Um novo lema ♡ Capítulo 43

— Alexander Ross, terra chamando e você ignorando. — O cutuquei. 

Após alguns segundos, o menino distraído olhou para a árvore e voltou a arrumar as mesas ao nosso redor. Ele esticava uma toalha branca, tentando domar as dobras teimosas, enquanto os arranjos feitos por minha mãe eram colocados cuidadosamente em cima.

— Oi, terra, aqui estou. E sua família barulhenta não vem ajudar hoje? — Alex falou do outro lado do quintal, sua voz cheia de sarcasmo. — É só sono, mas pode falar, gnomo. — Ele soltou um dos seus apelidos para me irritar, e eu não pude evitar um sorriso.

Aproximei-me e bati com uma flor azul de papel em seu braço, tentando chamar sua atenção. Mesmo assim, ele parecia mais interessado na cadeira que estava encarando.

— Tomara que aquelas pessoas só cheguem perto da hora de irem embora. Eles falam muito alto e só vêm pela comida, mesmo. Sono? — O interroguei, arqueando minha sobrancelha direita. — Mas ontem voltamos às dez. Às vezes acho que seu relógio biológico precisa de mais que oito horas de sono para se manter firme, como um urso, sabe? — Supus de modo descontraído, observando seu semblante sonolento.

Ele sorriu com minha suposição ao compará-lo com um urso e seguiu arrumando as cadeiras de modo alinhado e perfeccionista.

— Demorei a dormir, você sabe. — O garoto atrás de mim soltou uma risada sem graça, fazendo-me encará-lo. — Você sabe, gnomo, coisas me fazem pensar demais e acabo... ficando sem sono. — Disse ele.

Que papo furado descabido, nos conhecemos há mais de dez anos e ele insiste em tentar me esconder seus sentimentos. 

— Ok, só me ajuda a deixar esse ambiente pronto, as comidas salgadas só irão chegar perto da festa. — Joguei toalhas brancas e apontei para as mesas restantes. — Sai do mundo da lua e me faz companhia, Alex. 

Hoje o dia iria ser mil vezes mais corrido do que o normal. Finalmente havia chegado o dia da festa duas em uma, e parte de mim estava em êxtase, mesmo com minha cara de tédio. Meu amplo quintal estava arrumado com muitas mesas redondas de madeira, cobertas com toalhas brancas e arranjos em cima, possuindo duas flores de papel: uma rosa e uma azul. Em cima, arrumamos uma louça branca, com uma taça ao lado e os talheres amarrados com um laço dourado.

O ambiente estava decorado de uma forma simples e delicada, e as mesas estavam espalhadas por todo o centro do espaço. Ao lado esquerdo, havia uma mesa enorme com uma decoração rosa e dourada e muitas flores. Essa era a parte da minha mãe; a jovem senhora estava completando quarenta anos e fez questão de deixar exposta sua idade em grandes números dourados. Havia muitos doces finos, brownies, frutas, os sonhos de Nutella que ela tanto ama, e mais vários aperitivos feitos por meu pai que iriam chegar.

Do lado direito, minha mãe certamente se empolgou; afinal, era a parte mais linda do ambiente. Duas mesas estavam debaixo da nossa árvore: uma maior e alta, e uma menor posicionada ao lado. Nossa árvore havia sido toda enfeitada com pequenas luzes e balões rosa e azuis. A mesa maior tinha muita decoração de ursinhos, vidros com pirulitos, marshmallows e balas coloridas.

De um lado, a mesa era rosa, e do outro, azul. Os cupcakes decorados por mim estavam arrumados, e havia dois vidros enormes com ponche de morango e de groselha, com copos empilhados ao lado nas respectivas cores da festa. Ao centro da mesa, ficaria um enorme bolo feito por meu pai, com toda sua extravagância. Uma parte da festa, que partiu da cabeça do Baker, foram as brincadeiras. A pequena mesa ao lado tinha uma pilha de papel para os convidados anotarem quais nomes foram escolhidos para os bebês, onde seria revelado por meus pais; dois bebês de brinquedo para serem dados banho da forma correta; um piloto preto para pintar a barriga da minha mãe; e uma câmera Polaroid para cada convidado levar uma foto como lembrança para casa.

