a seu menino ir lá. - Ah e depois do almoço, precisam tirar a neve da frente das portas da sala de novo, queridos.

- Mais neve?!

O empresário deixou os ombros caírem junto a expressão indignada, o que resultou em uma gargalhada vinda de seu pequeno.

- Eu vou alugar um trator pra tirar tudo! - Fez graça, recebendo mais um risadinha desse e um beliscão da mais velha. - Ai, noona!

- Deixa de ser preguiçoso, moleque! Tá aí jovem com saúde pêga!

- Eu tô de férias e só trabalho em casa também... - Resmungou o Kim, o que só as orelhas extensas e peludinhas captaram em meio a movimentos sapecas.

- O que disse? - Byeol arqueou uma sobrancelha.

- Nadinha de nada, noona! - Um sorriso quadrado e falso inocente se abriu nos lábios cor de pêssego, e apesar de rir baixinho, Ggukie prestou muita atenção neles.

[...]

Depois do almoço, os garotos foram preguiçosamente para a área de lazer. Fazendo a digestão parcialmente deitados nas espreguiçadeiras por bons minutos, o acastanhado já estando de olhos fechados, poderia dormir a tarde toda ali mesmo, mas Jeongguk não deixou, o fazendo se levantar com um enorme bico nos lábios e ir pegar as pás na dispensa de bagunças do jardim.

Tae logo sentiu sua preguiça ir embora quando saíram pela neve fofinha, brincando e soltando risadinhas, estavam bem agasalhados e sentiam apenas o vapor saindo de seus lábios, se condensando com o ar congelante e logo dissipando. Porém não teriam tanta moleza, uma camada considerável da neve já se formava sobre a calçada, das "tempestade" que ocorriam durante a noite.

Ambos então começaram a removê-la, enquanto, trocavam palavras animadas decidindo qual filme iriam ver mais tarde, dando uma pausa quando o vidro exibiu novamente o repórter híbrido de tigre, sorrindo aliviado para a câmera, e contagiado, o moreno fez o mesmo.

Ele anunciou algo que não puderam ouvir, mas ao que a tela desviou de si, viram que era uma boa notícia. A tv mostrava vários paramédicos dando assistência aos híbridos e seus filhotes -encontrados em um cômodo aos pedaços escondido atrás de um banheiro extra, nos fundos da enorme propriedade cercada de árvores, Taehyung leu na barra de informações-, eles iriam ser levados para o hospital, e em seguida, para a ONG de Hyuna e Hyojong, a maior de Seul.

- Viu, Ggukie?! - O empresário o encarou, afobado.

- Eles estão salvos... - O pequeno Jeon sorria extasiado, feliz.

Mas no fundo sabia, nem todas as vezes eram tão descomplicadas assim, muita coisa ruim devia acontecer durante essas investigações.

- Sim! E vão poder seguir em frente agora, - O hyung abriu um enorme sorriso. - assim como você, Ggukie. - Seu peito acelerou, era o que ele causava quando fazia o ar a sua volta esquentar dizendo que estava protegido, o incentivando a fazer coisas que gostava de manhã até à noite, o dando combustível para seguir em frente.

- Obriga.

- Não-não-não, nada de me agradecer - O acastanhado soltou um risinho nervoso, abanando a mão livre em direção ao mais novo. - eu não fiz nada. - Sorriu sem mostrar os dentes, seus olhos sorrindo junto em uma expressão fofa e Jeongguk sentiu o rosto esquentar, por ter ficado com seus olhos presos no jeitinho adorável do príncipe.

- Fez sim, o hyung me ensina muitas coisas. - Retribuiu seu gesto, sentindo suas mãos gelarem, mesmo que estando cobertas pelas luvas coloridas e quentinhas.

- Então me ensine também, aí ficamos quites.

Taehyung sugeriu arqueando as sobrancelhas algumas vezes, fazendo graça. Mas a verdade é que já se sentia assim, afinal, desde que o anjo entrou em sua vida aprendeu muitas coisas também, e sentiu o impacto delas da forma mais especial que alguém poderia sentir.

- O que o hyung quer aprender? - O moreninho perguntou depois de soltar um risinho, as bochechas tomando a coloração vermelhinha que Tae tanto apreciava.

- Me ensina a... - Apoiou a mão no queixo, pensativo, abrindo um sorriso quadradinho segundos depois. - usar meus instintos?

- Eu ensino, Tae! - As orelhas extensas dançaram. - Qual quer aprender primeiro?

- Qual você sugere? - Riram em meio às sensações eletrizantes que passeavam por seus corpos. Estranhamente os atraindo como imãs.

- Como o hyung não é um híbrido, tem que ser um instinto humano, podemos começar com a audição, - O acastanhado sorria exageradamente, enquanto, ouvia a voz doce soar em um tom mais alto. - eu sou bom usando minhas orelhas humanas. - Soprou um riso, seu coração acelerando conforme assistia os dentinhos avantajados surgirem no sorriso bonito do mais novo, junto às orelhas extensas e felpudas dobrando as pontinhas, a esquerda virando-se em direção às portas da sala, todas vez que provavelmente escutava algum barulho ocasionado por noona na cozinha, por fim, os olhos de jabuticaba também sorrindo, exibindo lindas ruguinhas ao redor.

