00. Taehyung

     Luto para abrir os olhos. O simples movimento das pálpebras se levantando exige muito esforço, mas me obrigo a conseguir. Tenho que conseguir. Não posso apagar outra vez. Vamos, abra os olhos. Você consegue. Abra os olhos. ABRA!

Vagarosamente minhas pálpebras se levantam. Mesmo com a visão embaçada, sei que nada mudou. Continuo vendo escuridão. Meus olhos piscam tentando se ajustar e então vejo um clarão no céu. E mais outro. E mais um. Raios brancos e brilhantes descem do céu esporadicamente e silenciosamente. Pelo menos tem sido assim desde que acordei aqui.

Levante, me obrigo. Você tem que levantar, Tae Hyung. Meus braços e pernas se movem em conjunto até que eu esteja de pé. Tenho dificuldade para me manter parado, mal tenho equilíbrio. Me apoio na árvore mais próxima e respiro fundo. Isso vai passar logo.

Aquela voz desesperada ainda ecoa nos meus ouvidos. Continua me chamando. Chorando. Implorando. Me afasto da árvore e continuo a caminhar. Depois de alguns minutos finalmente acabo encontrando algo além da floresta: uma estrada. Algum tipo de rodovia.

Escolho ir pela esquerda torcendo para que seja o caminho mais curto para uma cidade. Estou caminhando a dias tentando encontrar alguém. Caminho o máximo possível até a vertigem começar e eu desmaiar. Entro em alguma espécie de looping de sonhos onde um se embola no outro e vejo repetidamente pessoas morrem. De todas as formas possíveis. Uma vez após a outra. 

O pior é que quando acordo, nada mudou. O tempo parece que não passa. O céu está sempre com a mesma escuridão, a floresta é a mesma. Por um bom tempo achei que era um tipo de labirintos sem saída e estava começando a perder as esperan... uma cidade. 

Vejo ao longe o topo de alguns prédios e meus pés se apressam. Ando mais rápido e quando dou por mim, já estou correndo. Preciso encontrar alguém, qualquer pessoa que possa me dizer o que está acontecendo. Só que assim que tenho uma visão melhor da cidade, vejo que dificilmente vou encontrar ajuda aqui.

As ruas são um verdadeiro caos. Pessoas vagando assim como eu, rostos assustados e apavorados, muitos perdidos no próprio medo. Quando chamo, ninguém responde. Os que não ficam se arrastando sem destino, estão caídos nas calçadas e dentro dos prédios. Como se houvessem sido nocauteados e largados desse jeito. Dá pra sentir o medo e desespero no ar, os murmúrios de pesar e lamento. Parece que vou enlouquecer aqui.

— Ei, garoto!

Olho para a direita. Um grupo de pessoas saem de um beco, nenhum deles parece perdidos ou atormentados, suas expressões são tranquilas. Alguns estão relaxados até. E tão pouco parecem preocupados com o estado dessas pessoas ao nosso redor.

Estou em uma calçada e eles na outra. A maior parte do grupo fica para trás, com rostos sérios e olhos atentos em mim e no homem que imagino ser o líder deles. Parece diferente das outras pessoas. A maioria tem roupas rasgadas, expressões desesperadas, mas cada centímetro dele é alinhado.

Ele ajeita o terno azul escuro e para no meio da rua. Pés afastados na linha dos ombros e as mãos unidas nas costas, um sorriso simpático atravessa seu rosto. 

— Está tudo bem?

— O que aconteceu com essas pessoas? — pergunto.

Ele olha ao redor com pouco interesse, seus olhos focam por um momento em uma mulher, que aperta a cabeça com as mãos enquanto solta um grito aflito. Logo volta a me encarar.

— Estão sofrendo as consequências do que fizeram — ele encolhe os ombros. — Assim como cada um de nós sofre.

— Você não parece estar sofrendo.

Ele sorri ainda mais.

— Estou aqui há tanto tempo que tenho uma forma diferente de lidar com o sofrimento. Mas já fui como você um dia — me garante com um sorriso compassivo. — Confuso. Assustado. Com uma voz em meus ouvidos chorando em desespero enquanto vago sozinho.

Arqueio as sobrancelhas.

— Você escuta também?

— Claro que escuto — me garante. —, foi o que nos fez encontrar você. Nós ouvimos chamar seu nome. Eu ouvi esse lamento e isso me trouxe até a...

A voz nunca me chamou.

— Aí está você! 

Um homem do outro lado da rua joga as mãos para o alto e suspira aliviado. Parecemos ter a mesma idade. Ele corre para o meu lado da rua com passos longos, a mochila que carrega bate constantemente contra suas costas. Seus olhos castanhos se arregalam de leve, me passando uma mensagem, antes de se virar para o homem de terno e jogar um braço ao redor do meu pescoço.

Ele levanta a outra mão em um cumprimento relaxado e sorri.

— Oi, Hyung. Como vai?

— O que está fazendo?

— Esse bobão aqui se perdeu de mim. — Ele fecha a mão em punho e esfrega a minha cabeça de leve. — Ya! Não disse para não ficar vagando por aí? — Ganho um tapa de leve na nuca. — Sempre me dando trabalho.

Ele ri como se fossemos velhos amigos e me olha outra vez daquele jeito. Me coagindo a imitá-lo. Quando não faço, tira o braço de cima dos meus ombros e me empurra de leve para trás, dando um passo à frente. Coloca as duas mãos sobre o umbigo e se curva respeitosamente.