Hoje é o dia que ficará marcado na vida de todos nós, principalmente na dos meus pais. Fazia muito tempo que não os via dessa forma, empolgados e radiantes. Observo minha mãe enfeitar a grama com toalhas e almofadas, é impossível não sorrir.

Sentados na grama, eu e Alex descansávamos após quase três horas corridas de arrumação. Deixamos tudo em ordem para que minha mãe não precisasse se esforçar e para que minha família não metesse a mão em tudo, querendo dar opinião. Sentia que, aos poucos, fui me distanciando da minha família, já distante, mas quem pode julgar? Eles nunca estiveram presentes ou ligaram perguntando como estávamos; apenas querem estar nas fotos.

— Fizemos um trabalho muito bom, não acha? — Alex sussurrou, me tirando do transe. — Está animada mesmo? — Ele perguntou, me fazendo encará-lo.

— Claro que estou animada, apenas acordar cedo mexe com meu humor — expliquei, fechando os olhos.

— Queria muito aqueles sonhos, sei que são seus, pois a camada de açúcar de cima é maior. Seu pai reduz o açúcar para minha tristeza — Alex encarou a mesa da minha mãe, me fazendo sorrir.

— Sim, acha que ele não prefere economizar ingredientes? — suspirei, cansada. — Na geladeira ainda tem son... — Antes que eu pudesse terminar a frase, o garoto ao meu lado levantou e correu em direção à porta, me deixando sozinha. — Ainda tem sonhos, era isso que eu ia falar — sussurrei, levantando lentamente.

S2

No sofá, procurando algo para assistir, Alex devorava sonhos sem demora. Com toda certeza, essa é sua comida favorita feita por mim. Mesmo com seu jeito calado, conseguimos conversar sobre coisas aleatórias que não envolvessem sua relação com Alice, ele estava completamente fechado para esse assunto.

— Não tem nada que preste na televisão hoje, só passa beisebol — resmunguei, passando os canais, e ele concordou. — O que houve com sua barriga hoje? — O encarei, e ele pausou sua mordida, já com o sonho na boca.

— Não tomei café da manhã, só vim direto para cá. E não funciono bem sem comer, acabo comendo compulsivamente — ao lamber o polegar, o vi soltando um sorriso envergonhado.

Essa era sua frase durante toda a nossa infância, quando meus atrasos o faziam não acordá-lo, assim o fazendo perder o café da manhã. Até nossa adolescência, era eu quem o acordava; segundo ele, não ouvia o despertador, mas ouvia meu grito afiado em sua janela, que sempre foi grudada à minha.

— Te pedi para vir, mas não precisava ter vindo com a barriga vazia e comer todos os meus doces. — estapeei sua perna. 

— Chata... — ele imitou meu tom de voz, me fazendo revirar os olhos. — Está perguntando e reclamando demais hoje, come um doce. — Alex empurrou um sonho na minha boca, me sujando de açúcar. — Adoce sua alma até o Baker chegar e você soltar risadinhas — disse ele, bufando.

Ainda incrédula, sorri ao perceber uma faísca de ciúme vindo de Alex  após todos os meus meses de namoro, mas arisco dizer que é culpa do seu coração partido.

— Eu não solto sorriso somente quando o Baker está comigo, eu sei sorrir aleatoriamente — abri meu sorriso, o fazendo revirar os olhos.

Sem papas na língua, Alex me explicou como eu ficava com o Gustavo ao meu lado. Segundo sua imitação fajuta, eu parecia outra pessoa ao seu lado.

— Tia! — Alex gritou sem cerimônia, fazendo minha mãe aparecer na sala com pressa.

Belisquei seu braço, tentando compreender seu grito por minha mãe.