- Perfeito. - Comentou depois de finalmente conseguir desprender o olhar do moreninho. - Como eu começo?

- O hyung tem que fechar os olhos, sem a visão, seus outros sentidos ficam mais fortes. - Mordendo o interior das bochechas tentando conter seu maior sorriso bobo, Tae estendeu a mão pedindo de forma muda a pá com o garoto coelho, que o entregou e se voltou para a calçada já limpa, apoiando-as de forma segura contra a parede, não queria que corressem riscos durante a brincadeira.

Tornando a ficar de frente para o mesmo, fechou os olhos.

- E agora? - Levou as mãos abobadas para trás das costas, cutucando as carninhas das unhas, nervoso.

- Eu vou me esconder e o Tae tem que me encontrar, vou fazer alguns barulhos e vai ter que seguir seu instinto.

- Certo. - Tae se movimentou, perdendo o nervosismo, o trocando pela ansiedade e animação. - Quando começa? - Não recebeu uma resposta. - Ggukie? - Franziu o cenho ao continuar sem ouvir a voz aveludada, apenas os passos ligeiros pela neve. - Ah, entendi! - Soltou uma risadinha. - Eu vou ganhar essa fácil. - Se vangloriou, dando um passo à frente.

- Se concentra, Tae hyung! - Escutou a repreensão adorável do ser orelhudo vir do mesmo lado de onde sabia estar sua melhor amiga árvore.

A passos vacilantes, com medo de bater a cara contra o tronco da mesma, Taehyung esticou os braços balançando-os até as polpas de seus dedos encontrarem a casca grossa. Sorrindo de maneira sapeca, deu uma volta ao seu redor, ficando novamente confuso quando não encontrou o menor, e nem ouviu outro ruído seu.

Ainda parado abraçando a árvore, pensava em outra estratégia. Poderia seguir explorando o jardim daquela forma, mas queria encontrar seu pequeno, e usar sua falta de visão, como desculpa para abraçá-lo. Ggukie estava tão fofinho naquelas camadas grossas de agasalhos, que não conseguiria resistir.

E trapaceando, abriu os olhos, encontrando o menor rodeando a árvore junto a si, os pés cobertos pelas botas revestidas de lã, sobre as raízes saltadas da árvore, se movendo sem fazer qualquer barulho. Então não sentiu mais culpa, Jeongguk estava trapaceando também, certo?

Fechando-os outros vez, deu um passo largo, segurando a mãozinha também coberta por luvas, por sobre a casca grossa, soltando uma gargalhada ao abrir os olhos, encontrando os negros brilhantes e arregalados.

- Te encontrei!

- O hyung trapaceou! - Jeongguk soltou em um gritinho contido, ainda o encarando abismado.

- Mas você também! - O Kim sequer tentou inventar uma desculpa para convencer o mais novo de que não tinha feito nada de errado durante a brincadeira, rindo em seguida por vê-lo reagindo sem conter suas emoções. - Não fez mais nenhum barulho.

- Não poderia ser tão fácil assim, Tae hyung! - Ah... Taehyung perdia sua pose quando era chamado daquele jeito, ainda não havia se acostumado.

- O senhorzinho usa esse sentido de olhos abertos. - Provocou.

- Eu consigo me concentrar em um só, hyung.

Então foi sua vez de arregalar os olhos, abrindo e fechando a boca diversas vezes, sem saber o que responder ao dono do sorrisinho sapeca.

- Ponto pra você... - Disse por fim, ainda apoiando a mão enluvada em cima da branquinha coberta igualmente. - vamos outra vez, agora eu prometo que não irei abrir os olhos. - O olhar escuro semicerrou em sua direção. Era uma cena incrivelmente fofa.

- Só se o hyung cobrir os olhos.

Muito espertinho. Tae mordeu a pontinha da língua, negando discretamente.

- Como desejar. - Desenrolou o cachecol preto grosso mantendo seu pescoço quentinho, o usando para cobrir os olhos e fazer um nó em sua nuca. - Está bom?

- Não tá espiando, não é, TaeTae?

Negou, agora sendo a verdade, não conseguia ver nada além do escuro. Mas por um último momento gostaria de não estar vendado, só para ver a expressão desconfiada no belo rosto que não saia de seus nozinhos de pensamento, sendo tão fofa. Tae sentia vontade de apertar Ggukie constantemente.

- Tá, vamos de novo. - Os passos se afastaram, indo para o lado esquerdo do jardim, e o empresário seguiu o comando de sua mente, o seguindo.

