Um Happy Birthday? ♡ Capítulo 33

Passava das cinco da manhã e despertei ao lado de Joanne, que dormia tranquilamente com a bunda para cima. Ontem após achar que ela estava dormindo, Joanne ouviu minha conversa com Mary e pediu explicações sobre minha tristeza, então conversamos muito sobre as brigas com meu pai e como tudo aquilo me perturbava. 

De frente para a enorme janela, me espreguicei e senti meu braço estralar, a fisgada fez-me fazer uma careta, uma das consequências da época da escola. Meu braço foi deslocado anos atrás por uma briga no ginásio, após um jogo de basebol que terminou em uma discussão sinistra e algumas suspensões. 

Encarei o quarto todo e sorrir era inevitável ao ver sua foto em cima da mesa, um quadro enorme que seria colocado bem à minha frente. É sério que ela não se acha bonita? Me aproximei da cama e a cobri completamente, Joanne parecia confortável em dormir ao meu lado, e não foi tão difícil convencer o pai dela a deixa-la aqui por uns dias, o que me deixou feliz.

Me vestir, escovei os dentes e desci as escadas lentamente, era cedo demais e a casa ainda estava parte escura.

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Após a morte precoce da minha mãe, meu pai retirou suas coisas do quarto deles e em outro quarto ele transformou o espaço em um ambiente com tudo dela, e jurou que jamais e desfaria de nada que ela sempre amou e cuidou. Era a forma que ele encontrou de me fazer sentir a presença dela. 

Entrei no quarto aos fundos do corredor e fechei a porta.

Uma mesa lotada de fotos me lembrava constantemente de cada momento vivido com ela. Coloquei um porta-retrato dourado entre os outros, uma foto minha com Joanne agora estava ao lado das suas memórias. Minha mãe tinha o sorriso mais bonito que eu já conheci, ela era otimista e tinha um gênio calmo. Peguei um porta-retrato com sua última foto, sorrindo na cama do hospital.

— Você está vendo a menina que eu amo daí? Ela é doce e tem o gênio forte, é brava. Foi a primeira menina de quem gostei e quero que seja a última, nos dê sua benção por favor! — Sorri, olhando para seu sorriso contagiante. — Mãe, queria que você estivesse aqui para me dizer o que fazer... Logo irei para a faculdade e acho que terei que ir contra meu pai. Mas preciso fazer isso.

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— FELIZ ANIVERSÁRIO! EU TE AMO, viva para sempre. — Gritei e abracei Mary, que estava concentrada em fazer suco de laranja. — Para esse suco, mulher. — Sussurrei, ainda a abraçando, enquanto o cheiro floral dela adentrava minhas narinas.

Mary é uma mulher incrível, ainda casa dos cinquenta anos, aparenta ser bem mais jovem. Ela é gentil, durona e não suporta cabelos brancos. sempre os pintando de preto. Mais de vinte anos atrás, chegou aqui para o posto de governanta, e logo se tornou muito mais que uma funcionária. Ela viu meus pais casarem, me viu nascer e me criou após a morte da minha mãe, mas nunca me deixou chamá-la de mãe também.

— Que grude é esse tão cedo? Hoje é um dia normal, sabe que não quero viver para sempre, ficar velho é ruim. Seus seios já começaram a cair? — Mary sorriu e me abraçou, dando leves tapas em meu ombro. — Estou preparando o café da manhã. Hoje é meu dia de folga e volto à noite, como todos os anos.

Minha expressão murcha a fez sorrir, eu sabia que ela iria visitar a tia idosa em outra cidade, mas precisava me fazer de triste. Afinal, a festa surpresa só ficaria pronta com ela fora de casa.

— Sei, sua tia idosa que todo ano está à beira da morte. Mas que horas volta? Volta mesmo, não é? — Perguntei curioso, após um gole de suco fresco. — Outro detalhe, não quero saber dos seus seios.