— Oi, querido, o que houve? — disse a senhora loira, ao se aproximar com uma colher na mão.

— A Joanne mudou ou não após começar a namorar o Baker? Ela fala ou não totalmente doce perto dele? — perguntou ele, fazendo minha mãe cair na risada.

Doce? De onde esse sem-noção tirou isso? Eu falo normal e vivo normal. Mas, claro, parte de mim ficou mais suave.

— Ah, ela mudou bastante. Está mais delicada, adoro aquele menino — disse ela, recebendo um sorriso doce da minha mãe. — Ele é um doce de pessoa, muito gentil.

Por sua cara fechada, não era isso que o Alex esperava escutar. Sendo assim, ficou mudo e minha mãe seguiu aos seus afazeres novamente.

— Não entendo como ele enfeitiça todas as mulheres, todas endeusam aquele maluco— bufou ele, enfiando um sonho na boca. — Você, sua mãe, Emma e sei lá mais quem.

A Emma é uma neurótica, quem se importa de quem ela gosta ou não?

— Nem toca no nome daquela loira ruim, menina azeda e mal amada — rebati, deixando-o sem expressão.

Mesmo sem ter contato algum com ela no ensino médio, com certeza de longe, a gente percebe quem é uma pessoa. Sem contar que ela quase fez um inferno na minha vida dizendo que ama meu namorado. Com um pó mágico, eu sumiria com ela rápido.

— Muito azeda... — Alex coçou a cabeça e soltou sua risada mais sem graça do mundo. — Aquela menina é tensa mesmo. Vou para casa me arrumar e dormir um pouco — explicou ele, quase gaguejando, e levantou do sofá. — Quer dizer, dormir um pouco e me arrumar depois. — Ele apontou para a porta e beijou minha testa.

Esquisito era o mínimo, mas não julgo. Eles não namoraram, mas terminar qualquer relação nos tira do chão por muito tempo. Qualquer pessoa que entra em nossa vida pode nos machucar ou nos fazer bem, tudo depende da responsabilidade afetiva, que poucos têm.

Óbvio que jamais culparia a Alice por nada; afinal, o Alex sabia de seus sentimentos o tempo inteiro. Mas, no fundo, sempre achei que ela se daria uma chance de gostar novamente de alguém, principalmente sendo o Alex, que é um ser humano incrível. Mas quem manda no coração, não é?

Na voz de Gustavo:

Deitado em minha cama, espero meu pai parar de falar. Em pleno fim de tarde, horas antes de irmos para a casa de Joanne, nós discutíamos. Em meio a nossa refeição tranquila, ele voltou a falar sobre faculdade e o que eu deveria ser segundo sua mentalidade. Mesmo tentando me segurar ao máximo, acabei contando sobre minha inscrição para Harvard, o que elevou seu estresse e ameaçou não ir para lugar nenhum ao meu lado, o que não seria de toda má ideia.

— Gustavo, estou falando com você. — Com a cabeça dentro do meu quarto, ele buscava discutir. — Não me ignore.

Quase entrando no meu quarto, ele gritava da porta sobre minhas oportunidades no seu ramo. Era tanta ladainha que meus tímpanos doíam. Levantei-me da cama e fui em sua direção, sem passos lentos.

— Pai. — Falei manso, tocando seu ombro, e estava prestes a tocar na sua ferida. — Eu não quero viver brigado com você como minha mãe brigava com meu avô por amar um homem pobre. — Soltei um dos assuntos que ele mais evitava falar, e o senhor quase careca me olhou abismado.

O silêncio pairou sobre o ambiente, e somente nossas respirações eram ouvidas. Sentindo-me culpado por tocar no assunto, abracei-o, deixando-o estático na porta do meu quarto. Não é muito fácil vê-lo estático por ganhar um abraço do próprio filho, mas ele não era assim antes. Meu pai era a criatura mais doce que já conheci; ele pulava pela casa ao som de músicas antigas e ria até do vento que passasse por ele. Ele e minha mãe formavam um casal diferente, mas de alguma forma se completavam, o que fazia nossa família ser feliz.