Era muito difícil desapegar de algo que você sempre teve, Taehyung compreendeu isso ao não poder ver o caminho em sua frente, andando sem confiança pelo jardim erguendo os braços em reflexo a cada sombra que o pregava uma peça, como se fosse bater o rosto. Porém quando se adaptou, usando a imagem que tinha do enorme espaço em sua mente para se localizar, começou a andar mais depressa, mais confiante, perseguindo os passos ligeiros do garoto espertinho fugindo de si, lhe dando outro barulho como dica, esse sendo mais lindo ainda, o som de suas risadinhas sapecas.

Depois de algumas voltas pelo jardim, o acastanhado parou sobre a calçada.

Ao menos achou que havia parado, afinal, tropeçou no mínimo degrau que o conjunto de cerâmicas criavam, e deveria estar defronte com as portas de vidro. Noona deveria estar até mesmo gravando seu jeito bobo, para poder rir mais um pouco depois.

No entanto, voltou a se concentrar em encontrar seu pequeno, ele estava ali também, não ouvia passos, apenas o som baixinho e desregulado de sua respiração, vindo do lado direito.

Dando um primeiro passo naquela direção lentamente, repuxou os lábios em um sorriso cafajeste, ao ouvir a respiração do mesmo parecer se desesperar um pouco mais.

- Te encontrei! - Agarrou algo fofinho, logo puxando, percebendo ser um dos braços de Jeongguk.

- Me encontrou, hyung! - O mais novo confirmou, gargalhando em seguida.

Desconcentrando-se totalmente, podendo ouvir aquele som gostoso, Taehyung deu um passo em falso, se desequilibrando com o degrau da calçada, o peso de seu corpo junto às camadas de roupas o levando para trás.

Em um segundo, estava caído na neve fofinha, com um peso extra sobre si. Arregalou os olhos sob o cachecol, acabou puxando Jeongguk junto a si e seu coração só não escapou pela boca porque tinha certeza que o engoliu de volta.

Seu nervosismo quase o tomando com o silêncio que se instalou por bons segundos, sendo quebrado pela gargalhada do ser orelhudo. Começou a rir também, mas apenas para que não se desmanchasse de puro nervosismo, seu corpo não tinha força alguma, estava feito gelatina, jogado na neve branquinha.

Retirando a lã que lhe tapava os olhos, piscou algumas vezes atordoado pela intensa claridade que os tomou por algum tempo, até encontrar o rosto contornado de luz em frente ao seu, os dentinhos de coelho exibidos enquanto a risada gostosa preenchia seus ouvidos.

Aprendeu a usar muito bem aquele sentido.

Quando seus olhares se chocaram, perderam-se em seus próprios nozinhos e sentimentos, podendo ver a si mesmos refletidos nas estrelas do outro.

Jeongguk esteve um bom tempo pensando fixamente no que a psicóloga disse, mas ali, enquanto o riso ia acabando conforme seu coraçãozinho retumbava em festa dentro de seu peito, esqueceu-se de tudo. Só conseguia ver o rosto do belo príncipe e o que seus olhos queriam lhe dizer.

Com calma, o mais velho soltou o braço do coelhinho, que permaneceu apoiado em seu peitoral, erguendo a mão destra retirando uma mecha de cabelo negro escorrida em frente a um dos olhos de jabuticaba cintilantes, colocando-a com extremo cuidado atrás da orelha branquinha.

O sorriso então sumiu dos lábios vermelhinhos, o pequeno Jeon os entreabriu e seus olhinhos redondos miravam os de mel levemente arregalados, confusos no turbilhão de coisas estranhas que sentiu com o novo choquinho do toque do mais velho passeando por seu corpo. Coisas estranhas que gostava de sentir.

E no mesmo segundo que o olhar também sorridente do príncipe, desviou do que fez e encontrou os seus novamente, sentiu seu peito pular e fechou os olhos com força.

Ao reabri-los, tudo estava escuro, o casaco azul que usava havia ficado gigante, escondendo todo seu corpo peludinho. Sua confusão, e ao mesmo tempo, curiosidade de descobrir o que sentia, ocasionaram em seu lado coelhinho, sendo mais corajoso que si, tomar seu lugar.

O Kim estava quieto, os olhos saltando de órbita observando a onda que o quase imperceptível peso causava sobre sua barriga, nem mesmo reagiu às poucas cócegas que as patinhas peludas causaram ao que o coelhinho se deslocou, parando sobre seu peitoral, retirando primeiramente o narizinho rosa cheio de bigodinhos para fora do quentinho, em seguida, os olhos azuis brilhantes, que não diminuíram ou esconderam o que os de jabuticaba haviam conquistado.

- N-Não quis te assustar, Ggukie. - O acastanhado não conseguia formular nada em sua mente, só estava... entregue.

Tensionando todo o corpo, se surpreendeu ao receber como resposta, o nariz quentinho passeando por seu pescoço e queixo, curioso.

Jeongguk adorava sentir o cheiro de seu príncipe quando estava transformado, conseguia senti-lo com ainda mais intensidade, morangos e chuva, combinavam com tudo para si.