— Vou levar esse idiota comigo e manter meus olhos nele para que não o atrapalhe mais. Vá em segurança, sajangnim!

Ele se endireita e me segura pelos ombros me obrigando a dar as costas e ir com ele. Eu não protesto. O homem de terno estava falando que a voz o trouxe até aqui enquanto chamava meu nome. A voz nunca disse meu nome. E se tivesse dito mesmo, por que ele me chamaria de garoto e não de Tae Hyung? 

Melhor ficar com o que é mais confiável. E também, é mais fácil escapar de uma única pessoa do que de um grupo.

— Quem é você? — sussurro.

— Cala a boca e me segue.

— Esperem um pouco — o homem de terno chama.

O cara da mochila me solta e pragueja baixo, mas se vira com um sorrisão no rosto, como se tivesse acabado de encontrar um antigo e querido amigo. Me viro também.

— No que posso ajudar, Hyung?

— Na verdade, eu que deveria ajudar vocês — diz com um tom de desculpa, como se fosse o errado por não ter pensado nisso antes. — Como posso deixar meu querido dongsaeng e o amigo dele vagando por aí dessa forma?

— Ah, não se preocupe, Hyung.

— Por favor, eu insisto.

Ele dá um passo para o lado e indica o grupo para nos juntarmos. Ao invés de receptivos parecem mais prontos para atacar. A mulher do cabelo preso em rabo de cavalo, está erguendo as mangas da jaqueta enquanto o cara do cabelo verde estala o pescoço balançando a cabeça de um lado para outro. Começo a ter uma ideia melhor de onde me meti.

— Você é rápido? — me pergunta entredentes.

— Não sei.

Sua mão escorrega de leve para a mochila e ele me alerta:

— No três corre pra dentro da floresta. Não para.

— Tá.

— Um. Dois — vejo seu braço lançar algo no momento em que ele diz: — Três. Corre!

— Atrás deles!

Avançamos para dentro da floresta e acaba se provando que sou mais devagar. Ele tem que ficar toda hora olhando para trás para garantir que estou acompanhando. Se eu estivesse sozinho, teria sido capturado sem dificuldade. 

Graças a ele, despistamos a maior parte do grupo, a não ser pela mulher de rabo de cavalo. Ela é insistente e nos segue como um cão atrás do osso. Onde viramos, ela vira. Se escalamos um pequeno declive, ela vem atrás. Nenhum dos dois parece cansado, enquanto eu estou começando a sentir a vertigem voltar mais uma vez.

— Aqui! — sussurra, me puxando pelo casaco. — Vêm!

Meus pés se embolam e quase caio, mas consigo segui-lo a tempo para detrás de uma árvore. Ele fica em uma e eu em outra, leva o indicador ao lábio me pedindo silêncio e assinto, com as costas colada no tronco. O barulho dos passos dela ficam mais altos e mais fortes, mas passa por nós com rapidez, não imaginando a possibilidade de estarmos escondidos. Nem eu imaginaria, com ela me perseguindo meu primeiro instinto é correr sem parar. 

Quando seus passos estão distantes, ele se move.

— Vem. Ela logo vai notar e voltar atrás de nós. Vamos.

Fazemos o caminho de volta e descemos o declive que escalamos. Seguimos pela esquerda, em um caminho que só ele vê, até um pequeno riacho. Fico tonto e quase caio, isso faz ele me segurar e passar um dos meus braços por cima do seus ombros.

— Aguenta só mais um pouco. 

— Vou ver o que... consigo fazer.

Vamos uns cinquenta metros riacho abaixo, até uma caverna escondida em meio a algumas pedras. Ele me diz para entrar e vem logo atrás colocando um tipo de cobertura feita de folhas para ocultar a entrada. Quando termina, bate uma mão na outra para se livrar da sujeira. Não tem muito aqui dentro. Algumas pedras de formatos e cores diferentes, assim como folhas de várias formas e alguns pertences acumulados em um canto.

As coisas começam a girar e me jogo no fundo da caverna, encosto na parede. Minha cabeça dói e estou tonto pra caramba. Ele se move com rapidez pela caverna com um copo na mão, vasculhando seus pertences, procurando algo. Quando encontra, joga no copo. Parece algum tempero que mistura com a ajuda de um graveto.

Senta na minha frente e estende na minha direção.

— Aqui, bebe.

— O que é isso?

— Uma bebida — responde o óbvio. — Vai ajudar com a tontura e te impede de apagar. Bebe.

Pego o copo de sua mão, deve ter mais coisa aqui. Aquele tempero é amarelo, mas a cor da bebida é escura. Preto. Mesmo desconfiado, tomo tudo de uma vez. Qualquer coisa para não voltar a apagar.

O gosto é terrível.

— O que tem aqui?

— O gosto é melhor se você não souber — ele ri da minha careta e deixa o copo no chão ao nosso lado. — Já que te tirei de uma roubada porque não começa me falando seu nome?

— Tae Hyung.

Ele estende a mão em um cumprimento e eu aperto.

— Bom conhecer você, Tae Hyung — ele sorri. — Meu nome é Song Min. Kang Song Min.

____________

Oi, oi, oi! Estou de volta! Meus planos era ter voltado com o livro ano passado, mas tive alguns problemas e não deu certo infelizmente. Além de dedicado a Carolinebangtan1, esse capítulo também é dedicado a NanaB_05, feliz aniversário amore (um pouquinho atrasado), desejo tudo de bom pra você, muita felicidade e que seu dia tenha sido incrível!

É isso pessoal! Beijo, até o próximo cap! 💕

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top