Mesmo com minha mãe doente, ele se mantinha firme e seguia com seu bom humor, fazendo-a rir de tudo. Ela até dizia que seu bom humor fazia-a amá-lo mais. Mesmo sem ser religioso, ele buscou fé em todos os lugares, e ainda criança lembro-me de suas orações no quarto de hospital. Eles realmente tinham esperanças de que tudo ia ficar bem, mas não ficou.

Após a morte da minha mãe, ele passou meses em Aspen trancado, depois voltou irreconhecível. Não tinha mais contato emocional comigo ou com as pessoas à nossa volta; passava dias no trabalho e nunca mais tirou a barba, o que o fazia parecer ter o dobro da sua idade atual.

— Por que está me abraçando? — ele sussurrou, com a cabeça em meu ombro. — Estávamos brigando. — Completou, fazendo-me soltá-lo.

— Sim, mas isso é cansativo. — Bufei, passando a mão no rosto, sentindo ele me encarar. — Brigar com você é exaustivo, e só estou fazendo o que minha mãe disse momentos antes de fechar os olhos, quando você disse que os remédios tinham feito-a dormir. — Degluti em seco.

O senhor, já pronto para a festa dos Clark, entrou em meu quarto, me deixando confuso, e sentou-se em minha cama, ainda bagunçada. O que meu pai nunca soube é que eu nunca acreditei em suas histórias quando era criança; eu sabia de toda a realidade sobre nossa família e sobre a doença da minha mãe, bem como o fato de ela não ter dormido segurando minha mão. Ela havia morrido.

— Não há um dia em que eu não lamente por ter deixado a dor me consumir, mas quero ter você por perto. Quero você ao meu lado, tocando aquela fábrica até seus filhos e netos. — Olhando para baixo, ele suspirou.

Sentei ao seu lado, e deitei minha cabeça em seu ombro.

— Minha mãe me falava para nunca abrir mão das coisas que amo, e isso incluía você, a Mary e meus sonhos. Hoje, ela diria sobre a Joanne também. Não quero escolher entre uma profissão e um pai; preciso que meu pai fique feliz por eu escolher salvar pessoas. Salvar mães e esposas. — Expliquei, fazendo-o sorrir novamente.

— Não sou contra a sua profissão, mas confesso sou um pouco revoltado com a medicina também. — Ele disse, e seus ombros caíram. — Confiei minha esposa aos jalecos brancos, e de nada adiantou.

Medos? Mentalmente cansado, permaneci em silêncio, deixando-o explicar.

— Precisa confiar nos médicos, eles fazem o que podem. — Sussurrei.

— Pode parecer estranho, mas não quero você longe. Os Clark são um casal e terão mais dois filhos. Minha missão em deixá-lo aqui não é só pela fábrica, pois um dia você irá herdar tudo, mesmo. — Sua explicação fez-me encará-lo, sem reação. — Meu desejo era tê-lo perto, ao menos em uma faculdade do nosso estado, você quer ir para o outro lado do país.

Assim como retirar um peso da terra, um peso saiu dos meus ombros também. Após anos discutindo sobre faculdade, o real motivo não era a escolha da faculdade, mas o medo da solidão que o Nicholas sentia, mesmo sem expressar seus sentimentos.

— Iremos resolver isso, não é o fim do mundo. — Falei com pressa, beijei sua cabeça sem cabelos e senti-o tocar meu rosto. — Vamos, o chá de aniversário está começando. — Levantei-me animado, percebendo seu semblante mais calmo.

— Chá do quê, Gustavo? — Perguntou, andando ao meu lado. — Sabe que não gosto muito de chá, não é? Plantas deixam meu estômago um caos. — Revirei os olhos, deixando uma risada escapar.

— Chá é uma forma de falar, pai. É a festa na casa da minha namorada: duas comemorações em uma, o aniversário da minha sogra e o chá dos bebês, que celebra a chegada dos pequenos. — Expliquei, dando de ombros, ele iria ver quando chegássemos.