Mary sorriu e deu de ombros.

— Respeite a tia Janett, menino. — Mary puxou minha orelha, fazendo-me franzir a testa. — Claro que voltarei, quem terminaria de te criar? — Consenti e ela piscou os olhos lentamente.

Meu pai entrou na cozinha em passos longos, fazendo-me bufar.

— Gustavo, não sufoque a Mary. Ela tira folga poucas vezes! — Meu pai fingiu ser sério, lançando-me uma piscada, também sabendo da festa surpresa.

Seu bom humor teria a ver com uma namorada? Seria meu sonho ele ocupar a cabeça com uma mulher e sair do meu pé?

— Está bem, não está mais aqui quem abraçou. — Ergui as mãos, saindo do ambiente. — Vou subir, minha namorada está me esperando. — Acenei, dando as costas, e senti algo puxando minha camisa.

Meu pai me puxou, me fazendo o encarar com olhava sério, encostado na cadeira. Nossos olhares cruzados faziam uma interrogação brotar em minha mente, o que eu poderia ter feito para ganhar seu olhar intimidador tão cedo?

— Sabe que sou amigo do Albert há anos, não é? — O senhor quase careca apontou em minha direção, gesticulando com o dedo indicador. — Ela está dormindo aqui, e já não é a primeira vez. Até viajaram juntos! Qualquer ato falho, você será responsável sem pestanejar. Ouviu bem?

Suas palavras formais e sérias pareciam em grego para mim. Arqueei as sobrancelhas e balancei a cabeça ainda confuso, novamente ele perguntou se eu havia entendido. Dizer que sim para ele parar de falar ou ser honesto e ouvir mais?

— Não entendi, onde quis chegar? São... — Procurei o relógio na parede e apontei. — São cinco e quarenta da manhã, não dá para entender essa sua linguagem.

Ele revirou os olhos e passou a palavra para Mary, que parecia se divertir com a situação.

— Seu pai quis dizer para vocês tomarem cuidado e não encomendarem um bebê. Mas eu ia gostar, faz tempo desde que você foi um bebê! Alguém aqui precisa me dar um bebê para cuidar! — Mary sorriu, explicando.

Bebê? Que século meu pai acha que estamos? Eu me cuido e cuido da Joanne também.

— B... BEBÊ? — Arregalei os olhos, fazendo Mary sorrir. — Pai, não sou criança, pelo amor dos céus azuis. Já sei, o senhor faz um bebê para dividirmos a herança e a Mary cria! —Brinquei e ele não sorriu. — Não vou ser pai, pelo menos não agora. 

Me afastando dele, bati continência em sua direção e ele bufou.

— Falei isso também, e olha pra você aí, moleque sem jeito. — Ele rosnou, fazendo-me sair da cozinha o mais rápido possível. — Terá um berço no seu quarto, Gustavo. — Ele falou alto, ao me ver subindo as escadas.

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— Alex, você pode vir logo? A Joanne está surtando... Às seis da noite, vamos fazer uma pequena comemoração para minha mãe e é importante. — Expliquei, pendurado ao celular.

Alex passou alguns minutos em silêncio e tossiu.

— Sua mãe não morreu? — A pergunta sem jeito de Alex me fez sorrir.

— Minha governanta, ela me criou. É minha mãe também! — Respondi, ouvindo a risada tímida dele.

Após alguns minutos ouvindo Alice tentando tomar o celular de Alex, um grito adentrou meus ouvidos, assustando-me.

— SIM, NÓS VAMOS! — Gritou Alice, fazendo-me afastar o celular do ouvido.

Pensei que com o passar dos anos, Alice teria perdido a mania de gritar sem necessidade.

— Venham mesmo, mandarei o horário por mensagem, não se atrasem. —Disse, animado.

 A ligação desligou e voltei a encher bexiga sentado na sala, eu estava rodeado de balões dourados e brancos, que eu enchia manualmente com dificuldade. Com certeza, existem máquinas para isso, mas como não encontrei uma, tive que gastar todo o ar dos meus pulmões.