Abaixando as orelhas, cobrindo metade de suas costas com as extensões felpudas, se deitou sobre suas patas, deixando o mais velho passar a mão por sua cabeça, deslizando para as costas, gostava daquele carinho.

Ficaram daquele jeito por bastante tempo, até que secretamente o empresário recuperasse as forças de seu corpo, se levantando com o coelhinho ainda em seu colo, o enrolando em suas próprias roupas, e o carregando para seu quarto.

Ggukie também quis rir no caminho, quando Byeol noona o esmagou em um abraço apertado assim que o viu no colo do hyung, mas apenas continuou aproveitando o calor do mesmo, sentindo sua risada rouquinha vibrar em seu peito, onde mantinha a cabeça encostada.

E durante mais uma madrugada, não dormiram direito. Tae acabou resolvendo inúmeras papeladas antes de realmente apagar, sendo até mesmo elogiado por Yoongi na manhã seguinte, quando lhe entregou tudo.

O moreno parecia estar com uma energia que não tinha fim, se transformando algumas vezes durante a noite, por culpa dos nozinhos, que o deixaram com um biquinho nos lábios por não conseguir desembaraçá-los.

[...]

Os cinco dias restantes até a manhã que buscariam seus documentos, foram os mais longos para o orelhudo, que mal via a hora de ter em mãos aqueles impressos importantes e todinhos seus. Porém não só por isso, também iria conhecer a ONG que cuidava verdadeiramente de seus semelhantes, estava curioso sobre ela e gostaria de descobrir tudo.

O café da manhã estava sendo rápido para si, rejeitou até mesmo seus pãezinhos doces, comendo as cenouras que noona cortou para si, apenas porque não queria ter suas orelhinhas puxadas.

Tae estava tão eufórico quanto si, mas faminto, aproveitando a distração de sua segunda mãe que oferecia tudo que tinha na mesa a seu pequeno, para devorar os pães de queijo da cestinha.

- Nós vamos agora, hyung? - O Kim soprou um riso com a doce pergunta, do coelhinho elétrico na cadeira ao seu lado, quase engasgando com a massa salgada.

- Calma pequeno, se sairmos agora vamos chegar muito cedo, - Sorriu tentando lhe passar tranquilidade. - logo vai ter seus documentos, - Jeongguk assentiu freneticamente. - coma bem, a primeira refeição do dia é a mais importante. - Arregalou os olhos brevemente ao desviá-los, envergonhado sob o olhar faiscante, observando noona contar os últimos pães de queijo da cestinha com o cenho franzido.

- Acho que assei menos dessa vez. - A mesma se sentou, dando de ombros, se servindo. - Se alimente direito menino! - Falou outra vez para o coelhinho. - Senão, não vou deixar você sair por aquela porta. - Estreitou os olhos da mesma forma que fazia com seu moleque, sorrindo vitoriosa quando o moreninho de olhos esbugalhados pegou logo três pãezinhos da cesta, mordendo o primeiro com gosto. - Bom menino. - Ggukie sorriu sem mostrar os dentes, não conseguiria comer muito, seus estômago estava revirado e não parava quieto, estava ansioso, porém não desobedeceria noona.

Quando finalmente saíram de casa, com o empresário tendo que lembrar o mais novo de colocar o cinto de segurança, o garoto coelho passou a mexer nas estações do rádio, arrancando risos roucos do príncipe, que percebia seu pé direito inquieto, batendo contra o carpete do carro por todo o tempo até o Instituto de Identificação.

Jeongguk só sossegou quando saiu de lá, com uma pasta branca apertada contra o peito, contendo seus documentos novos.

- Então seguimos para a ONG?

Tae perguntou assim que entraram no carro outra vez, não recebendo uma resposta do coelhinho, mas ao olhá-lo, suspirou, observando-o analisar sua digital e foto, seus números de identificação como cidadão, com os olhinhos redondos arregalados, desejando que nenhum detalhe passasse despercebido.

- Ggukie? - O olhar de jabuticaba finalmente se dirigiu a si.

- O que foi, Tae hyung?

- Você ainda quer visitar a ONG? - O mais velho riu baixinho com o assentir desesperado da cabeça de fios negros, e das mãos ágeis guardando todos os documentos de volta na pasta. - Então vamos.

- O hyung já foi lá? - Jeongguk se aconchegou contra o banco de couro, apoiando seus documentos novinhos no colo.

- Uma vez. - Tae respondeu, com um sorriso bonito nos lábios, ainda que encarando as ruas atentamente. - É um lugar muito bonito e especial, você vai gostar.

- Vou sim. - O orelhudo retribuiu o gesto do mais velho, ao que trocaram breves, mas singelos olhares.

Então entraram em um silêncio bom e preguiçoso, com a música calma tocando e ajudando o coelhinho a ficar quietinho, relaxado, e tudo o que o acastanhado olhando pelos cantinhos dos olhos queria, era tirar muitas fotos do ser de repente sonolento assistindo as ruas piscando lentamente.