Seguimos caminhando em direção à saída de casa, onde Mary já trancava todas as portas com as sacolas nas mãos, ela era ágil e eficiente em fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Para minha surpresa, meu pai começou a conversar sobre assuntos que não eram sobre a fábrica, distantes dos negócios que dominaram sua vida. Uma das piores sensações que senti por anos foi ter saudade de quem vivia ao meu lado debaixo do mesmo teto, era um misto de culpa e revolta, devastador para um coração que sempre esteve disposto a dar e receber amor.

Ao pararmos na porta dos Clark havia balões indicando a festa, da entrada mesmo ouvimos uma musica country que tocava no quintal da casa passando uma animação de cara ao chegarmos. Sem precisar bater na porta percorremos um curto caminho aos fundos da casa que era bem maior que a parte da frente, Mary mandou-me segurar os presentes dos bebes e com tantas sacolas de papel posso ter exagerado um pouco, como sempre.

O ambiente estava completamente decorado com muitos balões e cor por toda parte parecia uma enorme festa de criança e de fato era, os bebês ganharam uma linda comemoração antes de chegarem ao mundo. Passando a vista no ambiente não vi minha namorada, algumas mesas estavam ocupadas por pessoas desconhecidas por mim, mas reconheci a prima falante de Joanne, por sorte ela não me viu. –Sorri ao ver minha sogra que abriu os braços em minha direção, ela estava ainda mais bonita com um vestido bege, estampado com algumas flores.

— Meu genro! Que bom que chegou cedo. — Com dois beijos nas minhas bochechas, senti seu cheiro adocicado ao me abraçar. — Vamos sentar; fiz uma mesa enorme para mantê-los longe da minha família barulhenta. — Explicou, tocando em meu cabelo.

— Querida sogra, você está radiante, e essa festa está graciosa. — Sorri, deixando-a sem jeito. — Parabéns pela nova idade e pelos dois bebês. Ambos os acontecimentos a deixaram ainda mais bonita. — A elogiei, inflando seu ego.

— Pare, seu galã. — A loira deu um tapa leve nas minhas costas, e meu pai a cumprimentou. — Seu filho é um galanteador, Nick. — Meu pai sorriu orgulhoso.

— Parabéns, Katy, você está deslumbrante. — A jovem senhora abraçou meu pai e, logo em seguida, abraçou Mary, que a entregou uma pequena caixinha.

Após nos guiar até a nossa mesa, percebi que ficaríamos em muitas pessoas juntas, havia muitos doces pelo ambiente e garçons serviam ponche e bebidas em taças. Mesmo sendo um ambiente simples, tudo era feito com muito capricho desde as comidas em uma quantidade boa, a flores de papel em um vaso a cada mesa. –Sentei-me da mesa e Katy sentou-se para abrir seu presente, ela parecia animada ao abrir a embalagem vermelha.

— Acho que você irá adorar, foi escolhido por mim. Os rapazes ficaram com a missão dos presentes para os bebês. — Mary sorriu contente ao vê-la emocionada.

A loira abriu a caixinha e deixou uma lágrima escapar, junto a um sorriso largo, que, por sinal, era idêntico ao da Joanne. — Sorri ao vê-la se abanar, buscando vento em direção ao seu rosto.

Mary havia lhe dado uma corrente de ouro com quatro crianças penduradas a uma plaquinha que dizia "amor eterno". Minha governanta tinha pensado da forma que me mandou pensar: um presente simples que com certeza a marcou. Na ordem, as crianças representavam Andrew, Joanne, a bebê e o bebê que ainda não sabíamos os nomes. Acertando em cheio, Mary se mostrou feliz ao abraçá-la.

— Isso é tão significativo para mim, Mary! Meus filhos são tudo que tenho nessa vida. — Katy enxugou as lágrimas e sorriu, chamando seu esposo para ver. — Corre aqui, amor, rápido, querido!