— POR QUE EU FIQUEI COM A TAREFA DIFÍCIL? — Gritei, fazendo ecoar.

— A pergunta devia ser... — Joanne apareceu na porta da cozinha e sorriu. — Por que é tão fácil me obedecer? Divirta-se! — Ela falou, fazendo-me bufar sem cerimônia.

Como pode um ser de um metro e meio me dominar dessa forma?

A tarde passou rápido, entre risadas e falta de ar que estavam todos em bexigas. Logo começamos a arrumar a sala para a simples comemoração de Mary e  cheiro de molho pairava pelo ambiente, minha doce namorada ficou encarregada de fazer um macarrão para comermos antes da festa e eu de encher milhares e milhares de bexigas.

Nosso dia foi simples, meu pai conversou um pouco mais e, pela primeira vez em muitos anos, fez algo que não fosse para si mesmo ou para seu trabalho. Ele se ofereceu para ir ao mercado comprar todos os mantimentos, bebidas, e pegar o bolo feito pelo pai de Joanne, aquilo por mais simples que fosse, me deixava feliz. 

— Até que você já encheu muitas, dá para fazer um pequeno arco lateral e colocar os enfeites na parede. — Joanne chegou de surpresa e analisou a parede pálida da sala.

Com seus cabelos amarrados em um rabo de cavalo alto, usando uma caminha minha com um short e um pano pendurado no ombro, ela conseguia ser igualmente encantadora.

— Além de ser minha namorada, fotógrafa e confeiteira, sabe decorar festas? — Indaguei, fazendo-a me encarar.

— Ser sua namorada só era um status no colégio, palhacinho! Não deixe sujeiras no chão! — Ela apontou para o chão e saiu.

Como pode uma pessoa mudar de humor tão rápido? Joanne caminhou em direção à cozinha e eu a segui lentamente, tentando não ser percebido. Parado na porta da cozinha, a observava mexendo na máquina de lavar louças. 

Seu rosto sério e as mãos inquietas davam a entender que algo estava errado.

— Por que isso não fecha? — Irritada com a máquina, Joanne tentava fechá-la com mais coisas do que era permitido. — Você foi cara, não deveria fazer tudo sozinha?

Se a lava-louças respondesse, eu correria dessa cozinha.

— Espionar é feio. — De costas para mim, ela sussurrou. — O que você quer, bonitão do basquete? Já acabou sua parte?

Ela estava realmente séria, sem explicar o motivo pelo qual a máquina não estava funcionando. Apenas a observava.

— Por que está tensa? Algo te incomodou? E os copos precisam lavar sozinhos, as outras coisas colocam em uma outra lavagem... — Apertei seus ombros e encostei minha cabeça na dela.

— Desde quando você entende de copos, ursinho? — Ela se virou para mim, cruzando os braços. — Seu pai mandou uma mensagem para mim, pedindo para te avisar que a Emma vai vir também, porque você ignorou as mensagens dele, como sempre!— Joanne sussurrou, mostrando-me seu celular.

Droga, mil vezes droga. Meu pai está perdendo cabelo e juízo.

Respirei fundo, buscando calma. Como iria explicar que nem mesmo eu queria a Emma aqui? Por tantos motivos, a quero longe de mim, entretanto resolvi tentar explicar, mas sem sucesso. A menina à minha frente, de braços cruzados, me encarava.

— Precisa entender... — Fui interrompido por um olhar cortante.

— Acha que eu gosto dela? Não posso falar isso para seu pai, nem para Mary, afinal sou visitante aqui. Mas posso falar para você! — Joanne empurrou seu dedo indicador em meu ombro e continuou falando. — Ela é insuportável, ela me provoca desde a escola, espalhava para todos que você era propriedade dela. Depois que começamos a namorar, ela vive indo onde trabalho a troco de nada, é uma cobra da pior espécie. — Joanne desabafou, respirou fundo e sentou-se no meu colo.