Entretanto, Ggukie perdeu o sono assim que a voz baixa e rouca anunciou que haviam chegado, de fato, a ONG não era longe, se encontrava bem no centro, a vinte e cinco minutos da empresa do Kim.

Praticamente saltando do carro, sem se importar com o ar gélido que o abraçou, o moreno foi logo para o lado do empresário, segurando sua mão inconscientemente assim que avistou os enormes portões, era um lugar gigante como o shopping e não queria se perder do hyung, também.

Ambos passaram alguns minutos na portaria, e enquanto Taehyung esperava a resposta de seus amigos para que pudessem entrar, os olhos grandes varreram todo o local, curioso sobre cada pedacinho, haviam câmeras de segurança; homens fardados guardando a entrada; e várias pessoas dentro de cabines fazendo várias perguntas a seu príncipe, que infelizmente não prestou atenção, afinal, ouvia gritinhos de crianças e muitas vozes diferentes do outro lado.

- Podemos passar, pequeno. - O mais velho lhe puxou de seus pensamentos, o guiando para o portão imenso e branco que foi aberto automaticamente.

Agora do outro lado, Jeongguk tinha a visão de um edifício pintado de branco, da cor da neve do jardim, e que não duvidava se ele estivesse tocando o céu de tão alto, com muitas janelas e sacadas. Porém, não encontrou os donos de todas aquelas vozes, deram de cara com um estacionamento, com alguns carros apenas.

- Temos que ir por ali. - O acastanhado anunciou depois de um risinho, parecendo ter notado sua confusão, lhe puxando pela mão por uma rua à esquerda.

A expressão do coelhinho tornou-se ainda mais surpresa e encantada, o jardim nevado que surgiu em suas frentes, era muitas vezes maior que o do príncipe, com árvores em todos os cantinhos, espaços cobertos com mais neve e bancos e mesas.

Espalhados sob quiosques, havia mais híbridos do que o garoto coelho já viu em sua vida inteira, com o campo sendo dominado por alguns adultos que caminhavam e principalmente por filhotes que riam e se divertiam com a massa fofinha.

Era diferente... e incrivelmente bom, vê-los assim.

- Tae!

Seus olhos encontraram um casal de humanos, que vinham em suas direções sorridentes, eram os amigos do hyung. Uma mulher magra e loira, com uma pintinha charmosa no rosto, bonita; junto de um homem alto e esbelto, também loiro, que carregava um bebê enrolado em um cobertor grosso cor de rosa; bonitos; as orelhinhas brancas dançaram.

- Nosso maior doador! É bom te ver por aqui, sócio. - A mulher brincou, e Ggukie sentiu novos arrepios com a risada rouca que ouviu logo após.

- Vocês que se superam a cada ano! E por favor, somos amigos. - Tae sentiu seu rosto esquentar.

- Nada estaria assim se não tivesse movido o projeto com seus acionistas. - O homem respondeu dessa vez, chacoalhando o embrulhinho que começou a chorar. - Minha bebezinha, não chora não, senão o papai vai chorar junto. - Soprou um risinho junto dos outros, aquele chorinho era gostoso de ouvir, e o rosto assustado do loiro era engraçado.

- Como está sendo a nova vida dos papais?

- Tem noites que eu não durmo, mas vale a pena.

- Demais. - A mais baixa retirou da bolsa que carregava no ombro, uma chupeta, o que acalmou a bebê em segundos. - Sunie tem um temperamento... e só tem três meses.

- Puxou a mamãe, não é? - A mesma sorriu, negando à provocação do companheiro.

- Eu fico feliz por vocês, esperaram muito por esse momento. - O casal concordou sorridente. - Mas deixa eu apresentar vocês, - Taehyung soltou um risinho sem graça, não era muito bom naquele tipo de coisa. - Hyuna noona e Hyojong hyung, esse é o Ggukie, ele estava muito ansioso para conhecer a ONG, - O moreno encolheu os ombros quando os dois pares de olhos se direcionaram a si, sorrindo pequeno. - Ggukie, eles são os criadores e desenvolvedores da ONG.

- Prazer. - Cumprimentou baixinho, tímido.

- Você é muito fofo, - Hyuna sorriu abertamente para si, ocasionando em sua timidez se esvaindo aos poucos. - há um grupo de híbridos de coelho em um dos quiosques, se quiser conhecê-los,

Jeon assentiu freneticamente, era uma sensação nova e indescritível conhecer outros híbridos de sua espécie, com as mesmas características, seu rabinho disparou elétrico.

- espere, esse é o garoto que salvou, Tae? - Viu seu hyung assentir, com as bochechas vermelhinhas. - Ele vai ficar conosco?

O casal começou a rir com os rostos espantados dos garotos.

- Não! - O príncipe puxou seu pequeno para mais perto, assim como suas mãos se apertaram em um laço mais forte. - Ggukie quer apenas conhecer, ele também quer lutar.