Sorrindo pelos cotovelos Albert se aproximou da mesa cumprimentando meu pai de cara, eles pareciam felizes em se ver assim como todas as vezes que se encontravam. Albert analisou a corrente de perto por esta sem óculos e se mostrou emocionado também, eles com toda certeza eram adeptos a coisas simples.

— Esse presente representa muito para nós; acertaram mesmo. — O senhor grisalho se posicionou atrás de sua esposa e, ao afastar os cabelos alinhados, colocou a corrente em seu pescoço, fazendo-a vibrar.

— Fico feliz que gostaram! Esses aqui são para os bebês. — Entreguei as sacolas, e Katy bateu palmas animadas. — A Anne... está pronta? — Perguntei, sorrindo timidamente.

Não queria parecer louco por vê-la, mas de fato queria que isso acontecesse o mais rápido possível. Por sorte, meu sogro ainda se encontrava em êxtase e não se importou em me dar as coordenadas para achar sua bela filha. Katy explicou que os convidados chegariam aos poucos, por isso deixou a filha descansar um pouco. E se eu conheço o drama da Joanne, ela certamente soltaria um "estou morta".

Segui em direção ao seu quarto passando pela casa vazia, tudo estava em perfeita arrumação e a ilha da cozinha lotada por caixas de comidas empilhadas. Essa casa me faz bem por algum motivo desconhecido, creio que é uma mistura das pessoas que moram aqui com o ar de lar aconchegante. Ao subi as escadas percebi algo que antes não havia percebido fotos por toda a parede. Muitas delas crianças brincando na neve ou no jardim, mas não pareciam ser aqui. –Bati na porta de seu quarto e aguardei.

— Clark, pode entrar? — Abri a porta e olhei em volta. — Onde você está? — Sussurrei, entrando no quarto pequeno.

O ambiente tinha seu cheiro, e muitas roupas estavam em cima da cama; arrisco a pensar que ela ficou em dúvida entre todas. Percorri o ambiente, parando na porta do banheiro, tentando escutar algum sinal de vida. 

Após alguns minutos, Joanne abriu a porta, me assustando e se assustando também. Ela deu um passo para trás, com a mão no peito, e sorri feliz ao vê-la.

— Pelo amor dos céus, quer me matar? — disse ela antes de me cumprimentar. — Fantasma da ópera senti sua falta, hoje estou morta. — Com as mãos em volta do meu pescoço, a menina beijou minha bochecha, provavelmente deixando a marca do seu batom rosa.

— Você está linda, bonita até demais. — Encarei sua maquiagem, que estava um pouco mais diferente do cotidiano, e a vi corar. — Estou com ciúmes, sinceramente.

Vestida com uma jardineira branca e uma blusa rosa por dentro, ela estava simples e delicada. Seus cabelos soltos, com cachos nas pontas, a deixavam com uma aparência mais leve, e o batom rosa vibrante fazia meu coração palpitar.

— Você está um gato hoje! Estamos de branco e nem combinamos antes, sabia? — disse ela, apontando para minha camisa branca com detalhes rasgados.

Joanne calçou sua sapatilha e encarou o espelho, alisando sua roupa. Para um dia especial, ela queria perfeição. Sentei-me em sua cama, afastando algumas roupas, e ela jogou uma almofada em meu rosto, me assustando.

— Isso, me encare. Acha que sou louca? Quem foi a mulher que te abraçou, pois a Mary já disse que não gosta de perfume doce. — Vendo-a brava, levantei-me e fui ao seu encontro, sendo ameaçado pela almofada em forma de estrela. — Quem te abraçou, me diz! Foi minha prima? Vou empurrar ela dessa escada três vezes, e quando ela levantar, vou empurrar mais uma vez. — Ela esbravejou, pisando forte, fazendo-me ter uma crise de riso.

Uma crise de ciúmes aleatória?

— Quem me abraçou? Ninguém me abraçou, a não ser meu pai, e não vai matar ele. — Apertei sua bochecha, irritando-a.