Antes, querendo me matar com suas pequenas mãos, após seu desabafo, mostrou-se mais calma.

— Sei de tudo, também não queria isso. Porém, ela é minha amiga de infância que idealizou um romance inexistente e não há nada que eu diga que a faça parar. Nossos pais são amigos, é complicado. Sei que ela cerca você porque também cerca a mim, mas não somos crianças. Seja madura... — A encarei seriamente, e a menina à minha frente continuou em silêncio.

Joanne passou a mão em minha cabeça com carinho e, em seguida, puxou meus cabelos, fazendo-me engolir um grito.

— Eu sou madura... — Sua voz alterada me assustou, e ela continuou, agora com uma voz manhosa. — Só fico incomodada, imagina alguém dizendo que ama seu namorado o tempo todo? — Ela soltou a respiração e umedeceu os lábios antes secos. — Você sabe como isso é ruim?

Você acha que gostei do sua antiga paixão chegando na cidade e te cercando?

— O Michael me faz saber disso também, esqueceu? Você é minha primeira namorada, a pessoa por quem lutei guerras para ter comigo. Acha que levei tantos foras à toa? — Beijei sua bochecha, fazendo-a fechar os olhos de forma carinhosa. — E se eu conheço ela há tantos anos e nunca namoramos... — Minha risada a fez sorrir também, já mais calma, ela me abraçou.

Sem mais explicações, Joanne, por ora, havia se convencido de que Emma não era uma ameaça para nós.

— Vamos cortar as frutas para decorar os cupcakes, já estão prontos. — Passei a mão em sua coxa lentamente, e ela puxou meu cabelo. — Quieto estamos na cozinha, alguém pode chegar...

Ainda sentada e quase sem resistir ao meu carinho, nos beijamos intensamente. Suas mãos percorriam minhas costas, e, completamente em meu colo, senti seu corpo em mim.

— O perigo deixa as coisas interessantes, precisamos fazer uma lista de fetiches e começar a realizar, inclusive aquela sua ideia da piscina eu gostei... — Falei ao seu ouvido e ouvi sua risada envergonhada. 

Meu corpo deu os primeiros sinais de animação quando ela mordeu minha orelha, senti sua mão no meu short e suspirei.

—Esse short não esconde muito bem sua excitação, baby. —Ela sussurrou, segurando meu rosto, ela sabia ser dominadora.

Apertei seu corpo contra o meu com força, a fazendo sorrir e a beijei.

 — Estou com saudade, você é deliciosa e está cheirando a molho, sendo assim eu preciso te...— Soltei uma risada, fazendo-a saltar do meu colo, para minha tristeza. — Volta aqui, eu gosto de molho, não faz isso!— Passei a mão nos cabelos, frustrado.

Ela sorriu de longe, maliciosamente.

— Irá comer bastante macarrão com molho, querido. — Joanne arrumou sua roupa e passou a mão na nuca, me provocando. — Perdeu uma bela chance, de marcar a cozinha na lista dos fetiches, foi uma pena, sua animação estava palpável. —Ela encarou meu short, e sorriu.

Lutando para meu corpo se acalmar, cruzei as pernas e a encarei, lamentando em pensamentos. 

—Droga, você me paga! Irei te provocar até surtar!— Sussurrei, a encarando com um sorriso malicioso e ela sorriu, negando.

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— PARABÉNS, MARY! — Gritamos em euforia quando ela entrou na sala. Um grupo de pessoas aplaudiu, e o Alex soltou chuva de prata, assustando-a.

A sala estava decorada com balões dourados e uma mesa enfeitada com um bolo de dois andares, cupcakes decorados pela Joanne, e um banquete com as frutas preferidas de Mary, fazendo-a sorrir alegremente.