- E isso é muito bom, - Hyojong acrescentou risonho, ainda chacoalhando o embrulhinho rosa, com cuidado. - ontem acolhemos os híbridos da investigação que passou na tv, - O mais novo ali sentiu suas orelhas dançarem, animadas com a notícia. - tivemos muita sorte por ter dado tudo certo, duas mulheres entraram em trabalho de parto pela madrugada, e pelas ligações das delegacias que recebemos, os suspeitos denunciaram outros e hoje uma equipe buscará mais um grupo no hospital, outra lei também foi aprovada, nós estamos conseguindo. - O coração naturalmente acelerado do coelho refletiu em seus ouvidos. - Seja bem vindo, Ggukie.

- Obrigado, hyung e noona. - A voz doce soou mais firme.

E parando de prestar atenção na conversa dos outros três, Jeongguk remexeu o nariz seguindo um cheiro parecido com o seu, cítrico, era maracujá, e olhando ao redor, encontrou uma par de orelhinhas como as suas, da cor de chocolate, atrás de um dos bancos.

- Vai lá, Ggukie. - O príncipe o incentivou, afrouxando o aperto de sua mão da branquinha, que no segundo seguinte abandonou a sua, junto ao pequeno se afastando na direção que também percebeu, um filhote de híbrido de coelho.

Tae sorriu grande o assistindo caminhar um pouco acanhado entre tantos híbridos, atraindo olhares tão curiosos quanto os seus próprios.

- Acho que já sei porque o Ggukie não vai ficar conosco, amor. - Hyuna comentou em falsa inocência para o marido, tendo o olhar confuso do acastanhado fixo em si por alguns segundos, até o mesmo arregalar os olhos negando com a cabeça, os lábios entreabertos sem conseguir dizer uma palavra. Tae ainda estava confuso.

- N-Não tem nada a ver! - Inflou as bochechas, seu rosto estava quente e sabia que vermelho também.

Optando por voltar a se concentrar em seu orelhudo, ignorando os amigos rindo de sua cara, mordendo o interior das bochechas tentando conter o sorriso bobo que iria se abrir, um suspiro escapou quando o pequeno por fim chegou até a menininha ao longe.

- Oi. - Jeon cumprimentou, exibindo os dentinhos avantajados para a coelhinha.

- Shh! - Suas orelhas dançaram, curiosas.

- O que tá fazendo?

- Não sabe? - O olhar afiado de desconfiança, da cor de avelã, encontrou o seu. - É esconde-esconde e os adultos não brincam disso. - A voz fininha respondeu baixinho.

- Achei você, Nora! - Jeongguk observou um filhote de híbrido de cachorro, empurrar e subir sobre a garotinha.

- Sai de cima, seu fedorento! - O pequeno de orelhinhas triangulares se afastou, passando as mãos pela calça grossa, afastando a neve grudada ali. - Tá vendo o que você fez, tio? Agora eu fui pega. - A garotinha cruzou os braços.

- Eu posso brincar também? - As orelhas branquinhas tornaram a dançar, e por reflexo, as de chocolate também.

- Pode! - Um sorriso banguela se abriu nos lábios da garotinha de chiquinhas fofas. - O oppa conta!

- Tudo bem, Nora-yah, vão se esconder. - Então, o clima estranho sumiu e deu lugar a risadinhas e latidos, enquanto tapava o rosto para contar.

Durante a brincadeira, a pequena garota que havia se escondido atrás de uma coelho -que havia despertado com a gritaria ao redor do quiosque onde dormiam-, aproveitou para convidar o moreno a conhecer sua considerada família.

E aquele sentimento de familiaridade nunca foi tão forte, ambos se conheceram instantaneamente deixando seus cheiros mais fortes, logo Ggukie estava sentado no chão degustando uma cenoura com ambos, ouvindo histórias parecidas com a sua, contadas de forma sonolenta pelos híbridos aconchegados confortavelmente em cada cantinho, ao redor da lareira acesa.

Todos eles tinham uma história que o fazia refletir, e todas terminavam com suas vontades de se libertarem de uma vez para serem quem são, todos podiam sair da ONG quando bem quisessem, estavam reconstruindo suas vidas aos pouquinhos e aquilo já valia para que voltassem a enxergar cores na vida.

Ggukie sentia que também estava se reconstruindo assim, se sentia identificado com eles, não só por serem da mesma espécie, mas por também terem vivido no escuro e encontrando suas luzes.

E recusando o convite de se juntar aos novos amigos e amigas para outro cochilo, a pedido dos olhos de avelã suplicantes de Nora para que voltassem a brincar, ambos saíram do quiosque, caminhando calmamente em direção ao banco que estavam usando como pique.

- Então, o TaeTae é o seu herói?

A garotinha, que passou todo o tempo em que contava um pouquinho de sua história -muito distante de como era com Hyubi noona-, em seu colo onde a protegeu do frio, e que permaneceu quietinha ouvindo tudo com encanto, perguntou curiosa.