Sim, ela estava tendo uma crise de ciúmes explícita e sem vergonha, a menina esbravejava e cheirava minha roupa como se estivesse farejando algo.

— Conheço todos os seus perfumes. Até arrumei uma imensa e cara prateleira de perfumes importados, e não existe perfume doce lá. É melhor me falar logo!— Ela cheirou meu pescoço e segurou meu rosto com as mãos. — Vou arrancar seu couro, Gustavo.

Se eu não pensasse em quem me abraçou, morreria sem ar naquele momento.

— Su... — Tentei falar, mas suas mãos apertando minhas bochechas não me permitiam. Arregalei os olhos, fazendo-a me soltar. — Sua mãe, sua mãe me abraçou. Louca, quer me matar? — Massageei meu rosto e a vi fazer bico para o meu lado.

Em poucos minutos, ela passou de surtada para calma e depois voltou a surtar, me deixando confuso. Sua afeição mudava da água para o vinho.

— Tem certeza, Gustavo? — Seus lábios tocaram os meus, e a abracei. — A vadia da minha prima paquerou você na minha frente. Minha mãe não te abraça sempre... — Joanne, brava, me fez bufar.

Aquela menina da voz extremamente chata? Como eu iria explicar que a voz da prima dela me irritou em poucos minutos de conversa? Nada contra vozes finas, mas a garota falava de uma forma enjoada.

— Não vamos brigar. Pode ir lá e perguntar. Não confia em mim? — Cruzei os braços na sua frente, fazendo-a cruzar também.

Em poucos minutos, entramos em uma discussão, o que não era comum há alguns dias. Expressando seu ciúme, ela estava vermelha e visivelmente indignada.

— Se eu não confiasse em você, não estaríamos juntos há mais de cinco meses. Poxa, você é todo bonito, cheiroso, e tudo em você é bonito. — Ela apontou para meu corpo e lamentou. — É inteligente, simpático, engraçado, beija bem, é bom na cama, seu sorriso é meigo... — Disse ela, contando nos dedos.

Arregalei os olhos com seus elogios e sorri a deixando mais brava. Com certeza ela inflou meu ego e sabe disso.

— Obrigado por todos os elogios, mas eu gosto de você, que é muita areia para o meu caminhão. — Me aproximei do seu corpo, fazendo-a encostar-se à parede. — Sobre a cama, o mérito é nosso, a química é explosiva. — A beijei, e ela segurou minha cintura com força.

Encarando-nos fixamente, ecoou em minha mente quanto tempo havia passado desde nosso começo. Com mais de cinco meses juntos, me sentia feliz e leve, o tempo havia passado rápido.

— Desculpa, exagerei. Mas se chegar perto dela, acabo com sua raça. — Em tom de ameaça, ela puxou meu cabelo, mostrando quem mandava na relação. — Às vezes sinto muito ciúmes.

Percorremos o pequeno quarto, e eu me sentei na sua cama, chamando-a para sentar no meu colo. 

— Tá, você é louca, e todos sabem. Mas te amo mesmo assim e trouxe algo para você. — Falei sem pausas, nervoso.

Procurei a sacola de papel pela cama e Joanne saiu do meu colo para sentar ao meu lado, seu olhar curioso percorria a sacola branca, o que não dava pistas do que seria.

— O que é? Eu não comprei nada para você. Gastou muito? — Sem pausas, Joanne me interrogava, tentando descobrir o que era. — Hoje é alguma data especial? Eu esqueci? — Com a mão na boca, a menina boba temia algo.

Peguei sua mão gelada e apertei; era mais fácil do que falar. Seus olhos claros encaravam os meus quase sem piscar, mas não fazia ideia do que se passava em sua cabeça apressada.

— Calma, respira e vai saber. — Joanne respirou e soltou o ar pelo nariz, como pedi. — Hoje não é nenhuma data especial, mas acaba que todos os dias ao seu lado são especiais. Isso aqui é uma coisa que não sou eu quem estou te devendo, mas me sinto na obrigação de te dar, e não aceito sua recusa.