— Crianças, vocês me pegaram! — O sorriso de Mary era contagiante, ela abraçou cada um de nós, e meu pai a envolveu em um abraço forte. — Não esperava por isso, só não revelem minha idade!

Retirando os pedaços de papéis prateados da roupa, Mary se arrumou para tirar fotos sob os olhos atentos de Joanne, que cuidava de todos os detalhes. Ela sorria feliz, cercada por pessoas celebrando sua nova idade e abraçando a todos.

— Mary, esse é o Alex, meu amigo de infância, e essa é a Alice, minha amiga e vizinha também! — Joanne apresentou os amigos, que acenaram animadamente, felizes por estarem ali.

— É um prazer conhecer vocês crianças, e muito obrigada não esperava. — A senhora enxugou uma lágrima e se aproximou da mesa. — Eu amo frutas, meu bem. Você também deveria comer. — Mary me deu uma fatia de maçã, e revirei os olhos.

Prefiro o bolo à minha frente, com uma cara ótima. — Observei o bolo alto e bem decorado, desejando-o.

— Ficarei responsável por todas as fotos, então fiquem atrás do bolo. — Ordenou minha namorada, me empurrando para o lado. — Fotógrafa passando, vão logo.

Como uma família formada por diferentes membros, tiramos muitas fotos e cantamos parabéns para Mary, que vibrava feliz. Meu pai, descontraído, bebia cerveja direto da garrafa e conversava com Alex sobre seu carro antigo. As meninas comiam doces e frutas, rindo de algo que não consegui entender.

— Um bolinho para o menino mais bonito dessa sala. — Joanne se aproximou e sentou no meu colo. — Coma, sei que está querendo esse bolo mais do que tudo, e desculpa pelo estresse mais cedo.

A beijei de surpresa, fazendo-a segurar meu rosto. O gosto de morango dos seus lábios era suave, e suas mãos macias brincavam carinhosamente com minhas bochechas enquanto Alice tirava fotos nossas.

— Olá, cheguei atrasada, mas cheguei! — A voz estridente de Emma ecoou pela sala, fazendo todos a encararem... — Parabéns, Mary! Um presente para você. — Emma entregou uma caixinha para Mary, que a recebeu sem jeito.

— Não precisava, querida. Sente-se, vou pegar um pedaço de bolo para você. —Mary abraçou Emma e ambas pareciam felizes em ser ver.

A loira cumprimentou a todos com um simples aceno, abraçou meu pai, se aproximou do sofá no qual eu e Joanne estávamos sentados e esticou o braço em minha direção. 

— Oi, amigo, como está? — sussurrou a loira, esperando um aperto de mão.

— Estou bem Emma, e você? — Apertei sua mão, notando o olhar atento de Joanne.

Emma se dirigiu apenas a mim, sem se importar com minha namorada ao meu lado, o que fez todos ao redor cochicharem por ela ter ignorado Joanne descaradamente.

— Melhor agora, nesse momento especial. — Emma deu um gole na cerveja, jogando o cabelo para o lado com ironia. — Conversamos depois! — completou e consenti.

A noite correu tranquila, apesar de Joanne e Emma trocarem farpas discretas que ninguém levou muito a sério, inclusive eu. Mary fez um discurso que emocionou meu pai, que então fez outro, ainda mais longo, falando sobre tudo que ela fez por nós por mais de vinte anos, muitas vezes abdicando da própria vida. Sentados em círculo, cada um falou um pouco, exceto Alex e Alice, que não a conheciam bem. Até um dos nossos motorista, Julius, estava presente e fez questão de lembrar momentos que vivemos muitos anos atrás.

— Obrigada pelo convite, Nick. Eu e Gustavo éramos inseparáveis quando crianças, e a Mary sofreu muito para lidar com dois pestinhas, bagunçávamos tudo e quebramos muitos vasos ao correr pela casa! — Emma falou, sorrindo. — Quando minha mãe resolveu ir embora, você penteou meus cabelos muitas vezes e disse que eu era mais bonita sorrindo. Agradeço por isso, sou realmente grata! — A loira parecia ter sido sincera, logo Mary a abraçou, e todos aplaudiram, incluindo Joanne.