- É sim, Nora-yah. - Ggukie sentia suas bochechas quentes, mesmo com o rosto em contato direto com o vento frio.

- E ele também sabe brincar de esconde-esconde?

- Tae hyung sabe muitas brincadeiras.

- Sunbae dormiu com a vovó, podemos chamar o TaeTae para brincar com a gente, então?

- Podemos chamar o hyung. - Jeon sorriu um pouco mais abertamente, assistindo a garotinha soltar um gritinho, animada, saltitando pelo caminho ao seu lado.

- Olha! A mamãe tá lá também, vamos Ggukie!

O puxando, Nora os guiou com uma corridinha até seu príncipe, seus novos amigos e outra mulher humana, essa tendo a pele morena, como seu príncipe, os cabelos negros compridos e ondulados, carregava feições sérias e vestia um modelo de terno feminino preto, muito bonita.

- Mamãe! - A pequena pulou em seus braços.

- Meu bebê! Como você está? Se comportou direitinho?

- Sim, mamãe!

- Hyejin noona mamãe? - Tae questionou surpreso.

- A melhor decisão da minha vida, Tae. - Os amigos trocaram sorrisos sinceros.

- Então deixa eu te apresentar a minha... - O acastanhado falou, quase em um sussurro, e só a mesma pôde ouvir. - Ggukie, - O moreninho rapidamente entrelaçou os dedos aos da mão esticada a si. - essa grande mulher é uma das acionistas da minha empresa.

- É um prazer. - a mesma se curvou minimamente, afinal, tinha a filha adotiva nos braços.

- Prazer, noona. - O sorriso da mesma era bonito, e seu cheiro doce também o fez confiar em si.

- O Ggukie e eu viemos chamar o TaeTae herói para brincar!

As bochechas coradas pelo atrito do vento se coloriram ainda mais, e o moreno se perdeu por alguns instantes em nozinhos.

- Herói? - Taehyung perguntou, em um tom de voz vacilante, no mesmo estado constrangido que si.

- É! O Ggukie contou que você é o herói dele. - A garotinha arrancou risadinhas dos demais, deixando os mais novos ainda mais envergonhados, porém sem desgrudar suas mãos. - Agora vamos brincar?

- C-Claro! Vamos, Ggukie? - O acastanhado perguntou abrindo um sorriso travado, sendo sua melhor tentativa de passá-lo conforto, acariciando seus cabelos com a mão livre.

- Uhum. - O menor concordou baixinho.

- Eba! - Nora praticamente pulou do colo de sua mãe humana.

- Onde está seu irmão? - Hyejin acariciou suas bochechas, ajeitando a toca com abertura para as orelhas, sobre sua cabeça.

- Sunbae acabou dormindo com a vovó.

- Tudo bem, querida, brinque mais um pouquinho, depois vamos para casa, não pense que irá escapar da lição de casa hoje.

- Vamos Ggukie e TaeTae! - A pequena mudou de assunto, agarrando os rapazes pelas mãos os tirando dali.

- Nora é uma garotinha muito esperta, assim com Sunbae, eles não nasceram de mim, mas os amo tanto. - A morena suspirou, tendo Hyuna e Hyojong concordando sorridentes, assistindo a brincadeira que se iniciou ao longe, rindo baixinho quando seu filhote espoleta saiu do quiosque correndo, abanando o rabinho escuro, se juntando a eles.

As brincadeiras acabaram chamando a atenção das outras crianças, que participavam e interagiam com os adultos. Tae nunca havia servido de cavalinho para tantos filhotes, nem escutado tantas gargalhadas de Ggukie ao que esse moldava bonecos e anjinhos na neve, rodeado de filhotes de diferentes metade espécies.

Não voltaram para o almoço, deixando noona de cabelos em pé de preocupação, -planejando qual castigo daria a seus meninos por fazerem isso consigo-, brincaram durante horas com os pequenos, e por um momento, os nozinhos de suas cabeças haviam desaparecidos, só o que faziam, era trocar sorrisos contagiantes e olhares intensos, compartilhando o mesmo sentimento leve e feliz.

Quando a noite chegou, estavam cansados demais e -também de castigo- para prolongá-la com um filme de mais de duas horas, e que apesar do intenso frio, parecia abafada e preguiçosa, levando ambos os garotos, para seus quartos a passos lentos e palavras baixinhas desejando boa noite.

Tae quase se jogou em sua cama assim que fechou a porta, mas foi diretamente para o banheiro tomar banho, estava exausto, não sabia que crianças híbridas tinham tanta energia a mais. Porém o banho todo perdurou com um sorriso estampando seu rosto, gostaria de passar por todas aquelas brincadeiras outra vez, e se divertir enquanto os pequenos procuravam por suas partes animais entre seus cabelos castanhos, quando foi apresentado como um ursinho a elas.