Séria, ela me ouviu explicar e balbuciou meu nome. Aos poucos, abriu a sacola e pegou a caixa do aparelho em silêncio. Um sorriso surgiu em seus lábios, e seus olhos cerrados me encararam de imediato.

— Baker, isso foi caro. Por que um celular? É lindo e igual ao seu, mas me sinto mal em receber algo tão caro. — Segurando a caixa em mãos, Joanne paquerava o aparelho. — É incrível. — Ela sorriu.

Como temia, ela não iria aceitar fácil.

— Não é questão de dinheiro ou vaidade. Eu sabia que sua reação seria essa. — Entrelacei nossos dedos e respirei fundo. Convencê-la era difícil, mas eu iria conseguir. — Te falei que ia arrumar tudo, ia dar um jeito na bagunça que ele fez, e sei que seu celular foi pelos ares por conta do Augusto. — A menina mais calma assentiu, balançando a cabeça, e me senti aliviado. — Óbvio que não era eu que precisava te pagar outro, mas como esse é o problema mais fácil de resolver por agora, comprei igual ao meu e veja se gosta. — Expliquei, fazendo-a sorrir.

Ainda em silêncio, ela abriu a caixa do aparelho e o colocou nas mãos. Era na cor preta, exatamente como o meu, e pelo seu sorriso, percebi que tinha agradado. Ela analisou o aparelho e, ao desbloqueá-lo, viu minha foto como papel de parede.

— Maluco, eu amei. — Ela examinava o aparelho com atenção, e eu apenas a admirava. — É muito lindo e tem três câmeras, as fotos saem muito alinhadas. Realmente, o meu terminou de quebrar quando caiu no chão, mas o que vou dizer aos meus pais? — Joanne expôs sua preocupação e apertou minha mão.

— Diga o mesmo que eu disse à Mary: falei que quebrei o seu sem querer e me senti na obrigação de comprar outro. — Acariciei seus cabelos, e ela sorriu. — Não se preocupe tanto, é só um presente, e se tirar a outra parte da caixa, vai achar outra coisa. — Apontei para a caixa, surpreendendo-a.

Por isso, ela não esperava. Não mesmo.

— O que você aprontou? — Ela retirou os papéis com cuidado, observando tudo.

— Tem que ver, moça, não tente adivinhar. — Sussurrei, fazendo uma careta.

— Às vezes sinto que recebo mais do que mereço quando penso em você, não por coisas materiais. Você me traz energias positivas, talvez por isso eu esteja tão doce. — Ela me beijou rapidamente e sorriu, ainda colada aos meus lábios.

Receber suas declarações ainda seguem me surpreendendo, percebo que não me acostumei e claro que fico vermelho. –Ela achou uma caixinha vermelha, e a balançou.

–Hoje nem é meu aniversário e olha quantos presentes, essa caixinha é para mim também? –Curiosa, ela me encarou animada.

Aparentemente surpresa, ela analisou a caixinha mais uma vez, e seus olhos brilharam, talvez por não esperar isso ou por amar gestos simples. Aos poucos, havia conhecido mais uma de suas faces, pois, assim como a lua, ela tinha várias.

— Se você aceitar, é toda sua. — Sussurrei, ganhando um abraço apertado mesmo antes de ela ver o que havia na caixinha quadrada. — Esse abraço me recarrega tanto, estou perdido por você, baby. — A apertei em meus braços e senti meu coração palpitar.

Com certeza, estou vivendo coisas nas quais não sei se mereço. Mesmo nossa vida não sendo cheia de aventuras ou mil coisas, vivemos de forma leve e feliz. 


Esse casal me faz derreter. Mesmo o capítulo sendo simples, achei melhor dividir para a festa não ficar em um capítulo só e enorme ♡

Espero que estejam gostando dessas pessoas que tornam meus dias mais felizes!

Aperta na estrelinha e diz o que achou ♡

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top