Todos desejaram algo para Mary, como é tradição na nossa família. E, no fim, depois da mesa de comida esvaziar, ficamos conversando sobre o passado e o futuro. Mesmo sem querer, Mary me fazia imaginar uma vida sem ela, o que me deixava angustiado.

— Meu único desejo é saúde para todos e que cresçam fortes, a vida não é fácil. E para o meu menino, desejo muita saúde e que seja muito feliz com a menina que tanto ama. — Corri para abraçá-la, orgulhoso por suas palavras.

— Eu te amo, senhora. — A beijei, fazendo meu pai sorrir.

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Mary e meu pai se ausentaram após muitas horas de conversas, e nós cinco ficamos na área externa, sentados em uma mesa ao lado da piscina. Várias garrafas de cerveja vazias decoravam a mesa, e o silêncio pairava no ambiente. Sentia que, a qualquer momento, um feno enorme iria passar girando, como nos filmes de faroeste.

— Hoje foi uma noite boa, mas vamos conversar. — Alex falou, forçando animação. — Qual sua idade, Emma? Lembro-me de você na escola... Estilo a líder das meninas malvadas. 

Alex encarou a moça, e foi encarado de volta.

— Vou fazer dezoito anos esse ano, e você? — Com os pés em cima da mesa, ela deu um gole no resto de cerveja. — Isso mesmo, me observou bem, por acaso você me paquerava?

Tentando mostrar interesse em conversar, Emma era simpática na medida do possível sem deixar suas provocações de lado.

— Vou fazer dezenove e não, não paquerava você.— Com cerveja na cabeça, Alex soltou uma risada. — Que ego...

Emma sorriu, levantando a cerveja em sua direção, o que deixava Alice cada vez mais séria, obviamente Emma estava tentando provocá-la. Eu e Joanne olhávamos aquela cena, em silencio.

— Então não me acha bonita? — Emma sorriu, deixando Alex envergonhado, enquanto Alice apertava a garrafa de cerveja com tanta força que seus dedos ficaram vermelhos.

— O que...— Alex bufou sem jeito. —Você não é feia. 

Emma sorriu, consentindo e Alex desviou o olhar, dos olhos verdes dela.

Alice encarava aquela cena entre Alex e Emma, em silencio. Joanne encarava o céu com a cabeça inclinada para trás, mostrando cansaço e tédio. O ambiente, estranho e tranquilo, me dava medo. Ninguém estava com a cabeça normal por aqui. De mãos entrelaçadas com ela, sentia seu polegar me acariciar.

— Isso não é uma entrevista de emprego, conversem feito gente. — Joanne resmungou, fazendo Alice soltar uma risada irônica ao concordar.

— Se está incomodada, por que não fala também? — Emma disse em alto e bom som, fazendo Joanne levantar a cabeça.

Apertei sua mão, fazendo-a me encarar, e mandei uma piscada, ela precisava relevar só hoje afinal todos estavam bebendo.

— Relaxa, Baker, elas não vão se matar. — Alice ergueu a cerveja, e levantei a minha para brindar também. — Saúde. — Disse ela, enquanto o barulho de vidro ecoava no ambiente, sendo cortado pela risada cínica de Emma.

Após um tempo em completo silêncio, Emma soltou uma gargalhada e encarou Alice.

— Não sabia que vocês tinham retomado a amizade. Superou bem, Lili? — Emma riu, abrindo mais uma cerveja, enquanto meu coração disparava.

Alice, sem dar importância, mantinha sua cabeça encostada em Alex, que bebia como se não houvesse amanhã.

— Cala a boca loira azeda, ninguém lembra mais do passado. — Alice falou, encarando Emma. — Vira a página, mulher, a escola acabou.