Ggukie fazia o mesmo, com o coraçãozinho acelerado revivendo em suas memórias cada momento da tarde dentro daquele espaço gigante e cheio de amor e carinho e força. Admirava os humanos que a criaram, pois davam um lar a seus semelhantes, ajudavam sem pedir nada em troca, como seu hyung fez consigo. Mas apesar de ser um castelo encantador, preferia ficar morando com o príncipe, que lhe trazia aquela sensações esquisitas ainda mais intensas, dos últimos dias.

Ao deixar o box contornando o chuveiro, se secou e vestiu o pijama quentinho rapidamente, indo para a pia escovar os dentes. Entretanto, assim que encontrou seu próprio olhar no reflexo do espelho, se lembrou da tarefa que a amiga panda tinha lhe pedido para fazer. Se conhecer. E que havia se esquecido durante aquela tarde.

Tombando a cabeça levemente para o lado, formou um biquinho nos lábios, não sabia como fazer aquilo, ou o que deveria afirmar sobre si mesmo, coisas boas e ruins; que gostava e não gostava; já não tinha mais tantas preferências, mesmo que gostasse de comer somente pãezinhos doces pela manhã. A necessidade o privou de degustar os sabores, o medo de aproveitar a luz da lua, de soltar a sua voz, a dor, de enxergar seu próprio corpo como deveria ver. Agora tudo estava tão complicado, e o escuro de sua mente o tomava outra vez.

Mas não deixaria de tentar, TaeTae havia dito, com as palavras mais carinhosas que já recebeu na vida, que era forte. Pelo menos uma afirmação entre todos os pontos de interrogação contornando os nozinhos pesados, que lhe davam dor de cabeça.

- Eu sou.

Começou, mas não pôde terminar, estava confuso, e não deveria estar, tinha documentos novinhos em sua cômoda, que diziam seu nome; nascimento; naturalidade; tinha uma foto sua e uma digital; sabia sobre si mesmo, mas por que não conseguia simplesmente afirmar isso?

- E-Esse é o meu rosto... - Tentou novamente, tocando com as pontas dos dedos as bochechas, estavam efervescentes pela temperatura da água. - os m-meus olhos são... - Acabou por fechá-los, tentando respirar fundo ao que tocou por sobre suas pálpebras, não queria se perder da felicidade que sentia, mas algo estava doendo em seu peito, eram afirmações simples, porém não sentia como se fosse si mesmo, não sentia nada de bom tocando a si mesmo.

Um soluço escapou com a vontade repentina de chorar, de aliviar o peso que estava em sua mente. Não conseguiria realizar aquela tarefa e não era nada mais do que se conhecer, e tinha certeza que se conhecia, um rapaz com metade animal, nascido para receber apenas o ódio, desprezo, ser tratado com todos os nomes feios carregados de significados sujos.

- N-Não... - Disse em voz alta, soluçando em seguida, trazendo seu pensamento para fora.

Seu hyung tinha prometido que nunca mais escutaria aquelas palavras horríveis, que jamais seria machucado outra vez, e que seria dono de si mesmo.

Mas por que então estava sendo tão ingrato com o príncipe? Por que ainda estava se sentindo morto por dentro, se ele havia o salvado e dado tudo?

As gotinhas salgadas deixavam seus olhos brilhantes -brilho esse que era somente sua casca-, tilintando fortes contra o mármore branco da pia, tudo o que havia conseguido foram mais perguntas e nozinhos se apertando dentro de sua mente, causando dor.

Se abaixando, abraçou os próprios joelhos, fugindo de seu reflexo, chorando até que aquela dor aliviasse por hora, pensando em seu príncipe, em noona e seus novos hyungs, nos filhotes, queria se esquecer dessa última tarefa da psicóloga.

Depois de conseguir se acalmar, sem ser como das outras vezes que encolhia-se cada vez mais no chão implorando pelo alívio da dor em sua mente, escovou os dentes sem olhar a si mesmo, escapando do banheiro como se algo tivesse o assustado, escondendo-se sob as cobertas grossas e frias, apagando junto aos soluços ainda presentes em si, falhando em sua primeira tentativa de tentar se conhecer, de se ver como todos o viam, ao menos uma vez.

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Notas Finais

E então?? O que acharam??

As coisas estão começando a acontecer hehehe

No decorrer do arco, vou trazer muitas informações sobre os movimentos e a luta dos híbridos, a ONG, haverão outras questões também e agora nosso coelhinho também vai lutar por todos 😭💜 mas vamos ir devagarinho kkk tudo bem organizadinho

O que acham da aproximação deles?? Aiai esses nozinhos 👀

Tete é tão precioso e bobo pelo coelhinho aaaaa sempre do lado, ajudando 😭

Alguns anjinhos me perguntaram do primeiro beijinho deles, vai sair mais pra frente kkkk mas antes, nosso Ggu precisa enfrentar essa nova fase e tarefa da amiga panda 🥺

O que acham que vai rolar agora??

Eu espero que tenham gostado! E me perdoem os errinhos!

Até a próxima att, anjinhos!! Se cuidem direitinho!!

Bom diatardenoite!! 💜




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