Joanne me cutucou curiosa, e Alex me olhou dando de ombros; todos estavam sem entender nada. Graças a Deus, todos já sabiam que fui amigo da Alice no passado, e com toda certeza o passado não precisava vir à tona aqui, agora.

— Emma, chega de beber. Chega de provocar, chega de quebrar o clima. Meu pai te convidou, e como pode ver... — Apontei para as pessoas à minha volta. — Foi acolhida por pessoas que você tratou mal no passado, vou ligar para o seu motorista.

Sentia minha cabeça doer, e, em um impulso, Emma se levantou e tomou meu celular, jogando-o na mesa.

— Está louca? — Falei alto, e em seguida Joanne puxou meu braço.

— Ela está bêbada, não vale a pena. — Alex sussurrou, fazendo Alice concordar. — Ignorar é meu lema.

Voltei a sentar-me, enquanto Emma continuava em pé, à beira da piscina, com os braços cruzados. Eu queria muito saber o que se passava na cabeça dela, sempre fazia questão de aparecer, a madrugada chegava, meu pai já dormia e Mary estava em seus aposentos, só nós estávamos acordados.

Sem a loira perceber, peguei o celular dela e mandei uma mensagem para sua última ligação. Na lista, o contato estava salvo como "Inútil" — seria mesmo a cara dela colocar esse nome em um dos empregados que ela tratava como capacho. Isso me enoja, mas mesmo assim mandei uma mensagem, quase como um pedido de socorro.

Oi, caso você seja motorista da Emma e tenha como vir pega-la... Venha o mais rápido que puder. Casas dos Baker irão liberar sua entrada!

De imediato, coloquei o celular na mesa e liberei a entrada do motorista também por mensagem. Isso estava sendo quase uma missão impossível.

— Vocês acham que tudo aqui é normal? Clark, você é tão inocente, tão meiga e frágil que não percebe o que está na sua frente. — Emma voltou a sentar-se à mesa e cruzou as pernas. — Estou tão cansada de ser tratada como nada por todos, principalmente por você, Gustavo.

— O que eu preciso saber? — Joanne levantou da cadeira, e nada que eu fizesse a faria sentar. Alex, inquieto, levantou-se também, tentando acalmá-la, e em poucos minutos todos estávamos de pé. — Vamos, Emma, estraga tudo de uma vez, não é esse o seu sonho?

Por alguns momentos, tudo ficou em completo silêncio. Emma enxugou uma lágrima e nossos olhares se cruzaram. Por mais que eu tentasse, não entendia qual era o plano dela ao se expor daquela forma.

— Meu sonho era ele... Eu seria salva por ele e seria feliz. — Emma apontou para mim e sorriu, com os olhos pretos de maquiagem borrada. —Por que você nunca gostou de... mim? — Ela sorriu e passou a mão em meu rosto, senti-a tremer.

Eu estava estático e incrédulo, querendo enfiar minha cabeça num buraco. Retirei a mão dela do meu rosto, e a loira voltou a sentar-se, irritada. Joanne me olhava, e Alex fazia mímicas, pedindo para ela se acalmar.

— Emma, para de beber, e esse assunto está encerrado. Sempre fomos apenas amigos!— Falei, me agachando perto dela, que soluçava. — Chega, você não vai ganhar nada com isso.

Sem me encarar, Emma chorava baixinho. Com certeza a bebida tinha subido à cabeça dela, e seria impossível contê-la. Nossos sentimentos de amizade começaram a ruir ainda no ensino médio, ao invés de me ajudar, ela sempre me empurrava um pouco mais fundo. Não querendo me livrar da culpa, mas amigos fazem o oposto disso.

— O que você sabe sobre gostar de alguém, Gustavo? — Ela me encarou, fazendo-me levantar. — Sabem por que a Alice se afastou do Gustavo na infância? Porque eu fiz isso acontecer e ele nem se importou. — As risadas de Emma levaram Alice à fúria.

— Sua vadia, o que você fez? — Alice foi segurada por Alex, que já nervoso gesticulava para eu fazer algo. — Fala logo o que você fez, mal amada.

Eu estava tomado por raiva, meu sangue fervia e estava a ponto de cometer uma bobagem ali mesmo.

— Eu e ele éramos um futuro casal até você aparecer, então ele começou a gostar dos seus cachos e do seu sorriso, lembra? Ele adorava sua amiga Joanne, eram inseparáveis. — Emma sorriu, enquanto Alice permanecia calada. — Notei que você ia pegar meu lugar, então, um ano antes do ensino médio, eu disse a ele que você o amava. Isso bastou para ele te deixar de lado, foi fácil.

Sem entender nada e, ao mesmo tempo, me recordando de tudo, lamentava profundamente pelo passado mal resolvido.

— O quê? Anne... Eu nunca gostei dele, éramos só amigos, ela é louca. — Alice falou quase aos prantos, gesticulando para Joanne.

Joanne permanecia estática e não sabia para quem olhar. 

— Não gostava, mas jamais deixaria você ter essa chance. — Emma falou, avançando sobre Alice sem medo.

Merda, merda.

— Você é um monstro. — Falei, colocando-me à frente de Alice e encarando os olhos verdes de Emma. — Você é um ser desprezível, quero você fora da minha casa. — Sussurrei, apontando para a saída, com sangue nos olhos.

Emma me encarou profundamente, sentia sua raiva. 

— Eu vou embora, vou deixar você fingindo ser o bom moço até cansar da sua namoradinha e troca-la por uma mais interessante, fez isso o ensino médio todo, afinal. — Emma falou alto, levantou-se e saiu de perto de mim.

Porém antes da loira de afastar, em fração de segundos, Joanne deu um tapa em seu rosto, fazendo-a sentar de novo na cadeira.

—Calma Anne, calma. — Alex se aproximou, assustado. 

Segurei Joanne pelos braços e encarei Alice, que chorava baixinho.

— Não precisa me segurar, Baker. — Joanne se desvencilhou dos meus braços. — Acha que estamos num filme onde a vilã fala alguma coisa e destrói tudo? — Joanne deu de ombros, aproximando-se de Emma. — O menino mais gato da escola se apaixonar por mim... eu admito que fosse bem clichê, e me amar então, mais clichê ainda. Mas você não é clichê, é só uma menina que não tem ninguém para amá-la. Você nunca foi amada, vive sozinha e foi abandonada por todos! — Minha namorada falou sem piedade e Emma a encarou, deixando uma lágrima escorrer pelo canto do seu olho. Eu nunca tinha visto Joanne tão brava e incontrolável. — Essas palavras são duras? Ele nunca será seu, nun...

Joanne foi interrompida por passos rápidos em nossa direção.

— Emma... — Michael surgiu, correndo até nós, sem fôlego. Eu o fuzilei com o olhar. — Vamos.

O que esse cara faz aqui? Que espetáculo de noite.

— Primo, o que faz aqui? — Alice levantou e o interrogou.

Sem ar, o garoto tatuado tentava recuperar o fôlego para falar.

— Baker, você me mandou uma mensagem pelo celular da Emma, pedindo para alguém vir pegá-la. Não sou o motorista, mas posso fazer esse favor para você e para a humanidade.

Michael se aproximou, com a testa suada, e, por mais incrível que pareça, se fosse para levá-la embora, ele com certeza era bem-vindo.

— Você? Emma? O que está acontecendo aqui? — Joanne alterou a voz, me cobrando uma explicação. — Que seja, leve-a embora.

Alice e Alex se olhavam confusos, e Joanne me encarava, consumida pela raiva. Essa noite ainda iria demorar para terminar.

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Essa noite realmente esta longe de acabar, quantos segredos esse grupo de amigos escondem?

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